Escrevo de fora do país, de onde saí sob o forte impacto da morte do médico Jaime Gold. Li pela internet que houve pelo menos mais dois ataques com faca no Rio. Violência sempre nos choca e nos apavora, principalmente quando gratuita -- alguém vai sempre dizer que a violência pública nunca é gratuita, é um ato de revide ou vingança contra a sociedade por alguém por ela desassistido ou vilipendiado. Que seja. Mas, o fato é que estamos fartos de explicações, sejam elas psicológicas, sociológicas, policiais, mediúnicas, estratosféricas ou escapistas.
Estamos absolutamente fartos de que alguém venha nos dizer que a vida de um ser querido, um ser humano, foi ceifada estupidamente porque "infelizmente estava escrito" nas linhas e entrelinhas da omissão do poder público. Mais uma morte idiota, rude, inexplicável tira do nosso convívio uma pessoa admirada e respeitada, e temos que, novamente, ouvir a insuportável ladainha de desculpas esfarrapadas e indecentes de quem tem por obrigação zelar pela nossa segurança pública.
Novamente, ouve-se a voz cavernosa das esquivas das autoridades, cada uma querendo transferir a responsabilidade para os ombros de outra. Nessa hora, a partilha dos ossos do ofício torna-se a preocupação principal de autoridades militares e civis. A vida humana tornou-se um item como outro qualquer na agenda dessas figuras. A vida humana tornou-se algo absolutamente descartável neste país, e ninguém faz absolutamente nada para corrigir isso. Em 28/11/2014 abordei o tema da violência desmesurada que campeia no país ("Quem disse que o povo brasileiro é cordial?") -- até dezembro de 2011, em 30 anos, a violência matou 1,1 milhão de pessoas no Brasil!
Nesse jogo de empurra-empurra, o prefeito Eduardo Paes perdeu a oportunidade de ficar calado pelo menos em respeito a mais uma vítima da violência no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, e disse uma idiotice (mais uma): "segurança pública não é comigo". Como não, senhor prefeito?! Quem lhe botou isso nessa cabeça tomada pelo vácuo de inteligência, de bom-senso e de responsabilidade?! Quer dizer que a Companhia Municipal de Energia e Iluminação - Rioluz, da sua prefeitura, não tem nada nada a ver com a segurança pública?! Ela faz iluminação pública para quê então?! Para enfeitar as ruas onde for do seu agrado?! O Sr. andaria tranquilamente à noite no entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, com sua famíla, mesmo antes dessa onda de ataques à faca?! O Sr. por acaso acha que a Lagoa e inúmeros outros logradouros públicos do Rio estão iluminados de maneira segura?! O Sr. quer o quê, que a polícia ou quem quer que seja ande por aí com luz infravermelha para ver onde pisa?! Dê-se ao respeito Sr. prefeito!!
Cartão-postal do Rio, a Lagoa Rodrigo de Freitas passou a ser palco repetido de ataques de ladrões com facas.
A morte do cardiologista Jaime Gold, esfaqueado por um assaltante na Lagoa, foi mais uma tragédia insuportável sobre nossas cabeças. Nos tornamos reféns da violência e da barbárie, porque os governos federal, estadual e municipal não dialogam sobre segurança, não sabem o que fazer e -- o que é pior -- não fazem sequer o mínimo que lhes cabe. Em uma eterna discussão sobre a precedência entre o ovo e a galinha, as autoridades se perdem em discussões estéreis, e o povo paga por isso. O caso da segurança da Lagoa Rodrigo de Freitas tornou-se emblemático da crise de eunuquismo que atinge profundamente a questão da segurança pública na ex-capital da República.
Só falta repetirem a frase infeliz "esperamos que a morte de Jaime Gold marque uma retomada da consciência sobre a importância e a necessidade de uma segurança pública mais confiável nesta cidade". Que nossas"autoridades" poupem pelo menos a família da vítima dessa ladainha insensível e irresponsável, assumam suas responsabilidades constitucionais e deixem de fazer roleta russa com as vidas dos cidadãos. E tomem vergonha na cara, inclusive o prefeito da cidade.
Reebido por email de Sergio Viana Nunes em 30/5:
ResponderExcluirGrande Vasco, gostei do comentário e da mensagem. Um abraço.
E esse elemento, o prefeito carioca, quer se candidatar à presidência do país...Quais seriam as suas prioridades nesse improvável (espero) governo??
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