sábado, 6 de abril de 2013

Executivos buscam novas carreiras após os 60 anos de idade -- lá fora e aqui

Como é conveniente em uma carreira na área de banco de investimentos, Jonathan Francis tem uma visão precisa sobre as fases de sua vida. Ele define o Primeiro Ato como a infância e a fase de educação; o Segundo Ato é sua carreira e sua família. Agora, aos 67 anos, ele diz estar embarcando no Terceiro Ato: deixou o mundo das finanças não para passar o tempo em um campo de golfe, e sim para começar um novo negócio avaliando móveis artesanais. Há dois anos na nova vida, este economista de Boston, não passa mais seus dias avaliando os mercados de ações, mas cadeiras e mesas.

Francis é uma das pessoas na casa dos 60 anos que continuam trabalhando depois da aposentadoria - por escolha ou por necessidade -, enveredando-se em uma segunda carreira. As mudanças em uma população em envelhecimento significam que pessoas que normalmente estariam agora se aproximando da aposentadoria, continuarão ativas para se sustentar. A New Directions, uma consultoria de carreira que cobra entre US$ 15 mil e US$ 50 mil por seus serviços, aconselhou Francis em sua segunda etapa. Fundada na década de 1990 para ajudar executivos a empreender suas mudanças profissionais, a New Directions vem observando um aumento no número de pessoas na faixa dos 60 anos em busca de emprego em período integral, na esteira da mais recente desaceleração econômica.

Para alguns, a crise afetou seus planos de pensão, de modo que é preciso continuar trabalhando para complementar a renda. Para outros, a ideia de trocar o escritório por tacos de golfe simplesmente os apavora. Francis detesta a ideia de se aposentar. "Não preciso do dinheiro, mas não suportaria ficar sem fazer nada", diz. Além de trabalhar para ONGs, ele está desenvolvendo um negócio que surgiu de seu hobby. A remuneração em sua nova atividade pode não fazer diferença financeiramente, mas tem sua importância. "Significa que ainda tenho uma habilidade valorizada", afirma.

Patricia Smith, vice-presidente da New Directions, recusa-se até mesmo a usar a palavra "aposentadoria", preferindo descrevê-la como uma mudança de carreira. Para ela, a meia-idade se estende hoje até os 80 anos. "Há uma mudança em relação à expectativa de vida. As pessoas mais velhas podem estar desgastadas com os empregos atuais, mas querem voltar a sentir paixão pelo trabalho", diz.

Para Stevan Rolls, diretor de RH da Deloitte no Reino Unido, essa é uma conversa que várias organizações estão tendo - às vezes em razão das novas regras contra a discriminação por idade, mas também porque querem usar a experiência dessas pessoas, oferecendo acordos de trabalho mais flexíveis. Até recentemente, a equipe da Deloitte tinha um octogenário que trabalhava três dias por semana.

Os patrões menos esclarecidos terão de mudar suas atitudes em relação aos trabalhadores mais velhos, diz Bonnie Harrison, 63, que está passando por uma mudança em sua carreira. Está deixando um cargo na área de RH no grupo industrial americano Corning e vai atuar em casas de repouso: "Se você mantém as pessoas em empregos que não as estimulam, elas começam a pensar no golfe. Mas se existirem oportunidades para os mais velhos, eles poderão trabalhar por mais 20 ou 30 anos".

Alguns que tiveram uma carreira lucrativa no setor privado anseiam por passar a terceira idade "dando algo em troca", talvez fazendo trabalho de caridade. A US Encore Fellowship, por exemplo, foi criada para ajudar profissionais mais velhos a saírem do setor privado. Estabelecida no Vale do Silício em 2009 pela fundação David e Lucile Packard e pela Hewlett-Packard (HP), ela tem o objetivo de fazer com que executivos na faixa dos 60 anos ganhem experiência em outras áreas.

No ano passado, um funcionário da Intel trabalhou em um centro de reabilitação do Arizona. Leslye Louie, o diretor do programa, diz que a maioria de seus estagiários, que é como o programa os chama, não se vê aposentando. "Eles têm energia e querem contribuir". O processo de entrevistas leva em conta a humildade. "As pessoas do setor público costumam achar que executivos podem ser arrogantes. Deixamos claro que eles estão ali para aprender e compartilhar suas habilidades".

Francis afirma que alguns de seus contemporâneos do setor financeiro se apegam aos velhos empregos por terem medo de fazer coisas diferentes e não conhecem seus interesses, mas é compreensivo. "Quando eu estava trabalhando, também não tinha tempo para pensar sobre isso". Patricia, da New Directions, diz que os homens têm mais dificuldade em deixar o emprego. "Eles temem a perda de status. Para muitos, um aconselhamento de carreira é a única maneira de eles experimentarem algo parecido com terapia".

É claro que muitos estão fazendo isso por falta de opção, pois podem ter sido vítimas de programas de demissão voluntária. No entanto, pode haver uma mudança de perspectiva para aqueles que têm a sorte para encontrar uma nova carreira na faixa dos 60. "Cresci em uma fazenda e não sabia nada sobre design. Talvez pudesse ter escolhido uma profissão diferente se tivesse a chance", afirma Francis.

[As experiências citadas acima são todas referentes a aposentados nos EUA -- o que será que está acontecendo no Brasil para o mesmo segmento da população? De acordo com dados do IBGE divulgados em 2012, a volta dos aposentados ao mercado está num processo ascendente. De 2000 para 2011, subiu 63%, de 3,3 milhões para 5,4 milhões, o número de parcialmente “inativos” que desempenham alguma atividade econômica.  E há também empresas de consultoria no Brasil atuando nessa área de orientação de aposentados para novas carreiras -- acessar, por exemplo, o link indicado neste parágrafo.

De acordo com informação de janeiro deste ano do site do Ministério do Planejamento, empresas contratam cada vez mais profissionais experientes. A idade média deles é de 68 anos, têm curso superior e são de classe média. Profissionais aposentados estão a cada dia mais cobiçados. Pelos menos 36% deles receberam convite para retornar à ativa nos últimos três meses. Os dados são da Vagas Tecnologia, empresa especializada em consultoria e informatização da gestão de processos seletivos. "Esse é um fenômeno novo no país. A população da terceira idade continua sendo muito requisitada por sua experiência e qualificação. Com a escassez de profissionais, tem se tornado mais frequente a busca por um trabalhador com esse perfil", explicou a gerente de relacionamento, Fernanda Diez.]

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