No contexto de sua inclusão na área de interesse e de influência natural do Brasil, a relação da China com a Argentina é ainda mais prejudicial ao nosso país. Os mais de US$ 10 bilhões emprestados recentemente serão compensados pela compra de máquinas e equipamentos chineses e a autorização de uma base militar de rastreamento de satélites e mísseis no país. Recentemente, a presidente argentina Cristina Kirchner esteve na China para assinar 22 acordos de uma aliança estratégica nas áreas de infraestrutura e energia.
Somente em 2014, o país asiático emprestou à América Latina 22 bilhões de dólares (63 bilhões de reais) – 71% a mais que no ano anterior. Isso eleva para 119 bilhões o total da dívida desde 2005. Os principais mutuários são Venezuela, Brasil, Argentina e Equador.
A notícia da vez soube outra iniciativa arrojada e inusitada da China surgiu no jornal espanhol El País de 11/4/2015, que nos relata que a China está construindo ilhas artificiais no recife de Mischief nas ilhas Spratly, território que disputa com as Filipinas e o Vietnã. Reproduzo a seguir a íntegra da reportagem. O Mar do Sul da China (ou Mar da China Meridional) banha os seguintes Estados e territórios: República Popular da China, Hong Kong, Macau, República da China (Taiwan), Filipinas, Malásia, Brunei, Indonésia, Cingapura, Tailândia, Camboja e Vietnã. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
O recife de Mischief, antes das obras feitas pela China - Foto: Google
Imagem aérea dos barcos chineses em um arrecife nas ilhas Spratly. / CSIS/AMTI
Há especulações de que a China está construindo pista de pouso no recife Johnson South - (Fotos: CSIS - Center for Strategic and International Studies)
Há especulações de que a China está construindo pista de pouso no recife Johnson South - (Fotos: CSIS - Center for Strategic and International Studies)
As disputas territoriais que Pequim mantém com seus vizinhos no mar do sul da China voltaram a se aquecer. O motivo são as ilhas artificiais que a segunda economia do mundo constrói “a golpes de perfuradoras e escavadeiras”, como disse o comandante da frota americana no Pacífico, o almirante Harry Harris. Onde até há pouco mais de um ano não havia muito mais que corais e algumas casinhas de blocos de cimento, construídas diretamente sobre as rochas meio submersas, a China criou, segundo os EUA, várias ilhotas de areia – em cinco arrecifes – que somam pelo menos 4 quilômetros quadrados.
Até agora, a China se limitava a declarar que suas atividades eram “legais, razoáveis e justificáveis”. Mas, na quinta-feira, o Centro de Estudos Estratégicos Internacionais (CSIS) em Washington divulgou uma série de fotografias que mostram a magnitude das obras e a rapidez com a qual são realizadas. Nas imagens, que comparam o antes e o depois no recife de Mischief, nas ilhas Spratly - território que disputado por Filipinas, China e Vietnã - se pode perceber como, praticamente do nada, surgiram várias ilhas dotadas de portos e uma pista para pousos e aterrissagens de aeronaves.
Após a publicação das imagens, a China - que até agora se limitava a responder às perguntas sobre essas ilhas com declarações lacônicas - ofereceu sua explicação mais detalhada, até agora, para justificar suas atividades.
Na quinta-feira, o porta-voz do ministério de Relações Exteriores do país, Hua Chunying, esclareceu que o propósito é militar: “proteger sua soberania territorial (da China) e os interesses e direitos marítimos”. Mas também garantiu que a construção terá fins civis “além das necessidades de defesa militar”. Entre eles, citou a proteção de navios durante as passagens de tufões, a pesca e a observação meteorológica.
As declarações de Hua não foram suficientes para acalmar os EUA, que, por meio das palavras do almirante Harris, descreveram as obras chinesas como a construção de “uma Grande Muralha de areia”. O secretário de Defesa, Ashton Carter, em viagem pela região, advertiu que a ação unilateral deixará a China isolada. E o presidente Barack Obama, que estava na Jamaica, a caminho da Cúpula das Américas, realizada no Panamá, acusou Pequim de “usar sua força e seus músculos para forçar outros países a ficarem em posição de subordinação” [é bizarro ouvir esse tipo de acusação, vindo de um país useiro e vezeiro desse tipo de atitude].
