quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A tal da terceira idade

Recentemente, Ruy Castro e Cora Rónai escreveram crônicas sobre a chamada terceira idade, com diferentes abordagens. Ruy Castro voltou ao tema mais ou menos duas semanas depois (denunciando inclusive deturpações de seu texto original que circularam bastante na internet). Os textos, como sói acontecer com esses dois renomados e requintados escritores, são muito bem escritos, mas pesa neles um certo pessimismo e um certo mau humor com essa fase da vida. Acho que ambos estavam num mau dia, com o humor em baixa, o que acontece aos melhores dos mortais às vezes mais do que se espera e deseja.

A tal da terceira idade é uma experiência fascinante, não há a menor dúvida. O "fascinante" evidentemente só se aplica se houver predisposição positiva para enfrentá-la, caso contrário ela certamente será um calvário e um atalho para um fim triste. Voltarei a isto mais adiante.

Como toda experiência, a terceira idade nos traz surpresas positivas e negativas. Entre estas últimas a mais contundente é sem dúvida o enorme descompasso entre a mente e o corpo: este envelhece e se deteriora muito mais rápido que aquela (volto a frisar que isto só se aplica a quem entra mentalmente "inteiro" na terceira idade). Essa enorme defasagem nos impõe desafios extras, às vezes sutis outras vezes evidentes (mais isto que aquilo), que nos obrigam a cuidados adicionais obrigatórios, dentro e fora de casa. A começar pelo lado físico. Dentro de casa, por exemplo, qualquer altura acima da ponta dos pés é um forte convite a um tombo de resultados imprevisíveis, e uma escada tem que ser subida e descida degrau a degrau. Atravessar a rua, só com tempo de folga no sinal verde. Forçar a barra é uma burrice inconsequente e muito arriscada. Afobação não combina com nada, muito menos com a terceira idade.

Esse mesmo distanciamento mente x corpo nos reserva surpresas que nos espantam: por exemplo, a primeira vez que alguém lhe cede o lugar numa condução é um impacto. Você logo pensa: caramba, estou tão velho assim?!

A terceira idade nos provoca reações paradoxais. Nos tornamos mais compreensivos e tolerantes com certas coisas, mas absolutamente irritadiços e intolerantes com outras, em especial com aquelas que traduzem desrespeito, falta de educação, falta de civilidade e ausência de espírito comunitário -- estas grosserias nos levam (ou me levam) à beira da apoplexia. Onde isso acontece? Em qualquer lugar que tenha pelo menos dois brasileiros juntos. Lugares mais comuns: metrô, cinema, shoppings ... Isso ocorre -- ou pelo menos ocorreu -- em certo grau também com Ruy Castro e Cora Rónai, como se observa nos textos acima citados.

Mas, a terceira idade é também muito enriquecedora. A bênção dos netos é uma emoção permanente, renovada e indescritível. Conviver com essas criaturas maravilhosas ultrapassa qualquer expectativa. A saudável "competição" com os pais deles nas funções de educá-los e "deseducá-los" por si só vale o ingresso.

A terceira idade nos apresenta também, de maneira clara e inequívoca, a perfeita noção da finitude da vida. E este é um conceito muito desafiador e potencialmente muito perigoso. Uma mente despreparada e passiva pode levar a uma decisão profundamente desastrosa de, por exemplo, interromper aprendizados, realizações e conquistas sob a ótica absurdamente distorcida de que "não faz sentido acumular mais acervos, se o fim não está lá tão distante". Nada mais estapafúrdio! A vida é tão valiosa, rica e sublime que deixar de desfrutá-la sempre e permanentemente na plenitude da capacidade física e mental de cada é um erro ao mesmo tempo injustificável e imperdoável -- e que sai incrivelmente caro.

A terceira idade nos traz também uma descoberta no mínimo intrigante: o enorme poder de um suspiro, de um lamento ou de um gemido ... O que isso ajuda a vencer uma chatice é impressionante ...

Não vou entrar na seara dos problemas físicos e psicológicos acarretados pela terceira idade, eles foram suficientemente abordados por Ruy Castro e Cora Rónai. Apenas acho que, por serem inevitáveis e inexoráveis vários deles, a melhor filosofia é fazer de cada limão a melhor limonada possível. Simples assim.

O grande problema de que tenho conhecimento por leitura e por ouvir dizer  quanto à terceira idade são o desconforto e a extrema dificuldade de adaptação a ela experimentados por quem se aposenta. Vou abordar o problema no caso masculino, com o qual mais convivo e também por minha própria experiência. As mulheres, por sua própria natureza, costumam se sair melhor que nós também nessa fase da vida.

