Esplendores e misérias -- imagens da prostituição (1850-1910)
Museu d'Orsay, Paris (22/9/2015 - 17/01/2016)
Capa do catálogo da exposição, com imagens tiradas do quadro "No Moulin Rouge" de Henri de Toulouse Lautrec (1895, óleo sobre tela):
O homem pequeno e barbudo ao fundo, entre uma mulher e outro homem, ambos sentados, é o próprio Toulouse - (Foto: Google)
No século XIX, a prostituição se reveste de múltiplas visagens. Percebida como um "mal necessário" destinado a satisfazer "a brutalidade das paixões do homem", ela não é então considerada como um delito. Sob o Consulado [regime político francês resultante do golpe de estado de 9 de novembro de 1799, que derruba o regime do Diretório (1795-1799)] se organizam o enquadramento e o controle da sexualidade venal: as moças da devassidão são colocadas sob a tutela da polícia de costumes e submetidas a consultas médicas obrigatórias (1802), enquanto a existência das casas de tolerância é legalizada (1804). Apresentado como uma medida de saúde pública, esse sistema regulamentar deve permitir a luta contra a propagação das doenças venéreas.
A prostituição de rua se reveste de formas mais mais mutantes: as "prostitutas registradas" são inscritas nos registros do departamento de polícia e sujeitas a exames médicos regulares, ao passo que as "insubmissas", na maioria das vezes dependentes de gigolôs, atraem seus clientes de maneira clandestina e tentam escapar das prisões em massa que as conduzem a Saint-Lazare (São Lázaro), que era ao mesmo tempo casa de detenção e hospital destinado a cuidar de sifilíticos.
Esse caráter mutante não deixou de obcecar romancistas e poetas, dramaturgos e compositores, pintores e escultores. A maior parte dos artistas do século XIX e da primeira metade do século XX abordou os esplendores e as misérias da prostituição, que se tornaram também um tema favorito para as formas de arte emergentes como a fotografia e depois o cinema.
É em Paris que a prostituição se afirma como tema nas obras relacionadas a correntes tão diversas como o Academismo, o Naturalismo, o Impressionismo, o Fauvismo ou o Expressionismo. Mas, por mais singulares que sejam, todos esses olhares são exclusivamente masculinos. Igualmente, por trás da evocação dos prazeres e das misérias, o que transparece é o peso de ser mulher na época moderna.
Ambiguidade
Na segunda metade do século XIX, mulheres honestas, prostitutas ocasionais, clandestinas ou oficialmente registradas se misturam até não se distinguirem no espaço público. Durante o dia, quando toda forma de atração ostensiva é proibida, a ambiguidade prevalece. As "atraidoras" se identificam discretamente por palavras, gestos (um levantar de anágua ...), poses estudadas ou expressões eloquentes. A prostituição de rua se organiza em grande parte no entorno dos cafés. As varandas são espaços estratégicos para as aliciadoras, visíveis ao mesmo do interior do estabelecimento e da rua. Os cafés-concertos e os cabarés são também núcleos de prostituição. O Moulin Rouge e o Folies-Bergère atraem um público composto em grande parte de turistas, vindos para apreciar tanto os espetáculos nos salões quanto a possibilidade de encontros libertinos.
O aliciamento é permitido para as prostitutas autorizadas, no cair da noite. Se, durante o dia, as prostitutas ostentavam aparências equívocas, suas atitudes se transformam à medida que se altera a paisagem urbana, iluminada inicialmente a gás e depois pela energia elétrica.
Frequentada pela alta burguesia e pela aristocracia, a Ópera de Paris é o teatro de uma prostituição de alta estirpe. Alguns assinantes tinham o privilégio de ter acesso ao palco de dança, para aí encontrar-se com as jovens dançarinas da Ópera. Frequentemente oriundas de um meio humilde, elas esperam encontrar ali um "protetor" rico e influente.
É em Paris que a prostituição se afirma como tema nas obras relacionadas a correntes tão diversas como o Academismo, o Naturalismo, o Impressionismo, o Fauvismo ou o Expressionismo. Mas, por mais singulares que sejam, todos esses olhares são exclusivamente masculinos. Igualmente, por trás da evocação dos prazeres e das misérias, o que transparece é o peso de ser mulher na época moderna.
