Em reportagem do dia 23 deste mês de março o jornal O Globo lança um pouco mais de luz sobre o assunto, listando personalidades brasileiras do mundo do entretenimento identificadas na lista do HSBC. Todas elas negam ter feito operações ilegais, mas nem todas comprovaram isso. Eis a lista publicada pelo Globo:
‣ Marília Pêra -- US$ 834 mil em 2006/2007 (na edição impressa do jornal são US$ 834.133 -- valor em julho de 2006), em conta aberta em 22/2/1999.
Na sua edição impressa do dia 23/3, o Globo informa que o escritório Montenegro e Raman, que representa a atriz, não havia respondido ao pedido de esclarecimentos do jornal até o fechamento da edição.
‣ Maitê Proença -- US$ 585.241 (edição impressa -- valor em julho de 2006) em conta aberta em 17/4/1990
A atriz, por email, informou ao jornal que não tem conta no banco suíço. A resposta -- digo eu e não o jornal -- é escapista, já o que interessa em primeiro lugar é confirmar e justificar a conta bancária identificada em 2006.
‣ Claudia Raia e Edson Celulari -- US$ 135.723 (edição impressa -- valor em julho de 2006), no período de 05/3/2004 a 11/5/2006. Segundo o Globo, a atriz informou após a reportagem, por nota, que a conta bancária existiu de fato e que ela recolheu os impostos devidos. Em suas palavras: “Informo que a conta bancária citada — encerrada em 2006 — continha uma quantia que era uma reserva pessoal, fruto de muito trabalho, com seus devidos impostos recolhidos”.
‣ Francisco Cuoco -- US$116.240 (edição impressa), em julho de 2006, conta aberta em 09/11/1994. Cuoco é representado também pelo escritório Montenegro e Raman, o mesmo de Marília Pêra, que também não forneceu os esclarecimentos solicitados pelo Globo.
‣ Roberto Medina -- US$ 0 (zero) em julho de 2006. Período em que teria sido correntista do HSBC na Suíça: de 16/01/1990 a 09/5/2000. Medina informou ao jornal, por sua assessoria, que tem conta no HSBC no Brasil mas nunca foi correntista desse banco na Suíça.
‣ Tom Jobim e Ana Lontra Jobim -- US$ 0 (zero) em julho de 2006. Período em que teriam sido correntistas do HSBC: 23/12/1993 a 06/7/1995; 12/01/1996 a 23/8/2005; e 09/02/1995 a 14/02/1996. O Globo tentou contatos com a Jobim Music, com o Instituto Tom Jobim e com a assessoria de Ana Lontra, mas não teve retorno de nenhum deles.
‣ Andrucha (Andrew Waddington) e Ricardo Waddington -- US$ 0 (zero), em julho de 2006. Período em que teriam sido correntistas do HSBC: 03/7/1997 a 31/01/2000. Ricardo informou que nunca teve conta nesse banco, e Andrucha não respondeu ao Globo.
Andrucha
Ricardo Waddington
‣ Hector Babenco -- US$ 0 (zero), em julho de 2006. Babenco teria sido correntista do HSBC de 25/4/1988 a 01/6/1992,mas informou ao Globo que nunca teve conta nesse banco suíco.
‣ Jô Soares -- US$ 0 (zero), em julho de 2006 -- teria sido correntista do HSBC de 21/02/97 a 03/10/2001, de 11/4/1988 a 25/3/1997, de 01/9/1998 a 29/10/2002, de 03/5/2001 a 17/01/2003. Jô nega ter conta na Suíça (já teve, e no HSBC, pergunto eu?), diz que teve conta no HSBC de Nova Iorque mas não apresentou comprovantes ao jornal.
‣ Jorge Amado, Zélia Gattai, Paloma Amado e João Jorge Amado -- US$ 0 (zero) em julho de 2006. Teriam sido correntistas de 25/01/2001 a 25/3/2003. Confirmaram que tiveram conta no HSBC suíço e que ela foi declarada, mas não comprovaram isso para o jornal. Segundo a assessoria da instituição, entre 2009 e 2012, a Fundação recebeu do Fundo Nacional de Cultura R$ 477 mil e captou pela Lei Rouanet R$ 1,2 milhões.
Se dentro do ambiente estritamente cultural os números assustam, imagine-se quando isso extrapola para outras áreas estranhas. Em 2012, entre os 18 projetos aprovados pelo Minc para a Região Sul do país para captação de recursos via Lei Rouanet há um simplesmente incrível: foram aprovados R$ 64,5 milhões para a restauração da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis!! Isso é que é atividade cultural, o resto é bobagem. Barbaridade, tchê!
[As contas com saldos positivos listadas acima surpreendem por seus valores, como os de Marília Pêra, Maitê Proença, Claudia Raia/Edson Celulari e Francisco Cuoco. Essa turma mostra mostra uma capacidade de poupar absolutamente incomum para o cidadão brasileiro comum.
Num raciocínio inteiramente lógico, o Globo lembra que diversas das personalidades citadas receberam nos últimos anos recursos públicos por meio de leis de fomento à cultura -- como a Lei Rouanet e o Fundo Nacional de Cultura -- para desenvolver atividades artísticas, mas ressalta que "não é possível, porém, fazer conexão entre o dinheiro captado e os recursos que circularam nas contas bancárias na Suíça".
