Sou vizinho de uma escola famosa em Niterói, o Gay Lussac (que, soube, foi recentemente vendido para um grupo americano), que cobre do jardim de infância ao ensino médio. Apesar de termos, todos os vizinhos dessa escola, a vida infernizada nos dias de aula por causa da irresponsabilidade de pais e mães de alunos que dão exemplos diários de absoluta incivilidade, simplesmente bloqueando o trânsito na hora de deixar e apanhar seus pimpolhos, me impressiona a facilidade com que o Gay Lussac fecha por ocasião de qualquer feriadozinho esprimido.
Evidentemente, o Gay Lussac não é a única escola a fazer isso. Isso ilustra a irrelevância que a educação adquiriu no Brasil, um país atrasado em termos educacionais. A educação virou uma atividade que pode fácil e absolutamente ser interrompida a qualquer momento, quantas vezes for necessário para o descanso e o lazer de alunos, pais e professores, todos, coitados, exaustos com suas respectivas atividades. Isso sem falar nas frequentes greves de professores, que se preocupam mais em manter seus salários mesmo quando parados em greve, do que propriamente repor as aulas perdidas. O cidadão comum chia e esperneia se e quando a padaria, a farmácia, o açougue, o botequim, a loteria, a banca de jornais, o chaveiro e etc fecham, mas escola fechada não incomoda ninguém, pelo contrário. Ouso afirmar que isso é mais acentuado da classe média para cima, porque as classes mais baixas sentem na carne a falta que a educação faz e, ademais, as escolas públicas são também centros de alimentação para seus filhos.
Este ano de 2015 será outro ano repleto de feriados em dias de semana, o que é sinônimo de enforcamento de dias de trabalho, fechamento de escolas, o diabo. Por exemplo: o dia de Tiradentes, 21 de abril, cai numa terça, mas um bando de muita gente enforcará a terça-feira para ter um feriadão de quatro dias a partir de sábado. No Rio de Janeiro, a situação será pior porque o 23 de abril, quinta-feira, é dia de São Jorge e feriado municipal, o que muito provavelmente provocará o enforcamento da sexta-feira 24/4 e, consequentemente, uma semana toda praticamente perdida.
Os enormes danos ao país não se resumem aos dias de aula perdidos, a economia também sofre um impacto significativo. Estudo técnico da Firjan - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro estima para 2015 uma perda para a indústria brasileira, por conta dos feriados, de R$ 64,6 bilhões, o que representa cerca de 4,8% do PIB industrial brasileiro, contra 3,6% em 2014.
Oficialmente, diz o estudo citado, o Brasil tem nove feriados nacionais e sete pontos facultativos. Contudo, três destes pontos facultativos tornaram-se, por tradição, feriado em todo o país: segunda e terça-feira de Carnaval e Corpus Christi. Assim, o número de feriados nacionais chega a 12 - Tabela I. Como se não bastasse, o País ainda convive com 43 feriados estaduais. Observe-se -- digo eu e não o estudo -- que somos constitucionalmente um país laico, mas os feriados religiosos (católicos, na esmagadora maioria) são absolutos no Brasil.
Feriados Nacionais |
2014
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2015
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Data
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Dia da semana
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Data
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Dia da semana
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Confraternização Universal |
1-jan
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quarta-feira
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1-jan
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quinta-feira
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Carnaval |
3-mar
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segunda-feira
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16-fev
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segunda-feira
|
Carnaval |
4-mar
|
terça-feira
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17-fev
|
terça-feira
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Paixão de Cristo |
18-abr
|
sexta-feira
|
3-abr
|
sexta-feira
|
Tiradentes |
21-abr
|
segunda-feira
|
21-abr
|
terça-feira
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Dia do Trabalho |
1-mai
|
quinta-feira
|
1-mai
|
sexta-feira
|
Corpus Christi |
19-jun
|
quinta-feira
|
4-jun
|
quinta-feira
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Independência do Brasil |
7-set
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domingo
|
7-set
|
segunda-feira
|
Nossa Sra.Aparecida |
12-out
|
domingo
|
12-out
|
segunda-feira
|
Finados |
2-nov
|
domingo
|
2-nov
|
segunda-feira
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Proclamação da República |
15-nov
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sábado
|
15-nov
|
domingo
|
Natal |
25-dez
|
quinta-feira
|
25-dez
|
sexta-feira
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Nota: Na metodologia, segunda e terça-feira de carnaval e corpus-christi foram considerados feriados; os enforcamentos ((ou pontes) não foram considerados nos cálculos. Fonte: Diário Oficial da União
Tabela 1 - Feriados Nacionais
Em 2015, o Brasil terá 11 dos 12 feriados nacionais ocorrendo em dia de semana, três a mais que no
ano passado. Na esfera estadual, 32 dos 43 feriados cairão em dia de semana, um a mais que em
2014. Com isso, estima-se que neste ano as perdas para a indústria brasileira podem alcançar R$
64,6 bilhões, o que representa cerca de 4,8% do PIB Industrial brasileiro, frente a 3,6% em 2014 - (Tabela 2).
