quinta-feira, 7 de março de 2013

Morre Hugo Chávez -- que herança deixou?

Na morte de Hugo Chávez, é de se lamentar o sofrimento que teve em sua dura luta contra o câncer. Do ponto de vista político, as opiniões se dividem -- uns o consideram um líder e estadista, outros o têm como um líder demagogo que deixa o país em péssimas condições financeiras, e sem qualquer projeto de sustentabilidade. Estou no segundo time.

Considero Chávez um fanfarrão mal-educado (grosseiro é o termo mais correto), de tiradas e posturas de efeito, que diminuiu a desigualdade social entre os venezuelanos na base do puro paternalismo e, em mais de uma década de poder, deixou o país sem qualquer projeto de sustentabilidade, com uma inflação entre as maiores da América do Sul (inflação ao consumidor fechou 2012 em 20,1%), desabastecido, sem parque industrial, com a economia extremamente dependente do petróleo e uma estrutura agrícola que não consegue abastecer o país. No comércio exterior, 96% das exportações vêm do petróleo e a alimentação depende em mais de 60% das importações, quando se considera bens finais e matéria prima. Na era Chávez o preço do barril de petróleo praticamente decuplicou (de US$ 9 para mais de US$ 100) -- a Venezuela tem as maiores reservas do mundo -- mas ele não aproveitou esse tremendo instrumento para tornar seu país estruturalmente sustentável.

Foi profundamente estatizante e intervencionista, e conseguiu deixar sua estatal do petróleo -- a PDVSA -- em péssimas condições econômico-financeiras, a ponto de não conseguir honrar seus compromissos com a Petrobras na construção da malfadada refinaria Abreu e Lima em Pernambuco. Censurou a mídia que ousou contrariá-lo e contradizê-lo. Tinha, publicamente, posturas ridículas, grosseiras e moleques -- como na ONU, ao discursar em seguida a Bush, reclamando do cheiro diabólico de enxofre que o presidente americano havia deixado na tribuna.

Era fanfarrão e bravateiro contra os EUA de público, mas nos bastidores se locupletava com os seguidos superavits na balança comercial com os americanos: US$ 38,8 bi em 2008, US$ 18,7 bi em 2009, US$ 22,05 bi em 2010, US$ 30,9 bi em 2011, US$ 21,09 bi em 2012.

O Brasil deu-se bem com a Venezuela na era Chávez, com o comércio entre os dois países passando de US$ 1,5 bi para US$ 6,0 bi. Este número significativo vira uma merreca quando comparado ao comércio Venezuela-EUA -- em 2012, isso atingiu US$ 56,3 bi ou seja, o demagogo Chávez negociou com o demônio americano praticamente 10 vezes mais que com o Brasil.  Nosso comércio com a Venezuela tem valor agregado e tem sido superavitário para nós, o que explica (mas não justifica) a quase subserviência nossa com o demagogo Chávez, a ponto de dar um golpe baixo no Paraguai para permitir o ingresso da Venezuela no Mercosul.

A morte de Chávez deixa órfãos na América do Sul e Central, como Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador e Daniel Ortega na Nicarágua, que certamente usarão seu cadáver para continuar pisoteando a democracia.

Apresento abaixo os números da Venezuela, antes e depois de Chávez -- é preciso ficar muito atento ao que está por trás dos gráficos em termos de sustentabilidade, por exemplo.


Um comentário:

  1. É tudo verdade! E ainda deixou um enorme enigma ainda não visto pelos analistas: diminuiu a pobreza extrema e aumentou significativamente a taxa de homicídios/100 mil habitantes. Há vários tipos de democracia. A da Venezuela é uma delas. Vou parar, antes que algum bolivariano me cubra de pancadas.

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