domingo, 13 de abril de 2014

Entrevista indignada do artista plástico Antonio Veronese em 2012 sobre matéria de quinta categoria da TV e do jornal Globo continua inteiramente válida, ainda hoje

A entrevista do artista plástico Antonio Veronese desta postagem me foi enviada pelos caros amigos Paulo Cortez e Mary Annie, a quem agradeço. Além de seu conteúdo perfeito e contundente, a entrevista surpreende ainda mais pelo fato de ter sido dada em janeiro de 2012 e manter-se ainda atualíssima.

A reação de Antonio Veronese deveu-se ao fato de o site do jornal O Globo ter dado no seu caderno de Cultura na época um espaço para contar quantas vezes as meninas se masturbaram no último BBB [Big Brother Brasil] [um programa que é de uma boçalidade incomensurável]. Ela é precisa e lúcida na crítica que faz à televisão brasileira, à baixa qualidade do que é produzido por aqui e vendido como cultura pela coerente mídia nacional, e à decadência dos tempos atuais em comparação com anos passados. Entre outras coisas,Veronese diz: “a grande revolução é a da educação e da cultura, senão, continuaremos a ser um país de terceira classe, apesar de nosso crescimento”.

Antonio Veronese nasceu em Brotas (SP) em 1953, de uma família de origem italiana (ele possui dupla cidadania). Ele desenvolveu desde a infância a paixão  para o desenho e, mais particularmente, pelo figurativo. Começou desenhar cedo, em torno dos 10 anos. Radicado na França desde 2004, Veronese é autodidata com uma obra considerável. Já realizou 64 exposições individuais, têm obras expostas em numerosos museus, coleções públicas e privadas nos Estados Unidos, Suíça, França, Japão, Chile e Brasil e outros países.

O engajamento em favor de crianças e adolescentes carentes é uma das características de suas obras -- além de uma espécie de obsessão por rostos. Antes de deixar o Rio -- que o paulista de Brotas adotara por anos -- deu aulas de arte para menores infratores no Instituto João Luiz Alves, na Ilha do Governador. Em 1998, chegou a cobrar da então primeira-dama Ruth Cardoso medidas para tirar das ruas crianças abandonadas. Sua obra Just Kids (Apenas Crianças) é usada pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) para simbolizar os 10 anos do Estatuto da Infância e da Adolescência (ECA), enquanto Save the Children (Salvem as Crianças) é símbolo dos 50 anos da ONU. Apesar de distante do Brasil, Veronese (55 anos) se diz ligado a essa temática e ao país. Mas, se sente esquecido pela crítica brasileira que, segundo ele, lhe dedica a mais absoluta e total indiferença.

Ameaçado de morte em 2002 e 2003 pelo trabalho que desenvolvia, resolveu deixar o Brasil. Em entrevista à revista Veja em junho de 2009 , ele explica porque tomou essa decisão: "Não foi só pela pintura, mas por todo o meu trabalho contra a violência. Dei entrevistas denunciando coisas que testemunhei trabalhando como voluntário em presídios no Rio e em Brasília, fiz denúncias em exposições no Brasil e na Suíça, faleí à imprensa nacional e internacional, à Anistia Internacional ... E aí começaram os telefonemas ... Às vezes, no meio da madrugada ... Então, liguei para o [advogado] Técio Lins e Silva e disse: "Amigo, me ajuda a tirar o meu passaporte italiano porque o teto de zinco 'tá ficando quente'". 







Um comentário:

  1. Vasco, as obras dizem o que ele foi forçado a calar. Um grande abraço, Carla

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