terça-feira, 9 de abril de 2013

Clima, um tema sensível (I)

[O texto a seguir é uma tradução da matéria publicada na revista The Economist de 30 de março passado. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. Apesar de sua extensão, o artigo parece-me digno de atenção por explicitar detalhes sobre estudos climáticos rarissimamente disponíveis em publicações não técnicas.]

O clima pode estar se aquecendo menos do que se pensava em resposta às emissões decorrentes do efeito estufa, mas isso não significa que o problema está desaparecendo.

Ilustração: The Economist (Ian Whadcock).

Nos últimos 15 anos as temperaturas do ar na superfície da Terra não têm variado, enquanto as emissões por efeito estufa aumentaram. O mundo despejou na atmosfera aproximadamente 100 bilhões de toneladas de carbono entre 2000 e 2010 -- isso é cerca de 25% de todo o CO₂ transferido à atmosfera pela humanidade desde 1750. E ainda assim, "a temperatura média global de cinco anos tem-se mantido invariável por uma década", observa James Hansen, chefe do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA.

As temperaturas flutuam por períodos curtos, mas essa ausência de novo aquecimento é uma surpresa. Ed Hawkins, da Universidade de Reading, no Reino Unido, mostra que desde 2005 as temperaturas da superfície já estão no extremo inferior da faixa de projeções derivadas de 20 modelos climáticos (ver fig. 1). Se permanecerem planas, cairão fora da faixa dos modelos dentro de poucos anos.
Caindo fora da escala - Mudança na temperatura média global, °C (ocorrência real x modelos computacionais) -- * Intervalo de confiança -- Fonte: Ed Hawkins, Universidade de Reading, conjunto modelo de dados CMIP5 - (Ilustração: The Economist).

O descompasso entre emissões crescentes de gás de efeito estufa e temperaturas invariáveis é, neste momento, um dos maiores enigmas da ciência climática. Mas, isso não significa que o aquecimento global é uma ilusão. Embora planas, as temperaturas na primeira década do século 21 permanecem 1°C acima de seu nível na primeira década do século 20. Mas, o enigma precisa sem dúvida de uma explicação. Essa discordância pode significar que -- por uma razão ainda não explicada -- houve um retardo temporário entre a presença de mais dióxido de carbono e a ocorrência de temperaturas mais elevadas no período 2000-2010. Ou pode ser que os anos 1990, quando as temperaturas aumentaram rapidamente, fossem o período anômalo. Ou, como está sugerindo um crescente grupo de pesquisadores, pode ser que o clima esteja respondendo a concentrações mais elevadas de dióxido de carbono de maneiras que não tivessem sido adequadamente entendidas antes. Esta possibilidade, se verdadeira, pode ter uma profunda significação tanto para a ciência do clima quanto para a política socioambiental.

O planeta insensível

O termo utilizado pelos cientistas para descrever o modo como o clima reage a mudanças nos níveis de dióxido de carbono é "sensibilidade (ou suscetibilidade) climática", que é geralmente definida como quanto a Terra se torna mais quente para cada duplicação das concentrações de CO₂. A denominada "sensibilidade de equilíbrio", a medição mais comum, refere-se ao aumento de temperatura depois de se permitir que todo o mecanismo de feedback tenha atuado (mas sem levar em conta as alterações na vegetação e nas lâminas de gelo).

O próprio dióxido de carbono absorve os raios infravermelhos a uma taxa uniforme. Para cada duplicação de níveis de CO₂ obtém-se aproximadamente 1°C de aquecimento. Um aumento de concentração de níveis pré-industriais de 280 partes por milhão (ppm) para 560 ppm aqueceria portanto a Terra em 1°C. Se isso fosse tudo com que se preocupar, não haveria, como não houve, nada com que se preocupar. Um aumento de 1°C poderia ser desprezado. Mas, por duas razões, as coisas não são tão simples. Uma, é que o aumento de níveis de CO₂ influencia diretamente fenômenos como a quantidade de vapor d'água (também um gás de efeito estufa) e nuvens, que podem ampliar ou diminuir o aumento de temperatura. Isso afeta diretamente a sensibilidade de equilíbrio, o que significa que a duplicação das concentrações de carbono produziria mais do que 1°C de aumento de temperatura. A segunda razão é que outros fatos, tais como a adição de fuligem e outros aerossóis à atmosfera, podem se somar ou se subtrair ao efeito do CO₂. Todos os cientistas climáticos [preferi usar a terminologia inglesa em vez de "climatologistas" para evitar eventuais ambiguidades] sérios concordam com essas duas linhas de raciocínio -- mas discordam quanto ao tamanho da mudança que é prevista.

O Painel Intergovernamental Sobre Mudança Climática (IPCC, em inglês), que incorpora a linha dominante da ciência climática [ou climatologia], calcula que a resposta [quanto ao tamanho da mudança] é cerca de 3°C, mais ou menos um grau ou próximo disso.  Em sua estimativa mais recente (em 2007), o IPCC escreveu que "a sensibilidade climática de equilíbrio ... está provavelmente na faixa de 2°C a 4,5°C , sendo cerca de 3°C a melhor estimativa, e é muito improvável que seja inferior a 1,5°C. Valores acima de 4,5°C não podem ser excluídos".  A próxima avaliação do IPCC é esperada para setembro. O rascunho de uma versão vazou recentemente, dando a mesma faixa de valores como resultados prováveis e acrescentando um limite superior de sensibilidade de 6°C a 7°C.

Um aumento de cerca de 3°C pode ser extremamente nocivo. A avaliação anterior do IPCC dizia que um aumento dessa ordem poderia significar que mais áreas seriam afetadas por secas, que até 30% das espécies poderiam ficar em grande risco de extinção, que a maioria dos corais enfrentariam perdas significativas de biodiversidade, e que haveria a possibilidade de ocorrência de ciclones tropicais mais intensos e níveis do mar muito mais elevados.

(continua)





Nenhum comentário:

Postar um comentário