quinta-feira, 4 de abril de 2013

Ewald von Kleist, o oficial nazista programado para ser um homem-bomba para matar Hitler

[A notícia abaixo, publicada na versão impressa do International Herald Tribune (a versão global do The New York Times) de 14/3/2013 e no site do jornal em 12/3/2013, põe em destaque aquele que seria talvez um dos principais homens-bombas da história se tivesse se encontrado com Hitler, como programado. Ele morreu em Munique no dia 8/3, aos 90 anos. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Ewald-Heinrich von Kleist era considerado o último sobrevivente de um elaborado plano para matar Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial. Como muitos alemães envolvidos nos esforços para matar Hitler, von Kleist era um soldado -- um tenente do exército alemão --, mas sua família há tempos participava da resistência alemã. Em janeiro de 1944, ele tinha 22 anos e recuperava-se em Berlim de ferimentos sofridos em combate quando foi abordado pelo coronel Claus von Stauffenberg, para juntar-se a uma conspiração de assassinato.

Ewald-Heinrich von Kleist, aos 22 anos - (Foto: The Telegraph).

O coronel Claus von Stauffenberg - (Foto: Google).

Na época, o tenente von Kleist liderava uma unidade que estava programada para encontrar-se com Hitler para mostrar-lhe os novos uniformes do exército. O coronel von Stauffenberg pediu ao tenente que levasse consigo explosivos escondidos e os detonasse quando daquele encontro. "Tenho que dizer que achei que era uma decisão muito difícil", lembrou von Kleist em uma entrevista em 1992 para o documentário "The Restless Conscience" ["A Consciência Inquieta", em tradução direta].

Von Kleist pediu um dia para decidir-se e viajou de Berlim para sua casa, para falar com seu pai Ewald von Kleist-Schmenzin, que havia sido preso várias vezes por suas atividades na resistência. "Na manhã seguinte, meu pai perguntou-me: "por que você está aqui novamente"? Eu lhe disse: "é que tenho decisões difíceis para tomar". Ele disse: "o que é?". Então lhe contei. E ele disse de imediato: "Sim, é claro que você tem que fazer isso", e eu lhe disse: "É, mas tenho que explodir com o coronel". Ele se levantou de sua cadeira, foi até à janela, olhou para fora por um momento, então virou-se e disse: "Sim, você tem que fazer isso. Um homem que não aproveitar uma oportunidade como essa nunca mais será feliz novamente em sua vida".

O tenente von Kleist concordou em ir adiante com o plano, mas Hitler cancelou o encontro à última hora -- no final da guerra ele frequentemente alterava sua agenda -- e o coronel von Stauffenberg e outros começaram a arquitetar um novo plano.  Em julho de 1944, quando outros participantes da conspiração estavam sendo descobertos e presos, von Stauffenberg, cujas atribuições no exército lhe davam acesso aos principais líderes nazistas, decidiu colocar uma bomba sob uma mesa durante uma reunião de Hitler com seus auxiliares no Covil do Lobo (Wolf's Lair), seu quartel-general de campo na Prússia oriental. O tenente von Kleist era um dentre vários conspiradores, cuja função era esperar em Berlim prontos para deflagrar um golpe assim que a morte de Hitler fosse confirmada. O tenente von Kleist lembrava-se daquele dia de espera como o de uma "atmosfera fora do comum, quando a história está se curvando sobre o fio de uma faca".

Quando ocorreu a explosão, em 20 de julho, 4 pessoas morreram mas Hitler foi apenas levemente atingido. A conspiração foi descoberta rapidamente e o coronel von Stauffenberg estava entre os presos e fuzilados naquela noite. Os nazistas, ao final, mataram mais de 5.000 pessoas direta ou indiretamentamente associadas à conspiração. O pai de von Kleist foi preso em 21 de julho, e morto pelos nazistas na prisão de Plötzensee em abril de 1945.

Hitler e Mussolini examinam os danos no Covil do Lobo, após a explosão - (Foto: Google).

Von Kleist foi preso para interrogatório no quartel-general da Gestapo no dia da explosão. "Pensei nos versos da Divina Comédia: 'Abandonem a esperança, todos aqueles que aqui entrarem'", disse ele ao jornal The National Post, do Canadá, em uma entrevista em 2004.

Ainda assim, enquanto estava preso com outros conspiradores, as acusações contra ele acabaram por ser retiradas por razões não identificadas de imediato. Foi-lhe dada a missão de combater no front. Ele disse ao jornal canadense que se beneficiou do fato de que os conspiradores que foram torturados não revelaram seu envolvimento. "É claro que isso me ajudou", disse ele. "Alguns falaram, e desnecessariamente algumas pessoas foram mandadas para a forca".

Ewald-Heinrich von Kleist nasceu em 10 de julho de 1922, na província de Pomerania, na então Prússia. Sua família possuía raízes aristocráticas, e seu pai se opusera a Hitler mesmo antes deste assumir o controle da Alemanha. Em 1938, com Hitler no poder, seu pai foi à Inglaterra para tentar convencer os ingleses de que seu apoio poderia ajudar os líderes militares alemães a derrubar Hitler.

Depois da guerra, von Kleist tornou-se um editor de livros. Em 1962, ele criou um fórum anual sobre temas de segurança e defesa no Ocidente que desde então se expandiu em seu escopo, abrangendo outras regiões. Esse evento se chama agora Conferência de Munique sobre Defesa -- o vice-presidente americano Joseph R. Biden Jr. participou dela como orador em fevereiro deste ano.

Von Kleist deu poucas entrevistas sobre sua participação na conspiração. Por um longo tempo, as reações na Alemanha sobre esse evento foram complexas. Algumas pessoas o viram inicialmente como traição -- uma atitude que o coronel Von Stauffenberg antecipou em seus escritos -- mas, à medida que as décadas se passaram mais pessoas acolheram a conspiração, e por muitos anos os líderes alemães têm realizado cerimônias evocativas no dia 20 de julho, algumas vezes acompanhados por von Kleist. Ele apareceu em vários documentários sobre a conspiração, mas não foi envolvido nem retratado em "Valquiria", o filme de 2008 sobre ela estrelado por Tom Cruise.

Entre seus familiares, ele deixou sua mulher Gundula.

Ewald-Heinrich von Kleist, um residente de Munique, em 2010 - (Foto: International Herald Tribune/Henning Schacht).





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