[Duas crises enormes , ambas ainda em desenvolvimento, uma financeira e outra humanitária, escancararam a fragilidade e os erros de planejamento e estruturação/organização da União Europeia (UE). A crise dos refugiados tem tudo para ser a pá de cal nesse aglomerado de países, equivocadamente chamado de "união". Traduzo a seguir artigo de Paul Taylor no International New York Times, na edição impressa de 01 de março corrente. A versão virtual só está disponível para assinantes. Ver postagem anterior sobre a crise dos refugiados na UE.]
Não é de surpreender que a União Europeia não consiga encontrar soluções comuns (comunitárias) para os problemas urgentes da Europa, no momento em que seus principais membros estão tendo conversações nacionais diferentes. Assim como a bíblica Torre de Babel, a ambiciosa construção da Europa corre o risco de desmoronar porque seus povos não estão falando a mesma língua política.
Sintonize na Alemanha, e o debate violento se resume a como lidar com o influxo de milhões de emigrantes, se se deve limitar esses números e, em alguns grupos, como interromper sua chegada. Mude para a França, e você escutará uma nação que acha que está em guerra, vivendo em um estado de emergência e em choque após ataques de militantes islamitas em novembro, que mataram 130 pessoas em Paris.
Vire rapidamente para o Reino Unido, e a conversa se concentra em soberania nacional e uma possível "Brexit" [saída do país da UE], em fase de construção para um referendo em junho, que poderá encerrar a esquizofrênica participação do país na UE. Olhe para o leste, para a Polônia, onde as pessoas estão discutindo sobre as novas medidas do governo para controlar a mídia e a corte suprema, sobre quem pode ter sido um informante comunista 40 anos atrás e sobre a perceptível ameaça russa hoje para a Europa Oriental.
No entorno da Europa central, a discussão se concentra em como resistir à pressão alemã para acolher uma quota de refugiados. Vire para o sul, e verá italianos e portugueses absorvidos por debates com enfoque doméstico sobre como reativar o crescimento econômico a despeito das limitações orçamentárias da UE enquanto esta resolve os problemas da união. A Espanha, enquanto isso, está ocupada com a paralisia política, com o separatismo da Catalunha e uma divisão do país.
Quando os líderes desses países vão a Bruxelas, frequentemente não conseguem nem mesmo acordar sobre o que deveriam estar discutindo. Nas duas últimas reuniões de cúpula da UE, o Reino Unido queria que o foco fosse sobre suas demandas para uma renegociação dos termos de sua participação na UE, para dar ao primeiro-ministro David Cameron um "novo acordo ou arranjo" que ele pudesse vender ao país em um referendo em 23 de junho vindouro sobre a permanência ou não do Reino Unido no bloco europeu.
Ele conseguiu garantir um acordo em 19 de fevereiro passado, mas muitos de seus companheiros de liderança ficaram frustrados por ter de perder tempo no que vêem como temas secundários e formulações retóricas, enquanto sua casa está pegando fogo.
A chanceler alemã, Angela Merkel, lutando por sua sobrevivência política contra críticas domésticas à sua política de portas abertas para refugiados, queria que a UE se concentrasse em medidas urgentes para garantir as fronteiras externas da Europa, registrar os emigrantes, mandar de volta para casa aqueles que tiveram seus pedidos de asilo negados e distribuir os refugiados entre os países do bloco. Desesperada para encontrar uma "solução europeia" comum para a crise migratória, ela forçou ainda a realização de outra reunião de líderes europeus com a Turquia dias antes de três eleições regionais alemãs, nas quais a direita anti-imigração poderia ter grandes ganhos.
O presidente da França, François Hollande, por seu lado, vai a Bruxelas à procura de mais cooperação contra o terrorismo e apoio para ação militar contra as forças do Estado Islâmico na Síria e na Líbia. Seu primeiro-ministro, Manuel Valls, irritou as autoridades alemãs ao usar uma viagem à Conferência sobre Segurança em Munique para criticar as boas-vindas de Merkel aos refugiados e declarar que a Europe não podia mais aceitar nenhum emigrante.
