terça-feira, 30 de abril de 2013

Comitê de Ética da FIFA informa que João Havelange e Ricardo Teixeira receberam propinas

O Comitê de Ética da Fifa divulgou nesta terça-feira relatório final do caso ISL apontando que os brasileiros Ricardo Teixeira e João Havelange e o paraguaio Nicolás Leoz receberam propinas.  O relatório, assinado pelo alemão Hans-Joachim Eckert, uma espécie de juiz do comitê, revela ainda que Havelange renunciou no dia 18 de abril ao cargo de presidente de honra da Fifa. Ou seja, 12 dias antes da divulgação do resultado final da investigação interna.

O documento isenta o atual presidente da entidade, Joseph Blatter, de responsabilidade no caso. 

Na sua conclusão, divulgada no site da Fifa, Eckert mantém a informação de que os cartolas receberam subornos da empresa de marketing ISL, entre 1992 e 2000, mas argumenta que, na época do episódio, não havia código de conduta dentro da Fifa. O primeiro código, explica, é de 2004, depois do escândalo. Por isso, ele diz que qualquer outra recomendação não teria efeito neste momento. Além disso, o juiz do comitê de ética alega que os três envolvidos, Teixeira, Havelange e Leoz, deixaram seus cargos na entidade. "O caso ISL está concluído pelo comitê de ética", informa. [Moral desse falso imbróglio da Fifa: o crime compensa e não deixa sequelas. Sensacional: como a Fifa não tinha código de conduta, os indíviduos que a dirigiam não eram obrigados a tê-lo! E como os pilantras renunciaram antes de denunciados, fica tudo elas por elas. Depois disso, não é de se estranhar que os honestos se sintam uns panacas.]

Conforme a Folha informou no dia 24, Nicolás Leoz sabia que seria citado neste documento, o que o levou a anunciar na terça-feira passada a renúncia aos cargos de presidente da Conmebol e de membro do comitê executivo da Fifa. A renúncia de Havelange só foi revelada no documento divulgado nesta terça pela entidade que comanda o futebol no mundo.  A falida ISL, empresa de marketing esportivo parceira da Fifa nos anos 90, foi investigada pela Justiça suíça por ter pago propina a dirigentes em troca de facilidades na obtenção de contratos. Em julho do ano passado, foi divulgado que os brasileiros João Havelange, então presidente honorário da Fifa, e Ricardo Teixeira, ex-mandatário da CBF, receberam R$ 45 milhões em subornos. Eles nunca comentaram o caso. Teixeira havia renunciado a seus cargos na CBF e na Fifa quatro meses antes.

A Fifa criou em 2012 um comitê de ética e anunciou a abertura de uma investigação interna sobre o caso. Nomeou o americano Michael J. Garcia como chefe da apuração. Ele entregou seu relatório final ao juiz Hans-Joachim Eckert no dia 18 de março. Ao livrar Blatter, o juiz argumenta que não há elementos mostrando que o atual presidente da Fifa foi responsável ou esteve ligado aos pagamentos feitos aos três outros envolvidos --Teixeira, Havelange e Leoz. 

João Havelange (esquerda), então presidente da Fifa, ao lado de Ricardo Teixeira (centro), então presidente da CBF, e Joseph Blatter, secretário-geral da entidade, no Rio -- Os dois brasileiros foram venais e corruptos, mas saíram com o dinheiro da propina e sem punição porque a Fifa não tinha código que os obrigava a ter boa conduta... - (Foto: Patrícia Santos/Folhapress).

Cursos de Engenharia de universidades paulistas ganham currículo novo

Uma das mais tradicionais faculdades de Engenharia do País, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) aprovou na semana passada uma grande reforma no currículo de seus cursos. A ideia é facilitar o trânsito dos alunos pelas diversas modalidades da Engenharia, formando profissionais mais generalistas. A mudança está sendo acompanhada de perto pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), que também deve alterar sua grade de disciplinas da graduação neste ano.

As mudanças surgem na esteira de uma revolução no perfil do engenheiro. Também coincidem com o avanço do interesse dos estudantes pela carreira. O ano de 2011 foi o primeiro em que o número de ingressos em Engenharia superou o de Direito. A procura por Administração ainda é maior.

Se tudo ocorrer como o esperado na USP, os calouros de 2014 já vão notar as diferenças: o ciclo básico, de disciplinas de Exatas, será diluído em cinco semestres (hoje se concentra nos quatro primeiros). Assim, haverá espaço para matérias de Engenharia no começo do curso – uma reivindicação antiga dos alunos, que se dizem desmotivados pelo “paredão” de Física e Matemática. Em outra frente, a escola criou módulos no quinto (e último) ano dos cursos. O aluno poderá fazer um pacote de disciplinas de outra modalidade da Engenharia e conseguir registro profissional para desenvolver algumas atividades da área. Ou então se especializar ainda mais na carreira e virar, por exemplo, um engenheiro eletrônico habilitado a trabalhar com processamento de sinais.

A nova organização do currículo vai possibilitar que o aluno inicie disciplinas do mestrado antes mesmo de terminar a graduação. Também poderá cumprir os últimos créditos da formação em universidades estrangeiras. Cada calouro terá um professor tutor, que o ajudará a definir o percurso. “Os cursos serão mais parecidos, então o tutor será fundamental para orientar a escolha das disciplinas optativas”, diz o professor Paul Jean Jeszensky, que coordenou o projeto de mudança.

Inovação

Pesquisador do tema, o professor Roberto Lobo, ex-reitor da USP, vê uma forte relação entre o currículo do estudante de Engenharia e a futura capacidade de inovação. “O novo engenheiro precisa de uma formação mais abrangente e menos focada para ser capaz de se adaptar rapidamente aos novos conceitos e tecnologias, além de gerar inovação".

A excessiva fragmentação da carreira é questionada também por outras escolas de elite. O ITA, por exemplo, deve reduzir a carga horária dos seis cursos e oferecer disciplinas optativas que habilitem o aluno a desenvolver outras atividades. Segundo o reitor, Carlos Américo Pacheco, haverá campos secundários de estudos: Engenharia Física (foco em matérias de Física e Matemática), de Sistemas (para o setor aeroespacial) e de Inovação (em que o aluno desenvolverá projetos para o consumidor). “Queremos estimular novos negócios e a formação de empreendedores”, afirma.

No novo modelo, o centro de inovação que será construído com empresas privadas no câmpus em São José dos Campos terá papel central. “As companhias vão propor desafios a alunos, que deverão encontrar soluções inovadoras”, diz Pacheco. Odebrecht e Embraer já demonstraram interesse em participar. A Poli também terá laboratório de inovação e empreendedorismo.

Interdisciplinar

Na Federal do ABC, a formação curricular mais ampla existe desde a criação dos cursos, em 2006. A diferenciação começa pelo modo de ingresso. Alunos entram em bacharelados interdisciplinares, com currículo de três anos. No segundo quadrimestre, podem escolher disciplinas além das obrigatórias. Quem se matricula em Ciência & Tecnologia pode seguir para uma das oito Engenharias que a UFABC oferece. “Além de permitir que o aluno construa a grade, ele pode se formar em duas áreas. Cada estudante vai ter uma característica”, explica Gilberto Martins, do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Aplicadas da UFABC. O aluno ainda poderá iniciar o mestrado após o bacharelado, juntamente com a Engenharia.

Por causa da proposta interdisciplinar, houve dificuldades para que os alunos entendessem o curso. Mas Martins diz que hoje essa característica tem sido valorizada. “Estamos com três colações de grau por ano. Os alunos precisam ser contratados".

Lá fora

Apesar das reformas no ensino, o Brasil ainda está longe de outros países. O analista Bruno Amorim, de 27 anos, foi buscar uma formação plural e abrangente na Europa. Ele se formou em 2010 em Engenharia Mecânica na Poli, mas também garantiu diploma na École Centrale Paris, onde fez intercâmbio por dois anos. “O fato de não focar em uma Engenharia te permite estudar diversas áreas e ter uma visão do que é de fato a Engenharia". Na França, Bruno conseguiu estudar Finanças, Gestão de Empresas e Esportes. “Tive aula de Biologia focada em Biotecnologia”, conta. Como muitos engenheiros, o mercado financeiro era seu objetivo. Depois dos estudos, engatou um ano no BNP Paribas, em Paris. Voltou ao Brasil para finalizar os créditos na USP em 2010, ano em que ingressou no Banco Santander, onde está hoje.