Tenho conhecidos e amigos qua caíram num vácuo e até em depressão após a aposentadoria, simplesmente por perderem a noção do que fazer da vida. Sei de casos até de suicídio por isso. Não há uma panaceia para o problema, cada pessoa é um caso, mas há algumas regras básicas de aplicação universal.

Viver intensamente a vida familiar. O "intensamente" não implica necessariamente fazer tudo junto, mas compartilhar tudo ao máximo (os bons e os maus momentos), dialogar frequentemente, viajar em grupo sempre que possível, reunir-se sempre que possível, estreitar ao máximo os laços internos. A força de uma família unida é insuperável e insubstituível. Uma base familiar unida, companheira e sólida é um gigantesco passo para uma velhice serena e feliz.

Manter a mente sempre em atividade e aberta a novas experiências. Um dos grandes medos de quem ingressa na terceira idade é a chegada do "alemão" (Alzheimer), um hóspede indesejável que não sai mais da casa que o hospeda. Esse é um mal horrível, infelizmente ainda sem cura. Sabe-se que certas células já se predispõem a "agasalhá-lo" já na meia-idade, ou até antes. Mas sabe-se também que manter a mente permanentemente ocupada e desafiada tem um tremendo poder de adiar ou até mesmo de eliminar a vinda do alemão.

Uma primeira e urgente preocupação/iniciativa de quem está para se aposentar, ou recém iniciou sua aposentadoria, é não só manter seus hobbies e distrações/ocupações preferidos, mas procurar permanentemente diversificá-los e expandí-los. Quem não os tem, necessita criá-los impreterivelmente, não importa seu valor absoluto ou relativo. Música, leitura, cinema, teatro, museus, gastronomia  (que pode ser boa sem assaltar o bolso), caminhadas, debates são sensacionais para isso. Atividades outras como por exemplo carpintaria, jardinagem, colecionar qualquer coisa, aprender e praticar idiomas, fazer cursos diversos e enriquecedores, explorar ao máximo a internet (sem dela ficar escravo) para expandir horizontes de informação e cultura, escrever, fazer passatempos que desafiam sua mente [palavras cruzadas (em mais de um idioma, se for de sua capacidade), jogos diversos (há por exemplo dois jogos interessantes que distraem e ensinam ao mesmo tempo: o freerice [que tem as opções Humanidades (Pinturas Famosas/Literatura/Fome no Mundo/Frases Famosas); -- Matemática (Tábuas de Multiplicação/ Matemática Básica (pré-Álgebra); -- Aprendizado de Idioma (Alemão/Espanhol/Francês/Italiano/Latim); -- Ciências (Anatomia Humana); -- Inglês (Vocabulário/Gramática); -- Química (Símbolos Químicos -- lista completa)/Símbolos Químicos (básicos); -- Geografia (Marcos Mundiais/Identificação de Países em Mapas/Capitais Mundiais/Bandeiras do Mundo)/Preparação para Exame] e o Letroca (um jogo para, a partir de letras embaralhadas, encontrar as diversas opções de palavras possíveis, com tempo marcado -- pode ser jogado em português, espanhol e inglês)].

Além de alguns dos hobbies acima, acrescentei um que que me ocupa intensamente e me dá uma enorme satisfação, que foi criar e manter este blogue, o BomLero -- escrito unicamente em português, ele está neste exato momento em que escrevo com 384.176 acessos, com seguidores em países tão diversos como Vietnã, Coreia do Sul, EUA, Irlanda, Israel, Alemanha, Espanha, Índia, Eslováquia, Polônia, Rússia, Ucrânia, Portugal, México, Itália e outros (o Google Blogger atualiza e informa isso o tempo todo). Decidi fazê-lo sem enfoque único e específico, mas aberto como um jornal, porque acredito que isso me permite ser mais útil aos meus seguidores ao mesmo tempo em que me apresenta um desafio maior e constante, que é o de buscar notícias diferenciadas e interessantes em fontes diversas que consigo dominar.

Combater o sedentarismoCerca de 70% da população mundial sofrem os riscos do sedentarismo, responsável por mais de 50% das mortes por infarto. A falta de exercício pode ser um fator de risco tão grave para o coração quanto a hipertensão, diabetes, tabagismo, colesterol alto ou obesidade - e, se associado a esses, pior ainda. Para se ter uma ideia, de acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde, 70% da população mundial são de sedentários. E a falta de atividade física, somada a uma alimentação não-balanceada, é responsável por 54% do número de mortes por infarto. Já um estilo de vida ativo pode ajudar a reduzir o risco de morte em até 40%.

