O Irã (ex-Pérsia) tem estado nas manchetes há meses, aqui e lá fora, sempre com conotações extremamente negativas e sem uma linha sequer de referência a qualquer coisa de útil e elogiável nesse país milenar, notável centro de civilização cujas origens remontam a quase 3.000 anos AC. Sempre fiquei incomodado com esse tipo de abordagem, especialmente depois da aventura rocambolesca em que o Brasil foi atirado num acordo nuclear com esse país pelas mãos de 9 dedos de Lula e pela cabecinha imbricada de Celso Amorim; o Nosso Acrobata, em sua ignorância literária e cultural emblemática e praticamente onipresente, certamente não tem a mínima noção da história do Irã, coisa que seguramente não se pode dizer do nosso chanceler, dada sua formação diplomática numa respeitável instituição chamada Instituto Rio Branco.
Dois artigos recentíssimos na mídia impressa me chamaram ainda mais a atenção para a omissão citada acima: um no Brasil, O Irã vai ser líder em Tecnologia, de Wanderley de Souza (que foi secretário-executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia, e Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio), publicado no O Globo de 28/6/2010 (seção "Opinião", pág. 7), e o outro nos EUA, McCain's Mistake, publicado na Newsweek que está nas bancas, de autoria de Fareed Zakaria (nascido na India em 1964, é hoje editor da Newsweek International).
No artigo brasileiro menciona-se que, na área biomédica (que engloba a biotecnologia e suas aplicações em vários campos), o Irã tem publicado mais artigos que a Rússia, e na estratégica área da nanotecnologia (que tem gerado inovações revolucionárias em vários setores industriais) esse país ultrapassou, no período de 2003 a 2009, Brasil, Israel e Turquia em produção científica (em 2003 o Irã era o 51° do ranking, o Brasil era o 19°, Israel o 20° e a Turquia o 34°; em 2009 o Irã assumiu a 15ª posição, o Brasil se manteve na 19ª, Israel caiu para a 23ª e a Turquia ascendeu para a 24ª). Já o artigo do Fareed fulmina a posição política de John McCain e de outros neoconservadores americanos, que advogam o uso da força (que já deveria ter sido empregada há um ano atrás, segundo eles) para apoiar os verdes locais e derrubar o atual governo, eleito naquele então. Apesar de se declarar forte defensor dos verdes em todas as mídias em que atua, Fareed reconhece não ver neles possibilidade ou probabilidade de derrubar o regime existente. Para que isto ocorresse seria necessário, segundo ele, que o governo em Teerã fosse profundamente impopular com a maioria dos iranianos, estivesse apoiado unicamente na força dos militares e, assim, ficasse vulnerável a um movimento que pudesse mobilizar a vasta maioria de iranianos que o despreza. Nada disto é inteiramente verdade, diz Fareed.
Fareed Zakaria informa que o atual regime iraniano tem muitíssimos oponentes, mas tem também milhões de adeptos, especialmente nas zonas rurais, entre os devotos, e nas comunidades mais pobres. Este apoio seria consequência da enorme quantidade de gastos do governo de Ahmadinejad em programas sociais para os pobres, onde se aplica muito mais dinheiro do que em qualquer outra atividade fora do país (uma das acusações de McCain é que Ahmadinejad estaria gastando muito mais dinheiro subsidiando grupos violentos de extremistas estrangeiros, que matam gente inocente, do que com estradas, escolas, hospitais ou geração de empregos para os iranianos).
Para apenas dar uma ligeira idéia da grandeza e da importância da Pérsia e de seu império, basta dizer que, unificado por Ciro, O Grande, o império persa tornou-se (graças também a Dario, o Grande, sucessor de Ciro) o maior e o mais poderoso império da história humana na época (entre 559 e 330 AC), incluindo em suas fronteiras a Anatólia (hoje Turquia) e o Egito. Embora tendo sido um grande conquistador e um gênio militar, Ciro é melhor lembrado por sua tolerância e por sua atitude magnânima sem precedentes em relação àqueles que derrotava. Ler mais sobre isto.
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