Tabela 2 - Estimativas do Custo Econômico dos Feriados - Brasil
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Resultados Estimados – Brasil – R$ bilhões20142015PIB industrial (*) 1.267,3
1355,8
PIB industrial perdido por feriados nacionais 40,1
59,9
PIB perdido por feriados estaduais 5,1
4,7
PIB perdido por feriados – Total 45,2
64,6
Perda total/PIB industrial 3,6%
4,80%
-
Diante da expressiva quantidade de feriados estaduais, diz o estudo, a estimativa foi feita para todas as unidades
da federação. Evidentemente, os estados mais industrializados concentram os maiores valores
absolutos: as perdas podem chegar a R$ 19,5 bilhões no estado de São Paulo, superar R$ 10,1
bilhões no Rio de Janeiro e se aproximar de R$ 6,4 bilhões em Minas Gerais.
Em termos relativos, no entanto, além do PIB, o número de feriados em cada estado e a incidência
destes em dias de semana são os fatores determinantes. Nesse sentido, Alagoas, que em 2015 terá
quatro feriados estaduais em dias de semana, apresenta a maior perda relativa: o prejuízo para esse
estado pode chegar a 6,1% do seu PIB industrial. Com três feriados estaduais em dia de semana,
Acre e Amapá podem ter perdas de até 5,7% do PIB industrial.
Em 2015, em oito estados não haverá nenhum feriado estadual em dia de semana: Minas Gerais, Rio
Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Pará, Goiás, Pernambuco e Mato Grosso do Sul. Nesses casos,
as perdas ficarão restritas aos onze feriados nacionais em dia de semana, podendo chegar a 4,4% do
PIB industrial destes estados. A Tabela III do estudo apresenta os feriados e as perdas estimadas para cada estado. A perda de São Paulo é estimada em 4,82% de seu PIB industrial.
As estimativas apresentadas não deixam dúvidas a respeito do elevado custo dos feriados para a
indústria brasileira. Mas as perdas não se restringem às empresas. As paralisações na atividade
industrial provocam uma grande perda de arrecadação tributária6
para o governo. Apenas com a
indústria de transformação, o governo federal poderá deixar de arrecadar R$ 964 milhões a cada
feriado nacional. Para os governos estaduais, a perda com a arrecadação de ICMS pode atingir R$
572 milhões por dia. No fim das contas, a União e as 27 unidades da federação podem deixar de
arrecadar, por conta de feriados nacionais e estaduais, R$ 18,1 bilhões da indústria da
transformação em 2015.
Diante disso, na busca pela redução do “custo Brasil” e pelo aumento da competitividade da
indústria brasileira, o Sistema FIRJAN defende a revisão de todos os feriados e o fim dos “feriadões”.
Dessa forma, alguns feriados poderiam ser considerados como datas comemorativas e aqueles que
caírem no meio de semana poderiam ser deslocados para segunda-feira ou sexta-feira. Em vista da
atual necessidade de estimular a atividade produtiva e, ao mesmo tempo, aumentar a arrecadação,
essas medidas seriam extremamente oportunas, além de uma alternativa para evitar um aumento
de impostos.
NOTA METODOLÓGICA DA FIRJAN - i) A estimativa do PIB industrial brasileiro para 2015 foi feita a partir do PIB de 2013, divulgado pelo
IBGE, e estimativas próprias para a variação real do PIB em 2014 e 2015. - ii) Para os Estados, o PIB Industrial para os anos de 2014 e 2015 foi estimado com base na participação
do Valor adicionado bruto industrial sobre o valor adicionado bruto total em 2013, divulgado pelo
IBGE.
No setor do comércio, as perdas são também significativas. Estudo da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) estima que o comércio deverá perder R$ 15 bilhões com os feriados de 2015. Esse valor é 22,5 % superior ao registrado em 2014.
Além do menor número de dias úteis em 2015, contribui para o agravamento das perdas decorrentes do maior número de feriados a crescente relação folha de pagamento/receita operacional no comércio brasileiro em curso desde 2009, de acordo com o levantamento.