O ainda estudante João Paulo Catanoce, de 28, também pegou o avião. Como bolsista do programa federal Ciência sem Fronteiras, o aluno de Engenharia de Materiais do Mackenzie passou um ano na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. Desenvolveu pesquisa sobre novas tecnologias de mineração de ouro, mas não ficou só nisso. “No Canadá, tive aula até de Sociologia e Antropologia. Quando um aluno de Engenharia vai ter isso no Brasil?”.  Catanoce se forma no ano que vem. O plano é dar continuidade à pesquisa da qual participou, talvez voltar ao Canadá. Mas, com propostas surgindo, sabe que tudo pode mudar. “Se a oportunidade for boa, vou abraçar. E continuar a pesquisa aqui no Brasil é complicado, o valor da bolsas é muito baixo".

Resistência

Por trás das mudanças, está uma resolução do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) que visa a habilitar os profissionais conforme o histórico escolar. Pela norma, o nome da especialidade não basta para credenciar os engenheiros em determinada área. É preciso analisar a trajetória acadêmica. Segundo José Geraldo Baracuhy, do Confea, as novas regras começarão a valer em 2014. Até lá, cada conselho regional vai ganhar um software para “ler” o currículo de recém-formados e indicar que atividades poderão desempenhar.

Insper

O Insper quer, em 2015, lançar um novo curso de Engenharia. A proposta surge da demanda por alguém que não se encontra no mercado. “Precisamos de um empreendedor, inovador, que saiba trabalhar em equipe, gerenciar projetos e equipes multidisciplinares”, diz Irineu Gianesi, diretor de Novos Projetos Acadêmicos.

Além de enfatizar o desenvolvimento de habilidades interpessoais, outro diferencial será a integração com os demais cursos do Insper – de Administração e Economia. Em parceria com o Olin College, de Boston, o novo curso aposta no modelo de aprendizado hands on, que destaca a execução de projetos e o princípio da motivação intrínseca dos alunos. No currículo, a inovação nasce dos componentes de design orientados ao usuário e do empreendedorismo, seguindo o conceito do Olin de que a Engenharia deve preocupar-se com a oportunidade de mercado, a viabilidade técnica e a viabilidade econômica das soluções.  (Luiza Dias Vieira, especial para o Estado.)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

CCJC da Câmara Federal abriga condenados e processados pela Justiça e quer arbitrar decisões do STF

A sigla CCJC na Câmara Federal significa Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Em matéria de nome, ela é porreta. Agora, se a gente examinar sua composição esbarra logo em três nomes típica e inequivocamente incompatíveis com aquele nome cheio de pompas e circunstâncias: João Paulo Cunha (PT-SP), José Genoíno (PT-SP) e Paulo Maluf (PP-SP). O primeiro foi condenado pelo STF a 9 anos e 4 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e peculato. O segundo foi condenado também pelo STF  a 6 anos e 11 meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa. O terceiro, Maluf, é procurado pela Interpol em 181 países que são dela membros, e será preso se desembarcar em qualquer deles.

A pergunta óbvia é, por que então essa trinca não está na cadeia?! A resposta é longa mas, fazendo um esforço sem firulas hipócritas, podemos apontar pelo menos as seguintes razões: - i) uma Justiça rápida como uma lesma, que é igual para todos uma vírgula (tem cegueira seletiva) e que permite recursos protelatórios ad infinitum; - ii) um sistema político-partidário que é uma excrescência sob qualquer ponto de vista, que permite e estimula o ingresso de pilantras e moleques de toda estirpe e os protege a ferro e fogo; - iii) dois bandos de políticos (Câmara e Senado) que aviltaram e aviltam o conceito e o exercício de seus mandatos, transformando o que deveria ser uma missão cívica e de cidadania num reles ótimo emprego, com benesses escandalosas e vergonhosas; - iv) um número impressionante e assustador de eleitores absolutamente alienados, embotados, idiotas, masoquistas e irresponsáveis -- em sua grande maioria reincidentes múltiplos -- que transformaram o ato de votar em um ato fisiológico. Para comprovar isso basta, por exemplo, acompanhar as votações de Paulo Maluf (procurado pela Interpol desde 2010) como deputado federal: 672.927 votos em 1983 / 739.827 votos em 2006 (a maior do país) / 497.203 votos em 2010.

A CCJC é composta de 68 titulares e 71 suplentes (não me perguntem por que há mais suplentes do que titulares). Entre esses titulares e suplentes, há nada menos que 20 respondendo a processo na Justiça, ou seja 14,39% do total de 139 parlamentares. Dá p'ra fazer um time de futebol com 9 reservas (chamando-se 2 carcereiros faz-se um segundo time) -- é só esperar as sentenças transitarem em julgado para mandar confeccionar os uniformes listados. Entre esses 20, há 5 da chamada bancada evangélica: Anthony Garotinho (PR-RJ) - Antonio Bulhões (PRB-SP) - Rodrigo Moreira Ladeira Grilo (Dr. Grilo) (PSL-MG) - Bruna Dias Furlan (PSDB-SP) - João Campos de Araújo (PSDB-GO). Os demais processados são: Geraldo Simões (PT-BA) - João Paulo Cunha (PT-SP) - José Genoino (PT-SP) - Sandro Mabel (PMDB-GO) - Eduardo Azeredo (PSDB-MG) - Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) - João Magalhães (PMDB-MG) - Carlos Bezerra (PMDB-MT) - Marçal Filho (PMDB-MS) - Dilceu Sperafico (PP-PR) - Décio Lima (PT-SC) - Beto Mansur (PP-SP) - Paulo Maluf (PP-SP) - José Mentor (PT-SP) - Márcio França (PSB-SP). Observação importante: é total e absolutamente inverídico que a CCJC tenha departamentos em sua estrutura, e que um deles se chame "valhacouto".

No meio desse bando de membros, a CCJC tem um suplente chamado Nazareno Fonteles (PT-PI), que não foi eleito mas ocupa a vaga do titular Átila Lira (PSB) hoje secretário de Educação de MG. Somente um sistema político espúrio como o nosso permite que um cara com ZERO votos vire deputado federal, e ainda por cima na vaga de um eleito por outro partido. Diz a Wikipédia que de acordo com decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a vaga pertenceria à médica Liége Cavalcante que pertence ao mesmo partido do titular, e não a Fonteles. O que o STF tem a dizer? Sua justiça é cega, surda, muda e tetraplégica?!

Pois bem, esse "deputado" clandestino protocolou em 2011 uma proposta de emenda constitucional que recebeu o número 33 e ficou conhecida como PEC 33, que impõe limites ao poder do Supremo Tribunal Federal. Na prática, o STF deixaria de ter a última palavra sobre mudanças na Constituição. O Congresso Nacional passa a ter poder decisório sobre temas que são hoje de competência exclusiva do STF.

Em votação simbólica, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou a “admissibilidade” da PEC 33, que submete algumas decisões do Supremo ao crivo do STF. A proposta passou em velocidade relâmpago: 1min47s. Numa comissão com 130 membros (titulares e suplentes) [pelo site da Câmara são 139], estavam presentes apenas 20. Não houve debate. O condenado do mensalão José Genoino (PT-SP) pediu pressa: “É bom a gente votar logo". Eis aí como 20 aloprados incendiários, em um ambiente insalubre repleto de gás metano  (gás incolor, o mais simples dos hidrocarbonetos, pode ser produzido pela digestão anaeróbica de matéria orgânica, como lixo e esgotos, através de microorganismos chamados archaea) político, pode provocar uma crise institucional. No dia 25/4 o presidente da CCJC, o deputado Décio Lima (PT-SC) emitiu uma Nota de Esclarecimento sobre a PEC 33, um monte de baboseira com o DNA petista completo. A única coisa aproveitável em seu texto é a citação de que o relator da PEC na Comissão foi João Campos, do PSDB/GO. É claro que foi Fonteles quem pariu o Mateus PEC 33, assistido por um bando de cúmplices travestidos de parlamentares, inclusive da "oposição".

Nas minhas pesquisas sobre a PEC 33 deparei-me com um blogue de um advogado de Brasília, que mencionava a insconstitucionalidade da PEC por infringir o inciso III do § 4° do Art. 60 da Constituição Federal. Infelizmente, meu computador deu um tilt e não consegui mais localizar o tal blogue, mas  o parágrafo e o inciso citados dizem:

"Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
............................................................................................
§ 4° Não poderá ser objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
............................................................................................
III - a separação dos Poderes; "

O advogado brasiliense observa que o texto constitucional repele até PEC que seja tendente a abolir a separação dos Poderes, caso manifesto da malfadada PEC 33.

Vamos aguardar o resultado dessa refrega, cuidando antes e sempre de nos protegermos de qualquer contaminação pelos inevitáveis respingos de lama pútrida daí resultantes.



Paulo Maluf, procurado pela Interpol  e integrante da CCJC da Câmara Federal.