“Acreditamos que (a disputa) pode ser resolvida por via diplomática, mas só porque as Filipinas e o Vietnã não são tão grandes como a China não quer dizer que não possam dar cotoveladas”, afirmou Obama.
Hua respondeu às declarações do presidente acusando os EUA de ser o país que pressiona os demais. “Esperamos que os Estados Unidos possam respeitar os esforços da China e dos países asiáticos para garantir a paz e a estabilidade na região do Mar do Sul da China”.
Pequim, que durante a época maoísta não demonstrou nenhum interesse especial por essas ilhas, reivindica com cada vez mais força a soberania das ilhas Spratly e Paracel e dos arrecifes de Scarborough, a distâncias de até 1.300 quilômetros do litoral continental. Meia dúzia de países mantém também reivindicações sobre algumas dessas áreas. A disputa, especialmente acirrada com as Filipinas e o Vietnã, se intensificou desde 2012, quando a China incluiu esses territórios em seus “interesses nacionais básicos”, assim como o Tibete e o Taiwan.
As Filipinas, um país militarmente muito mais fraco que a China, levaram o caso à ONU. Diante da intensificação das obras de construção chinesas, o país expressou seu temor de que Pequim busque criar evidências no terreno que influam na decisão final da instituição internacional.
No fundo da disputa há um duplo motivo. As suspeitas são de que estas cadeias de ilhotas possam guardar em seu leito marinho recursos naturais. Mas também são chaves do ponto de vista geoestratégico: para a China, que tem entre seus objetivos de Defesa o estabelecimento de uma Marinha militar de ponta, o mar do sul representa uma saída natural para sua frota rumo ao oceano Índico. Os Estados Unidos, que declararam a região da Ásia Pacífico como o “pivô” de sua política externa e defensiva, não quer ceder facilmente o controle de uma área de intenso tráfego marítimo e pela qual atravessa, anualmente, um volume comercial de quase 5 trilhões de euros (cerca de 16,2 trilhões de reais).
A nova troca de recriminações entre Pequim e Washington ocorre pouco antes do começo de manobras militares conjuntas entre os EUA e as Filipinas no dia 20 de abril, em águas próximas às ilhas Spratly. Segundo anunciou Manila, mais de 11.500 soldados participarão das atividades, as maiores desde que ambos os países retomaram os exercícios conjuntos em 2000.
Mapa (em espanhol) mostra em vermelho as águas reivindicadas pela China, as ilhas em disputa (verde) e a Zona Econômica delimitada pela Convenção da ONU sobre o Direito do Mar (azul)
[O site do CSIS, em 16/4/2012, mostra que os litígios entre Filipinas, China e Taiwan são amplos no Mar do Sul da China (ou Mar da China Meridional). Em 29/02/2012, as Filipinas abriram outro capítulo nas disputas com seus vizinhos ao convidar empresas estrangeiras para sua esperada Quarta Rodada de Contrato de Energia, envolvendo 15 blocos de óleo e gás. A China reagiu prontamente ao anúncio de Manila com um protesto formal, reiterando sua "soberania inquestionável" sobre as ilhas e águas do Mar do Sul da China e taxando de "ilegal" qualquer exploração de petróleo. O ministro das Relações Exteriores de Taiwan repetiu a atitude chinesa, com um comunicado em 13 de março afirmando que "o Reed Bank (Banco de Juncos, em uma das várias traduções diretas possíveis) faz parte das Ilhas Spratly ... e rejeitamos qualquer pleito ou ocupação por quaisquer meios das ilhas e das águas em seu entorno".
O mapa acima mostra bem a posição estratégica do Mar do Sul da China e as disputas nele envolvidas.]
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