Gastos da Petrobras superaram em US$ 54 bi sua geração de receitas nos últimos 4 anos
Planos audaciosos de investimento, projetos com custos subestimados e
falta de reajuste nos preços de combustíveis minaram o caixa da
Petrobras. Com isso, a companhia tem gasto sistematicamente bem mais do
que consegue gerar de receitas o que, segundo analistas, põe em dúvida a
sustentabilidade de suas contas a longo prazo. Entre 2009 e 2012, o
rombo no caixa da estatal pode ter acumulado US$ 54 bilhões, pelas
projeções mais recentes, uma média de US$ 13,5 bilhões por ano de
déficit. Especialistas acreditam que, se continuar nessa trajetória, a
empresa precisará fazer nova capitalização — em 2010, a Petrobras fez um
aumento recorde de capital de R$ 120,2 bilhões o equivalente a US$ 69,9
bilhões na ocasião.
Com o caixa enfraquecido, a companhia está chegando no limite de sua capacidade de endividamento, já que os investimentos não estão dando resultados, alertam os especialistas. Até setembro, as dívidas somam R$ 133,9 bilhões, valor que é 2,5 vezes a sua geração de caixa. "Hoje, a Petrobras está gerando cerca de US$ 30 bilhões e gastando US$ 42 bilhões (projeção para o resultado fechado de 2012). Vai ter que se escolher entre reajustar os preços dos combustíveis ou aumentar seu endividamento. Ou desacelerar o plano de investimentos", afirmou Emerson Leite, chefe da área de análise de ações do Credit Suisse First Boston.
Com o caixa enfraquecido, a companhia está chegando no limite de sua capacidade de endividamento, já que os investimentos não estão dando resultados, alertam os especialistas. Até setembro, as dívidas somam R$ 133,9 bilhões, valor que é 2,5 vezes a sua geração de caixa. "Hoje, a Petrobras está gerando cerca de US$ 30 bilhões e gastando US$ 42 bilhões (projeção para o resultado fechado de 2012). Vai ter que se escolher entre reajustar os preços dos combustíveis ou aumentar seu endividamento. Ou desacelerar o plano de investimentos", afirmou Emerson Leite, chefe da área de análise de ações do Credit Suisse First Boston.
Por e-mail, a Petrobras afirma que investir mais do que a capacidade de
geração de caixa faz sentido em períodos nos quais grandes oportunidades
justificam esses investimentos, como o pré-sal. Além disso, segundo a
empresa, esses investimentos são viabilizados pela captação de recursos
externos. Especialistas afirmam, porém, que esse descasamento tem ocorrido de
forma sistemática e que a empresa está colhendo, hoje, o resultado de
erros de gestão no passado. "O desalinhamento entre caixa e investimentos é normal por curtos
períodos. É um ciclo que tem um fim. A questão na Petrobras é que esses
investimentos ainda não deram retorno, pois houve queda na produção", diz Luiz Francisco Caetano, da corretora Planner.
Defasagem gera perdas de R$ 20,9 bilhões
A queda na produção, num momento em que o consumo de combustíveis
cresceu no país, provocou um forte aumento nas importações de gasolina e
diesel. O caixa da empresa ainda é afetado pela diferença entre o preço
dos combustíveis (gasolina e diesel) no mercado doméstico e
internacional. Segundo cálculos feitos por Caetano, a Petrobras deixou
de arrecadar R$ 20,9 bilhões entre janeiro e setembro de 2012. "Esse valor representa 35% da geração de caixa estimada para 2012 e 16%
de sua dívida líquida (no terceiro trimestre). As preocupações com o
endividamento seriam apagadas se os preços tivessem alinhados com o
cenário internacional. A companhia vai encerrar o ano de 2012 no limite
de seu endividamento".
Caetano lembra que a relação entre dívida e patrimônio líquido da
empresa hoje é de 28%. Se esta relação superar 35%, a empresa pode
perder a chancela de investment grade. Para Leite, do Credit
Suisse, com a estatal chegando ao seu limite de endividamento, ela
poderá ser levada a fazer uma nova capitalização em breve. No segundo trimestre do ano passado, a empresa registrou prejuízo de R$
1,3 bilhão, o primeiro resultado negativo desde 1999. Analistas avaliam
que a empresa adotou metas de investimento muito elevados a partir de
2009. O Plano de Negócios 2009/13 previa investimentos de US$ 174,4
bilhões, valor 55% maior em relação que os US$ 112,4 bilhões entre 2008 e
2012.
Para David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o problema não foi fixar metas ambiciosas, mas sim a gestão dessas metas. Para ele, a estatal perdeu sua capacidade de gerar mais caixa com as falhas na gestão, principalmente na área de exploração, desviando-se do foco, que é a produção, e com o subsídio dado aos combustíveis: "Não dá para se enrolar na bandeira do Brasil. Subsidiar gasolina é típico de países perdulários e menos desenvolvidos. A Petrobras está subsidiando a gasolina, deixando de investir onde precisa.