Segundo O Globo de 23/3, Claudia Raia afirmou que a reportagem fez uma “associação leviana e irresponsável” da existência da conta à captação de recursos para seus espetáculos via Lei Rouanet. Na nota, Claudia disse que sempre realizou “corretamente a rígida e transparente prestação de contas exigida pela lei” e que “nunca pairou nenhum tipo de dúvida sobre a captação de recursos nas produções” das quais ela fez parte. Segundo ela, essas contas “estão disponíveis no órgão competente para qualquer tipo de consulta”.
Eis a lista publicada na edição impressa do Globo de 23/3/2015 de incentivos recebidos pelos artistas listados como correntistas do HSBC suíço:
‣ Claudia Raia -- por meio da Raia Produções, captou de 2009 a 2015, R$ 7,4 milhões via Lei Rouanet para os musicais "Pernas pro ar", "Charlie Chaplin" e "Raia 30 anos".
‣ Edson Celulari -- por meio da Cinelari Produções Artísticas captou de 1997 a 2012, R$ 2,6 milhões para as peças "D. Quixote de lugar nenhum", "Fim de jogo", "Nem um dia se passa sem notícias suas"e "Dom Juan".
‣ Andrucha -- através de sua empresa Conspiração Filmes captou R$ 13,4 milhões, conforme dados do Ninistério da Cultura (Minc). Esse dinheiro se destinou a projetos como "Taça do Mundo é Nossa Casseta & Planeta O Filme", "Matador"e "Eu Tu Eles".
‣ Marília Pêra -- através da Peramel Produções Artísticas captou R$ 100 mil via Lei Rouanet para montar e divulgar a peça "A filha da ...", que estreou em 2002 com a própria Marília em cena.
‣ Hector Babenco -- através da sua HB Filmes captou R$ 16,2 milhões para trabalhos como o filme "Carandiru"e a peça de teatro "Hell".
‣ Roberto Medina -- ainda segundo o Minc, Medina através de sua empresa Rock World captou R$ 13,6 milhões para o Rock in Rio 2013 e 2015.
‣ Fundação Casa de Jorge Amado -- esta instituição, que funciona em Salvador, conta com o apoio do Minc. Segundo a assessoria da pasta, ela recebeu do Fundo Nacional de Cultura entre 2009 e 2012 $ 477 mil, e captou pela Lei Rouanet R$ 1,2 milhão.
‣ Fundação Tom Jobim -- catou R$ 1,7 milhão pela Lei Rouanet, usado em eventos como a exposição "Tom Jobim, música e natureza".
Só nessa diminuta lista acima rolaram R$ 41,37 milhões. Acho, e penso que muita gente concordará comigo, que há muito dinheiro escoando nessa avenida chamada Lei Rouanet. Já fiz postagem sobre isso em 29/10/2014. E a impressão que se tem, dificílima de ser eliminada, é que a fiscalização disso é zero, nula, nenhuma. Naquela postagem menciono, por exemplo, que em 2011 Maria Bethânia conseguiu a bagatela de R$ 1,2 milhão para fazer o blogue "O Mundo Precisa de Poesia", que contém um vídeo dirigido por Andrucha. Em 2013, foram captados R$ 42.754.932,14 (pessoas físicas e jurídicas) dos R$ 117.970.281,19 autorizados (clicar em "Confira o relatório"), relativos a 495 projetos de Pessoas Físicas com captação.
Os petralhas não podem culpar FHC pela Lei Rouanet porque ela foi criada no governo Collor -- e ela vem há 12 anos sendo conduzida pelo PT e sua curriola. Em outubro de 2014, Juca Ferreira, ex-ministro da Cultura no governo do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) e coordenador de cultura da campanha de Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saia), disse que a Lei Rouanet é "nefasta". Segundo ele, "ela discrimina regiões como o Nordeste, o Norte, o Centro-Oeste, 80% do dinheiro que o Governo Federal destina vai para o Sul e Sudeste. E, dentro dessas regiões, ele vai para os mesmos grupos. Quem define para onde vai o dinheiro são os departamentos de marketing das empresas. O problema da Rouanet é que financia peça da Broadway, não tem critério. Considero nefasta a Lei Rouanet, ela prejudica a melhoria do padrão da cultura brasileira".
Em 30/12/2014, Juca Ferreira foi nomeado ministro da Cultura do governo Dilma NPS, cargo que ele ocupou de agosto de 2008 até o fim do segundo governo do NPA (01/01/2011). Antes disso, ele ocupou durante 5,5 anos o cargo de Secretário-Executivo do Ministério da Cultura - Minc (do início de 2003 até o final de julho de 2008, na gestão Gilberto Gil). Como é que esse cidadão, petista roxo, convive durante 7,5 anos com uma lei "nefasta" com poderes para alterá-la, e não faz absolutamente nada nesse sentido?!
Enquanto os petralhas se enrolam e nos enrolam com a tal Lei Rouanet, nosso dinheiro suado dos impostos continua irrigando as hortas de um bando de agentes "culturais" (com e sem aspas), a maioria com projetos um tanto ou quanto bastante questionáveis.]
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