segunda-feira, 27 de abril de 2015

Banho, o berço da intimidade (I)

[Está em curso no imperdível Museu Marmottan Monet em Paris, até 5 de julho deste ano, uma exposição inusitada denominada "La toilette, naissance de l'intime" ("Banho, o berço da intimidade"). A exposição aborda duas atividades essenciais do ser humano, o banho e a higiene pessoal, mostrando sua evolução da Idade Média aos tempos de hoje. O texto a seguir foi traduzido do catálogo da exposição .] 

Prefácio

"Conhecido mundialmente por seus acervos de Monet e Berthe Morisot, o Museu Marmottan Monet organizou em 2014, para comemorar seus oitenta anos de existência, duas exposições de envergadura: "Os impressionistas na intimidade. Cem obras-primas de coleções particulares" e "Impressão, o sol nascente. A verdadeira história da obra-prima de Claude Monet". As coleções do museu não se limitam entretanto à arte do final do século 19. Elas refletem o gosto eclético do nosso fundador, Paul Marmottan, e do grupo de seus doadores.

Testemunha dessas paixões privadas, a metade das obras conservadas no museu pertence a períodos diversos e são escalonadas do século 18 ao século 20. Vitral proveniente da catedral de Soissons, políptico do Mestre de Cesi, "Cassone" da escola de Ferrare, esculturas policrômicas em madeira da escola de Malines e tapeçarias de Bruxelas oferecem um apanhado da arte da Idade Média e da Renascença, reunido em torno de uma das primeiras coleções de iluminuras  da França. (...)

Desejávamos em 2015 relatar essa riqueza numa exposição reunindo obras do século 15 aos nossos dias, que testemunhem um aspecto de nossa história e de nossa cultura. A exposição "La Toilette. Naissance de l'intime" se insere nessa perspectiva. Uma centena de obras -- tapeçarias, pinturas, esculturas, fotografias, gravuras -- descreve uma prática nova -- o banho -- a evolução de rituais corporais e o aparecimento, ao final, de um espaço dedicado a isso. Um lugar se fecha, se inventam gestos, o indivíduo se apropria de um tempo que não pertence senão a ele. Em seu trajeto, a exposição aborda também o impacto desse tema novo sobre as artes, no final do século 19, com principalmente o nascimento do nu moderno. O século 20 marca uma reviravolta. O tema do banho oferece aos vanguardistas a oportunidade de analisar e expor, com formas desestruturadas, sofrimentos íntimos e coletivos. Ele questiona a sociedade de consumo. O século 20 se questiona sobre a conjunção de noções tais como a intimidade e a exposição.

Essa manifestação artística [no museu] não poderia ter ocorrido sem o concurso e o apoio de importantes museus franceses e estrangeiros, assim como de numerosos colecionadores. Aos quais aqui agradecemos. Meu agradecimento se estende igualmente aos organizadores e administradores da exposição, Georges Vigarello e Nadeije Laneyrie-Dagen, por sua notável contribuição e seu engajamento impecável ao serviço de um projeto que conjuga história da arte e história da cultura, e faz o casamento da emoção e do conhecimento".

Patrick de Carolis
Diretor do Museu Marmottan Monet

Comunicado à imprensa




Anônimo (Escola de Fontainebleau). Retrato presumido de Gabrielle d' Estrées e da duquesa de Villars no banho, final do século 16. Montpellier, Museu Languedociano. Este quadro é uma variação de um original, do Louvre, que representa Gabrielle d'Estrées, favorita de Henrique IV, e sua irmã.  As duas mulheres estão no banho, numa cuba coberta por um lençol e isolada por cortinas.  Em segundo plano, uma babá amamenta: o banho é sem dúvida ligado ao parto. O desejo de mostrar uma distinção é marcante: o busto permanece vestido, os braços imóveis, rosto maquiado, longe de qualquer atitude de higiene pessoal. As blusas usadas pelas banhistas acentuam essa exigência de reserva, contenção, ainda que a cuba junte seus corpos. - (Foto: Google)


Após ter celebrado [em 2014] seus oitenta anos de abertura ao público, o Museu Marmottan Monet apresenta de 12 de fevereiro a 5 de julho de 2015 a primeira exposição já dedicada ao Banho e ao Nascimento da Intimidade. A exposição reúne obras de artistas maiores do século 15 aos dias de hoje, relativas aos rituais de higiene [pessoal], seus espaços e seu gestual. 

