O artigo abaixo, que me foi encaminhado pelo dileto amigo Levy, é de autoria do eng° Humberto Viana Guimarães (engenheiro civil e consultor, é formado
pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em
materiais explosivos, estruturas de concreto, geração de energia e
saneamento) e foi publicado ontem no JB (Jornal do Brasil) virtual. Ele aborda unicamente o chamado "custo Brasil" nos bens de consumo -- embora em alguns casos, principalmente no caso de carros, por exemplo, o custo ao consumidor reflita também o custo dos bens de produção desses produtos -- e chama a atenção para um detalhe que compõe esse custo e que afeta diretamente nosso bolso e nosso orçamento, que é a recorrente ganância e o oportunismo pilantra de nossos comerciantes. A reprodução do artigo não significa necessariamente que endosso tudo o que ele diz, e como o faz, mas acho sua abordagem interessante. Os comentários entre colchetes e em itálico são de minha responsabilidade.
Toda vez que se comenta sobre o chamado “custo Brasil”, sempre se dá
ênfase à carga tributária praticada no nosso país que, diga-se de
passagem, é uma das maiores do mundo e, com toda a razão, à cambaleante
infraestrutura em todos os setores. No entanto, após uma análise mais
apurada nos preços de determinados produtos vendidos no comércio, nos damos conta de que, além dos impostos diretos e indiretos, há uma alta carga de ganância nos preços.
[É indispensável lembrar também o "custo Brasil" que atinge pesadamente os bens de produção ou bens de capital no país e que envolve, entre outros, a mão de obra e a energia elétrica, sem falar na infraestrutura e na educação fortemente deficientes -- grande parte destes custos incide, obviamente, também sobre os bens de consumo.]
Para se chegar a esta conclusão, basta comparar os preços de alguns
produtos – do mesmo fabricante e modelo – vendidos no exterior e no
Brasil. Desde já, aviso aos gananciosos apressadinhos, que queiram
explicar o inexplicável, que os números que mostro neste texto são
resultado de observações e anotações pessoais e de minha família durante
viagens internacionais.
Nota: as marcas
e produtos citados neste texto são marcas registradas de seus
proprietários (trademark, ™) a quem pertencem todos os direitos ®. Para
que não fique nenhuma dúvida a respeito da distorção nos preços
praticados no exterior e no Brasil apresentados neste texto, informo que
todos os produtos citados foram pesquisados durante o mês de fevereiro
deste ano, nos Estados Unidos, em Shopping Centers ou em centros
comerciais de primeira linha.
Vejamos alguns exemplos de preços. Para facilitar o raciocínio, optei em
considerar a paridade de 1 US$ = R$ 2,00. Um par de tênis – modelo de
ponta, aquele que vem com gel na palmilha e calcanhar – da marca Asics custa no máximo US$ 150,00 (cento e cinquenta dólares). Esse
mesmo tênis no Brasil custa R$ 920,00 (novecentos e vinte reais),
equivalente a US$ 460,00, ou seja, com o preço que se paga por um par no
Brasil, compram-se três nos Estados Unidos. Convenhamos que toda essa
diferença de preço não é só transporte, seguro e impostos; aí está
embutida uma alta carga de ganância do lucro fácil.
[Pode ser e, certamente, muitas vezes é, mas toda generalização é perigosa. O autor pesquisou preços em shoppings e centros comerciais americanos, e espero que tenha feito o mesmo com os preços brasileiros. Longe de sequer pensar em defender nossos comerciantes -- vade retro Satanás! --, é essencial não esquecer que preços de produtos vendidos nesse mesmo tipo de estabelecimento no Brasil embutem custos pesadíssimos, como luvas, aluguel, energia elétrica, custos do "condomínio", etc. Quem bota os pés num shopping aqui tem que estar consciente de que pagará um "plus" frequentemente respeitável.]
O excelente cosmético para cabelos da marca Moroccanoil, fabricado em
Israel, e mundialmente conhecido por sua qualidade (diga-se de passagem,
todos os produtos israelenses), é outro exemplo de distorção nos
preços. O kit básico para cabelo feminino (ou masculino, desde que seja
comprido) composto de xampu, óleo e máscara sai por US$ 99,00 (noventa e
nove dólares). Segundo fui informado por minha esposa e minha filha, o
preço no Brasil é no mínimo duas vez e meia mais. Segundo elas, uma
simples aplicação desses produtos em um salão de beleza não sai por menos de R$ 180,00. Haja lucro!
[Ver comentário acima.]
No que toca à informática e telefonia, a distorção de preços continua. O
notebook mais caro que vi foi um MacBook Air 13” (na própria loja da
Apple), de última geração com HD com memória flash por US$ 1.299,00,
equivalente a R$ 2.600,00. Na rede de lojas Best Buy, uma das maiores na
área de informática nos Estados Unidos, não vi nenhum outro notebook
com preço acima de US$ 900,00 (novecentos dólares). Obviamente que não
dá para fazer comparações com os preços praticados no Brasil.
No tocante aos iPhones, do mesmo fabricante Apple, modelo 4S, lançado
nos Estados Unidos no segundo semestre do ano passado, anotei os
seguintes preços: 16 GB, US$ 649,00; 32 GB, US$ 749,00; e 64 GB, US$
849,00. No Brasil, a depender do plano por que o consumidor optar, o
preço do modelo de 64 GB pode custar até R$ 3.400,00 ou US$ 1.700,00, o
dobro do praticado nos Estados Unidos.
No tocante ao combustível, observei que o preço máximo do galão (3,785
litros) de gasolina estava em US$ 3,55, o equivalente a R$ 1,87 o litro,
enquanto no Brasil era próximo dos R$ 3,00.
[Independentemente do tipo de gasolina americana apontado, a coisa poderia ser pior e tende a sê-lo, talvez mais cedo do que se pensa, porque a gasolina hoje no Brasil tem preço político (= demagógico = burro) e artificialmente controlado para baixo, e a nova presidente da Petrobras já sinalizou que isso pode mudar (é só Dª Dilma deixar ...).]
Pergunto: como pode ser que, sendo os Estados Unidos o maior importador
de petróleo e derivados do mundo – 65,0% do que consome são importados
(fonte: U.S. Energy Information Administration, EIA,
www.eia.gov)
– tenha um combustível barato e sem subsídios? A resposta é simples: a
escorchante carga tributária que incide sobre os combustíveis e demais
produtos no Brasil.
[Ver comentário acima.] - Enquanto a distribuição e revenda que empregam milhões de pessoas nas
distribuidoras e nos postos de abastecimento arcam com os riscos do
negócio e ficam somente com no máximo 11,0% do custo final dos
combustíveis, o ICMS sozinho leva mais de 25,0%. Alguém já viu ou ouviu
algum governador de estado reclamar da carga tributária da conta de luz e
dos combustíveis?
A verdade é uma só, e não adianta sofismar com explicações fajutas.
Enquanto o Brasil tiver essa absurda carga tributária e a mentalidade do
lucro imediato, continuará sendo um grande exportador de commodities
baratas e importador de manufaturados caros.