As três primeiras vilas da "Capitania das Minas do Ouro", Ouro Preto, Mariana e Sabará -- títulos concedidos por Dom João V, rei de Portugal, em 1711 -- abrigam não só um raro e rico acervo de relíquias artísticas do esplendor do Ciclo do Ouro, mas um conjunto arquitetônico expressivo da arquitetura luso-brasileira setecentista. E guardam ainda a memória dos muitos episódios, conquistas e conflitos da sociedade minerária que nascia entre as montanhas de Minas e que terá influência e presença na História de Minas Gerais e do Brasil. (...)
MARIANA
Vista parcial de Mariana
A histórica e cívica Mariana nasce em 1696, quando chega às margens do Ribeirão do Carmo o bandeirante Salvador Fernandes Furtado. Um dos núcleos civilizatórios mais férteis de Minas, Mariana ostenta os títulos de "Cidade Primaz de Minas", de "Cidade dos Bispos"e de "Roma Brasileira". Seus pioneirismos na formação histórica e cívica de Minas Gerais são muitos: primeira capital (1709 a 1720), primeira Vila (1711), primeira Câmara Municipal, primeira a receber o título de "cidade" (1745), primeiro Bispado (1745) da "Capitania das Minas Geraes", primeiro Arcebispado (1908) entre muitos outros. Mariana propicia um mergulho na História do Brasil e de Minas, na contemplação e convivência com monumentos, entre edificações civis e religiosas, exemplares da arquitetura colonial luso-brasileira e que abrigam obras de ornamentação, esculturas, pinturas e mobiliário, originários dos séculos XVIII e XIX, resultante do esplendor artístico do Ciclo do Ouro e produzidos sob a inspiração do barroco português e suas expressões singulares criadas pelos artistas marianenses.
Nasceu como Arraial do Ribeirão de N. S. do Carmo, mas recebeu o nome da esposa de Dom João V, Maria Ana d'Áustria em 1745, quando obteve o título de "cidade". Já em 1709, a primitiva capela erguida para a fundação do arraial minerador é transferida para a recém-construída Igreja de N. S. da Conceição (hoje Igreja Catedral da Sé). O governo português encomenda, em 1745, ao engenheiro militar José Fernandes Alpoim um traçado geométrico para o seu núcleo urbano -- outro pioneirismo de Mariana, que a distingue das outras cidades históricas mineiras.
Mariana conserva um dos conjuntos arquitetônicos luso-brasileiros mais expressivos de toda a tecnologia construtiva portuguesa transplantada para o Brasil. Guarda acervo valioso e raro da arte sacra e especialmente trabalhos de talha. Seu casario, formado nos primeiros anos do século XVIII, expande-se para um segundo pavimento, especialmente na Rua Direita e na Praça Gomes Freire, que abrigam conjuntos excepcionais do patrimônio histórico e urbanístico brasileiro setecentista.
Recebe em 1945 o título de "Monumento Nacional"por seu "significativo patrimônio histórico, religioso e cultural"e ativa participação na vida cívica e política do país, contribuindo em vários episódios da Independência, do Império e da República, para a formação brasileira. Todo ano, em 16 de julho, "Dia de Minas", o Governo do Estado se transfere para Mariana e realiza cerimônia alusiva na Praça Minas Gerais que, por sua beleza plástica e seus monumentos, é significativo exemplo da Minas Colonial.
Catedral Basílica da Sé (Nossa Senhora da Assunção). As obras do templo atual começaram em 1711, ano em que o governador Antônio de Albuquerque elevou o arraial à categoria de vila. Com isso, a igreja recebeu o título de matriz consagrada a Nossa Senhora da Conceição. Uma primeira ampliação ocorreu entre 1713 e 1718, encarregada ao mestre Jacinto Barbosa Lopes, que reaproveitou a estrutura existente e a transformou em sacristia. Em 1734 o edifício já estava bastante estragado, iniciando novas obras na fachada e erguendo-se as torres sob a responsabilidade do mestre Antônio Coelho Fonseca. Apenas em 1798 é que as paredes externas foram reconstruídas em pedra e cal. Em 1727 foram concluídas as obras de talha e douramento do ouro do altar-mor, com execução de José Martins e Manuel de Sousa e Silva, e os altares laterais foram construídos entre 1744 e 1751 por José Coelho Noronha. Em 1745, com a criação da Diocese de Mariana, a matriz foi elevada a catedral dedicada a Nossa Senhora da Assunção.
Apesar da fachada modesta, é uma das igrejas mais ricas do Brasil, com lustres de cristal da Boêmia (atual República Tcheca) e onze altares ricamente ornados - dois são de Francisco Xavier de Brito, mestre de Aleijadinho. Próximo à entrada, o batistério guarda uma bela pintura de Mestre Athaíde representando o batismo de Cristo. O órgão alemão de 1701 é tocado às sextas (11h30) e domingos (12h15). O pai de Aleijadinho, Manuel Francisco Lisboa, construiu a varanda que abriga o órgão Arp Schnitger, um dos únicos instrumentos fabricados por esse importante construtor de órgãos alemão ainda existente fora da Europa.