Nazareno Fonteles (PT-PI), o deputado sem votos que é o pai biológico da PEC 33/11 - (Foto: Google).

domingo, 28 de abril de 2013

Prefeito do Rio deixa OSB à beira da inviabilidade e os cariocas se calam

O Rio publicou ontem, em página inteira, a reportagem "Prefeitura do Rio suspende apoio de R$ 8 milhões à Orquestra Sinfônica Brasileira". Do texto constava: "A prefeitura do Rio acaba de suspender, por tempo indeterminado, a parceria que tinha há 20 anos com a fundação que administra o conjunto. Isso significa que a OSB perderá 20% de seu orçamento anual: R$ 8 milhões dos cerca de R$ 40 milhões de que dispõe anualmente". (...) "A decisão da prefeitura de suspender a parceria com a Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira (FOSB) foi comunicada à sua diretoria por meio de uma carta. Com data de 18 de março, ela leva a assinatura do prefeito Eduardo Paes. No texto, ele explica que não manterá o apoio porque a prefeitura precisa fazer um grande aporte de verba na preparação da cidade para os eventos esportivos dos próximos anos".

Antes de entrar mais fundo nesse episódio, vamos fazer um flashback na área de entretenimento da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e focalizar o dia 07 de fevereiro de 2011. Um incêndio na Cidade do Samba destruiu 4 barracões, com grandes prejuízos para as escolas Grande Rio, União da Ilha e Portela -- total do prejuízo: R$ 8 milhões. No dia seguinte, 08/2/2011, o prefeito Eduardo Paes prometeu uma ajuda de R$ 3 milhões para as 3 escolas atingidas. Como a coisa começou a cheirar mal, no outro dia (09/2/2011) ele anunciou que esse dinheiro não sairia dos cofres públicos e sim da iniciativa privada. Duvido que alguém tenha checado de onde efetivamente saiu esse dinheiro (será que a Delta entrou também nessa?). Detalhe importante: a Liesa - Liga das Escolas de Samba é feudo vitalício dos bicheiros, senhores do jogo do bicho e de importantes currais de votos no município e no estado do Rio. 

Fechado o flashback, voltemos para o corte de verba de R$ 8 milhões aplicado pelo mesmo Sr. Paes à OSB. A receita realizada da prefeitura do Rio em 2011 foi de R$ 17.820.565.795,00.  A despesa prevista em 2012 para a Secretaria de Cultura foi de R$ 168.071.506,00. A receita total da prefeitura para 2013 está estimada em R$ 23.512.596.526,00Qualquer que seja a cifra analisada, os R$ 8 milhões subtraídos pela prefeitura à OSB são ridículos tanto em si mesmos, quanto em termos comparativos. O que se observa, nua e cruamente, é que o prefeito Eduardo Paes é um bronco, um parvo e um míope, culturalmente falando. Como a OSB não desfila em sambódromo, e não tem bicheiro para apadrinhá-la, ela que se dane -- e a educação cultural do carioca junto com ela. O prefeito Paes se delicia mesmo é com o som dos bate-estacas -- ele deve ficar em êxtase, entrar em estado alfa quando visita o canteiro de obras do Porto Maravilha. Música clássica para ele é aberração e frescura, portanto dispensável.  O máximo que admitiu foi "estudar a possibilidade de não aportar recursos diretamente, mas de permitir que a OSB use espaços públicos, como a Cidade das Artes, sem pagar aluguel" -- os músicos merecem mais ou menos a atenção dada a um bando de mendigos.

Além da estupidez do prefeito, o espantoso foi hoje o absoluto silêncio dos cariocas sobre a agressão financeira à OSB. A seção de cartas do leitor do Globo de hoje não contém uma carta sequer sobre o assunto -- mandei ontem uma ao jornal que obviamente não foi publicada, porque o tema não deu ibope entre os leitores. Se os R$ 8 milhões fossem tirados de uma instituição pró-gays, do Cordão do Bola Preta, ou de uma sociedade protetora de animais qualquer, o Sr. Paes não conseguiria sair de casa e seria caçado em praça pública. Música clássica não merece esse esforço, poxa!

Não sei porque, mas enquanto escrevia esta postagem lembrei-me do coração de manteiga do governo do Estado do Rio que, em 2009, mandou fazer um viaduto de R$ 18 milhões em Seropédica, no Arco Metropolitano do Rio de Janeiro, para proteger o habitat de uma perereca rara de 2 cm de comprimento, a Physalaemus soaresi. Ou seja, no nosso estado é mais garantido criar perereca do que organizar e manter uma orquestra sinfônica. Estamos ferrados. Também, quem mandou eleger Paes e Cabral?!


sábado, 27 de abril de 2013

Presidente da Comissão Europeia emite sua opinião contra a política de austeridade da UE e gera reações

[O texto traduzido abaixo é da autoria de David Böcking e foi publicado no dia 24/4 no site Spiegel Online. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. A crise do euro e as mudanças climáticas têm algo grave em comum: muito bla-bla-bla, nenhuma solução à vista, e muito sofrimento por onde passam.]

Toda instituição tem seus mitos fundamentais. São suposições ou teses aceitas que, no melhor dos casos, são apenas parcialmente verdadeiras mas que ainda assim são vitais para que o trabalho do dia a dia seja executado. Entre os mitos fundamentais da União Europeia (UE) existe o de que seus funcionários, embora possam ser procedentes de diferentes países, deixam de lado suas identidades nacionais para trabalhar em conjunto pela unidade europeia.

Mas, repetidas vezes são levantadas dúvidas sobre essa suposição. Por exemplo, quando Mario Draghi tornou-se presidente do Banco Central Europeu e muitos europeus do norte insinuaram que, com certeza, poder-se-ia prever uma megainflação. Como Draghi é italiano, e a Itália é um país em que aumentos percentuais de preços de dois dígitos não são incomuns, ele teve que empenhar-se com mais esforço para demonstrar sua confiabilidade.

Surge então o presidente da Comissão Europeia (CE), José Manuel Barroso, que tem tentado atuar de maneira que não seja visto basicamente como um cidadão português. Como líder da Comissão espera-se que ele, mais do que qualquer outra pessoa, personifique o consenso transnacional.  Desde segunda-feira (22/4), entretanto, parece possível que mesmo Barroso nem sempre deixa sua identidade nacional de lado. [É importante ter em mente que, juntamente com o FMI e o Banco Central Europeu, a CE compõe a famosa troika responsável pelas duras medidas de austeridades que vêm sendo aplicadas à zona do euro e castigando severamente países como Portugal, berço de Barroso.]

Numa reunião de reflexão política, em Bruxelas, Barroso cautelosamente criticou as medidas de austeridade que a UE impôs até agora sobre os países membros, majoritariamente meridionais, que enfrentam uma crise econômica na zona do euro.  Ainda que a política possa ser "fundamentalmente correta", disse ele, ela "chegou ao seu limite". No curso prazo, acrescentou, faz-se necessária "uma ênfase mais forte no crescimento".

Foi grande a comoção criada por suas palavras, particularmente na imprensa de língua inglesa. "Era de austeridade já cumpriu sua trajetória, diz a UE", anunciava uma manchete da agência Reuters. No Wall Street Journal a manchete foi "Limitem a austeridade, diz funcionário da UE". A reação irritada da Alemanha não demorou muito. "Crescimento não pode ser comprado com novas dívidas", alertou o ministro das Relações Exteriores Guido Westerwelle. "O presidente da Comissão está questionando o resgate do euro", disse Herbert Reul que, como líder dos conservadores alemães no Parlamento Europeu, pertence até à mesma tendência partidária que Barroso.

Talvez a perturbação tenha sido tão grande por ser Barroso uma das últimas pessoas de quem se esperasse esse tipo de crítica. Ele é considerado enfadonho, e não tem a reputação de tomar medidas claras na crise do euro -- muito menos contra a chanceler alemã Angela Merkel, a quem deve muito por sua controvertida reeleição.

Críticas crescentes à austeridade

Mas, será que Barrosso iniciou realmente uma mudança de rumo na UE? Isso não seria de todo surpreendente, já que os sentimentos antiausteridade vêm crescendo em muitos países que estão em crise, nos quais a recessão tem mostrado poucos sinais de se esgotar.  Vários dias atrás, veio a público que um estudo frequentemente citado pelos defensores da austeridade contém erros de cálculo significativos.  [Ver postagem anterior sobre isso.]

Mas, na CE ninguém quer ouvir falar em momento decisivo de mudança. Em Bruxelas diz-se que Barroso certamente não estava falando de por um fim à austeridade ou de se assumirem novas dívidas. Ele estava simplesmente sugerindo que deveria haver uma ênfase maior no crescimento, algo que deve resultar de reformas estruturais e do uso focado dos subsídios da UE, dizem os mesmos funcionários de Bruxelas.

