quarta-feira, 24 de abril de 2013

Profissionais brasileiros têm um dos piores níveis de inglês do mundo

[Para um país que, inegavelmente, vem se projetando internacionalmente e que, para isso e por conta disso, tem pretensões legítimas de avançar como player no cenário mundial, a reportagem abaixo publicada ontem no jornal Valor Econômico é preocupante. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Os profissionais brasileiros têm um dos piores níveis de inglês do mundo, segundo um estudo da GlobalEnglish que mediu a habilidade com o idioma de mais de 200 mil funcionários de empresas nacionais e multinacionais ao redor do mundo que não têm o inglês como língua materna. Dentre os 78 países analisados pela empresa de cursos de inglês corporativo, o Brasil ficou na 70ª posição. De 1 a 10, o país ficou com a nota 3,27, o que representa uma leve melhora em relação ao ano passado, quando registrou 2,95. A média deixa o Brasil entre os índices “iniciante” e “básico” – abaixo, inclusive, da América Latina, que ficou com a média de 3,38.

O Brasil fica bem atrás de outros emergentes como a China e de vizinhos como o Uruguai, ambos com nota 5,03, além de ficar longe de outros países lusófonos, como Portugal, com nota 5,47, e Angola, com 4,40. “Estamos muito aquém. Isso pode afetar incrivelmente a capacidade do Brasil de continuar atraindo investimentos de fora”, diz o diretor da GlobalEnglish no Brasil, José Ricardo Noronha. Outro problema está na capacidade de expansão de empresas brasileiras que crescem globalmente. “A gente enxerga que a falta de inglês impacta diretamente na produtividade e no aproveitamento dos talentos. Uma empresa que não fala a língua mundial dos negócios tem o seu potencial muito mais limitado”, diz.

O ranking é liderado pelas Filipinas, com nota 7,95. A média mais baixa é a de Honduras, 2,92.

Os países mais bem classificados em fluência da língua inglesa

                       País                                    Nota
 
                     Filipinas*                               7,95
                     África do Sul*                        7,68   
                     Noruega                                7,06 
                     Holanda                                 7,03 
                     Reino Unido*                          6,81
                     Austrália*                               6,78  
                     Bélgica                                   6,45 
                     Finlândia                                6,39 
                     Suécia                                    6,33 
                     Índia*                                    6,32    
 
Fonte: GlobalEnglish (*a pesquisa ouviu funcionários de empresas que não têm o inglês como língua materna)

 
A falta de familiaridade com o inglês de negócios atinge todos os níveis nas empresas, segundo Noronha, com a exceção de jovens de alto potencial que entram por programas como os de trainee. O diretor também não percebe diferença entre empresas brasileiras e multinacionais atuando no país. Para Noronha, os problemas gerados por essa incapacidade de falar o idioma vão desde a sobrecarga de profissionais que conseguem se comunicar em inglês até problemas pontuais de comunicação interna. “Muitos dos investimentos estratégicos, como de liderança ou treinamento, acabam se perdendo porque a absorção é comprometida”, diz o diretor.

Em todo o mundo, apenas 7% dos profissionais apresentam fluência no idioma, porcentagem similar à registrada no Brasil. Mesmo assim, eles sabem a importância de apostar na língua – 91% consideram a proficiência no inglês necessária para avançar na carreira e 94% consideram o “business English” fundamental para conseguir uma promoção. No Brasil, Noronha percebe mais profissionais e empresas preocupadas com a situação, mas acha que a execução ainda é falha – os profissionais ainda são muito reativos, esperando que a iniciativa parta da empresa, e as companhias acabam treinando poucos talentos, por causa do alto custo. “A falta de inglês ainda é um problema sistêmico, e precisa ser tratada de forma mais estratégica por todos”, completa.

[Como acontece com 99,999% dos nossos problemas, a falta de proficiência em idiomas estrangeiros -- com destaque para o inglês -- vem também de nossos bancos escolares. Mas, o problema não é só no inglês. Apesar de sermos o único país da América do Sul que não tem o espanhol como língua materna, e de termos fronteiras com 10 dos 12 países da região, o ensino do espanhol em nossas escolas é relegado a terceiro plano. Nossos ministros, praticamente em sua totalidade (com exceção obviamente do chanceler), além de mal alfabetizados em português são analfabetos em inglês e espanhol -- o que, no entanto, não os inibe de agredir esses dois idiomas em reuniões internacionais. Cansei de passar vexames de peso com esse tipo de gente em reuniões aqui e lá fora.

Para piorar esse quadro, tivemos oito anos de mandato presidencial de um míope intelectual, o NPA, que se vangloriava de falar um português capenga e de ter tido pouca educação escolar. Sua miudeza intelectual somada ao seu absoluto descaso com a liturgia do cargo -- descaso esse que frequentemente descambava para a galhofa desrespeitosa, com o intuito de ridicularizar seus opositores, apelidados por ele de "intelectuais" da oposição -- o fizeram  desprezar completamente a oportunidade de estimular seus seguidores a dedicarem-se aos estudos. Em um desses arroubos de patetice, usou uma expressão francesa ("en passant") em um discurso e disse que isso provava uma "evolução estupenda" no seu modo de falar.]
                              

Um comentário:

  1. Verdade! E mais...
    Itens onde o Brasil emergente submerge: saúde (pública e, agora, a privada, quase no mesmo lugar), educação, segurança pública e infraestrutura. Talvez sejam itens de segunda categoria. Bem, o que sei? Não sou economista!

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