Mulher na varanda de um café, à noite - Edgar Degas (1877) - Museu d'Orsay, Paris - (Foto: Google)
"Boule de suif" ('Bola de sebo') - óleo sobre tela (1884) - Paul-Emile Boutigny (1854-1929) - Museu de Belas Artes, Carcassone, França - (Foto: Museu d'Orsay)
"La pierreuse" ('A prostituta') - óleo sobre tela (1905) - Théophile Alexandre Steinlen (1859-1923) - Museu d'Orsay, Paris - (Foto: do Museu)
"Portrait de Monsieur Delaporte au jardin de Paris" ('Retrato do Sr. Delaporte no jardim de Paris') - guache sobre cartão (1893) - Henri de Toulouse-Lautrec - Ny Carlsber Glyptotek, Copenhague - (Foto: Museu d'Orsay)
"Boule de suif" ('Bola de sebo') - óleo sobre tela (1884) - Paul-Emile Boutigny (1854-1929) - Museu de Belas Artes, Carcassone, França - (Foto: Museu d'Orsay)
"La pierreuse" ('A prostituta') - óleo sobre tela (1905) - Théophile Alexandre Steinlen (1859-1923) - Museu d'Orsay, Paris - (Foto: do Museu)
"Portrait de Monsieur Delaporte au jardin de Paris" ('Retrato do Sr. Delaporte no jardim de Paris') - guache sobre cartão (1893) - Henri de Toulouse-Lautrec - Ny Carlsber Glyptotek, Copenhague - (Foto: Museu d'Orsay)
Ambiguidade
Na segunda metade do século XIX, mulheres honestas, prostitutas ocasionais, clandestinas ou oficialmente registradas se misturam até não se distinguirem no espaço público. Durante o dia, quando toda forma de atração ostensiva é proibida, a ambiguidade prevalece. As "atraidoras" se identificam discretamente por palavras, gestos (um levantar de anágua ...), poses estudadas ou expressões eloquentes. A prostituição de rua se organiza em grande parte no entorno dos cafés. As varandas são espaços estratégicos para as aliciadoras, visíveis ao mesmo do interior do estabelecimento e da rua. Os cafés-concertos e os cabarés são também núcleos de prostituição. O Moulin Rouge e o Folies-Bergère atraem um público composto em grande parte de turistas, vindos para apreciar tanto os espetáculos nos salões quanto a possibilidade de encontros libertinos.
"La demoiselle de magasin" ('A senhorita de loja') - óleo sobre tela (1883-1885), James Tissot (1836-1902) - Galeria de Arte, Toronto, Canadá - (Foto: Museu d'Orsay)
"Traversant la rue" ('Atravessando a rua') - óleo sobre painel (1873-1875), Giovanni Boldini (1842-1931) - Instituto de Arte Sterling e Francine Clark, Williamston, Massachussetts, EUA - (Foto: Museu d'Orsay)
"La prune" ('A chance', no sentido aqui de oportunidade/possibilidade de conseguir um parceiro -- [o significado de chance/oportunidade para 'prune' data do século XVI] - Édouard Manet, Galeria Nacional de Arte, Washington, EUA - (Foto: Museu d'Orsay)
"Agostina Segatori au Tambourin" ('Agostina Segatori no Tambourin') - óleo sobre tela, 1887 - Vincent van Gogh (1853-1890) - Museu Van Gogh, Amsterdã - (Foto: Museu d'Orsay)
"Femme à la voilette" ('Mulher com pequeno véu') - Louis Anquetin - Museu Van Gogh, Amsterdã -(Foto: Wikigallery)
"Femme sur les Champs-Elysées la nuit" ('Mulher nos Campos Elíseos à noite') - Louis Anquetin - Museu Van Gogh, Amsterdã - (Foto: Museu d'Orsay)
Frequentada pela alta burguesia e pela aristocracia, a Ópera de Paris é o teatro de uma prostituição de alta estirpe. Alguns assinantes tinham o privilégio de ter acesso ao palco de dança, para aí encontrar-se com as jovens dançarinas da Ópera. Frequentemente oriundas de um meio humilde, elas esperam encontrar ali um "protetor" rico e influente.
