domingo, 4 de dezembro de 2011

Merkel e Sarkozy próximos de acordo sobre principais passos para unidade fiscal na eurozona

Amanhã começa uma semana que pode impulsionar a zona do euro para uma unidade fiscal, alterar o relacionamento da Grã-Bretanha com seus parceiros nessa região, e oferecer uma via potencial para fora da crise da dívida e do renovado aperto de crédito que agora a acompanha.

Depois de muita hesitação e bravatas, parece chegada a hora de agir. Amanhã, segunda-feira, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, se encontram em Paris para aplainar as diferenças um tanto exageradas entre eles. Na terça, chega o Secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, para um giro de dois dias e quatro capitais do continente, para garantir-se de que todo mundo entende a enormidade do que está em jogo. E, na sexta, chega o dia D econômico: a cúpula dos líderes em Bruxelas. Ali, depois de meses de uma esperança Micawberiana de que algo surgisse, os líderes da Europa terão que decidir e se comprometer em uma reunião que provavelmente mudará para sempre o arranjo econômico do continente. [Wilkins Micawber é um personagem de Charles Dickens em "David Copperfield", que era pobre e devia a todo mundo mas acreditava sempre que algo de bom aconteceria -- daí o adjetivo "Micawberiano" (Micawberish, em inglês) do texto.]

A Europa -- e especialmente os 17 países de moeda única -- esgotou todas as vias para obter uma grande assistência financeira em escala mundial. Agora, ela tem que se resolver sozinha -- uma mensagem que os EUA são ávidos e entusiastas de reforçar, daí o giro super-rápido de Geithner -- e no cerne disso está um plano bi-arquitetado que pode depois ter que navegar por 27 democracias diferentes.

Ciente de que dinheiro bom não pode continuar a se perder em vários ralos nacionais, a Sra. Merkel propôs um plano para conter a crise europeia, demandando regras mais duras para manter os orçamentos nacionais sob controle. Em um discurso no parlamento alemão ontem de manhã, a chanceler disse que quer uma mudança do tratado [do euro] -- o que exigiria a aprovação dos 27 países da União Europeia (UE) -- para produzir "passos concretos rumo a uma união fiscal" entre os países da eurozona.

Em termos práticos, isso significa que os países que violassem seus compromissos de manter o dédicit orçamentário abaixo de 3% do produto nacional bruto, e a dívida pública menor que 60% do PIB seriam submetidos à Corte Europeia de Justiça [é mais fácil um boi voar do que isso ocorrer ...]. Não se sabe ainda que sanções esse tribunal poderia impor e que escala de tempo seria adotada para o cumprimento dessas penalidades. O cronograma que a Sra, Merkel tem em mente para colocar esse plano rigorosamente em ação parece ser longo. "O governo alemão deixou claro que a crise europeia não será resolvida de um golpe só", disse ela na sexta-feira. "Trata-se de um processo, e esse processo levará anos".

Está claro que não funcionou a ideia de que os governos cumpririam as regras do jogo sem a ameaça de sanções. As regras orçamentárias da zona do euro foram violadas 60 vezes na década passada por vários países -- incluindo a Alemanha -- mas nenhum deles foi punido seriamente. [Ver postagem anterior, com tabela que mostra os percentuais das dívidas públicas dos países da zona do euro em relação aos seus PIBs.

Na Europa, há aceitação para a liderança alemã. O ministro das Finanças francês, François falou de um "impulso político franco-alemão" para salvar o euro. Comentou que os êxitos econômicos da Alemanha contrastam com as dificuldades de dívida da França, e disse em uma entrevista de rádio: "A Alemanha é um modelo que nos interessa". [Esse elogio rasgado à Alemanha, partindo de um ministro francês, era algo inimaginável até poucos dias atrás.] - Mario Monti [o novo primeiro-ministro italiano] chamou a cultura alemã da estabilidade uma de suas "melhores exportações", e acrescentou: "Sempre fui considerado o mais alemão dos economistas italianos". O recém-eleito presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, é visto como mais aberto à liderança alemã do que seu antecessor, José Luis Rodriguez Zapatero.

Enquanto isso, David Cameron colocará a salvação do euro em prioridade em relação a assegurar a seus pares [da Casa dos Comuns] euro-céticos  que repatriará poderes de Bruxelas em qualquer novo tratado. Essa posição tem por ora o suporte tentativo dos pragmáticos euro-céticos de seu partido, que estão esperando por quaisquer mudanças claras sobre o futuro da Europa antes de fazer seu próximo movimento.

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