sábado, 6 de abril de 2013

Mais um microfone ligado e despercebido cria azedume político

Peixe e político morrem pela boca. O animal político -- raramente pertencente às espécies mais nobres da fauna terrestre -- via de regra é apanhado dizendo besteira e/ou inconveniência na boca de um microfone aparentemente desligado. Os exemplos são vários. No Brasil, o certamente mais famoso é o de Rubens Ricúpero em setembro de 1994, quando ministro da Fazenda de FHC, que foi apanhado dizendo que não tinha escrúpulos e escondia [do povo] o que era ruim -- isso custou-lhe o cargo.

No palco internacional, as ocorrências são inúmeras: - i) não ao microfone, mas em uma ligação telefônica interceptada, Berlusconi chamou a Itália de país de merda e Angela Merkel de "uma gorda com quem ninguém quer ter relações sexuais"; - ii) Obama já foi vítima de dois microfones: um em novembro de 2011, quando ele e Nicholas Sarkozy falavam mal de Benjamin Netanyahu, e o outro em março de 2012 quando, em conversa que pensava ser em "off" com o presidente russo Dmitri Medvdev, pediu que este falasse com o recém-eleito Vladimir Putin para deixar o assunto dos mísseis de defesa para depois das eleições americanas quando então ele, Obama, teria mais "flexibilidade" para tratar do assunto.

Outros exemplos de gafes políticas de microfone aberto podem ser encontrados em lista do Globo.

O bafafá do momento nesse capítulo "microfone aberto" são as declarações do presidente uruguaio José Mujica que disse ao governador da província uruguaia de Florida, referindo-se ao casal Kirchner (Nestor e Cristina): "Essa velha é pior que o vesgo [...]. O vesgo era mais político, ela é teimosa" (ver vídeo abaixo). E continuou, falando do encontro de Cristina com o Papa Francisco: "A um papa argentino, de 77 anos, ela vai explicar o que é um mate e uma garrafa térmica?". Outra frase que teria dito, quando avisado de que suas declarações sobre Cristina Kirchner estavam sendo gravadas, pioraria a situação: "Que problema traz uma mancha a mais no tigre?".

A chancelaria argentina declarou que "é inaceitável que comentários denegrintes que ofendem a memória e a investidura de uma pessoa falecida, que não pode replicar nem defender-se, tenham sido feitos, e principalmente, por alguém que Kirchner considerava seu amigo".

Do lado uruguaio, nem resposta oficial nem informal. Nada. A orientação do governo de Mujica teria sido deixar o tempo passar e não agravar as relações com a Argentina. Houve a expectativa de que Mujica dissesse algo, quando anunciou uma audição especial de seu programa radiofônico semanal das quintas-feiras, em uma empresa privada de FM. Mas, essa expectativa se frustrou. Mujica não se desculpou, não esclareceu, nem fez qualquer referência ao ocorrido no dia anterior.

O deputado argentino Fernando "Pino" Solanas, do movimento político, social e cultural "Projeto Sul", levou a tragédia greco-uruguaia-argentina para o lado do humor e disse que "o que certamente mais doeu a Cristina foi seu par oriental tê-la chamado de velha".

Nesse ambiente de ópera bufa segue a nave do Mercosul, à deriva. A charge abaixo, publicada no site uruguaio Información, do El País, reflete bem o clima reinante no Cone Sul:

Charge de jtxo, publicada no El País, do Uruguai.



Um comentário:

  1. Amigo VASCO:
    O caso RICUPERO eu vivi.
    Eu ocupava a superintendência da Região Centro-Leste da Embratel, e estava visitando um potencial cliente. quando minha secretária me ligou, informando que um GLOBAL de ALTO COTURNO queria falar comigo. Perguntei aos anfitriões onde poderia receber uma ligação urgente e confidencial, e me indicaram o local.
    Logo a seguir atendi a ligação, e soube do episódio Ricupero. Queriam colocar a culpa na Embratel. Perguntei qual serviço havia sido contratado pela Globo, e ele me informou ser o serviço de televisão aberta, cujos sinais poderiam ser captados por qualquer parabólica, e que a Embratel não exercia controle sobre o conteúdo da transmissão, sendo essa responsabilidade do contratante.
    Silêncio na outra ponta.
    Isso eu vivi.

    Abraços - LEVY

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