Na década passada, criminosos brancos que solicitaram o perdão presidencial nos EUA foram quase quatro vezes mais bem sucedidos que as minorias, informa um estudo da ProPublica [ProPublica é uma organização independente, sem fins lucrativos, que produz um jornalismo investigativo, no interesse público].
Negros tiveram a pior chance de receber o ato de misericórdia presidencial, de acordo com uma análise de registros e dados correlatos não publicados anteriormente.
Autoridades atuais e passadas da Casa Branca, e do Departamento de Justiça, disseram-se surpresas e consternadas com as disparidades raciais, que persistem mesmo quando fatores tais como tipo de crime e sentença são considerados. "Estou simplesmente pasmo com esses números", disse Roger Adams, que foi chefe do setor de perdões do Departamento de Justiça de 1998 a 2008. Ele disse que não conseguia lembrar-se de nada nas práticas de seu setor que houvesse distorcido as recomendações. "Posso lembrar-me de vários afro-americanos sendo perdoados".
As revisões dos pedidos de perdão são feitas quase inteiramente em segredo, com o governo liberando informação escassa sobre os pedidos que rejeita.
A análise da ProPublica examinou o que aconteceu depois que o presidente George W. Bush decidiu, no começo de seu primeiro mandato, apoiar-se quase inteiramente nas recomendações feitas por advogados de carreira do Office of the Pardon Attorney (Escritório do Procurador de Perdão, em tradução livre). O escritório recebeu ampla liberdade para aplicar padrões subjetivos, incluindo avaliações sobre a "atitude" e a estabilidade conjugal e financeira dos postulantes. Não há dois casos de perdão que coincidam perfeitamente, mas os arquivos revelam exemplos repetidos de postulantes brancos que ganharam o perdão com transgressões em seus registros semelhantes às de negros e outras minorias que tiveram seu perdão negado.
Assessores senior da Casa Branca de Bush disseram que o presidente esperava [com a sua decisão] tirar o fator político do processo, e evitar a repetição do escândalo Marc Rich, no qual o financista fugitivo ganhou um perdão de última hora maculado pelas doações de sua ex-esposa para causas do partido Democrata e para a Biblioteca Presidencial de Clinton.
Autoridades do Departamento de Justiça disseram em um comunicado na sexta-feira que o processo de perdão leva em conta muitos fatores que não podem ser medidos estatisticamente, tais como a franqueza, a honestidade e o nível de remorso do postulante. "Entretanto, consideramos essas preocupações com muita seriedade", diz ainda o comunicado. "Continuaremos a avaliar a análise estatística e, é claro, estaremos trabalhando sempre para melhorar o processo de clemência e garantir que cada postulante receba uma avaliação justa e baseada em mérito".
O poder de perdão do Presidente está consagrado na Constituição. É um ato de clemência para um crime federal. Ele não cancela a condenação, mas restora à pessoa o pleno direito de votar, possuir armas de fogo e atuar como jurado em julgamentos federais. [É impressionante esse destaque à posse de arma, confirmando uma vez mais como é arraigado no americano o valor de uma arma de fogo!] Permite às pessoas receber licenças e autorizações para negócios, e remove barreiras para certas adoções e oportunidades de fazer carreira.
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