Sugestões dessa natureza, entretanto, não são novas. Desde o início, reformas fizeram parte dos pacotes de resgate. Já em 2011, um grupo de especialistas foi incumbido da tarefa de melhorar a eficiência dos fundos estruturais da UE na Grécia. O fato de Chipre estar agora programada para receber os pagamentos iniciais de um fundo estrutural da UE é um detalhe a mais no contexto do drama maior do resgate da UE.

Barroso, entretanto, não foi de todo mal compreendido. A UE tem, por um tempo, negociado com vários países sobre se deveriam ter mais tempo para atingir  suas metas de dívida. Isso inclui não apenas Grécia, Portugal e Espanha, mas também a França.

"O Tratado não significa nada"

No final das contas, entretanto, a Comissão não terá outra opção senão ceder. Cifras novas reveladas na segunda-feira, quase no mesmo instante em que Barroso fez seus comentários, indicam que aumentou ainda mais a nova tomada de empréstimos por parte dos países em crise. Na Grécia, o valor para o ano passado foi de 10%, significativamente mais alto do que os 6,6% esperados pela CE. E a situação não se apresenta também tão cor-de-rosa na terra de Barroso. Embora há muito considerado um reformador modelo entre os países com crise de dívida na eurozona, Portugal teve seu deficit orçamentário aumentado em 6,4% em vez dos 5% esperados pela UE.

No debate em Bruxelas, é possível que a pergunta levantada pelo moderador do painel tenha momentaneamente ferido o orgulho de Barroso, como português e um europeu do sul [numa licença geográfica, o autor do texto juntou o oeste da Europa com o seu sul ... ou então, revela-se o preconceito de considerar "sul" tudo que estiver abaixo da Alemanha e, talvez, da França], e que ele, em resposta, tenha oferecido a seus compatriotas a perspectiva de relaxar as medidas de austeridade.

De acordo com uma transcrição da discussão [em Bruxelas], prontamente liberada pela CE em resposta ao furor da mídia, a moderadora do painel, Matina Stevis, ridicularizou a Comissão por não agir de maneira suficiente. Ela acusou Barroso e seus parceiros da CE de limitar sua atuação na crise a apenas garantir que os países nela mergulhados obedecessem os tratados europeus. "Para um ateniense, não significa nada que o Sr. seja um guardião do Tratado", disse Stevis. "O Tratado não significa coisa alguma. O Sr. tem que ser o guardião daquele cidadão, de seu compatriota em Lisboa". A moderadora do painel deixou claro que seus comentários se dirigiam a Barroso. "Este é um momento existencial para o Sr.", disse ela.

A transcrição informa que, então, Barroso explicou em detalhes porque os contratos são na realidade importantes. Sua violação, lembrou ele à audiência, foi o que originalmente gerou a crise. Foi depois desse ponto que ele fez as afirmações que agora estão sendo amplamente interpretadas como sinais de que Barroso está se afastando do caminho de austeridade da UE. No debate de segunda-feira, é provável que não apenas a nacionalidade de Barroso tivesse tido importância na discussão, mas também a de Stevis, uma grega que é jornalista da Dow Jones e do Wall Street Journal. Depois que um conhecido blogueiro grego começou a tuitar sobre seu pleito a favor dos gregos, a jornalista Stevis orgulhosamente tuitou de volta: "Ei, essa sou eu!".

Dada a raridade com que Barroso faz um estardalhaço nas manchetes hoje em dia, poder-se-ia deixar de culpá-lo por expressar como fez esse tipo de sentimento. No fim, entretanto, Barroso recuou rapidamente de sua cautelosa pressão contra a austeridade. Um porta-voz da Comissão disse na terça-feira que textos sugerindo um fim para a ação pró-austeridade na Europa eram uma interpretação injusta e parcial das observações de Barroso.

Barroso provocou ondas de reação na segunda-feira ao insinuar que a austeridade havia "chegado aos seus limites" - (Foto: AFP).

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Brasil cresce em produção científica, mas índice de qualidade cai

[Na reportagem abaixo, da Folha de S. Paulo, O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.] 

A produção científica brasileira, medida pela quantidade de trabalhos acadêmicos publicados em periódicos especializados, está em ascensão. Mas a qualidade dos trabalhos não acompanha o ritmo.

O cenário foi encontrado em informações tabuladas pela Folha a partir da base aberta de dados Scimago (alimentada pela plataforma Scopus, da editora de revistas científicas Elsevier). Ela traz números da produção científica de 238 países.

De 2001 para 2011, o Brasil subiu de 17º lugar mundial na quantidade de artigos publicados para 13º -- uma conquista que costuma ser comemorada em congressos científicos do país. Em 2011, os pesquisadores brasileiros publicaram 49.664 artigos. O número é equivalente a 3,5 vezes a produção de 2001 (13.846 trabalhos). O problema é que a qualidade dos trabalhos científicos, medida, por exemplo, pelo número de vezes que cada estudo foi citado por outros cientistas (o chamado "impacto"), despencou.

O Brasil passou de 31º lugar mundial para 40º. China e Rússia, por outro lado, ganharam casas no ranking de qualidade nesse período.

Como é feita a escala da qualidade (clique na imagem para ampliá-la) - (Ilustração: Editoria de Arte/Folhapress).

Mais brasileiros

Segundo especialistas ouvidos pela Folha, um dos motivos do salto de produção com queda de qualidade foi o aumento do número de periódicos brasileiros listados nas bases de dados: de 62 para 270 em dez anos. "Isso aconteceu por causa de uma política de abertura para revistas científicas nacionais de países como Brasil, China e Índia", explica o cienciometrista da USP Rogério Meneghini, coordenador da base Scielo, que reúne 306 periódicos brasileiros. 

O problema é que os trabalhos de periódicos científicos brasileiros têm pouco impacto. Apenas 16 dessas revistas receberam, em 2011, uma ou mais citações por artigo. Para ter uma ideia, cada artigo da revista britânica "Nature" recebeu cerca de 36 citações. 

O maior impacto entre os periódicos nacionais é igual a 2,15, da revista "Memórias do Instituto Oswaldo Cruz". "Cerca de 45% dos trabalhos científicos que recebemos são de autores estrangeiros", conta Francisco José Ferreira da Silva Neto, do corpo executivo do periódico. 

Mas não são apenas os periódicos nacionais que derrubam o impacto da ciência brasileira no mundo.  "A política atual de ensino superior no Brasil pressiona para que os pesquisadores publiquem mais e para que publiquem de qualquer jeito", diz o biólogo Marcelo Hermes-Lima, da UnB (Universidade de Brasília).  [Essa é a velha conhecida e extremamente perniciosa regra do "publish or perish" (publique ou morra), que acaba desaguando no estímulo à quantidade em detrimento da qualidade, como parece estar ocorrendo no país. Mas, aqui vale igualmente a velha máxima: nada, em lugar nenhum, acontece de graça e de maneira isolada. É só analisar com calma o cenário político, ético e moral de um bom tempo para cá, para se verificar o forte estímulo ao fisiologismo, à malandragem e à avacalhação em prejuízo da meritocracia. É só desfolhar a margarida e observar o que anda acontecendo na política, na gestão da coisa pública, na saúde pública, no ensino público, no respeito à ética, etc, etc.]

Salame

Cientistas brasileiros acabam desmembrando trabalhos parrudos em artigos com menos impacto, fenômeno conhecido como "salame".  "Cada descoberta é fatiada e publicada separadamente", explica Fernando Reinach, biólogo que deixou a academia e agora está na iniciativa privada. "O número de trabalhos aumenta, as descobertas ficam semelhantes e o impacto diminui".

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Um Maduro politicamente verde preside uma Venezuela dividida ao meio e gera apreensão no Brasil

[Durante os dois governos do NPA as relações Brasil-Venezuela viraram mais uma troca de gentilezas e favores entre dois amiguinhos demagogos, do que propriamente um relacionamento maduro entre países, e quem pagou e continua pagando a conta foi e é o Brasil.  Mudou nosso governo, mas não mudou esse compadrio. Nossa doce e supersimpática Dona Dilma submeteu-se  à tutela do NPA também nessa área da nossa política externa, e cometeu o desatino antidemocrático de forçar a expulsão temporária do Paraguai do Mercosul -- cujo Senado não admitia a entrada da Venezuela nesse mercado comum -- para permitir então a esse país essa admissão que lhe era negada. Jogada de moleque. Com os dois países (Paraguai e Venezuela) saindo de eleições presidenciais, o Brasil terá agora que preocupar-se com a reacomodação do Paraguai no Mercosul com um parceiro que não lhe agrada, e pajear de perto uma Venezuela em péssima situação econômica e politicamente dividida ao meio, presidida por um presidente que de maduro só tem o nome. Traduzo a seguir o artigo de Juan Arias publicado ontem no jornal espanhol El País. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O Brasil tem consciência de seu peso no Mercosul e, em geral, no continente latino-americano. Talvez por isso se preocupe com a situação atual da Venezuela, um país com o qual mantém fortes laços econômicos e de amizade.

