domingo, 27 de junho de 2010

Carlos Drummond de Andrade, é preciso lê-lo

Carlos Drummond de Andrade nasceu em 31/10/1902 em Itabira do Mato Dentro (MG) e faleceu no Rio em 17/8/1987 no Rio de Janeiro. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou em Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo (RJ), de onde foi expulso por "insubordinação mental". Voltou para Belo Horizonte, onde começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas. -- Leia mais.

Formou-se em farmácia em Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista que, apesar da vida curta, foi veículo importante de afirmação do modernismo mineiro. Seus primeiros livros foram Alguma Poesia (1930) e Brejo das Almas (1934). Consagrado como poeta, Drummond tem prosa também digna de ser lida (ver Carlos Drummond de Andrade - "Prosa Seleta" -- Ed. Nova Aguilar -- 2003).

Alguns exemplos de sua ótima poesia:

As sem razões do amor

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Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
Que rio e danço e invento exclamações alegres,
Porque a ausência, essa ausência assimilada, 
Ninguém a rouba mais de mim.
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E a antológica José, que começa com os versos:

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
E agora, José?

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Da sua primeira fornada de poesias há uma que ficou também famosa, No Meio do Caminho (No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho / tinha uma pedra / no meio do caminho tinha uma pedra .......), mas que me desperta uma tremenda má vontade. Acho que se não fosse Drummond seu autor mas qualquer outro mortal comum, ela teria sido rejeitada ou completamente esquecida.

Assim como Adélia Prado, na realidade mais do que ela (ver minha postagem "Os tesouros e Adélia Prado", em 20/5/2010), Drummond, com seu jeito, cara e voz de seminarista, surpreende com suas poesias de forte carga erótica. Exemplos:

A moça mostrava a coxa

A moça mostrava a coxa,
a moça mostra a nádega,
só não mostrava aquilo
-- concha, berilo, esmeralda --
que se entreabre, quatrifólio,
e encerra o gozo mais lauto,
aquela zona hiperbórea,
misto de mel e de asfalto,
porta hermética nos gonzos
de zonzos sentidos presos,
ara sem sangue de ofícios,
a moça não me mostrava.
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O chão é cama

O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a úmida trama.


E para repousar do amor, vamos à cama.

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