quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Dona Dilma quis politizar a visita do Papa e se deu mal

[Traduzo a seguir o artigo de hoje do respeitado jornalista Juan Arias, do jornal espanhol El País. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Durante a visita do Papa Francisco a seu país, a presidente Dilma Rousseff insistiu em criar com o Vaticano uma aliança contra a fome no mundo mas o pontífice, segundo pôde saber este jornal, não quis que seu encontro com dois milhões de jovens de todo o mundo se convertesse em um presente para o governo brasileiro. Dilma sabe que Francisco é conhecido como "O Papa dos pobres" e desejava levar adiante seu projeto, aproveitando-se da insistência desse pontificado numa maior aproximação da Igreja às necessidades dos mais desvalidos. Não teve êxito.

"Quem melhor que o Brasil para apresentar-se ante o Papa com as devidas credenciais, com um governo que tirou 30 milhões de pessoas da pobreza?", se perguntou Dilma. Assim, o Brasil chegou a propor ao Vaticano que convertesse em uma viagem de Estado a vinda do Papa ao Brasil por conta da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Desse modo, Francisco teria que ir a Brasília, sede do poder, e fazer uma visita oficial à presidente Dilma.

O Papa preferiu manter sua visita como "pastoral", sem compromissos políticos. O sonho de Dilma era ter podido anunciar, ao lado do Papa Francisco, uma aliança entre o Brasil e o Vaticano para uma espécie de cruzada no mundo contra a pobreza, sobretudo nos países africanos com os quais o Brasil mantém relações especiais por razões históricas.

O Vaticano, com a grande experiência diplomática que o caracteriza, fez saber que não costuma fazer essas alianças com governos. Isso foi confirmado no Rio por Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano. Após reconhecer que existem "pontos de sintonia" entre o governo do Brasil e o Vaticano na luta contra a fome e a pobreza, Lombardi encerrou a questão: "Não existe nenhum compromisso nesse sentido".

No entanto, a diplomacia do governo Dilma não se deu por vencida e, apesar das negativas recebidas do Papa Francisco, insistirá em poder apresentar ao mundo algum tipo de acordo entre o Brasil e o Vaticano. Para começar, o Brasil vai insistir em apresentar-se em todos os organismos internacionais, a começar pela ONU, como próximo e se possível aliado do Vaticano em políticas sociais.

A negativa do Vaticano de apresentar uma aliança conjunta com o governo brasileiro foi justificada oficialmente com a excusa de que a Santa Sé não faz esse tipo de acordo com governos concretos. No entanto, no rechaço do Papa à proposta de Dilma -- que, ao que parece, foi inspirada pelo ex-presidente Lula --  houve mais coisa. O Vaticano possui o melhor serviço de informação e inteligência do mundo, como já afirmou o famoso caçador de nazistas Simon Wiesenthal.

Nesse caso do Brasil, o Papa Francisco havia recebido informações de primeira mão e pessoalmente sobre o momento em que vive o país, com uma parte da sociedade saindo às ruas pedindo por melhoras sociais; o momento de debilidade do governo, em que a popularidade da presidente Dilma acabava de despencar, e as polêmicas internas dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) que, depois de dez anos no poder e com não poucos êxitos sociais, se encontra em um de seus momentos menos gloriosos.

Fontes tanto do mundo político como do eclesiástico confirmaram a este correspondente que Francisco, que sempre defendeu que a Igreja deve comprometer-se com a política, mas apenas com a de "P" maiúsculo (ou seja, não com a dos partidos), não quis que o grande acontecimento de seu encontro com dois milhões de jovens de todos os quadrantes do mundo se transformasse em uma imagem favorável para o governo do Brasil.

De fato, Francisco, que deixou evidente que aprecia os esforços que o Brasil está fazendo no campo das conquistas sociais, se manteve durante toda a semana à margem de qualquer compromisso de natureza político-partidária. Nem sequer encontrou minutos de folga para apertar a mão de Lula, não apenas uma das figuras políticas mais importantes do país como também de grande projeção internacional.

Quando a presidente Dilma, em seu encontro a portas fechadas com o Papa, lhe perguntou se gostaria de aproveitar sua permanência no Brasil para encontrar-se com "alguma personalidade" que não conhecesse, a resposta desta vez muito jesuítica do Papa foi: "Sim, gostaria de me encontrar com Deus".  [O correspondente espanhol resolveu aqui, à sua maneira, propagar a piadinha que corre pela Internet -- o Papa quis encontrar-se com Deus por ser Ele brasileiro.]

Dilma percebeu muito bem que o Papa Francisco enlouqueceu os brasileiros de todas as crenças por duas coisas muito concretas: sua aproximação física com as pessoas, no que ele chamou de "teologia do encontro", e sua falta de medo em sair às ruas com o mínimo de proteção possível. E ontem mesmo, a mandatária brasileira em pleno centro de São Paulo, quebrando o protocolo, surpreendeu a todos descendo do carro oficial e passeando pela rua, abraçando e beijando as pessoas. Na imprensa, esse fenômeno está sendo chamado de "contágio franciscano".  [Seria interessante conhecer o quadro clínico e emocional da nossa doce ex-guerrilheira depois desse passeio demagógico.]

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