"Bal masqué à l'Opéra"('Baile de máscaras na Ópera') - óleo sobre tela, 1873 - Édouard Manet - Galeria Nacional de Arte, Washington, EUA - (Foto: Museu d'Orsay)
"Le bal de l'Opéra, Paris" ('O baile da Ópera em Paris') - óleo sobre tela, 1886 - Henri Gervex - Galeria Jean-François Heim, Basel, Suíça - (Foto: da Galeria)
"Le bal de l'Opéra" ('O baile da Ópera') - óleo sobre tela (1866) - Eugène Giraud - Museu Carnavalet, Paris - (Foto: Google)
Como nenhum outro artista, Toulouse-Lautrec dá uma imagem e um toque de humanidade às prostitutas de seu tempo. Nas pinturas que deixou documentando esses encontros ele transmite a impressão de uma vida sem violência, mas com uma forte carga de melancolia. O surgimento da fotografia em 1839 inaugura uma nova era de representação do corpo e de uso da sexualidade. A partir do momento em que podem captar a vida real, os fotógrafos exploram a representação de rostos e genitálias.
A aplicação de técnicas estereoscópicas ao meio fotográfico acrescentou o toque de acabamento à imagem perturbadora de um corpo que se pode desvendar em seu volume, graças à privacidade garantida por um estereoscópio. Mas, essas cenas montadas estão bem distantes das práticas reais de um bordel. Não é de se surpreender: por causa da proibição de tornar público o que acontece nos bordéis e também em consequência dos problemas técnicos envolvidos no processo (material de difícil manuseio, necessidade de iluminação forte), as fotos são feitas no estúdio do fotógrafo.
A vida íntima das prostitutas gera todos os tipos de fantasias. Obrigadas a fazerem exames médicos, elas dedicam um cuidado incessante a seus corpos, acreditando-se que uma higiene impecável tem virtudes profiláticas.
A aristocracia do vício
No topo da pirâmide da prostituição, as meio-mundanas são objeto de um controle particular, como atesta o Livro das cortesãs, registro mantido pela polícia de costumes. Essas jovens, como a Nana de Zola, frequentemente debutaram em um teatro. Sua ascensão social, às vezes fulgurante, é assegurada por seu(s) protetor(es) da alta sociedade. Jogando habilmente com esse capital erótico e social, as cortesãs exibem seu sucesso através da difusão de suas imagens, principalmente com a fotografia.
Nos retratos grandes executados por pintores oficiais e expostos do salão, reencontram-se os códigos tradicionais do gênero sutilmente deturpados. Admiradas no teatro ou na Ópera, observadas pela imprensa, essas meio-mundanas exercem uma real fascinação e ditam o tom em matéria de moda e gosto.
O imaginário e a prostituição
Figura inevitável do século XIX, a prostituta favorece a expressão das fantasias masculinas: através dela se exprimem as perturbações angustiosas e amplas considerações sobre as mulheres em geral. Enquanto o período romântico destaca as heroínas que tombaram, transfiguradas pelo amor sincero que lhes oferece um caminho para a redenção, no final do século se vê multiplicarem as figuras femininas que são ídolos poderosos, cruéis e hieráticos, de uma sexualidade voraz.
"Le bal de l'Opéra" ('O baile da Ópera') - óleo sobre tela (1866) - Eugène Giraud - Museu Carnavalet, Paris - (Foto: Google)
Os bordéis
Ambiente fechado por natureza, o bordel é uma espécie de laboratório para os artistas à procura de temas modernos e de uma renovação no tratamento do nu feminino. Para os pintores e desenhistas satíricos, ele é um meio de revelar o submundo da sexualidade burguesa.
