sexta-feira, 2 de outubro de 2015

As origens e polêmicas pouco conhecidas do horário de verão, especialmente na Europa

[Como no domingo, 16 de outubro, terá início o horário de verão, parece-me interessante e oportuno sabermos um pouco mais sobre essa iniciativa de avançar os relógios em uma hora em uma determinada estação do ano, a cada ano. Na noite de 17 para 18 de outubro de 2015 terá início novo horário de verão no Brasil. No dia 29 de março, a Europa entrou no horário de verão. Por conta disso, o site francês L' Internaute publicou um artigo interessante que traduzo a seguir. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Esta noite (de 28 para 29/3/2015), a França e a Europa passam para o horário de verão. Por que esta data? Como foi adotada? A que serve? A favor ou contra? Quais as suas consequências sobre a saúde? O L' Internaute responde a todas essas questões.

O reinado da hora de verão começou! Forçada pela economia de energia, a primeira mudança de horário de 2015 começou na noite passada (entre o sábado 28 e o domingo 29 de março). (...) você deve avançar seu relógio em uma hora para se adequar a essa alteração, que é desagradável para muitos franceses. Trata-se de retomar um horário deslocado de duas horas em relação ao do sol, contra uma hora apenas no inverno. Concretamente, nessa noite perdemos uma hora de sono. Há contudo uma compensação: o anoitecer já ocorre mais tarde a partir de agora.

O período do horário de verão se estende por 7 meses, contra apenas 5 meses do horário de inverno: essa diferença permite aumentar o efeito superposto da economia de energia com a luminosidade da tarde. É exatamente este o argumento envolvido na introdução da mudança de horário tal como a conhecemos hoje. Anualmente, são os últimos fins de semana de março e outubro que são reservados pelas autoridades francesas e europeias para fazer essa transição. Assim,o retorno ao horário de inverno se dará na noite de 24 para 25 de outubro em 2015. Neste artigo, responderemos a todas as suas dúvidas sobre a mudança de horário e o horário de verão. Por que existe a mudança de horário? Como foi imposto? Qual é seu benefício? Quais são seus efeitos sobre a saúde? Ela permite realmente uma economia de energia?

Essa medida foi aplicada pela primeira vez em 1916 na Alemanha e na Áustria-Hungria. Objetivo: poupar carvão para o esforço de guerra. A França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos seguiram essa iniciativa -- entre nós [franceses], a primeira mudança de horário ocorreu em 14 de junho de 1916 -- antes de abandoná-la em tempos de paz. Na França, foi em 1975 que o sistema foi adotado, no governo de Jacques Chirac, com o objetivo de reduzir o consumo de energia durante a crise do petróleo. A primeira passagem para o horário de verão da era moderna ocorreu no domingo de 28 de março de 1976. O conjunto dos países europeus acabou por introduzir essa prática no início dos anos 1980. 

Ségolène Royal [ministra da Ecologia, Desenvolvimento Sustentável e Energia] anunciou em 28 de março de 2015 que considerava a possibilidade de uma nova série de estudos sobre a mudança de horário. Se seu impacto se mostrar nulo ou negativo sobre a economia de energia, ela não fechou a porta a uma revogação da medida. 

Quais são as regras da mudança de horário? A cada ano, o funcionamento das duas mudanças de horário permanece o mesmo, em função do momento do ano:

● Para o horário de verão (mudança de horário na primavera): é preciso acrescentar uma hora aos relógios.

● Para o horário de inverno (mudança de horário no outono): atrasar os relógios em 2 horas.

(...)

Para que serve a mudança de horário?

O objetivo disso, segundo as autoridades: tirar melhor proveito da conciliação das horas de atividade com as horas de insolação, para limitar os gastos com iluminação artificial aproveitando 60 minutos adicionais no dia no final da tarde. Com efeito, a mudança de horário tem consequências sobre a hora do nascer e do pôr do sol. O astro surge mais tarde nas pequenas horas da manhã, mas por outro lado ele desaparece no oeste 60 minutos mais tarde. Ora, na França as atividades são muito mais importantes no fim do dia (é principalmente entre 18h e 21h que se registra o maior consumo de energia) do que nas primeiras horas do dia (entre 6 e 7h da manhã). Essa diferença, segundo as autoridades, permite aproveitar melhor a coincidência entre as horas de iluminação natural e os hábitos de consumo dos cidadãos. 

A ADEME [sigla francesa para Agência do Meio Ambiente e da Matriz de Energia] --que está na origem dessa medida -- é a agência governamental encarregada de encontrar meios para reduzir a conta energética. (...) Para ela, a ligação entre mudança de horário e economia de energia é evidente (...). Mas, o mecanismo da mudança de horário é hoje contestado por certos especialistas e pelas "vítimas" do novo horário. 

