Uma queixa apresentada no dia 17 de junho ao procurador da República de Cusset, uma cidade do departamento de Allier, no centro da França, por "colocar em perigo a vida de outrem" levantou pela primeira vez (no país, pelo menos)
a questão do perigo que os geradores eólicos representam para a saúde humana. Baseando-se em um relatório de Nicole Lachat, uma bióloga suiça, a associação "O vento que atravessa a montanha" decidiu apontar os riscos das perturbações sonoras dos geradores eólicos, destacando sobretudo a questão dos infrassons por ele emitidos -- ruídos muito graves (baixos) para serem percebidos pelo ouvido humano, mas que teriam um impacto sobre a saúde humana.
De acordo com o relatório da cientista suiça, que analisou e sintetizou pela primeira vez várias pesquisas internacionais, quando entra em movimento um gerador eólico produz vários tipos de ruídos. Os primeiros são ligados à mecânica do sistema (roldanas, etc), especialmente da nacela; os outros estão ligados à aerodinâmica do processo e às irregularidades dos fluxos de ar em volta das hélices (ou pás) quando das mudanças de velocidade. Assim, quando o gerador eólico gira a uma velocidade elevada ele provoca turbulências em volta das pás, que geram zumbidos; enfim, a simples rotação das pás e suas passagens diante do poste ou mastro que as sustenta provocam a emissão de infrassons. Segundo a bióloga, além do aborrecimento e da irritabilidade de quem vive nas proximidades desses geradores, esses incômodos sonoros teriam influência sobre a qualidade do sono, a pressão arterial e a vigilância ou atenção -- sem esquecer, também, os zumbidos nos ouvidos e outras ofensas auditivas. Em suma, existiria uma "síndrome eólica".
Em uma pesquisa relativa ao impacto do tráfego terrestre e aéreo sobre o sono, a OMS (Organização Mundial da Saúde) já havia admitido que a exposição prolongada a essas fontes de ruídos se revelava nefasta para a saúde.
Implantados a partir de 2010, após uma licença de construção de 2007, em três comunas ou cidades do departamento de Allier, os oito geradores eólicos envolvidos na queixa penal têm 150 m de altura (incluindo as pás) e estão sempre em condições operativas. "Há uma segunda parte do projeto em estudo, mas decidimos bloqueá-la a partir desses novos elementos científicos", diz o presidente daassociação que apresentou a queixa. Ele denuncia mais precisamente a proximidade das habitações: "contrariamente ao que havia sido anunciado, algumas casas se situam a menos de 500 m dos geradores eólicos".
Para o advogado da associação, não se trata simplesmente de uma atitude militante de uma associação que, em princípio, seria contrária à geração eólica, mas de um dossiê relevante sobre saúde pública. "É hora de se abrir o debate. Fizemos a demanda orientados por um especialista que se apoiou no estudo recente da Dra. Lachat. Os poderes públicos devem abordar as instalações eólicas como um empreendimento industrial de risco. Isto é fundamental para os ribeirinhos dessas instalações. Não queremos lançar um debate estético sobre a influência dos geradores eólicos na paisagem. Desejamos dispor de informações sobre um risco sanitário ainda desconhecido".
Os reclamantes esperam que o procurador da República dê seguimento favorável à sua queixa, porque estudos suplementares trazem novos esclarecimentos sobre os riscos dos geradores eólicos para a saúde.
Dados da geração eólica na França: 5,5 GW instalados, cerca de 3.550 geradores eólicos, suprindo 1,9% do consumo da França em 2010.
Um parque eólico francês (Foto: Eolienne Enercon E70).
Um parque eólico residencial alemão em Dardesheim (Foto: Barbara Sax/AFP).
Um parque eólico no mar, ao largo da ilha de Borkum (Alemanha), abril de 2010 (Foto: David Hecker/AFP).