"Femme nue se peignant" ('Mulher nua se penteando') - pintura feita com pastel [espécie de lápis de cor] sobre monotipo, com tinta preta sobre papel (entre 1877-1880) - Edgar Degas - Coleção particular, Chicago, EUA - (Foto: Museu d'Orsay)
"Femme tirant son bas" ('Mulher puxando sua meia') - óleo sobre papelão (1894) -Henri de Toulouse Lautrec - Museu d'Orsay, Paris - (Foto do Museu)
"Hommes attablés en compagnie de femmes légèrement vêtues" ('Homens sentados à mesa na companhia de mulheres ligeiramente vestidas') - guache, tinta sépia, pena - Constantin Guys (1802-1892) - Museu d'Orsay, Paris, conservado no Departamento de Artes Gráficas do Museu do Louvre - (Foto: Museu d'Orsay)
"Femmes à leur toilette" ('Mulheres em seu banho') - óleo sobre cartão (1897) - Félix Valloton (1865-1925) - Museu d'Orsay, Paris - (Foto: do Museu)
"Les demoiselles d'Avignon" ('As donzelas de Avignon') - óleo sobre tela (1907) - Pablo Picasso - Museu de Arte Moderna, Nova Iorque - (Foto: Google)
"Hommes attablés en compagnie de femmes légèrement vêtues" ('Homens sentados à mesa na companhia de mulheres ligeiramente vestidas') - guache, tinta sépia, pena - Constantin Guys (1802-1892) - Museu d'Orsay, Paris, conservado no Departamento de Artes Gráficas do Museu do Louvre - (Foto: Museu d'Orsay)
"Femmes à leur toilette" ('Mulheres em seu banho') - óleo sobre cartão (1897) - Félix Valloton (1865-1925) - Museu d'Orsay, Paris - (Foto: do Museu)
"Les demoiselles d'Avignon" ('As donzelas de Avignon') - óleo sobre tela (1907) - Pablo Picasso - Museu de Arte Moderna, Nova Iorque - (Foto: Google)
Como nenhum outro artista, Toulouse-Lautrec dá uma imagem e um toque de humanidade às prostitutas de seu tempo. Nas pinturas que deixou documentando esses encontros ele transmite a impressão de uma vida sem violência, mas com uma forte carga de melancolia. O surgimento da fotografia em 1839 inaugura uma nova era de representação do corpo e de uso da sexualidade. A partir do momento em que podem captar a vida real, os fotógrafos exploram a representação de rostos e genitálias.
"Études de nu, femme assise, bras croisés" ('Estudos de nu, mulher sentada de braços cruzados') - entre 1900 e 1910 - Anônimo - Museu d'Orsay - (Foto: do Museu)
"Groupe de quatre femmes nues" ('Grupo de quatro mulheres nuas') - François-Rupert Carabin - Museu d'Orsay - (Foto: do Museu)
"The beautiful Otéro" ('A bela Otéro') - Reutlinger (1875-1917) - Departamento de Estampas e da Fotografia, Biblioteca Nacional da França, Paris - (Foto: Google)
"The beautiful Otéro" ('A bela Otéro') - Reutlinger (1875-1917) - Departamento de Estampas e da Fotografia, Biblioteca Nacional da França, Paris - (Foto: Google)
[O vídeo abaixo, feito pelo próprio Museu d'Orsay, apresenta mais detalhes e exemplos da presença da fotografia na exposição do Museu:]
A aplicação de técnicas estereoscópicas ao meio fotográfico acrescentou o toque de acabamento à imagem perturbadora de um corpo que se pode desvendar em seu volume, graças à privacidade garantida por um estereoscópio. Mas, essas cenas montadas estão bem distantes das práticas reais de um bordel. Não é de se surpreender: por causa da proibição de tornar público o que acontece nos bordéis e também em consequência dos problemas técnicos envolvidos no processo (material de difícil manuseio, necessidade de iluminação forte), as fotos são feitas no estúdio do fotógrafo.
A aristocracia do vício
No topo da pirâmide da prostituição, as meio-mundanas são objeto de um controle particular, como atesta o Livro das cortesãs, registro mantido pela polícia de costumes. Essas jovens, como a Nana de Zola, frequentemente debutaram em um teatro. Sua ascensão social, às vezes fulgurante, é assegurada por seu(s) protetor(es) da alta sociedade. Jogando habilmente com esse capital erótico e social, as cortesãs exibem seu sucesso através da difusão de suas imagens, principalmente com a fotografia.