Em 2015, o maior número de interrupções ocorrerá em função de dez feriados integrais entre segundas e sextas-feiras, além do meio expediente da quarta-feira de cinzas (em 18 de fevereiro).
"O fechamento dos estabelecimentos ou a opção pela abertura das lojas em dias não úteis compromete a lucratividade do setor por meio da elevação extraordinária dos custos trabalhistas, decorrentes das operações nesses dias", disse a CNC.
Observação minha e não da CNC: o único setor que se beneficia realmente com essa farra de feriados me parece ser o de turismo, se bem que o alto custo de vida generalizado mudou sensivelmente o padrão de lazer do brasileiro em geral. Diante dos números acima e da precariedade da economia brasileira há pelo menos quatro anos (com previsão de mais quatro ...), simplesmente não dá para entender a passividade do Executivo e do Legislativo de ser absolutamente indiferente a esse absurdo quadro de feriados e feriadões no Brasil. A sugestão do Sistema FIRJAN para acabar com essa bagunça irresponsável é perfeita, mas não é novidade. Essa reivindicação da indústria, e também do comércio, circula há anos nos corredores do Planalto e do Congresso e recebe total descaso por parte de quem cabe implementá-la.
Apenas como comparação, desde 1971 vigora nos EUA o chamado Ato de Uniformização do Feriado de Segunda-Feira (Uniform Monday Holiday Act), pelo qual os feriados oficiais são observados às segundas-feiras, com exceção do dia de Ano Novo (01 de janeiro), o Dia da Independência (4 de julho), o Dia dos Veteranos (11 de novembro), o Dia de Ação de Graças (última quinta-feira de novembro), e o Natal (25 de dezembro). Há 44 anos, pois, os americanos nos dão uma aula de bom senso em termos de observância de feriados que nós, medíocres, não aprendemos.
Apenas como comparação, desde 1971 vigora nos EUA o chamado Ato de Uniformização do Feriado de Segunda-Feira (Uniform Monday Holiday Act), pelo qual os feriados oficiais são observados às segundas-feiras, com exceção do dia de Ano Novo (01 de janeiro), o Dia da Independência (4 de julho), o Dia dos Veteranos (11 de novembro), o Dia de Ação de Graças (última quinta-feira de novembro), e o Natal (25 de dezembro). Há 44 anos, pois, os americanos nos dão uma aula de bom senso em termos de observância de feriados que nós, medíocres, não aprendemos.
Recebido via email de Jefferson Jornalista em 19/4/2015:
ResponderExcluirUma tolice acreditar que feriados são ruins. São espetaculares. Movimentam uma industria espetacular, sem chaminés, limpa, puríssima e que movimenta bilhões. A indústria do turismo. Não tem quem não ganhe, dos receptivos, táxis, motéis, postos de combustíveis, rede hoteleira, quiosques, pipoqueiro, restaurantes, vida noturna.
É o dinheiro circulando alucinadamente. pensar o contrário é desconhecer essa indústria. É se bobear, não consegue nem hotéis, pousadas e tão pouco vagas em ônibus ou aviões. Tudo tem que ser planejado com muita antecedência.
Jeff
Recebido via email de Domingos José D'Amico em 20/4/2015:
ResponderExcluirAmigos,
Viva a Caixa Escolar, e todos os demais ajutórios, inclusive a boa escola pública de outrora, e até os feriados ... férias vendidas ... e outras coisas que construímos para sobreviver ...
Lutemos para que estas migalhas não sejam mais necessárias para que construamos cidadãos !
Que direitos e deveres sejam justos ... e a cidadania não seja possibilidade de uma minoria ... que de um lado se safa da miséria econômica ... e de outro da miséria política da alienação socialmente construída para os “incluídos” !
D’Amico
Recebido de Sérgio Viana Nunes por email em 21/4/2015:
ResponderExcluirGrande Jef, o homem da informação, descobri que o Vasco é flamengo e tem uma nega chamada Tereza e que o PT vai cortar o saco dele. Aqui na Bahia, o PT expulsou os vereadores que descumpriram a orientação partidária, e votaram a favor da cidade de Salvador. Enquanto os petistas flagrados em esquema de corrupção, condenados e apenados, continuam filiados ao partidos. Não é Dirceu, Delúbio, Genuíno, Cunha, Palocci, etc.etc. Certa vez, Jô Soares sentenciou: " A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa". Pau, neles. E viva o feriado, afinal os sem tempo procuram o que fazer. Quem procura, acha. Um abraço.