sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Vamos deixar que os boçais violentos e baderneiros dominem as manifestações de rua no país?!

[Estamos presenciando, com raríssimas exceções, o crescimento desordenado da violência nas manifestações de rua e uma absoluta e preocupante incapacidade da sociedade como um todo, dos governos em geral e das polícias em particular em conter esses boçais baderneiros e vândalos. Se deixarmos que a violência seja a tônica predominante dessas manifestações, estaremos ferindo seriamente a democracia, desqualificando reações legítimas e sensatas em suas origens e abrindo espaço para algo que ninguém sabe a priori em quê e onde irá desaguar. Nesta semana houve pelo menos dois bons textos sobre o assunto: a coluna de ontem do sociólogo Demétrio Magnoli no Estadão e no Globo ("Nas franjas do Black Bloc") e o texto também de ontem de Juan Arias, correspondente do jornal espanhol El País no Brasil. Como certamente o jornal espanhol é de acesso mais restrito e menos frequente por brasileiros, traduzo abaixo o texto de Juan Arias. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Estão sendo sequestradas as manifestações de protesto no Brasil?

Juan Arias -- El País, 15/8/2013

As manifestações começaram a ser dominadas por grupos extremistas que pregam a estética da violência.

Um grave perigo começa a acercar-se das manifestações de protestos nas ruas do Brasil: o de serem sequestradas por grupos ideológicos violentos tanto de extrema esquerda como de extrema direita, com uma demonização das forças da ordem e um questionamento de valores democráticos que deveriam ser preservados a qualquer custo. Começaram também a aparecer bandeiras dos partidos e dos sindicatos aos quais a sociedade pedia a prestação de contas [a cooptação política dessas manifestações é péssima, sob qualquer ponto de vista].

O que havia começado como uma esperança de um despertar do povo para exigir das instituições políticas menos corrupção e  serviços públicos melhores e, em definitivo, uma democracia mais ampla e participativa através das novas redes de informação, começou a ser dominado por uma série de grupos extremistas que pregam uma certa estética da violência contra o capitalismo clássico que acaba desembocando em anarquia, colocando em risco valores que devem ser sagrados para qualquer democracia moderna.

"O Brasil não é o Egito, nem sequer a Turquia. Vivemos em uma democracia política plena, com amplo direito de organização e manifestação", alerta em seu blogue Reinaldo Azevedo [colunista da Veja], que foi o primeiro a chamar a atenção para o perigo de que as manifestações pudessem ser sequestradas pelo extremismo violento de esquerda a serviço de interesses obscuros, à margem dos anseios por uma regeneração da política e da democracia.

"Se os políticos são lamentáveis, se os serviços públicos são insuficientes, se a corrupção é insuportável, a única forma -- a ÚNICA! - de sair disso é exigindo maior respeito às leis", acrescenta Reinaldo Azevedo, a quem preocupa que o que poderia ser uma primavera democrática possa desembocar em um "regime de terror".

De modo semelhante, o sociólogo Demétrio Magnoli alerta no diário O Globo para o perigo de que os atuais grupos violentos, cada vez mais presentes nas manifestações, como ontem [anteontem] no Rio e em São Paulo, destruindo agências bancárias, ocupando sedes de instituições políticas e impedindo que a chamada "imprensa tradicional" atuasse nas ruas por considerarem que elas estão a "serviço do capitalismo", possam ser uma reencarnação de movimentos pelos quais ja passaram por exemplo a Alemanha com o grupo Baader-Meinhoff e a Itália nos anos setenta e oitenta com a mística revolucionária das Brigadas Vermelhas, da Luta Contínua ou da Autonomia operária.

Foi aquela estética da violência que levou as Brigadas Vermelhas ao sequestro e assassinato de Aldo Moro, como símbolo de luta contra o "compromisso histórico" da Democracia Cristã de Moro e o Partido Comunista reformista de Berlinguer.

Foram aqueles movimentos que, doutrinados por intelectuais como Toni Negri ou Pablo Ortellado, elogiavam a "ação simbólica" da destruição dos templos do capitalismo, como arte e estética da morte deste. Negri chegou a apelidar o terrorismo como o "amanhecer da revolução".

Hoje, poderíamos perguntar se aquela estética da violência levou a Itália a uma democracia mais madura e a uma corrupção política menor. A resposta é clara e tem até um nome: Berlusconi, uma caricatura dos verdadeiros valores políticos e civilizatórios.

No Brasil, quem começa a dominar as manifestações é o grupo dos Black Blocs, ao qual se uniram outros grupos que sintonizam com ele.

Talvez isso se deva a que a sociedade sem bandeiras e sem ideologias predeterminadas, ansiosa apenas por um país mais limpo, mais livre, mais moderno e com políticos menos corruptos tenha começado a deixar de sair às ruas, ficando estas nas mãos dos que pregam a "estética da violência".

Paradoxalmente, o sequestro das manifestações expontâneas e democráticas pela "estética da violência" poderá redundar mais em benefício dos políticos que buscam qualquer desculpa para deixar tudo como está, isto é, deixá-los seguir alimentando-se com suas corrupções e privilégios.

Para o próximo 7 de Setembro está prevista a retomada das manifestações de protesto. Será o melhor teste para se saber se as ruas serão tomadas de novo pelos que lutam por uma democracia e uma transparência maiores na vida pública, ou se a sociedade que ama sobretudo a paz e respeita a lei ficará em casa, deixando as ruas ao capricho da "estética da violência".

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