Nos retratos grandes executados por pintores oficiais e expostos do salão, reencontram-se os códigos tradicionais do gênero sutilmente deturpados. Admiradas no teatro ou na Ópera, observadas pela imprensa, essas meio-mundanas exercem uma real fascinação e ditam o tom em matéria de moda e gosto.
"Madame Valtesse de la Bigne" - óleo sobre tela (1879) - Henri Gervex (1852-1929) - Museu d'Orsay, Paris - (Foto: Google)
"Rolla" - óleo sobre tela, 1878 - Museu de Belas Artes, Bordeaux, França - (Foto: Google)
Figura inevitável do século XIX, a prostituta favorece a expressão das fantasias masculinas: através dela se exprimem as perturbações angustiosas e amplas considerações sobre as mulheres em geral. Enquanto o período romântico destaca as heroínas que tombaram, transfiguradas pelo amor sincero que lhes oferece um caminho para a redenção, no final do século se vê multiplicarem as figuras femininas que são ídolos poderosos, cruéis e hieráticos, de uma sexualidade voraz.
"The Alley" ('A aléia') - 1895 - Edvar Munch - Museu Munch, Oslo - (Foto: Museu d'Orsay)
"St Mary Magdalene in the House of Simon the Pharisee" ('Sta. Maria Madalena na casa de Simão, o fariseu" - 1891 [todas as pessoas presentes no quadro estão identificadas] - Jean Béraud - Museu Grand-Palais, Paris - (Foto: Museu d'Orsay)
Prostituição e modernidade
Apresentado no Salão de 1865, o quadro Olympia provocou um enorme escândalo tanto por seu tema -- uma prostituta nua representada em um formato monumental -- e pela liberdade do pincel de Manet. Ali ele buscava provavelmente tornar-se o "pintor da vida moderna" invocado por Baudelaire.
"Olympia" - óleo sobre tela (1863) - Édouard Manet - Museu d'Orsay, Paris - (Foto: Google)
No final do século XIX, a prostituição se firma como um tema moderno e digno de ser pintado. Para os artistas que se encontram então em Paris, Toulouse-Lautrec torna-se um exemplo. Picasso, Kupka ou Van Dongen radicalizam o tratamento das formas e das cores através de motivos inspirados pela vida noturna parisiense (jogos de espelhos e de iluminação artificial, maquiagem extravagante, meias coloridas ...).
"Le Café d' Harcourt à Paris" ('O café Harcourt em Paris') - 1897 - Henri Evenepoel (belga, 1872-1899 - Museu Städel, Frankfurt am Main, Alemanha - (Foto: Museu d'Orsay)
"Scène de fête au Moulin Rouge" ('Cena de festa no Moulin Rouge', conhecido também como Celebração no Moulin Rouge') - óleo sobre tela (cerca de 1889) - Giovanni Boldini (1842-1931) - Museu d'Orsay, Paris - (Foto: do Museu)
"Noël au bordel" ('Natal no bordel') - óleo sobre tela - Edvar Munch (1863-1944) - Museu Munch, Oslo - (Foto: Museu d'Orsay)
"La femme en chemise ou danseuse" ('A mulher de blusa, ou dançarina') - óleo sobre tela (1906) - André Dérain (1880-1954) - Museu Estatal para a Arte, Copenhague - (Foto: Museu d'Orsay)
"La môme à Gallien" ('A moça no Gallien') - (1909/1910) - František Kupka (1871-1957) - Národní Galerie, Praga - (Foto: Museu d'Orsay)
"Le Sofá" ('O sofá') - óleo sobre cartão (1894/95) - Henri de Toulouse-Lautrec - The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, EUA - (Foto: Google)
"Rue des Moulins: la visite médicale" ('Rua dos Moinhos: a consulta médica') - óleo sobre cartão (1894) - Henri de Toulouse-Lautrec - Galeria Nacional de Arte, Washington, EUA - (Foto: Google)
Em um século em que o pudor estava em seu apogeu, as prostitutas, com seus modelos, são as únicas mulheres dispostas a mostrar suas genitálias e a permitir que seus corpos sejam usados para experiências físicas e narrativas visuais. Com o advento das emulsões gelatinosas de brometo de prata, do desenvolvimento de máquinas fotográficas de uso simplificado e da possibilidade de alguém imprimir suas próprias fotos, a fotografia se apresenta a inúmeros artistas como um novo meio de permitir a exploração da sexualidade feminina.
