sábado, 10 de dezembro de 2011

União Europeia abandona o Reino Unido

Se alguém tinha dúvidas de que a distância que separa a Inglaterra e seus pares do Reino Unido da Europa é muitíssimo maior que o Canal da Mancha, isso certamente desapareceu por completo nas reuniões dos dias 8 e 9 deste mês, em que o primeiro-ministro David Cameron mostrou a que ponto chegam a arrogância, o egoísmo, e a miopia ingleses.  Como diz hoje no Globo o economista James Galbraith, o Reino Unido não aprendeu nada com a crise. Reproduzo a seguir trechos da reportagem de hoje do jornal inglês The Independent sobre o assunto, da qual tirei o título desta postagem.

O Reino Unido foi deixado à margem da União Europeia na noite de ontem, na maior divisão desse grupo nos seus 54 anos de história [considerando a criação da Comunidade Econômica Europeia por seis países em 1957, mas em vigor desde 1958]. "É o começo do fim da participação do Reino Unido", disse uma fonte da União Europeia (UE).

A cúpula dos líderes europeus terminou com azedume, depois que David Cameron vetou um novo tratado para salvar o euro enfraquecido e todos os demais 26 membros da UE decidiram ir em frente sem ele, deixando o Reino Unido em uma minoria isolada. O primeiro-ministro forçou os 17 países de moeda única a criar um "tratado fora do tratado da UE", para impor uma disciplina orçamentária e evitar a repetição da crise da dívida da zona do euro. As outras nove nações fora do euro abandonaram o Reino Unido e manifestaram seu desejo de se juntar ao grupo "euro-plus". 

O veto de Cameron, a primeira vez que um primeiro-ministro inglês tomou tal decisão para bloquear um tratado da UE, ocorreu depois que ele não conseguiu obter salvaguardas para a City of London.  Sua posição inesperadamente dura encantou os eurocéticos conservadores, mas preocupou seus parceiros da Coalizão Democrática Liberal, os mais pró-Europa dos principais partidos britânicos. Parlamentares do Partido Conservador exigiram um "relacionamento novo" com a UE. Um referendo sobre o relacionamento do Reino Unido com a UE é, no entanto, improvável antes da próxima eleição geral, pois os democratas liberiais podem bloqueá-lo.  Mas, Cameron sofrerá agora uma pressão enorme para incluí-lo no manifesto dos conservadores.

O primeiro-ministro insistiu na noite passada que a participação do Reino Unido na UE "é boa para nós" e que, diferentemente de alguns céticos de linha dura, não quer que o Reino Unido termine como a Noruega, que é parte do mercado único mas não participa das decisões sobre suas regras. "É claro que isso representa uma mudança", disse Cameron, "mas o cerne da relação -- o mercado único, o comércio e o investimento, o crescimento, empregos -- isso fica como estava". Ele insistiu em que a influência do Reino Unido na UE seria mantida [será?!...], e negou que sua atitude tivesse preparado o caminho para a saída do Reino Unido [da UE]. 

Outros líderes europeus afirmam que a tática de Cameron tinha saído pela culatra. "Isso sairá muito caro para o Reino Unido", disse uma autoridade da UE. "Ele hostilizou todo mundo". A chanceler alemã, Angela Merkel, disse: "Na realidade não acredito que David Cameron jamais compartilhasse conosco das discussões. Estamos muito satisfeitos com o resultado. Ontem não houve nenhum comprometimento fraco com o euro".

Entretanto, há temores no governo britânico de que as medidas de estabilização do euro acordadas na cúpula recebam sinal negativo quando os mercados abrirem na segunda-feira. Isso significaria que a crise não está encerrada, e uma quebra desordenada do euro poderia ainda afundar o Reino Unido em uma recessão prolongada.

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