"A atividade física ajuda a baixar os níveis de colesterol e melhorar o controle do diabetes, além de auxiliar no equilíbrio da pressão arterial e melhorar a capacidade respiratória", explica o cardiologista Marcos Bubna. "São atividades simples, como caminhada, corrida, natação ou andar de bicicleta, que podem salvar muitas vidas", completa.

O ideal, segundo os parâmetros da Sociedade Brasileira de Cardiologia, é praticar uma atividade aeróbica pelo menos quatro dias por semana, com um mínimo de 40 minutos de duração, que podem ser divididos em dois ou três períodos diários. "Antes de iniciar seu programa de atividade física é muito importante um bom check-up do coração, um eletrocardiograma, o teste de esforço e a consulta com um cardiologista. Esse cuidado pode dar muito mais segurança ao exercício e para prevenção cardíaca", reforça Bubna.

Ficar muito tempo sentado é considerado hoje tão maléfico quanto o tabagismo. Um estudo australiano publicado em outubro de 2012 no British Journal of Sports Medicine comparou ficar sentado e o tabagismo. De acordo com o estudo, cada hora de televisão que as pessoas assistem, presumivelmente sentadas corta cerca de 22 minutos de sua vida útil, enquanto estima-se que os fumantes encurtam suas vidas por cerca de 11 minutos por cigarro.


Veja algumas dicas simples para deixar o sedentarismo de lado, respeitando sempre as eventuais limitações de  cada pessoa 

- Adotar quatro dias na semana para fazer uma caminhada -- além dos benefícios para o coração, a prática ajuda no bem-estar;
- Levantar-se para falar com alguém que esteja próximo, ao invés de chamá-lo pelo telefone;
- Aproveitar toda e qualquer oportunidade para se locomover andando;
- Para subir ou descer um andar, prefira a escada a menos de algum impedimento de força maior.

Caminhar é o mais simples e acessível dos remédios, e seguramente um dos mais prazerosos. Lhe permite várias opções mentais junto com o exercício físico: não pensar em nada e só curtir o entorno (a melhor alternativa), ou pensar em planos e coisas leves. Levar problemas para a caminhada é besteira, sai o tiro pela culatra. Se você tiver um desses relógios que registram o batimento cardíaco verá que isso não falha: se você caminhar pensando em problemas que o atormentam, o coração inevitavelmente se acelera.

Não veja a terceira idade como um castigo. Enfim, a terceira idade tem aspectos e prazeres que igualam ou facilmente superam as mazelas físicas e outros problemas que quase sempre ou inevitavelmente traz, é só saber encontrá-los e desfrutá-los. Otimismo e alto astral são indispensáveis para um suave navegar nesse oceano especial da vida, e em qualquer outro, claro. E isso está longe de ser demagogia ou algo para inglês ver. Basta, por exemplo, ouvir a música e meditar a letra de "Tocando em Frente", de Almir Sater e Renato Teixeira, que tem versos simplesmente geniais e definitivos como "Cada um de nós compõe a sua história/Cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz".


7 comentários:

  1. O melhor e mais emocionante dos textos do BomLero. Viva você!

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  2. Não diria o melhor, porque todos são muito bons, mas excelente a todas as idades e com endereço certo Parabéns e aguardamos outros textos
    José Manuel

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  3. Vasco, muito bom. Cheio de bons comentários e estimulante. Levanta nosso astral. Só é pena que você não nos gratifique com sua presença em nossas reuniões mensais.
    Jayme Axel Galvão

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  4. Valeu, Vasco. Ainda bem que a maioria de suas observações são utilizadas por mim.Mas sempre é muito adequado uma maior conscientização.

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  5. Eu que frequento está idade gostei muito de sua crônica. Com os avancos da ciencia ,acho que nossos bisnetos vão poder viver a 4I( quarta idade).

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  6. Eu que frequento está idade gostei muito de sua crônica. Com os avancos da ciencia ,acho que nossos bisnetos vão poder viver a 4I( quarta idade).

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  7. Muito bom ler esse texto ! Há coisas que me chateiam bastante na famosa terceira idade , mas , de um modo geral , convivo bem com ela , até porque , como diz o blogueiro em pauta ,mentalmente parece-me estar ainda em plena juventude , tendo de tomar grande cuidado para não incorrer no erro de demonstrar tal coisa e correr o risco de me tornar ridícula !!! Tem razão , amigo , caminhemos , façamos exercícios frequentes , física e mentalmente , e não nos queixemos , com o famoso clichê " no meu tempo "...

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