As grandes entidades financeiras continuam dominando muitas das grandes variáveis da economia mundial - (Foto: Getty)
A crise de 2008 e a grande recessão mundial mudaram muito pouco ou quase nada do cenário da economia global.
Há quase oito anos da crise e em meio a uma estagnação mundial, o mundo continua dominado por 28 grandes bancos internacionais, denominados por alguns de seus críticos mais acérrimos como a "hidra mundial".
Os 28 maiores bancos mundiais
J.P. Morgan Chase
Bank of America
Citigroup
HSBC
Deutsches Bank
Groupe Crédit Agricole
BNP Paribas
Barclays PLC
Mitsubishi Ufjfg
Bank of China
Royal Bank of Scotland
Morgan Stanley
Goldman Sachs
Mizuho FG
Santander
Société Générale
ING Bank
BPCE
Wells Fargo
Sumitomo Mitsui FG
UBS
Unicrédit Group
Crédit Suisse
Nordea
BBVA
Standart Chartered
Bank of New York Mellon
State Street
Os ativos totais desses bancos são de US$ 50,341 trilhões.
Essas entidades financeiras controlam as grandes variáveis econômicas globais, impõem condições a governos democráticos e, em busca de ganhos rápidos e estratosféricos, apostam em uma roleta cada vez mais vertiginosa que pode voltar a explodir a qualquer momento.
François Morin, autor do livro recentemente publicado "A hidra mundial, o oligopólio bancário", é professor emérito de ciências econômicas na Universidade de Toulouse e ex-membro do conselho geral do Banco da França.
"Os Estados são cada vez mais reféns da hidra bancária e se submetem às suas normas, a crise de 2007-2008 comprova esse poder", diz ele. "Os grandes banco detinham os produtos tóxicos responsáveis pela crise mas, em vez de reestruturar os bancos, os Estados terminaram assumindo suas obrigações e a dívida privada se transformou em dívida pública", assinala Morin.
O pesquisador francês destaca cinco mecanismos que permitem essa hegemonia financeira, econômica e política:
1. Ativos (bens, dinheiro, clientes, empréstimos, etc)
Os 28 bancos possuem recursos superiores à dívida pública de 200 Estados do planeta. Enquanto seus ativos somam US$ 50,341 trilhões, a dívida pública mundial ascende a US$ 48,957 trilhões [há divergências quanto a esta cifra -- segundo a revista The Economist, a dívida pública global é bem maior que isto e é da ordem de US$ 58,4 trilhões; não encontrei o valor global dos ativos bancários dos28 bancos acima -- a busca teria de ser feita banco a banco, e seria cansativa e demorada. Para a S&P (Standard & Poor's), em 2016 esse valor iria para US$ 42,4 trilhões.].
Outra maneira de dimensionar o poder desse grupo de bancos: há centenas de milhares de bancos em todo o mundo, mas essas 28 instituições concentram 90% dos ativos financeiros globais.
Nesse cenário de hiperconcentração, a queda de um ou de vários desses bancos tem um potencial devastador, não apenas sobre o setor financeiro como sobre a economia em geral.
A falência do banco Lehman Brothers, em 2008, marcou o início da crise econômica mundial - (Foto: Getty)
Essa é a base do argumento no centro dos debates pós-2008: o risco de instituições "too big to fall" (tão grandes, que não se pode permitir que cheguem à falência).
Segundo Oscar Ugarteche, economista da UNAM (Universidade Autônoma do México) e autor de "A grande mutação", que estuda esse novo sistema financeiro mundial, com esse nível de concentração de poder financeiro existem todas as possibilidades de repetição de uma crise como a de 2007-2008.
"Esses mercados cresceram com a liberação financeira dos últimos 30 anos, que lhes permitiu sair de sua posição de intermediários financeiros com a produção e o consumo ou seja, de correia de transmissão para projetos produtivos e compras", assinalou Ugarteche. "Com sua participação nos mercados especulativos, desde divisas e taxas de juros a commodities e derivativos, com um crescimento explosivo de seu crédito para financiar a expansão, chegou-se a 2008", acrescentou ele.
"A situação não mudou, e hoje vemos que muitos desses bancos estão com sérios problemas".