É a primeira vez que esse tema, único e inevitável, é apresentado sob a  forma de uma exposição. Nessas obras que refletem práticas cotidianas que se poderia crer banais, o público descobrirá prazeres e surpresas de uma profundidade pouco esperada. Museus de prestígio e coleções internacionais se associaram com entusiasmo a esse empreendimento e concordaram em fazer empréstimos importantes de obras à mostra, entre as quais se encontram sequências de pinturas que jamais foram expostas desde sua criação. Uma centena de quadros, esculturas, estampas, de fotografias e de imagens animadas ("cronofotografias") permitem ofertar um roteiro excepcional.

A exposição se abre com um conjunto extraordinário de gravuras de Dürer, de Primatice, de pinturas da Escola de Fontainebleau, entre as quais um Clouet, e o excepcional Mulher e a pulga de Georges de LaTour, e um conjunto único e surpreendente de François Boucher, mostrando a invenção de gestos e de lugares específicos de banho na Europa do Antigo Regime. 


Alain Jacquet, Gaby d' Estrées, 1965. Paris, Galeria Vallois. Jacquet é um representante do Mec'art [Arte Mecânica] que se consagrou à produção de imagens por procedimentos de transmissão mecânica. A fonte de suas serigrafias não é o real, o verdadeiro, mas a própria história da arte. Jacquet se apropria aqui do quadro Gabrielle d' Estrées no banho com a duquesa de Villars, da Escola de Fontainebleau [imagem anterior]. Ele não se contenta, entretanto, de retomar o original: ele o maquia em foto publicitária, vagamente inquietante. Essa modernização se traduz no título da obra, no qual o nome da favorita de Henrique IV é americanizado em "Gaby". - (Foto: Google).


Na segunda parte da exposição, o visitante descobrirá que com o século 19 se afirma uma renovação em profundidade das ferramentas e dos modos da higiene pessoal. O surgimento do banheiro, do uso mais diversificado e abundante da água inspira Manet, Berthe Morisot, Degas, Toulouse-Lautrec e ainda outros artistas, não menores, a produzir cenas inéditas de mulheres se lavando em uma bacia ou eventualmente numa banheira. O gestual é desordenado, o espaço se torna definitivamente fechado e liberado para uma intimidade total, uma forma de conversa consigo mesmo se lê nessas obras, de onde emana uma impressão profunda de intimidade e de modernidade.

A última parte da exposição entrega ao visitante a imagem às vezes familiar e desconcertante de banheiros modernos e "funcionais" que são também, com Pierre Bonnard, espaços nos quais é permitido, longe do olhar de outros e do ruído da cidade, se abandonar e sonhar.

Introdução dos organizadores e administradores





Países Baixos do Sul, O Banho, estampa da vida senhorial, cerca de 1500, Paris - Museu de Cluny - Museu Nacional da Idade Média. Esta tapeçaria é exemplo de uma concepção de banho no começo da Renascença: um banho que se toma no verão, no jardim. Uma donzela nobre prepara seu corpo, talvez para uma noite nupcial; ela é cercada de música, trazem-se-lhe jóias e gulodices. Ela não faz nenhum gesto de higiene, julgado prosaico, mas fica imóvel, nua até metade do corpo e quase ideal na sua perfeição. O banho confina com o sonho: hino à beleza e à feminilidade. O espaço é utópico, aberto a todos os ventos, a natureza é prolífera, saturada de cores. - (Foto: Museu Cluny).