Diferentemente de outras crises europeias passadas, nas quais as discordâncias podiam ser postergadas ou fatiadas como um salame em passos graduais que transformavam uma disputa política em um processo tecnocrático, não existe nenhum caminho óbvio para retardar ou amenizar o tema da emigração. Os acontecimentos em terra estão se movendo mais rápido do que a capacidade da UE para administrá-los. Governos ao longo das rotas principais de emigração nos Bálcãs orientais, sob a pressão de forças populistas, estão recorrendo a soluções do tipo empobreça/esgote seu vizinho.
A Áustria, um país crucial como via de trânsito, impôs unilateralmente em meados de fevereiro limites diários às entradas de emigrantes e ao número de pedidos de asilo. Como sinal da decrescente autoridade de Bruxelas e de Berlim, a Áustria reuniu em fins de fevereiro 10 países centro-europeus e dos Bálcãs -- uma reunião sem a Alemanha e sem aGrécia, os principais pontos de entrada dos emigrantes -- para coordenarem medidas nacionais para bloquear o fluxo de emigrantes rumo ao norte.
Como navios carregados de emigrantes desafiam os mares no inverno para deslocar-se a partir da Turquia, aquele bloqueio está rapidamente transformando a Grécia, o país economicamente mais enfraquecido da UE, num gigantesco campo de refugiados. O primeiro-ministro Alexis Tsipras alertou que seu país não se transformará em um "depósito de almas", e que retardará outros negócios europeus se os parceiros de Atenas não compartilharem com os gregos aquela carga.
Os países da União Europeia ignoraram em grande escala as quotas de refugiados que haviam acordado em absorver no ano passado, e a Hungria planeja agora um referendo sobre se deve ou não aceitar qualquer refugiado a mais. Reino Unido e França mantêm suas cabeças baixas, em vez de ajudar Angela Merkel, o líder mais experiente e respeitado da Europa.
David Cameron já não aceitará nenhum refugiado vindo da Europa, com medo de que a hostilidade pública a emigrantes possa lhe custar o referendo. François Hollande também receia que dar gás à populista de extrema direita Marine Le Pen se ele oferecer mais apoio a Berlim.
Exceptuando-se uma improvável interrupção de chegadas de refugiados vindos da Turquia nas próximas semanas, o próximo passo mais provável é que a zona Schengen de livre trânsito entre os 26 países da UE seja oficialmente suspensa por dois anos para prevenir um colapso desordenado. Uma conquista importante de cooperação e de união num continente marcado durante séculos por cicatrizes de guerras será posta em coma induzido, para impedir que ela morra imediatamente. O resultado mais provável é que se formarão longas filas nas fronteiras, que quase desapareceram duas décadas atrás.
Nesse ponto, a Alemanha, com ou sem Angela Merkel, provavelmente terá de impor seus próprios controles contra novos imigrantes. Enquanto as lideranças fracas e divididas da Europa permanecem distraídas com debates internos, a união que forneceu a estrutura para prosperidade depois da Segunda Guerra Mundial começará a desmoronar.
Penso que a crise atual é mundial. Cada Continente, ou grupo étnico religioso e geográfico com seus problemas. Porque a União Europeia estaria fora deste contexto? Penso que este problema da imigração é séria, devido as diferenças culturais e religiosa, a língua enfim. Como estas pessoas fariam a ASSIMILAÇÃO, de uma nova maneira de enxergar a globalização? No Brasil, atualmente os afrodescendentes felismente acordaram para discutir uma série de resíduos que ficaram na sua incrível e bem vinda contribuição na colonização do Brasil.
ResponderExcluirCada macaco no seu galho. Ou se resolvem as crises instaladas na Libia, Siria e adjacências ou continuaremos cultivando a discórdia mundial, com a exacerbação dos ânimos que, em dado momento, tornar-se-á irreversível. Que se cuide o Brasil enquanto é tempo, pois os incendiários estão loucos para tocar fogo no circo
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