O governo Dilma estava preparado para as duas hipóteses de vitória na Venezuela, tanto a de Maduro como a de Capriles. É certo que Lula, por sua velha amizade com Hugo Chávez, havia enviado um vídeo de apoio à candidatura do chavista, mas também era certo que Capriles sempre afirmou que, se ganhasse a eleição, seguiria o "modelo brasileiro", que conjuga desenvolvimento econômico, políticas sociais fortes e respeito pelas instituições democráticas.

Qualquer dos dois candidatos que ganhasse limpamente as eleições cairia bem para o Brasil. Com o que não contavam nem Dilma nem sua diplomacia, é que a Venezuela fosse se dividir salomonicamente em duas metades, inclusive com fortes indícios de que o chavismo tenha roubado nas eleições contra seu adversário, dadas a pequena diferença de votos e as acusações de possíveis fraudes nas urnas.

Daí que, de alguma forma, Dilma -- que havia forçado por trás do contratempo imprevisto com o Paraguai [acho que aqui o excelente Juan Arias foi muito bonzinho com nossa ex-guerrilheira, chamando de "imprevista" a rasteira proposital e inominável que ela deu no Paraguai] a entrada da Venezuela no Mercosul -- hoje se vê de certa maneira imprensada contra a parede. E com um presidente no Paraguai que não lhe agrada. A presidente não pode deixar de reconhecer a vitória de Maduro, mas tampouco pode deixar de observar que o país venezuelano está gravemente dividido.

Em função disso, segundo escreve o sério e bem informado Clóvis Rossi no diário Folha de S. Paulo, Dilma estaria fazendo todo o possível para convencer Maduro a abrir um diálogo sincero com a oposição liderada por Capriles para, juntos, enfrentarem a grave situação econômica e de violência que o país atravessa. Ela o pediu pessoalmente a Maduro, ao mesmo tempo em que o aconselhou a aceitar a recontagem de cem por cento dos votos.

O Partido dos Trabalhadores (PT), mais próximo de Lula que de Dilma em suas alas radicais de esquerda, foi sempre próximo de Chávez, apesar de Lula atuar sempre como ponte e bombeiro frente às tiradas excessivamente autoritárias do caudilho, a quem chamava de irmão e a quem depois, ao ouvido, pedia moderação.

Dilma, realista, sabe que o futuro da Venezuela -- um país com o qual o Brasil não pode deixar de ir de mãos dadas -- é ainda incerto. Por isso, prefere insistir com Maduro por uma abertura de diálogo com a outra metade do país que talvez tivesse votado em Chávez estivesse ele vivo, mas que agora quer algo mais e melhor da herança que o caudilho lhe deixou, ainda que não lhe negue seu agradecimento sobretudo da parte dos mais pobres, que Chávez tratou de mimar e conquistar. 

De qualquer modo, não é difícil pensar que  a diplomacia brasileira, reconhecida sempre por suas posturas moderadas e de diálogo, acabe tendo um papel fundamental no desenvolvimento do futuro próximo da Venezuela pós-Chávez.

Ao final, tanto Dilma quanto Lula -- velho simpatizante de Chávez, ainda que não compartilhasse dos excessos de sua revolução bolivariana -- poderão acabar sendo uma carta importante na atual situação crítica da Venezuela.  A não ser que tanto o poder quanto a oposição venezuelanos acabem esticando tanto a corda, que se chegue a uma ruptura cujas consequências são imprevisíveis. São imprevisíveis até para o Brasil, o país que até agora tem mantido umas relações mais estreitas com a Venezuela e que conhecia, melhor que outros líderes políticos, o que ali se estava e se está jogando.


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Hyundai e Kia farão, cada uma, recall de 24 mil veículos no Brasil por falha em luz de freio

A Hyundai anunciou o recall de 24.049 veículos por problemas na luz de freio. Segundo o Ministério da Justiça, farão parte do chamado os modelos Santa Fé, Veracruz e Tucson, fabricados entre fevereiro de 2008 e junho de 2011. Os proprietários serão convocados a partir do dia 20 de maio.

As luzes de freio podem não funcionar quando o pedal é pressionado. A falha pode impedir que possíveis condutores saibam que o veículo à frente está frenando, causando risco de colisão.  O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça afirma ainda que pode haver mau funcionamento do freio e comprometimento da estabilidade do veículo, com risco de acidentes.

A empresa disponibiliza o telefone 0800 55 9545 para mais informações, bem como o site da marca.

Chassis

O recall envolve os seguintes veículos com a seguinte numeração de chassis:

Santa Fé
KMHSH81GDBU603061 a KMHSH81GDCU791194

Veracruz
KMHNU81CP9U087946 a KMHNU81CP9U090057

Tucson
KMHJM81BP8U889383 a KMHJN81DP9U994356

KIA

A Kia fará o recall de 24.191 veículos por problemas na luz de freio a partir de 1º de maio. O chamado envolve os modelos Soul, Carens, Carnival, fabricados entre 2007 e 2008, e o Sorento feito de 2007 a 2011.

Segundo a Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça --órgão no qual o recall foi protocolado--, a montadora informou que as luzes de freio dos veículos que apresentaram defeito podem não acender quando o pedal for pressionado.

O defeito ainda pode impedir o desligamento do piloto automático em carros que têm essa opção, podendo provocar acidentes.

A pasta informou que o reparo ou a troca da peça defeituosa deve ser gratuita. 

Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 0800 77 11011 ou pelo site da Kia.

Veja os chassis envolvidos

Soul
190025 a 730657

Carens
200069 a 305578

Carnival
144789 a 161062

Sorento (2007/2008)
764938 a 896096

Sorento (2009/2011)
078328 a 184608 

Dissecando Eike Batista, Dilma e o NPA

[O artigo de hoje, no Globo, do sociólogo Demétrio Magnoli, é outro texto perfeito sobre a submissão dos governos petistas do NPA e da doce Dona Dilma a interesses empresariais privados que não coincidem com os interesses do país. O trio PT, NPA e Dilma mostra sua face hipócrita -- joga para a arquibancada, dizendo-se contra as privatizações, mas privatiza nosso dinheiro e a Petrobras para ajudar Eike Batista. No texto abaixo, onde estiver escrito "Lula" leia-se NPA, Nosso Pinóquio Acrobata. Ver postagens anteriores sobre Eike -- uma 05/4/2013 e a outra em 11/4/2013.]

Eike, emblema e indício

Demétrio Magnoli (*) - O Globo, 25/4/2013

Eike Batista valia US$ 1,5 bilhão em 2005, US$ 6,6 bi em 2008, US$ 30 bi em 2011 e US$ 9,5 bilhões em março passado, depois de 12 meses nos quais seu patrimônio encolheu num ritmo médio de US$ 50 milhões por dia. Desconfie das publicações de negócios quando se trata do perfil dos investimentos de grandes empresários. Apenas cinco anos atrás, uma influente revista de negócios narrou a saga de Eike sem conectá-la uma única vez à sigla BNDES. Mas o ciclo de destruição implacável de valor das ações do Grupo X acendeu uma faísca de jornalismo investigativo. Hoje, o nome do empresário anda regularmente junto às cinco letrinhas providenciais — e emergem até mesmo reportagens que o conectam a outras quatro letrinhas milagrosas: Lula.

A história de Eike é, antes de tudo, um emblema do capitalismo de estado brasileiro. Durante o regime militar, Eliezer Batista circulou pelos portões giratórios que interligavam as empresas mineradoras internacionais à estatal Vale do Rio Doce. Duas décadas depois, seu filho converteu-se no ícone de uma estratégia de modernização do capitalismo de estado que almeja produzir uma elite de megaempresários associados à nova elite política lulista.

“O BNDES é o melhor banco do mundo”, proclamou Eike em 2010, no lançamento das obras do Superporto Sudeste, da MMX. O projeto, orçado em R$ 1,8 bilhão, acabava de receber financiamento de R$ 1,2 bilhão do banco público de desenvolvimento, que também é sócio das empresas LLX, de logística, e MPX, de energia. No ano seguinte, o banco negociou com o empresário duas operações de injeção de capital no valor de R$ 3,2 bilhões, aumentando em R$ 600 milhões sua participação na MPX e abrindo uma linha de crédito de R$ 2,7 bilhões para as obras do estaleiro da OSX, orçadas em pouco mais de R$ 3 bilhões, no Porto do Açu, da LLX. Hoje, o endividamento do Grupo X com o banco mais generoso do mundo gira em torno de R$ 4,5 bilhões — algo como 23% do seu valor total de mercado.