A empresa foi capturada por fortes grupos de interesses, e o resultado disso vem sendo expresso por números dramáticos sobre a situação financeira da estatal. No balanço que deu da situação da estatal, em meados de 2012, Graça Foster, entre outras questões, se referiu a metas irrealistas e atrasos em projetos. Entre o irrealismo, incluam-se estimativas de custo. Todas estouradas, é claro. Alguns números são emblemáticos. Reportagem do GLOBO de domingo, por exemplo, informa que, de 2009 a 2012, os gastos da empresa superaram em US$ 54 bilhões a geração de caixa, numa média de US$ 13,5 bilhões por ano.
O caminho tomado até chegar a este ponto foi pavimentado por projetos com custos subestimados, investimentos de necessidade discutível, falta de manutenção em equipamentos estratégicos — dos quais dependem a produção, em queda — e uma longa e desastrosa defasagem entre o preço interno de combustíveis e o custo de importação, mantida por Brasília. A estatal se tornou também um instrumento a serviço de interesses políticos e, assim, deixou de ser conduzida com base em boas práticas gerenciais. Daí o projeto de uma refinaria no Maranhão e uma outra em Pernambuco, esta em sociedade com a Venezuela de Hugo Chávez, sem que sequer um centavo de dólar o regime bolivariano tenha destinado ao empreendimento até agora.
No segundo trimestre do ano passado, a empresa teve o primeiro prejuízo desde 1999 (R$ 1,3 bilhão). Consequência inevitável tem sido a redução de seu valor de mercado: ontem, a petroleira de capital misto Ecopetrol, da Colômbia, ultrapassou a Petrobras neste quesito. Não se perde 45% do valor, em três anos, impunemente. Graça parece fazer o possível para resgatar a estatal. Mas há dúvidas se ela terá dinheiro para ser a operadora monopolista no pré-sal e dona cativa de 30% dos consórcios, impostos pelo modelo de exploração por partilha. Nenhuma companhia resiste à mistura de gestão com política. Nem a PDVSA.
Para David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o problema não foi fixar metas ambiciosas, mas sim a gestão dessas metas. Para ele, a estatal perdeu sua capacidade de gerar mais caixa com as falhas na gestão, principalmente na área de exploração, desviando-se do foco, que é a produção, e com o subsídio dado aos combustíveis: "Não dá para se enrolar na bandeira do Brasil. Subsidiar gasolina é típico de países perdulários e menos desenvolvidos. A Petrobras está subsidiando a gasolina, deixando de investir onde precisa.
Aparelhamento desmontou a Petrobras
Editorial de hoje (29/1) do Globo
Algum tempo depois de assumir a presidência da Petrobras, no início de 2012, Graça Foster, técnica de carreira da estatal, deu um sincero balanço do estado deplorável em que se encontrava a maior empresa brasileira — e, em alguma medida, ainda se encontra. Foi tão sincero que a engenheira química enfrentou resmungos de alas do PT.
Lembre-se que não foi difícil relacionar o conteúdo da prestação de
contas feita por Graça — imprescindível, pela crucial necessidade de
transparência na gestão de empresas públicas, ainda mais em uma de
capital aberto — com a gestão ruinosa do antecessor, José Sérgio
Gabrielli, economista, sindicalista filiado ao PT. Se entre os símbolos
do aparelhamento executado em boa parte da máquina pública federal, na
Era Lula, o Incra e o Ministério do Desenvolvimento Agrário representam a
participação de “organizações sociais” no governo, a Petrobras foi
ícone da ação de sindicatos companheiros no universo das estatais.
A empresa foi capturada por fortes grupos de interesses, e o resultado disso vem sendo expresso por números dramáticos sobre a situação financeira da estatal. No balanço que deu da situação da estatal, em meados de 2012, Graça Foster, entre outras questões, se referiu a metas irrealistas e atrasos em projetos. Entre o irrealismo, incluam-se estimativas de custo. Todas estouradas, é claro. Alguns números são emblemáticos. Reportagem do GLOBO de domingo, por exemplo, informa que, de 2009 a 2012, os gastos da empresa superaram em US$ 54 bilhões a geração de caixa, numa média de US$ 13,5 bilhões por ano.
O caminho tomado até chegar a este ponto foi pavimentado por projetos com custos subestimados, investimentos de necessidade discutível, falta de manutenção em equipamentos estratégicos — dos quais dependem a produção, em queda — e uma longa e desastrosa defasagem entre o preço interno de combustíveis e o custo de importação, mantida por Brasília. A estatal se tornou também um instrumento a serviço de interesses políticos e, assim, deixou de ser conduzida com base em boas práticas gerenciais. Daí o projeto de uma refinaria no Maranhão e uma outra em Pernambuco, esta em sociedade com a Venezuela de Hugo Chávez, sem que sequer um centavo de dólar o regime bolivariano tenha destinado ao empreendimento até agora.
No segundo trimestre do ano passado, a empresa teve o primeiro prejuízo desde 1999 (R$ 1,3 bilhão). Consequência inevitável tem sido a redução de seu valor de mercado: ontem, a petroleira de capital misto Ecopetrol, da Colômbia, ultrapassou a Petrobras neste quesito. Não se perde 45% do valor, em três anos, impunemente. Graça parece fazer o possível para resgatar a estatal. Mas há dúvidas se ela terá dinheiro para ser a operadora monopolista no pré-sal e dona cativa de 30% dos consórcios, impostos pelo modelo de exploração por partilha. Nenhuma companhia resiste à mistura de gestão com política. Nem a PDVSA.
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