A mulher transforma-se então em um objeto que se pode estudar, desvendar, deformar -- em resumo, ser controlado. A democratização desse meio favorece o surgimento de fotografia amadora liberta das restrições do estúdio, tornando enfim possível a representação dos interiores e dos quartos dessas casas de tolerância.
[Proibida para menores de 18 anos, há uma ala da exposição em que são apresentados um filme mudo e fotos da época, com imagens de sexo explícito.
A exposição do Museu d' Orsay, um sucesso de público, parece ter gerado controvérsia e divergências entre os críticos de arte franceses segundo o prestigioso jornal britânico The Independent. Diz o jornal que, embora reconhecendo a quantidade de obras de arte na exposição, esses críticos não estão satisfeitos com ela. O crítico de arte e romancista Phillippe Dagen disse: "Todo mundo sabe que os orçamentos culturais estão sendo constantemente reduzidos, mas é realmente necessário atrair visitantes mostrando mulheres nuas em poses lascivas e homens nus exibindo suas genitálias?".
O diretor do Museu d'Orsay, Guy Cogeval, rejeita as críticas. Seu objetivo, diz ele, é "rejuvenescer" a clientela do museu apresentando exposições temáticas que trazem grandes obras ao vivo. "As pessoas não querem mais exposições que não contam uma história", disse ele ao jornal Le Parisien. De qualquer maneira, disse, a prostituição é um tema inteiramente legítimo. "Manet e o escritor Guy de Maupassant morreram de sífilis por causa do tempo que passaram nos bordéis, que eram centrais para a literatura e a arte da época".
É decepcionante, digo eu, ver na França do século 21 essa reação provinciana ridícula dos críticos de arte franceses. Se parte da elite cultural francesa reage com intolerância e discriminação contra alguns dos pilares da civilização ocidental como a liberdade de expressão e o acesso à arte lato sensu, dá para imaginar como ela responde às manifestações semelhantes de outras culturas, como a árabe e, principalmente, a muçulmana. E, aí, começam a surgir explicações e/ou justificativas parciais ou totais para a radicalização da juventude muçulmana de nacionalidade francesa.]
[Proibida para menores de 18 anos, há uma ala da exposição em que são apresentados um filme mudo e fotos da época, com imagens de sexo explícito.
A exposição do Museu d' Orsay, um sucesso de público, parece ter gerado controvérsia e divergências entre os críticos de arte franceses segundo o prestigioso jornal britânico The Independent. Diz o jornal que, embora reconhecendo a quantidade de obras de arte na exposição, esses críticos não estão satisfeitos com ela. O crítico de arte e romancista Phillippe Dagen disse: "Todo mundo sabe que os orçamentos culturais estão sendo constantemente reduzidos, mas é realmente necessário atrair visitantes mostrando mulheres nuas em poses lascivas e homens nus exibindo suas genitálias?".
O diretor do Museu d'Orsay, Guy Cogeval, rejeita as críticas. Seu objetivo, diz ele, é "rejuvenescer" a clientela do museu apresentando exposições temáticas que trazem grandes obras ao vivo. "As pessoas não querem mais exposições que não contam uma história", disse ele ao jornal Le Parisien. De qualquer maneira, disse, a prostituição é um tema inteiramente legítimo. "Manet e o escritor Guy de Maupassant morreram de sífilis por causa do tempo que passaram nos bordéis, que eram centrais para a literatura e a arte da época".
É decepcionante, digo eu, ver na França do século 21 essa reação provinciana ridícula dos críticos de arte franceses. Se parte da elite cultural francesa reage com intolerância e discriminação contra alguns dos pilares da civilização ocidental como a liberdade de expressão e o acesso à arte lato sensu, dá para imaginar como ela responde às manifestações semelhantes de outras culturas, como a árabe e, principalmente, a muçulmana. E, aí, começam a surgir explicações e/ou justificativas parciais ou totais para a radicalização da juventude muçulmana de nacionalidade francesa.]
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