“A natureza sempre foi generosa comigo”, explicou Eike. “As pessoas ricas foram as que mais ganharam dinheiro no meu governo”, explicou Lula. A política, não a economia, a “natureza” ou a sorte, inflou o balão do Grupo X. Dez anos atrás, o BNDES não era “o melhor banco do mundo”. Ele alcançou essa condição por meio de uma expansão assombrosa de seu capital deflagrada no fim do primeiro mandato de Lula da Silva. A mágica sustentou-se sobre o truque prosaico da transferência de recursos do Tesouro Nacional para o BNDES. O dinheiro ilimitado que irrigou o Grupo X e impulsionou uma bolha de expectativas desmesuradas no mercado acionário é, num sentido brutalmente literal, seu, meu, nosso, dos filhos de todos nós e das crianças que ainda não nasceram, mas pagarão a conta da dívida pública gerada pela aventura do empresário emblemático.

Eike é emblema, mas também indício. A saga da célere ascensão e do ainda mais rápido declínio do Grupo X contém uma profusão de pistas, ainda não exploradas, das relações perigosas entre o círculo interno do lulismo e o mundo dos altos negócios.
 
Na condição de “consultor privado”, em julho de 2006, o ex-ministro José Dirceu viajou à Bolívia, num jatinho da MMX, exatamente quando o governo de Evo Morales recusava licença de operação à siderúrgica de Eike. Nos anos seguintes, impulsionado por um fluxo torrencial de dinheiro do BNDES, o Grupo X atravessou as corredeiras da fortuna. Durante a travessia, em 2009, o empresário contou com o beneplácito de Lula para uma tentativa frustrada de adquirir o controle da Vale, pela compra a preço de oportunidade da participação acionária dos fundos de pensão, do BNDES e do Bradesco na antiga estatal. Naquele mesmo ano, o fracasso de bilheteria “Lula, o filho do Brasil”, produzido com orçamento recordista, contou com o aporte de um milhão de reais do empreendedor X.
 
A parceria entre os dois “filhos do Brasil” não foi abalada pela reversão do movimento da roda da fortuna. Em janeiro passado, a bordo do jato do virtuoso empresário, Eike e o ex-presidente visitaram o Porto do Açu. O tema do encontro teria sido um plano de transferência para o Açu de um investimento de R$ 500 milhões de um estaleiro que uma empresa de Cingapura ergue no Espírito Santo. Em março, depois que Lula recomendou-lhe prestar maior atenção às demandas dos empresários, Dilma Rousseff reuniu-se com 28 megaempresários, entre eles o inefável X. Dias depois, numa reunião menor, a presidente e um representante do BNDES teriam se sentado à mesa com Eike e seus credores privados do Itaú, Bradesco e BTG-Pactual.

Equilibrando-se à beira do abismo, o Grupo X explora diferentes hipóteses de resgate. O BNDES, opção preferencial, concedeu um novo financiamento de R$ 935 milhões para a MMX e analisa uma solicitação da OSX, de créditos para a construção de uma plataforma de petróleo. Entrementes, diante da deterioração financeira do “melhor banco do mundo”, emergem opções alternativas. No cenário mais provável, o Porto do Açu seria resgatado por uma série de iniciativas da Petrobras e da Empresa de Planejamento e Logística. A primeira converteria a imensa estrutura portuária sem demanda em base para a produção de petróleo na Bacia de Campos. A segunda esculpiria um pacote de licitações de modo a ligar o porto fincado no meio do nada à malha ferroviária nacional, assumindo os riscos financeiros da operação.

No registro do emblema, a vasta mobilização de empresas estatais e recursos públicos para salvar o Grupo X pode ser justificada em nome da “imagem do país no exterior”, como sugere candidamente o governo, ou da proteção da imagem do próprio governo e de seu modelo de capitalismo de estado, como interpretam as raras vozes críticas. No registro do indício, porém, o resgate em curso solicitaria investigações de outra ordem e de amplas implicações — que, por isso mesmo, não serão feitas.
______________
(*) Demétrio Magnoli é sociólogo


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Profissionais brasileiros têm um dos piores níveis de inglês do mundo

[Para um país que, inegavelmente, vem se projetando internacionalmente e que, para isso e por conta disso, tem pretensões legítimas de avançar como player no cenário mundial, a reportagem abaixo publicada ontem no jornal Valor Econômico é preocupante. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Os profissionais brasileiros têm um dos piores níveis de inglês do mundo, segundo um estudo da GlobalEnglish que mediu a habilidade com o idioma de mais de 200 mil funcionários de empresas nacionais e multinacionais ao redor do mundo que não têm o inglês como língua materna. Dentre os 78 países analisados pela empresa de cursos de inglês corporativo, o Brasil ficou na 70ª posição. De 1 a 10, o país ficou com a nota 3,27, o que representa uma leve melhora em relação ao ano passado, quando registrou 2,95. A média deixa o Brasil entre os índices “iniciante” e “básico” – abaixo, inclusive, da América Latina, que ficou com a média de 3,38.

O Brasil fica bem atrás de outros emergentes como a China e de vizinhos como o Uruguai, ambos com nota 5,03, além de ficar longe de outros países lusófonos, como Portugal, com nota 5,47, e Angola, com 4,40. “Estamos muito aquém. Isso pode afetar incrivelmente a capacidade do Brasil de continuar atraindo investimentos de fora”, diz o diretor da GlobalEnglish no Brasil, José Ricardo Noronha. Outro problema está na capacidade de expansão de empresas brasileiras que crescem globalmente. “A gente enxerga que a falta de inglês impacta diretamente na produtividade e no aproveitamento dos talentos. Uma empresa que não fala a língua mundial dos negócios tem o seu potencial muito mais limitado”, diz.

O ranking é liderado pelas Filipinas, com nota 7,95. A média mais baixa é a de Honduras, 2,92.

Os países mais bem classificados em fluência da língua inglesa

                       País                                    Nota
 
                     Filipinas*                               7,95
                     África do Sul*                        7,68   
                     Noruega                                7,06 
                     Holanda                                 7,03 
                     Reino Unido*                          6,81
                     Austrália*                               6,78  
                     Bélgica                                   6,45 
                     Finlândia                                6,39 
                     Suécia                                    6,33 
                     Índia*                                    6,32    
 
Fonte: GlobalEnglish (*a pesquisa ouviu funcionários de empresas que não têm o inglês como língua materna)

 
A falta de familiaridade com o inglês de negócios atinge todos os níveis nas empresas, segundo Noronha, com a exceção de jovens de alto potencial que entram por programas como os de trainee. O diretor também não percebe diferença entre empresas brasileiras e multinacionais atuando no país. Para Noronha, os problemas gerados por essa incapacidade de falar o idioma vão desde a sobrecarga de profissionais que conseguem se comunicar em inglês até problemas pontuais de comunicação interna. “Muitos dos investimentos estratégicos, como de liderança ou treinamento, acabam se perdendo porque a absorção é comprometida”, diz o diretor.

Em todo o mundo, apenas 7% dos profissionais apresentam fluência no idioma, porcentagem similar à registrada no Brasil. Mesmo assim, eles sabem a importância de apostar na língua – 91% consideram a proficiência no inglês necessária para avançar na carreira e 94% consideram o “business English” fundamental para conseguir uma promoção. No Brasil, Noronha percebe mais profissionais e empresas preocupadas com a situação, mas acha que a execução ainda é falha – os profissionais ainda são muito reativos, esperando que a iniciativa parta da empresa, e as companhias acabam treinando poucos talentos, por causa do alto custo. “A falta de inglês ainda é um problema sistêmico, e precisa ser tratada de forma mais estratégica por todos”, completa.

[Como acontece com 99,999% dos nossos problemas, a falta de proficiência em idiomas estrangeiros -- com destaque para o inglês -- vem também de nossos bancos escolares. Mas, o problema não é só no inglês. Apesar de sermos o único país da América do Sul que não tem o espanhol como língua materna, e de termos fronteiras com 10 dos 12 países da região, o ensino do espanhol em nossas escolas é relegado a terceiro plano. Nossos ministros, praticamente em sua totalidade (com exceção obviamente do chanceler), além de mal alfabetizados em português são analfabetos em inglês e espanhol -- o que, no entanto, não os inibe de agredir esses dois idiomas em reuniões internacionais. Cansei de passar vexames de peso com esse tipo de gente em reuniões aqui e lá fora.