Uma tapeçaria do Museu Cluny, um dos elementos da série de estampas Episódios da vida senhorial no século 16, ilustra um banho suntuoso: empregados se desvelam perto da banhista, uma natureza luxuriante rodeia a banheira de pedra, os instrumentos de música, os perfumes, as cores invocam o alerta dos sentidos. O banho seria plenitude, prazer, a ocasião para também representar o nu, um corpo delgado triunfante em um ambiente sublimado. Essa imagem é particular, quase irreal na sua perfeição: nenhum ambiente cotidiano é nela indicado, nenhum gesto de se lavar ou de conversa. Ela se junta a uma tradição: a que, no entorno de 1500, representa mulheres no banho, no meio de uma natureza prolífera associando fontes e céus, líquidos e flores, lingeries e carnes, e abrigando corpos hieráticos, firmes em sua majestade. É o nu, para dizer a verdade, que é celebrado aqui, o ideal das formas, sua perfeição, e menos o gestual todo prosaico da ablução. O banho não é senão o pretexto. A cena ganha em idealismo o que perde em realismo, o recurso frequente a personagens da Bíblia ou da mitologia permite franquear os códigos de vestimenta,tudo revelando o que o cotidiano pode esconder. 

A pintura revela o "segredo", aquele das linhas "perfeitas" oferecidas aos olhos do espectador: iniciativa marcante em uma época em que o profano assume uma importância mais considerável e na qual Vênus tende sensivelmente a competir com a Virgem. Época na qual corpos de cores leitosas, delicadas, de formas ampliadas, dos quais os quadros Suzana banhando-se, de Tintoreto, tanto o do Louvre como o do Museu Histórico da Arte, de Viena, permanecem exemplos privilegiados. Uma maneira de fazer existir a beleza numa Renascença, que se interrogava como nunca sobre a excelência física. Uma maneira de fazer existir também o pudor, o de Suzana surpreendida pelos anciões, por exemplo, ou o de Betsabá banhando-se vislumbrada por Davi, simbolizando em suas expressões e em seu ocultamento por véus toda a delicadeza esperada do sexo feminino. A cena tradicional do banho visa portanto mais o corpo do que a prática, a beleza e o pudor, mais que o banho em si. 

Além desse "pretexto banho" explorado pelos pintores, a imersão em uma cuba ou banheira, ou a frequentação de estufas [banhos térmicos] permanecem, seja como for, práticas raras no início de nossa modernidade. Não que estejam ausentes as "banheiras" em alguns dos grandes castelos. Não que estejam ausentes as observações sobre os efeitos higiênicos do banho em alguns dos grandes tratados sobre saúde. Mas, além de ser a água rara nas cidades e alojamentos dos séculos 16 e 17, existia uma crença a seu respeito. A permanência dentro do líquido e o calor deste, previsto para abrir os poros, se tornam também garantias de fragilidade para os banhistas. O corpo poderia aí ser exposto ao "veneno", em particular ao da peste. Por isso, as observações se acumulavam desde o fim da Idade Média estigmatizando e tornando raro o uso da água: "Para o banho, estão as veias já abertas, de sorte que a água poderia passar pelos principais membros do corpo e aniquilar suas virtudes", afirma um tratado do século 15 sobre a saúde. A prática [do banho], de fato, era limitada.

Preciosas, em compensação, permanecem tais representações de um banho quase "mitológico", no início de nossa modernidade. Seu testemunho sobre o ideal da beleza física e a perfeição das linhas se associa ainda ao testemunho sobre uma visão da intimidade. Elas jogam com o "coberto" e o "descoberto", o escondido e seu segredo. Elas circunscrevem uma intimidade feita de adornos, paramentos, de ocultamento sob véus. A vestimenta protege. Ela é a "fronteira". A intimidade se inicia aqui nos limites do corpo, desenhando um "interior" que o tecido deve recobrir, tudo afirmando uma parte decisiva de mistério e de pertença a si mesmo.