As cifras mais recentes sobre os efeitos da mudança de horário no consumo de energia datam de 2009. Estimava-se então que a economia obtida apenas com a iluminação foi de 440 GWh, um valor correspondente ao uso de iluminação artificial de uma cidade de 800 mil domicílios (ou seja, Lyon e Marselha juntas). Muitas outras cifras foram fornecidas a partir de então, entre elas a de que 40.000 toneladas de CO₂ foram evitadas, segundo o Ministério da Ecologia. Segundo a mesma fonte, poderia ser economizada uma emissão total de cerca de 100.000 toneladas de CO₂ acumuladas, de hoje até 2030. (...)

A história da mudança de horário: das velas ao petróleo

Brincar com os ponteiros [de um relógio] é algo muito antigo. Como ponto de partida, uma insônia: a do inventor e político americano Benjamin Franklin. Em 1784, quando era embaixador dos Estados Unidos na França, ele foi acordado muito cedo por um ruído na rua. Verificando através das cortinas que fazia um dia lindo, ele envia uma carta sarcástica ao Journal de Paris, na qual ele lamenta as horas de luminosidade matinal perdidas e propõe aos parisienses que se levantem mais cedo. As pessoas iriam, efetivamente, deitar-se cedinho, o que permitiria economizar milhares de velas. Ele chegou mesmo a propor, meio jocosamente, que se fizessem soar os sinos das igrejas desde a alvorada para acordar os dorminhocos e, se isso não bastasse, usar tiros de canhão para forçá-los a se levantar...

Mais de cem anos depois, o entomologista neozelandês Georges Vernon Hudson se cansa de ver suas caças a insetos serem interrompidas pelo cair da noite e sugere: e se fizéssemos com que os relógios, não as pessoas, mudassem? Ele inventa assim a ideia de um horário de verão, que se aplicaria à bela estação austral. Hudson propõe à Royal Society da Nova Zelândia deslocar em duas horas os relógios nos equinócios, para permitir a cada um que aproveitasse melhor "o críquete, a jardinagem, o ciclismo, ou qualquer outra  atividade externa". Com relação a isso seus amigos cientistas eram muito céticos, mas o intenso debate provocado na imprensa por essa proposta se estendeu para o outro extremo do mundo ...

Na Grã-Bretanha, o chefe de uma empresa de obras públicas, William Willett, promoveu a ideia a partir de 1907. Ele propôs que, na primavera, os relógios fossem progressivamente adiantados em pequenos saltos de 20 minutos. Foi finalmente durante a Primeira Guerra Mundial que seus argumentos foram entendidos. Na época, a Alemanha e a Áustria-Hungria procuravam economizar carvão ao máximo. Para limitar o consumo doméstico, as autoridades militares decretaram a adoção do horário de verão nos dois países. Na primavera de 2016, os dois países trocam os horários pela primeira vez, seguidos logo pelo Reino Unido, a França e os Estados Unidos. Cada um desses países abandona a medida com a volta da paz. 

Em 1940, a Alemanha nazista reintroduz o horário de verão, sempre para preservar  suas reservas de carvão. Para facilitar a circulação de trens entre a Alemanha e a França, os alemães -- que ocupavam a França -- exigem do regime de Vichy que ele adapte os relógios franceses ao horário alemão. Paris e o resto da França continental abandonam o fuso de Londres (Greenwich) para aderir ao de Berlim e, ao mesmo tempo, implantam o horário de verão. Uma situação de fato, que inspira o título do romance "Mon village à l' heure allemande" ["Meu vilarejo no horário alemão", em tradução direta] de Jean-Louis Bory (que ganhou o prêmio Goncourt). Durante muito tempo, a ideia de mudança de horário ficará, no espírito dos franceses, associada a esse período sombrio. Após o fim do conflito, a França mantém o horário de Berlim (C.E.T.) [sigla inglesa para Tempo Central Europeu], renunciando a retornar ao fuso de Londres. Em compensação, o horário de verão é abolido.