Para piorar esse quadro, tivemos oito anos de mandato presidencial de um míope intelectual, o NPA, que se vangloriava de falar um português capenga e de ter tido pouca educação escolar. Sua miudeza intelectual somada ao seu absoluto descaso com a liturgia do cargo -- descaso esse que frequentemente descambava para a galhofa desrespeitosa, com o intuito de ridicularizar seus opositores, apelidados por ele de "intelectuais" da oposição -- o fizeram  desprezar completamente a oportunidade de estimular seus seguidores a dedicarem-se aos estudos. Em um desses arroubos de patetice, usou uma expressão francesa ("en passant") em um discurso e disse que isso provava uma "evolução estupenda" no seu modo de falar.]
                              

terça-feira, 23 de abril de 2013

Justiça chegando? PF convoca Marcos Valério para detalhar acusações ao NPA e ao PT

[Reproduzo abaixo trechos das reportagens de hoje dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.  O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O empresário Marcos Valério, operador do mensalão, prestará novo depoimento à Polícia Federal. A data e o local são mantidos em sigilo pela PF e por seus advogados. Valério deverá explicar e dar mais detalhes das acusações feitas ao Ministério Público em setembro - na época, o Supremo Tribunal Federal julgava o processo do caso. Desse depoimento resultou a abertura de inquérito pela PF para apurar o suposto envolvimento de Lula [o NPA - Nosso Pinóquio Acrobata] no esquema.

Uma das acusações a detalhar será a que envolve o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva [NPA], o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o então presidente da Portugal Telecom Miguel Horta. Na opinião do procurador da República Francisco Guilherme Vollstedt Bastos, um dos designados para o caso, as acusações de Valério indicariam a "possível ocorrência dos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação fiscal". 

O depoimento, revelado pelo Estado, desdobrou-se em investigações abertas a pedido da Procuradoria-Geral da República no Distrito Federal para apurar as acusações de Valério contra Lula [NPA] e o PT. Neste novo depoimento, os investigadores querem que Valério dê detalhes das acusações - em vários momentos, o operador do mensalão foi telegráfico ao narrar sua versão dos fatos.

Entre as acusações, Valério afirmou que o "governo/PT" recebeu US$ 7 milhões da Portugal Telecom, acerto feito entre Lula [NPA], Palocci e Horta. O valor teria sido pago por meio de contas de fornecedores da empresa portuguesa em Macau (China). Marcos Valério apresentou ao MP os números das contas que teriam recebido os recursos. Dentre elas, estariam as dos publicitários Duda Mendonça e Nizan Guanaes. 

"Não resta dúvida, portanto, quanto à atribuição da Procuradoria (do DF), já que as autoridades mencionadas não mais possuem foro privilegiado", afirmou o procurador da República.

Em meio às discussões da PEC 37, que retira o poder de investigação do Ministério Público, a apuração sobre Lula [NPA] divide membros da PF e da Procuradoria.  Os delegados reclamam que terão de refazer o trabalho dos membros do Ministério Público. A PF alega que os procuradores não souberam fazer as perguntas necessárias para esclarecer os fatos denunciados pelo operador do mensalão.

É a primeira vez que será aberto inquérito criminal para investigar se Lula [NPA] atuou no mensalão. No processo principal do escândalo, julgado no ano passado pelo Supremo, Lula [NPA] não foi investigado. Ele prestou depoimento, por ofício, apenas na condição de testemunha chamada por diferentes réus do processo.

Lula [NPA] e Palocci negam envolvimento. O advogado do ex-ministro chama as denúncias de Valério de "invencionice".

Saneamento básico, mais uma cloaca no currículo do governo Dilma

[O texto abaixo é da autoria de André Ceciliano, líder do PT na Assembléia do Rio, e foi publicado no jornal O Globo de 20 de abril corrente. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Para cada real investido em saneamento, os governos deixam de gastar R$ 4 em Saúde, segundo a Organização das Nações Unidas. Não existe aplicação financeira com resultado semelhante. Entretanto, parece que o Brasil ainda não enxergou isso, já que investe apenas um terço do necessário em saneamento. Nos últimos anos, o investimento foi de 0,2% do PIB, quando o necessário seria 0,6%.

Resultado: hoje, sete crianças morrem todos os dias no nosso País por causa da diarreia. Mais de 700 mil pessoas são internadas a cada ano nos hospitais públicos por doenças advindas da falta de saneamento básico, posto que 57% da população urbana brasileira ainda não têm coleta de esgoto. O Brasil é o 9º colocado no ranking mundial "da vergonha" com 13 milhões de pessoas sem acesso a banheiro em casa, pelos dados da Organização Mundial de Saúde.

A falta de coleta e tratamento de esgoto, a contaminação da água e também a sua escassez são sérios riscos à saúde das nossas crianças. Quem escapa das doenças, não fica livre de sequelas. Chega a 18% a diferença de aproveitamento escolar entre os alunos que têm e os que não têm acesso ao saneamento básico.

Na Baixada Fluminense, o reforço da área é urgente e isso é feito basicamente com recursos federais, via Funasa, que exige contrapartidas que poucos municípios são capazes ou estão dispostos a dar - em média, 10% do total da obra. Quando fui prefeito de Paracambi, fizemos 12 estações de tratamento. Chamavam-me de louco por investir tanto dinheiro debaixo da terra.

Belford Roxo tem a segunda maior média de internações por diarreia entre as 100 maiores cidade brasileiras. São 367,1 para cada grupo de 100 mil habitantes. Pior, só no Pará: a cidade de Ananindeua tem nada menos do que 1.210,9 casos para cada 100 mil pessoas. O estudo pertence à Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Instituto Trata Brasil, com dados de 2008 a 2011.

Outras cidades da Baixada mostram números preocupantes. Nova Iguaçu (165,2) e São João de Meriti (138,4) estão entre os 30 municípios com maior número de internações. Duque de Caxias (58,6) é o 37º .

Os números falam por si. Se os investimentos continuarem no mesmo ritmo, apenas em 2.122 todos os brasileiros terão acesso a esse serviço básico. Não dá para esperar tanto.

[É surpreendente e reconfortante ver um líder do PT passar, de público, recibo e atestado da incompetência e a omissão criminosas também na área de saneamento nesses 10 anos de governos petistas do NPA e da doce Dona Dilma. Ao ritmo de 7 crianças por dia, só no governo da terna avó Dona Dilma terão morrido 5.908 crianças de diarreia até o dia de hoje, 23/4/2013, o que  transforma a ex-guerrilheira numa espécie de Herodes de saias dos tempos modernos. Nos 8 anos de governo do outro Herodes petista, o NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) terão morrido mais de 20.000 crianças pelo mesmo motivo. Provocar, por omissão, a morte de seres humanos indefesos, crianças, não é crime hediondo inafianciável? Por que nem o NPA nem Dilma vão para a cadeia?!  

Saneamento para a afável Dona Dilma não é prioridade, porque fica debaixo da terra e ninguém vê aqueles quase 6.000 cadáveres de crianças mortas de diarreia. A ex-guerrilheira só reduz tributos de cachorros grandes: indústria automobilística, fabricantes de bens de consumo, usineiros produtores de etanol, indústrias petroquímicas -- por que não faz essa isenção para as empresas  de saneamento?! 

No mês passado, quando foi a Roma para a missa inaugural do Papa Francisco, a doce Dona Dilma ficou num hotel de luxo em vez de ficar na embaixada e, com sua comitiva, ocupou 52 quartos e alugou 17 carros -- uma pequena grande farra, com o nosso dinheiro. Só no império de Eike Batista seu governo injetou bilhões (somente na última ajuda foi quase R$ 1 bi do BNDES para a MMX) -- é claro que nenhuma empresa de Eike cuida de saneamento. De 2007 a 2012, os governos petistas do NPA e da doce Dona Dilma desoneraram empresas em, no mínimo, R$ 97,8 bi -- ganha um doce quem achar pelo menos uma empresa de saneamento nessa lista. O NPA e a supersimpática ex-guerrilheira criaram até agora 10 estatais, jogando no ralo dinheiro que poderia ser usado no saneamento. O trem-bala, o brinquedinho preferido da avó Dona Dilma, custará, segundo o governo, R$ 35 bilhões, mas a iniciativa privada calcula que ele sairá por mais de R$ 50 bi -- esse dinheiro dava uma bela arrumada no saneamento básico no país.

Resumindo: esse governo Dilma é uma cloaca.]

Cisão Apple - Foxconn se agrava. Como é que fica a Foxconn no Brasil?