Mais importantes, mais realistas também, são as cenas de penteadeira: a mulher sentada diante de seu espelho, verificando sua cútis, aplicando seu pó-de-arroz, ajustando seus cabelos. Elas revelam, com o mundo moderno, a importância crescente dada ao vestuário, aos adereços, à aparência. Elas mostram que se acentuam as normas, a ponto de se tornarem objetos de ilustrações: em particular aquelas que pesam sobre a atitude, a apresentação pessoal. Elas falam, também, do papel mínimo assumido pela água em tais operações matinais, práticas "secas" dito de outra maneira, nas quais a lingerie, o perfume, os unguentos são as principais ferramentas da higiene, ao mesmo tempo em que as mãos são simples e furtivamente borrifadas. Mais ainda, elas testemunham tolerâncias sociais das quais hoje nos esquecemos: a mulher no banho, na toalete, é com maior razão mais facilmente  mostrada por pintores e gravadores, fazendo desse momento um espetáculo. O universo do quarto, do toucador, pode ser ocupado por criados, pessoas íntimas, visitantes. A arte do colóquio pode aí se desenrolar, assim como a arte do intercâmbio ou da sociabilidade. Nenhuma presença de intimidade tal como a entendemos hoje. A mulher se maquia, se arruma, se veste diante dos outros, ainda que, claro, ela não exponha em nada sua nudez, último baluarte de sua intimidade.

É bem a profunda transformação dessa imagem que revela a história do banho, através de quadros e estampas. É ela que ilustra a presente exposição: um tema até aqui pouco estudado, que não foi até agora objeto de um projeto semelhante. O espaço do banho muda por exemplo com o século 18. A cena se privatiza. O lugar se faz mais "reservado". A água em excesso aí se banaliza, se "normaliza". Longe dos pavores do passado, nascem práticas de higiene que tornam menos tolerável o olhar de estranhos. O recurso ao bidê, a lavagem das partes íntimas, a dos pés ou de outras partes do corpo podem ainda se fazer na presença de criados, elas não se efetuam mais diante de visitantes vindos de fora. O momento do banho, assim, se desdobra em dois momentos: o primeiro torna-se aquele de uma nova intimidade que se aplica à ablução, o segundo fica aquele de uma sociabilidade correspondente à adaptação e à arte de alguma última novidade em termos de tecido, couro, etc.

Esse próprio segundo momento, aquele todo "social" até então, do vestuário se transforma por sua vez. No final do século 18, não se toleram mais as visitas de estranhos. Pouco depois de 1800, a Sra. de Genlis em seu Dicionário de Etiquetas se espanta até que uma tal situação tenha podido existir anteriormente. É o conjunto da cena do banho que desde então se adota a privacidade, é sua moldura também que, abandonada às ilustrações de um "inconveniente", até mesmo de um "licencioso", se retrai do grande gênero pictórico. É o espaço sobretudo que se fecha, o do quarto, o do banheiro, cuja fórmula se difunde insensivelmente no mundo burguês.  A  pessoa aí se afirma, se reencontra, se abandona. Ela desenvolve gestos que não pertencem senão a ela. Assim, o dispositivo se transforma: ele se torna aquele do "sujeito", com seus instrumentos próprios, sua nova intimidade. Essa "conquista", por assim dizer, participa de uma alforria maior. A cultura do século 18 acentua o espaço privado em torno de práticas inéditas, das quais o conceito de "privativo", solitário, retirado é o mais marcante.

Uma tal dinâmica de privacidade não se processaria e se acentuaria senão no século 19. Em breve, é a própria criadagem que é menos tolerada em tais cenas. Daí as imagens totalmente renovadas, com as quais se encantam os gravuristas: aquelas das portas se fechando, de ferrolhos sendo puxados para melhor assegurar uma intimidade de si mesmo. Solitárias, considera-se que aí existam gestos que escapam de qualquer olhar.  Nessa solidão se impõem o isolamento, a atenção completamente personalizada. Fase decisiva, na qual se cria a exigência da intimidade absoluta, que é a nossa. Uma exigência, todos a entendem, que não é apenas espacial e que influencia as atitudes, os comportamentos, as ferramentas. Também sobre a psicologia, o indivíduo existindo a partir daí face a ele mesmo, se estudando, se examinando segundo uma liberdade cujos limites cabe apenas a ele fixar. 