A crise que começou em 2008 criou problemas e conflitos sociais enormes - (Foto: AFP)
2. Criação de moeda
O sistema clássico de emissão monetária é o de uma Casa da Moeda que imprime o dinheiro de que necessita um Banco Central, situado no centro do cenário financeiro. Mas hoje 90% da moeda são criados por esses 28 bancos: somente 10% são de responsabilidade dos bancos centrais. A passagem do dinheiro físico para o dinheiro creditício está mudando essa equação.
A situação mudou pouco desde 2008 - (Foto: Getty)
"Estamos fechando o círculo. No princípio, havia bancos que faziam operações de comércio exterior e interno, era dinheiro-crédito. Mas não havia controle e centralização dessa função", explicou Ugarteche. "Isso só começa a acontecer com a criação de um Banco Central, responsável pela emissão de moeda. O primeiro foi o da Inglaterra, no século XVII. Mas, com a desregulamentação bancária dos anos 90 estamos voltando ao princípio. Os bancos emitem créditos e não há muito controle sobre isso", assinalou ele.
Se antes a expansão de dinheiro guardava certa proporção com o nível de reserva monetária de um país, hoje em dia esse limite perdeu relevância. Nesse marco de flexibilização creditícia total, a consultora global McKinsey estima que a dívida total -- isto é, a soma das dívidas pública, privada e individual -- cresceu em mais de US$ 57 trilhões nos últimos sete anos e hoje beira os US$ 200 trilhões, quase três vezes o PIB mundial [que estaria hoje por volta de US$ 76,3 trilhões segundo o FMI.]
3. Controle do mercado cambial
O mercado cambial é um dos maiores do mundo: movimenta US$ 6 bilhões diariamente. Cinco dos 28 bancos controlam 51% desse mercado.
"O tipo de câmbio é controlado nos EUA e no Reino Unido ou seja, não depende apenas das variáveis econômicas de um país", afirmou Ugarteche. "Basta que esses operadores de câmbio, vinculados aos bancos dessas nações, decidam que o valor de uma moeda não se sustém para que a ataquem especulativamente por meio do mercado de futuros", assinalou esses especialista. "Com compras ou vendas maciças arrastam os demais atores, provocando uma alteração no câmbio que não tem nada a ver com a saúde econômica de um país".
O caso do Brasil ilustra esse fenômeno. Em setembro de 2014 o Brasil possuía um altíssimo nível de reservas -- o mais elevado em termos regionais -- que resultou insuficiente para conter o ataque contra sua moeda.
As altas reservas acumuladas pelo Brasil não lhe foram suficientes para se esquivar da crise - (Foto: Getty)
O governo brasileiro adotou uma série de medidas, como o aumento da taxa de juros para estimular a entrada de divisas e evitar a fuga de capitais, mas essas medidas sufocaram o crédito de que necessitava o setor produtivo e levaram o país à profunda recessão em que está. "Foi uma crise induzida, e não é um caso isolado. No México, o valor da moeda passou de 14 a 20 sem que houvesse um déficit fiscal importante, uma crise de balança de pagamentos ou inflacionária, uma queda nas reservas ou na atividade econômica", disse Ugarteche.
4. Controle das taxas de juros
Com seu potencial financeiro, essas 28 instituições têm uma gravitação fundamental sobre as taxas de juros. Dado o nível estratosférico de circulação diária de ativos financeiro e de dívida, qualquer variação da taxa de juros move automaticamente enormes quantidades de dinheiro.
A investigação iniciada em 2012 pelos EUA, Grã-Bretanha e Comissão Europeia mostrou como esse nível de concentração dos bancos termina em manipulação do mercado. Segundo essa investigacão, 11 dos 28 bancos (Bank of America, BNP-Paribas, Barclays, Citigroup, Crédit Suisse, Deutsche Bank, Goldman Sachs, HSBC, JP Morgan Chase, Royal Bank of Scotland, UBS) se comportaram como "entidades ou grupos organizados" para manipular as taxas de juros Libor.
A taxa Libor é acordada diariamente no mercado de Londres, e determina a taxa com a qual os bancos fazem seus empréstimos, tendo um impacto direto no mercado de derivados e no que pagam consumidores e produtores por seus empréstimos.
11 bancos manipularam as taxas de juros Libor - (Foto: Getty)
"As coisas não mudaram. Um escândalo semelhante ocorreu recentemente com os bancos Goldman Sachs, Morgan Stanley e JP Morgan no mercado de commodities", disse Ugarteche.