[Vocês se lembram da Foxconn? Depois da viagem da nossa terna Dona Dilma à China em abril de 2011, quando ela se reuniu sorridente (!) com o presidente da empresa (ver foto abaixo), a Foxconn virou a menina dos olhos do governo da nossa doce ex-guerrilheira, que transformou essa empresa taiwanesa em símbolo do grandioso ingresso do Brasil na fabricação seriada e barata de iPads e eventualmente de iPhones.

Presidente Dilma Rousseff conversa com Terry Gou (presidente da Foxconn), no complexo Diyaoutai, em Pequim, em abril de 2011 - (Foto: Roberto Stuckert/PR).

Depois do estardalhaço inicial, que contou com ainda com os pobres recursos cênicos de Aloizio Mercadante (à época ministro da Ciência e Tecnologia), o processo da instalação completa e início de fabricação da Foxconn no Brasil entrou no típico ritmo ioiô das iniciativas federais petistas, com idas e vindas sem conta. Depois, caiu sobre a Foxconn e seus iPads, iPhones e o escambau, o silêncio ensurdecedor das coisas malfeitas e malogradas. Há inúmeras postagens anteriores sobre essa Foxconn e suas trapalhadas no Brasil e alhures: em 27/9/2012, em 14/7/2012, em 31/3/2012, em 03/9/2011, em 26/5/2011, em 12/4/2011, etc, etc. Para piorar o currículo da Foxconn e deixar o governo Dilma nu também nessa (é um striptease atrás do outro!), a empresa taiwanesa entrou em forte rota de colisão com a Apple -- e agora, José (Dilma)?! Reproduzo a reportagem de ontem do Globo sobre isso. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

A Foxconn reportou queda nos lucros relacionada à redução dos pedidos de iPhones, mesmo com as vendas do smartphone de Apple não parando de subir. O anúncio dá a entender que que a empresa taiwanesa não mais será a única fornecedora do prestes a ser lançado iPhone 5S. O site “China Business” reporta também queda de 19,21% na receita da Foxconn no primeiro trimestre.

O motivo para a Apple estar diminuindo seus pedidos é o gradativo aumento da negligência da Foxconn na fabricação dos aparelhos, que resultou em oito milhões de unidades do iPhone invendáveis que foram enviadas para a Califórnia e depois foram devolvidas por defeitos na aparência e/ou na funcionalidade dos smartphones. [E aí, Dona Dilma e Seu Aloizio?!]

Como resultado, a Foxconn amargou custos adicionais de mais de US$ 4 bilhões decorrentes dessas falhas, que foram também a causa do grave desabastecimento do iPhone 5 nas prateleiras americanas nos primeiros meses após o lançamento. O incidente também motivou a Apple a pulverizar mais a fabricação do iPhone 5S de modo a contar com parceiros fabricantes mais confiáveis.

Segundo o site “Stabley Times”, cada novo aparelho lançado pela Apple tende a representar um desafio maior para os fabricantes, graças aos contínuos esforços da empresa em projetar dispositivos mais leves, mais finos e mais compactos.

[A Foxconn, à parte essa pendenga com a Apple pela má qualidade de seus iPhones, é também um poço de problemas e irregularidades na área trabalhista. Em outubro de 2012, ela admitiu que usava mão de obra infantil em suas fábricas na China. Em 2010, ela atraiu uma publicidade indesejada por causa do suicídio de 13 de empregados de sua fábrica em Shenzen, na China, atribuído às péssimas condições de trabalho que impõe a seus empregados. É nesse saco de encrencas que o governo Dilma apostou suas fichas para fabricar iPads no Brasil.]

Brasil, um país constitucionalmente laico mas cheio de feriados religiosos

O Art. 5° da Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu inciso VI - "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.

O Art. 19 da mesma Carta Magna determina, em seu caput e no inciso I:
"É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público".

Apesar da clareza inequívoca desses textos quanto à laicidade do Estado brasileiro, nosso país vive anualmente um festival de feriados religiosos, predominantemente católicos. São considerados feriados civis, os dias declarados em Lei Federal, as datas magnas dos Estados fixadas em Lei Estadual e, os dias do início e do término do ano do centenário de fundação do Município, fixados em Lei Municipal. Estas considerações são feitas com base na Lei nº 9.093/1995. Feriados religiosos são os dias de guarda, declarados em lei municipal, de acordo com a tradição local e em número não superior a quatro, neste incluída a Sexta-Feira da Paixão. 

No início de janeiro de cada ano, o governo federal -- geralmente através do Ministério Planejamento, Orçamento e Gestão -- divulga a relação de feriados nacionais  e pontos facultativos (ponto facultativo é uma firula semântica que significa falta ao trabalho público sem punição, mais um "me engana que eu gosto" da administração pública) do ano que se inicia. Neste 2013 temos:

I - 1º de janeiro - Confraternização Universal (feriado nacional)
II - 11 de fevereiro - Carnaval (ponto facultativo)
III - 12 de fevereiro, Carnaval (ponto facultativo)
IV - 13 de fevereiro - quarta-feira de Cinzas (ponto facultativo até as 14h)
V - 29 de março - Paixão de Cristo (feriado nacional)
VI - 21 de abril - Tiradentes (feriado nacional)
VII - 1° de maio - Dia Mundial do Trabalho (feriado nacional) 
VIII - 30 de maio - Corpus Christi (ponto facultativo)
IX - 7 de setembro - Independência do Brasil (feriado nacional)
X - 12 de outubro - Nossa Senhora Aparecida (feriado nacional)
XI - 28 de outubro - Dia do Servidor Público - art. 236 da Lei n° 8.112 de 11/12/1990 (ponto facultativo)
XII - 2 de novembro - Finados (feriado nacional)
XIII - 15 de novembro - Proclamação da República (feriado nacional)
XIV - 24 de dezembro - véspera de Natal (ponto facultativo após as 14h)
XV - 25 de dezembro - Natal (feriado nacional)
XVI - 31 de dezembro - véspera de Ano Novo (ponto facultativo após as 14h)

Na lista acima observa-se o seguinte: - i) o país perderia de cara meio mês de produção e trabalho (são 9 feriados nacionais e 7 pontos facultativos), não fossem os feriados que em 2013 caem num sábado (IX, X, e XII) -- mas, em compensação, há ponto facultativo numa quinta-feira (VIII) que pode resultar em enforcamento da sexta-feira, e em terças-feiras ((XIV e XVI) que, certamente, levarão ao enforcamento das segundas-feiras; - ii) quatro datas (IV, V, VIII e X) -- 25% do total -- são feriados religiosos católicos que contrariam, portanto, nossa Constituição.

Vamos agora à escala estadual, enfocando o Estado do Rio de Janeiro. Em 2013 temos:

- 23/04/2013 ( terça-feira ) - Dia de São Jorge (feriado estadua)
- 15/10/2013 ( terça-feira ) - Dia do Comércio (feriado estadual)
- 28/10/2013 ( segunda-feira ) - Dia do Funcionário Público (feriado estadual)
- 08/12/2013 ( domingo ) - Dia de Nossa Senhora da Conceição (feriado estadual)
- 20/11/2013 ( quarta-feira ) - Zumbi dos Palmares (feriado estadual)
- Data Móvel - Carnaval (feriado estadual)
 
No RJ temos, pois, um terço dos feriados oficiais constituído de feriados religiosos (23/4 e 08/12), contrariando as Constituições federal e estadual. Observe-se ainda as segundas-feiras que serão enforcadas no Estado.

Vamos agora ao custo econômico dessa farra de feriados. Estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) para 2012 --O Custo Econômico dos Feriados - Firjan -- aponta que o país perdeu em média 4,4% do PIB no ano passado (com RJ e Acre perdendo 5,3% e S. Paulo perdendo 4,4%) com os feriados. Em dinheiro vivo isso significou a bagatela de R$ 50,5 bilhões.

A mesma Firjan -- Sistema FIRJAN :: Notas Técnicas de Economia -- informa que em 2013, o Brasil terá oito dos doze feriados nacionais ocorrendo em dia de semana, dois a menos que em 20124. Na esfera estadual, 24 dos 39 feriados cairão em dia útil, três a menos que em 2012. Assim, estima-se que em 2013 as perdas ocasionadas pelos feriados nacionais e estaduais à Indústria brasileira possam chegar R$ 42,2 bilhões. Apesar das altas cifras, esse valor é 16% inferior ao de 2012. Isso significa dizer que em 2013 o prejuízo será R$ 8,3 bilhões inferior ao apurado no ano passado, devido ao menor número de feriados em dias de semana.

Chega-se à triste conclusão de que também em matéria de feriados somos o país da gandaia, tanto do ponto de vista constitucional quanto do ponto de vista econômico-financeiro. Com mais de 500 anos de idade, já é mais do que tempo de criarmos vergonha na cara.