É por conseguinte no século 19, com uma grande difusão do banheiro e, no final do período, de um banheiro alimentado por uma água que pela primeira vez atinge todos os pavimentos, que se faz existir definitivamente uma situação nova: um espaço completamente inédito, inicialmente fortemente reservado a uma elite e, em seguida, irremediavelmente estendido a outras franjas sociais. É, desta vez, o próprio "segredo" que se reestrutura, se torna mais complexo, se aprofunda. É também esse "segredo" que se torna uma nova preocupação do pintor, tão logo a cultura pictórica se engajou, no último terço do século 19, em um realismo sensível aos temas do quotidiano, tão logo também se atribuiu uma legitimidade crescente ao prazer, ao desejo, autorizando a restituir seu mistério e sua força às imagens da intimidade. O que, ao renovar as representações da toalete e do banho, renova também as representações da própria nudez. (...) A cena da toalete e do banho oscila desde então rumo a uma dinâmica inédita: abundância de movimentos, o jogo lúdico com as esponjas, fricções diversas, o escoamento da água sobre a carne. Ele mesmo, o nu, não é mais aquele acadêmico, do corpo perfeito, mas aquele todo prosaico, do quotidiano: os gestos secretos levam a melhor sobre o ideal do ato.

Última fase: no século 20, os corpos quase inteiramente imersos em banheiras modernas, se entregam à água distantes de qualquer lavação ou de qualquer prática de conservação pessoal, liberados para o prazer tanto psicológico quanto físico de uma solidão no líquido morno, um ambiente acolhedor e aveludado. (...)

Georges Vigarello                                                                           Nadeije Laneyrie-Dagen

Roteiro da exposição

As principais mudanças nas práticas de higiene e de conservação pessoal na nossa história ocidental não se limitam à conquista do seu "próprio". Elas vão além. Elas contribuem para um aprofundamento do "íntimo". Elas ampliam, dito de outra maneira, o espaço concedido ao que é privado, pessoal, ao que é mais secreto em cada um. Elas enriquecem e especificam o que se faz consigo mesmo. A pessoa ganha aí uma afirmação e uma autonomia que não pertencem senão a ele. As artes visuais mostram que os corpos não apenas se despem, mas se revelam consagrados a práticas de higiene e de beleza cada vez mais precisas, cada vez mais privativas nos espaços que, progressivamente, isolam e escondem quem as utiliza. Essa dinâmica se traduz por uma "conquista" de espaço, uma transformação do olhar sobre a intimidade, uma conquista de gestos também, sempre mais numerosos.

1. O banho amoroso da Renascença



Anônimo, Escola de Fontainebleau, Vênus ao espelho, segunda metade do século 16, Mâcon, Museu das Ursulinas - A toalete é uma dança ritual; o corpo se movimenta sem se deslocar, em gestos cada dia mais idênticos. Essa dança não pode ser vista senão por quem a pratica. O artista que a representa finge não estar lá. No século 16, a pintura que mostra a mulher nua, de corpo ideal ("Vênus"), no ato de se contemplar no espelho, fixa sua atitude numa coreografia que é tão elegante quanto artificial. No crepúsculo do século 19, o americano Muybridge, promotor da cronofotografia, congela com sua objetiva os movimentos reais de um corpo menos gracioso, antes de lhe restituir a graça, dinamicamente, por meio de um instrumento denominado "praxinoscópio". - (Foto: Google)

Durante a Renascença, os banheiros [para banhos] públicos, tão frequentes na Idade Média, acabam por desaparecer. A água, cuja partilha se constituía em uma ocasião festiva, é vista com desconfiança, como uma possível transmissora de doenças. É apenas na elite social que se mantém a prática do banho: em alguns prestigiosos "apartamentos de banhos" dos castelos ou, em particular para as mulheres, no retiro do quarto. As "mulheres no banho" ou as "mulheres à toalete" pintadas pela Escola de Fontainebleau na França no final do século 16, testemunham essa novidade da vontade de encerramento, de privacidade. O ritual representado não é simplesmente higiênico: as representações são ligadas a práticas amorosas ou simbólicas da fecundidade. Além disso, esses locais são eles mesmos indefinidos, com múltiplas aberturas; as banheiras suportam a presença de várias pessoas, as mulheres que nelas se banham aceitam a proximidade de adultos de seu sexo, de crianças e inclusive de adultos.

(cont.)






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