Em fins de 1973, o preço do petróleo quintuplica em poucas semanas. A conjunção de um desaquecimento econômico com a Guerra do Yom Kippur, que põe Israel em confronto com vários países árabes, torna a conta pesada  para os países do Ocidente. Na França, como alhures na Europa, é a hora de economias drásticas de energia, resumidas no slogan inteligente: "Não temos petróleo, mas temos ideias". Os postos de gasolina sofrem racionamento, as estações de televisão encerram sua programação a partir das 23h ... Em 1975, o governo de Jacques Chirac propõe então a reintrodução da mudança de horário. Um decreto publicado no Diário Oficial torna a transição obrigatória. A primeira mudança de horário da era moderna ocorreu em 28 de março de 1976. No jornal televisivo do canal TF1 o jornalista que era a atração da época, Roger Gicquel, declara sem preâmbulos: "Não estou entendendo nada". Quase 40 anos depois, os franceses permanecem incertos.

O sistema não tem interesse senão em regiões temperadas

Inúmeros países no mundo não adotam a mudança de horário. Para que o sistema faça sentido, é necessário que as variações sazonais de luminosidade sejam suficientemente importantes para que a mudança de horário seja relevante. Esse é, por exemplo, o caso da França. Em Paris, a duração entre o nascer e o por do sol passa de 16h10' no solstício de verão para 8h14' no solstício de inverno. Se ficássemos constantemente no horário  de inverno, como acontecia anteriormente, o sol se levantaria às 4h47' da manhã na capital e se poria a partir das 20h58'. Para os partidários da mudança de horário, as pequenas ou primeiras horas da manhã (das 4 às 6) seriam "perdidas". Ao contrário, em Lagos (Nigéria), cidade situada ligeiramente ao norte do equador, a evolução do dia não varia mais que 45 minutos ao longo do ano, o que torna a medida [de mudança de horário] inoperante. 

É pois nas regiões temperadas do globo que a medida é adotada, com algumas diferenças. Na América do Norte, por exemplo, a passagem para o horário de verão se faz no segundo domingo de março e a passagem para o horário de inverno ocorre no primeiro domingo de novembro. Além daí, o interesse energético é consideravelmente reduzido em certos países quentes e desenvolvidos: de fato, uma hora a mais de insolação constitui um período de tempo no qual os aparelhos de ar condicionado operam a plena carga. Foi este argumento que permitiu ao estado do Arizona não adotar mais a mudança de horário, ao contrário da quase totalidade dos estados americanos.

O "duplo" horário de verão: o que é isto?

Na França ocorre uma situação particular: seu horário de inverno não corresponde ao horário de seu fuso horário geográfico. Durante a Segunda Guerra Mundial o regime de Vichy adota a "hora alemã", ajustando a França ao fuso horário de Berlim. A hora legal é, em decorrência, avançada em uma hora em relação a seu fuso de referência. Há  mais de 70 anos a hora legal francesa é fixada como sendo GMT (Greenwich Mean Time) + 1 hora. Ao adotar um horário de verão em 1975, a França optou portanto por acentuar ainda mais essa defasagem. Consequência: no inverno, a hora francesa tem uma hora de "retardo" em relação à hora solar e, no verão, essa diferença passa para duas horas! E até um pouco mais, se considerarmos que o sol atinge seu zênite teórico em Paris uma dezena de minutos antes de Londres. Hoje, no verão, às 14h do horário "francês" é meio-dia na hora solar. Daí a expressão da hora de verão "dobrada". 

Em 1997, um relatório do Senado considerava até a hipótese de adotar o horário de verão durante o ano todo, o que resultaria em um nascer do dia por volta de 9h e um pôr do sol por volta de 18h no inverno. Essa reforma poderia beneficiar os donos de cafés e eliminar o problema da mudança de horário em todos os semestres. Esse projeto jamais viu a luz do dia ... De acordo com a ACHED (sigla francesa para Associação Contra o Horário de Verão Dobrado), a Espanha e os países do Benelux [Bélgica, Holanda e Luxemburgo] são os únicos outros países no mundo que mantêm um sistema como esse francês. A Rússia, a China, os países bálticos e Portugal já o teriam abandonado. Essa Associação solicita hoje que a França faça o mesmo. 

Uma competência europeia?

A definição da hora legal e a escolha do fuso horário cabem, em princípio, aos Estados. Mas, depois de vários anos, a situação jurídica se tornou mais complexa. Em 1998, os Estados membros da União Europeia (UE) optaram por harmonizar as datas de mudança de horário, preocupados com uma boa coordenação do mercado único.  A fixação dessas datas tornou-se portanto uma competência comunitária. Em 2000, a mudança de horário foi até reintroduzida  sem limitação de tempo por uma diretriz do Parlamento Europeu, traduzida na legislação francesa. É a diretriz 2000/84/CE, de 19 de janeiro de 2001, que serve desde então como ponto de balizamento para as modalidades exatas de mudança de horário. Ela estipula que a passagem para o horário de verão deve efetuar-se no último domingo de março, e o retorno ao horário de inverno no último domingo de outubro, à 1h da manhã, segundo a hora universal (GMT). (...)

