domingo, 31 de julho de 2016

Os Jogos Olímpicos do "temor e tremor"

[A imagem extremamente negativa do Brasil que já se espalhou pelo mundo por conta das falhas gritantes já escancaradas nos Jogos Olímpicos do Rio, mesmo antes das competições esportivas -- que só por milagre não gerarão outros vexames -- é tão arrasadora, que muito dificilmente poderá ser revertida ou minimizada. Nossa incúria, nosso desleixo e nossa irresponsabilidade nos fizeram perder uma oportunidade ímpar de projetarmos uma imagem de país organizado e confiável. Traduzo a seguir o contundente artigo de Jesús Mota, no site do jornal espanhol El País. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Os Jogos Olímpicos do "temor e do tremor"

Não houve uma Olimpíada que se apresentasse com tantas marcas de caos e incompetência

Jesús Mota - El País, 30/7/2016

Trabalhos de limpeza na Baía da Guanabara - (Foto: France Press)

Com temor e tremor, os atletas do mundo se apresentam para competir nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que começam no dia 5. Estamos diante de uma magna competição atlética ou frente a uma aventura de alto risco, semelhante a uma expedição pela selva ou a exploração do Ártico? Não houve uma Olimpíada que se apresentasse com tantas marcas de caos e incompetência. Os participantes terão que driblar o risco da zika lambuzados de repelentes antimosquito gordurosos, sobreviver em uma vila olímpica com falhas graves de água corrente ou outras condições mínimas de habitabilidade (o ruído percuciente que dificulta o sono dos atletas), sair ilesos das desditas diárias (a delegação australiana teve que ser evacuada na sexta-feira devido a um incêndio) ou sobrepor-se a incidentes de vaudeville (um indivíduo vomitou sobre um atleta chinês e quando um fotógrafo correu atrás do vomitador, um cúmplice lhe roubou seu equipamento fotográfico) e procurar não cair na água da baía na qual serão realizadas algumas provas náuticas, porque está contaminada com fezes. 

Para não mencionar as condições de segurança frente à delinquência organizada (o caso do ladrão vomitador é um bom exemplo). Os folhetos de advertência insistem em que se transite pela cidade acompanhado, sem jóias, com dinheiro mínimo necessário, com atenção especial para os táxis (para evitar sequestros), não oferecer resistência em um eventual assalto ...  Não se sabe muito bem se os atletas vão viver em uma capital de um Estado do século XXI, organizado e confortável, ou em El Pueblito, essa prisão mexicana do tamanho de uma capital de província espanhola [pelo visto, o autor é bastante ácido conosco, mas é idiota o bastante por achar que o Rio ainda é a capital do Brasil].

O Governo brasileiro dispôs de lustros [na realidade, 7 anos] para organizar os Jogos; confiou (ou isso dizia) na Olimpíada e no Mundial de futebol para construir infraestruturas básicas e confirmar que o Brasil havia superado o nível de jardim de infância de país emergente e se considerava já um país consciente de pertencer ao primeiro mundo, para usar a linguagem antiga; contava ainda com ambas aquelas vitrines para dar lustro à imagem do continente sul-americano e abandonar de uma vez por todas o clichê da debilidade da gestão pública no subcontinente. Nem um só desses objetivos se cumpriu. Há quem diga que serão os Piores Jogos da História, que os atletas russos deles excluídos tiveram sorte de evitar a competição em um campo de sucata (sem valor) e que as marcas desportivas sofrerão uma regressão em um entorno infradesportivo. 

O fracasso que se pressente nos Jogos suscita duas perguntas básicas. Ficará impune a responsabilidade de quem fez fracassar o projeto do Rio, de quem descumpriu os contratos, de quem utilizou materiais de péssima qualidade ou aviltou as infraestruturas olímpicas? Pois é provável que sim. O Comitê Olímpico já não presta atenção em outra coisa que não seja a inauguração de purpurina dos Jogos, e a pressionar para que o desastre e a fraude (suposta) sejam enterrados sob camadas de dinheiro. 

A segunda pergunta é mais dolorosa. Madri era uma candidatura pior que o Rio? Uma xícara relaxante de café com leite ao poder (Relaxing cup of cafe with leche al poder).

[O autor é extremamente ácido e duro contra o Brasil -- e o pior é que ele está certo. Um senão imperdoável é sua ignorância cinquentenária em relação ao nosso país: para ele o Rio continua sendo nossa capital ...  Quanto à sua insinuação (praticamente uma denúncia) de suborno feito pelo Comitê Olímpico Brasileiro para esconder as falhas e fraudes dos Jogos Olímpicos Rio 2016, ela é muito grave e precisa ser analisada pelo MP para se checar sua veracidade. Por causa disso, enviei hoje (31/7) o seguinte email ao jornal El País:

El duro y ácido texto de Jesús Mota sobre los Juegos Olímpicos Río 2016 (Los Juegos Olímpicos del 'temor y temblor') evidencia su ignorancia cincuentona sobre mi país: para él, Río sigue siendo nuestra capital ...

Respecto a su denuncia de soborno contra el Comité Olímpico Brasileño "para que el desastre y el fraude se entierren bajo capas de dinero", quiero creer y espero que el Sr Mota tenga pruebas suficientes e inequívocas sobre lo que escribió, para no ser acusado de liviandad e irresponsabilidad, comprometiendo también El País."]


3 comentários:

  1. Merecemos todas as críticas, e a Espanha merece um jornalista assim ignorante? De qualquer maneira está serão as Olimpíadas da vergonha, o enterro do Brasil, como país! Anita Driemeier

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  2. Muito bem, Vasco. Gostei se suas observações. Mas que a desorganização é total , isso é a realidade. A baia da Guanabara está um horror...

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  3. Acho muito exagero, será ciúme de um possível sucesso da nossa Olimpíada?. Quanto a corrupção, ela será desvendada mais cedo ou mais tarde. mas ainda é cedo.

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