5. Os derivativos
A metade dos 28 bancos produz derivativos [derivativos são contratos que derivam a maior parte de seu valor de um ativo subjacente, taxa de referência ou índice. O ativo subjacente pode ser físico (café, ouro, etc.) ou financeiro (ações, taxas de juros, etc.), negociado no mercado à vista ou não (é possível construir um derivativo sobre outro derivativo). Os derivativos podem classificados em contratos a termo, contratos futuros, opções de compra e venda, operações de swaps, entre outros, cada qual com suas características] no montante de US$ 710 trilhões ou seja, quase dez vezes o PIB mundial.
Em seu livro "A grande mutação", Ugarteche ilustra o funcionamento do mercado de derivativos com o caso de um modesto ativo físico: uma vaca.
Em 2008 desapareceram milhares de milhões de dólares devido a mecanismos econômicos fictícios - (Foto: Getty)
O que se pode fazer, se quisermos converter a vaca em dinheiro? Em outras épocas, ela seria vendida em troca de uma determinada quantia de dinheiro vivo. Mas, hoje, se pode vender seu valor a futuro.
Como não é uma transação presente mas futura, o valor se multiplica muitas vezes. Por exemplo:
● vende-se a provável receita futura oriunda do leite da vaca
● vendem-se os bezerros que a vaca irá parir
● vende-se o leite que esses bezerros eventualmente produzirão, ou o queijo e a manteiga que produzam.
"A partir de uma vaca se cria uma economia fictícia, construída mediante o uso de operações financeiras distintas. É um mundo de probabilidades. O bezerro é um futuro possível, nada mais que isso. A mesma coisa quanto ao rendimento de uma vaca. O que acontece se ela adoecer?", disse Ugarteche.
Neste caso, as operações efetuadas se vão por um buraco negro.
Assim, em 2008 desapareceram US$ 200 bilhões, algo que arrastou consigo as seguradoras que supostamente garantiam todo esse fluxo financeiro.
Nada mudou.
Artigo interessante, embora apresente algumas ilações indevidas e superficiais. A crise brasileira ora vivida não decorre, decididamente, da alta da taxa de juros Selic afugentando a tomada de empréstimos. A crise, como sabemos, foi decorrente de uma desastrada (e porque não corrupta?) gestão de um governo populista que não consegue enxergar um palmo além do nariz, gestão esta reforçada por uma equipe econômica incompetente e mais antenada em garantir seus cargos do que a saúde financeira do País.
ResponderExcluirVirou moda, entre os neoliberais brasileiros e anglo-americanos, marionetes de uma imprensa venal e mercenária, sustentada pelo império bancário-empresarial, dizer que a crise brasileira decorre da “desastrada gestão de um governo populista, com [sua] equipe econômica incompetente”. Só que esses analistas estúpidos e ignorantes, quando não, desonestos, não lidam com fatos reais. Lidam apenas com opiniões infames. Esquecem-se esses “nobéis” em Economia – ou fingem esquecer-se -- de que a segunda maior crise mundial de todos os tempos começou nos EUA, em 2008, e propagou-se pela Europa, por culpa exclusiva da desregulamentação do sistema financeiro, cujos mecanismos atuais nem mesmo os bancos têm controle, nem perfeito entendimento. A busca insaciável do lucro foi a causa da Crise. Para salvar o sistema, Bush colocou US$ 500.000.000.000,00 (sim, biiilhões!) de dinheiro público americano, gratuitamente, nas mãos dos banqueiros, que nada perderam. Quem perdeu foi o povo americano, foram os industriais falidos, foram os mais de 30 milhões de desempregados nos EUA e na Europa. Enquanto isso, exatamente nesse período, o Brasil passava da 14ª para a 7ª economia mundial, e criava mais de 20 milhões de empregos formais, fato que não tem paralelo em termos de grandeza, no mundo inteiro! Essa é a “equipe econômica incompetente”? O preço que o Brasil paga, hoje, decorre do fracasso das economias capitalistas, que reduziram seu poder de compra; decorre da brutal queda do preço de suas principais commodities: petróleo, minério de ferro, soja etc. E a isso se acrescenta o furto de bilhões, ou trilhões, ganhos no Brasil por empresários, banqueiros, profissionais liberais, e levados, impunemente para paraísos fiscais, sem impostos, sem qualquer tributação. A sonegação e a injustiça tributária, no Brasil, não tem paralelo no mundo! Aqui estão as razões principais de “nossa” crise!
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