Pode-se realmente abandonar o sistema de mudança de horário?

Nesse contexto, os Estados europeus podem, sempre, decidir sozinhos por retornar à alternância entre o horário de verão e o de inverno? A ambiguidade reina. A ACHED recorreu contra essa diretriz europeia junto à corte de Luxemburgo. Resultado: o tribunal avaliou que a escolha da hora legal permanece sendo uma opção dos países membros [da União Europeia]. Mas, autoridades políticas francesas consideram que isso é jurídica e politicamente difícil no momento.

Outros países no mundo já deram marcha à ré quanto a isso. A Rússia decidiu assim eliminar a mudança de horário em fevereiro de 2011 -- ela havia sido introduzida em 1981, durante o regime soviético. No mesmo ano, o Egito, a Ucrânia e a Bielorrússia optaram por abandonar também a mudança de horário. A Tunísia fizera o mesmo em 2009, e a Armênia o fez em 2012. Recuando-se no tempo, constata-se que o Japão aplicou o horário de verão entre 1949 e 1952 (o país era então controlado pelos EUA). Essa medida, então muito impopular, foi objeto de novos debates nos anos 1990.

A favor ou contra a mudança de horário? Veja todos os argumentos.

A economia de energia

A favor -- Segundo a ADEME, a agência do meio ambiente e da matriz energética, a economia de energia elétrica é estimada pela EDF [Électricité de France, a estatal francesa de energia] em 1,3 bilhão de kWh, ou seja 290.000 toneladas equivalentes de petróleo de energia primária. Isso corresponde a cerca de 4% do consumo  em iluminação na França, o que equivale ao consumo total de energia elétrica em um ano de uma cidade de 200.000 habitantes.

Contra -- Os contrários à mudança reagem, dizendo que essa economia é uma parcela ínfima do consumo francês, da ordem de 0,3% a 0,5%. Muito mais do que isso, as horas poupadas de iluminação artificial à tarde são grandemente anuladas ou reduzidas pelas despesas suplementares induzidas na parte da manhã, principalmente com aquecimento no início da primavera. Associações demandam do governo a realização de um estudo prospectivo sobre o resultado energético da adoção do horário de verão.  

O impacto sobre o meio ambiente

Contra -- Vários opositores ao horário de verão denunciam os efeitos negativos dessa defasagem horária sobre o meio ambiente. Segundo eles, ela provocaria picos de ozônio, porque a circulação [humana] e a atividade industrial começam mais cedo e seus picos coincidem com as horas mais quentes do dia -- a defasagem horária aumentaria assim a concentração de ozônio pelo fenômeno da fotooxidação [oxidação sob a influência de energia radiante (como a luz)].

A favor -- A ADEME contesta esses argumentos. Segundo ela, "os estudos realizados não geraram resultados significativos". 

Os efeitos sobre a saúde

Contra -- Segundo o relatório informativo do Senado, o mundo médico vê nessas mudanças de horário "uma fonte adicional de fadiga por ocasião da primavera". Essa "crono-ruptura" perturbaria o ritmo biológico e provocaria também "distúrbios do sono, do apetite, da capacidade de trabalho e até mesmo do humor". As escolas, as creches, os hospitais e os asilos de idosos são particularmente afetados por esses problemas de adaptação, porque os mais jovens e os mais idosos são mais sensíveis à defasagem no horário de deitar e levantar e são, portanto, aqueles que mais  sofrem os efeitos indesejáveis. 

A favor -- Os defensores da mudança de horário ressaltam contudo que os médicos estão divididos em relação a esse tema. Tais efeitos da mudança de horário sobre o organismo são, na maioria das vezes, qualificados de "transitórios" e são eliminados pouco a pouco no prazo máximo de três semanas. 

O impacto sobre a economia

A favor -- A mudança de horário impõe inúmeras adaptações à vida econômica: regulagem da hora embutida em equipamentos (relógios de ponto, instalações informáticas, aparelhos e ferramentas de uso doméstico, ...), alteração na organização dos transportes (na prática, os trens chegam com uma hora de atraso quando da passagem para o horário de verão e ficam parados uma hora quando do retorno ao horário de inverno). Mas a informatização crescente dos sistemas faz com que essas regulagens se realizem praticamente sem problemas.