O altar-mor da Basílica da Sé de Mariana
Retábulo-mor da Basílica da Sé de Mariana
Altar lateral da Basílica
Detalhes da nave central
Pintura do teto da Basílica
Detalhe do tapa-vento da Basílica
Retábulo-mor da Basílica da Sé de Mariana
Altar lateral da Basílica
Detalhes da nave central
Pintura do teto da Basílica
Detalhe do tapa-vento da Basílica
Órgão Arp Schnitger, da Basílica da Sé de Mariana
Outra vista do órgão Arp Schnitger
Museu Arquidiocesano de Arte Sacra
São Joaquim, primeiros anos do século XIX, madeira (cedro) dourada policromada. Obra de Antônio Francisco Lisboa, dito o Aleijadinho (1738-1814).
Santa Luzia, madeira dourada policromada. Obra de Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho) - (Foto: TripAdvisor)
Nossa Senhora dos Anjos. Madeira policromada dourada. Obra proveniente da igreja paroquial de Santa Bárbara (MG), feita por Francisco Xavier de Brito (? - 1751)
Santana Mestra, patrona dos moedeiros -- Autor: Elias Layon
Obra e autor não identificados
Museu Arquidiocesano de Arte Sacra (fotos acima)-- Prédio do século XVIII, um dos principais museus do gênero no país, abriga obras de Aleijadinho e de Francisco Xavier de Brito e objetos de ouro e prata.
Praça Minas Gerais , com as igrejas de São Francisco de Assis (à esquerda) e do Carmo (centro), e a Câmara Municipal e Cadeia à direita (segunda foto acima). No centro da praça (primeira foto acima) vê-se o pelourinho, onde se castigavam escravos
Câmara Municipal e Cadeia de Mariana, é a mais antiga do estado. Seu projeto é de José Pereira dos Santos, e funcionou como senzala e casa de fundição de ouro. Fica situada na Praça Minas Gerais, onde estão as igrejas de São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo (foto anterior)
Altar-mor, tipicamente rococó, terceira fase do Barroco Mineiro, Igreja de S. Francisco de Assis
Igreja de São Francisco de Assis. A Igreja de São Francisco de Assis, é construída em estilo rococó, que constitui uma etapa posterior, na evolução do barroco mineiro. Sua construção teve início em 1763, com projeto arquiteônico, risco da portada e elementos ornamentais como púlpitos, retábulo-mor, lavabo e teto da capela-mor da lavra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e pinturas de Manuel da Costa Ataíde. Os dois artistas, nascidos respectivamente em Vila Rica (hoje Ouro Preto), e Vila do Carmo (hoje Mariana) são considerados os dois mais importantes nomes da arte colonial brasileira. À época que a igreja foi construída, Mariana vivia o ápice da sua história, por isso a magnitude da construção em diversos sentidos (tamanho, detalhamento, peças de ouro). A construção é um marco religioso, social, artístico da cidade e do estado. Está localizada na Praça Minas Gerais, e nela encontra-se o túmulo do pintor Manoel da Costa Ataíde.
Vista da nave
Igreja de N. S. do Carmo. Depois de se alojar na primitiva Capela de Nossa Senhora do Carmo (atual Capela Santo Antônio) e na Capela São Gonçalo (hoje inexistente), a Ordem Terceira do Carmo obteve permissão por carta régia, datada de 1784, para erguer seu templo definitivo. As obras iniciaram em 1784, tendo como encarregado o mestre pedreiro português Domingos Moreira de Oliveira, cujos sucessores terminaram o templo em 1835. Para o reconhecido historiador e crítico de arte Germain Bazin, é um dos mais belos templos rococó de Minas.
Embora tenha planta retangular, com capela única, apresenta traços de originalidade: as torres cilíndricas, modelo recentemente introduzido em Minas, são implantadas em recuo em relação à fachada. A capela-mor tem forro abobadado, com uma rosácea de arremate. O altar-mor tem refinada talha dourada rococó, com projeto do padre Félix Antônio Lisboa, meio‐irmão de Aleijadinho, e erguido entre 1797 e 1819, mas só recebeu o dourado em 1826 por Francisco Xavier Carneiro. Sua também era a grande pintura que decorava o forro da nave, perdida em um incêndio em 1999, quando a igreja estava sendo restaurada, ocasião em que foram perdidos também os dois altares do arco cruzeiro. Depois eles foram reconstruídos de maneira esquemática, para assinalar sua antiga presença e receber estatuária devocional. Restos carbonizados dos altares foram preservados e estão em exposição.
Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, Mariana (MG) --(Foto: Facebook)
Chafariz próximo à Igreja de São Pedro dos Clérigos, Mariana (MG) - (Foto: Facebook)
Rua Direita (Mariana, MG), com seus sobrados do século XVIII - (Foto: Facebook)
Fachada e interior da Igreja de Nossa Senhora do Rosário (Mariana, MG)
Igreja Matriz de São Caetano
Interior da igreja, com vista do altar-mor
Localizada em Monsenhor Horta, distrito de Mariana, foi construída em 1752. A fachada da Matriz segue o tipo tradicional, de portada e duas janelas rasgadas ao nível do coro. No inteiro, a capela-mor é guarnecida com obra de talha do mais antigo barroco mineiro. O efeito geral é de grande riqueza, inclusive a talha frontal do altar (foto abaixo).
Detalhes do interior da Igreja Matriz de São Caetano, em Monsenhor Horta, distrito de Mariana (MG), fotos acima.
Casa da Cultura (Mariana, MG)
Vasco, belíssima apresentação. Abraço do Paulo.
ResponderExcluirVasco, belíssima apresentação de Mariana. Abraços do Paulo
ResponderExcluir