Contra -- Nas atividades de construção ou agrícolas, estreitamente ligadas à hora solar, o deslocamento horário tem um impacto direto sobre as horas de trabalho: na indústria de construção, essa mudança de horário obriga a que a jornada de trabalho comece mais cedo. No setor agrícola, ela impedirá o início dos trabalhos desde o amanhecer por causa da umidade do solo. Nos dois casos, na jornada de trabalho, as atividades seriam realizadas frequentemente nas horas mais quentes do dia: se o intervalo para almoço for feito às 12h30' (10h30' na hora solar) os trabalhadores retomarão de fato suas atividades nas horas de grande calor (meio-dia, hora solar).  

A influência sobre a segurança viária

A favor -- Os partidários do horário de verão destacam que "retardar" por uma hora o pôr do sol permite reduzir o número de acidentes de veículos, por melhorar a visibilidade dos motoristas quando da saída do trabalho ou da escola.

Contra -- Essa análise, contudo, é contestada por certos pesquisadores. Segundo eles, afadiga induzida pela redução do tempo de sono à noite e a deterioração das condições atmosféricas na manhã, nas horas de grande circulação, ocasionam, ao contrário, um aumento no número de acidentes. A mudança de horário seria então uma geradora de acidentes.  Segundo a polícia nacional, um pico nos acidentes viários ocorre no alvorecer (entre 8h e 10h) e no entardecer (entre 17h e 21h), de novembro a janeiro. "O horário de inverno aumenta o período de obscuridade nos horários de pico, horas nas quais os motoristas são mais numerosos e estão mais cansados", avalia a área de segurança viária, que recomenda aos pedestres e aos ciclistas o uso de roupas claras. "Uma vintena de pedestres a mais é morta nessa época do ano", estima Sophie Fégueux, conselheira de saúde do delegado interministerial junto à segurança viária, segundo nossos colegas do site 20 Minutos. 
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Entrevista com Éléonore Gabarain, engenheira-agrônoma e presidente da Associação Contra o Horário de Verão Dobrado (ACHED, em francês)

Há quanto tempo sua Associação luta contra o horário de verão?

Foi o professor Boris Sandler, pediatra do Centro Hospitalar Universitário (CHU) de Bordeaux que criou a Associação em 1983. Me filiei a ela em 1984, depois assumi sua presidência em 1989. Temos mais de 25 anos de existência como associação militante, mas também como um grupo de pessoas que realizam estudos em todos os setores sobre a mudança de horário: desde os diagnósticos médicos e sociais efetuados pelo professor, e passando pelas atividades de trabalho. Abordamos também dossiês importantes como o da segurança viária, que se liga diretamente à saúde, porque a principal causa do aumento de acidentes viários quando da mudança de horário é o cansaço dos motoristas.

(...)

Que ações vocês realizam?

Realizamos estudos científicos, buscamos conversações com responsáveis políticos, parlamentares ... Dessa maneira, já originamos vários relatórios parlamentares. Recolhemos também as opiniões das pessoas, porque recebemos uma quantidade enorme de correspondência. O que impressiona é que todas as pessoas dizem a mesma coisa, espontaneamente: elas vêm de regiões diferentes, mas as queixas são sempre as mesmas.

Quais são os principais inconvenientes da mudança de horário?

Contestamos a mudança de horário porque ela só traz problemas. A França é um caso muito particular na Europa, porque no verão tem duas horas de avanço em relação à hora solar, em vez de uma. Isso complica tudo. Isso provoca acidentes, e tem um custo importante sobre a saúde em termos de cansaço principalmente, e sobre o trabalho físico. A única pretensa vantagem é que as pessoas podem sair mais tarde à noite. Mas, não temos nenhum estudo quantitativo sobre esse tema. Acrescente-se que, se as saídas são retardadas no verão por causa do calor, a maior parte dos equipamentos é paralisada entre 18h e 19h por razões de custo do trabalho.

A mudança de horário não possibilita reduzir o consumo de energia?

Não, a economia obtida é ínfima. Poder-se-ia crer que, diante da crise energética atual, esse sistema se imporia, mas isso não é verdade porque a mudança de horário gera um superconsumo importante devido ao tráfego e ao aquecimento. No Reino Unido, esse excesso de consumo foi avaliado em 9%. De manhã, a temperatura é mais fresca, se sente por mais tempo o frio e a umidade, e essa mudança de horário prolonga a utilização de aquecimento na primavera enquanto faz com que esse uso comece mais cedo no outono.










Um comentário:


  1. A nós, que não podemos interferir nessa decisão, resta-nos considerar boa ou não a adoção do horário especial. Eu gosto, mas já constatei inúmeras vezes que os responsáveis por adequar o horário de ligar ou desligar luzes (áreas comuns de condomínios, por exemplo) não tomam conhecimento e o desperdício continua...

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