sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Paris sob o olhar do Grande Irmão

O Big Brother de George Orwell já está de olho em quem vive e circula em Paris ...

Se os parisienses pensam enfrentar incógnitos a força irresistível que os atrai para o jogo no hipódromo de Longchamps, abraçar um(a) amigo(a) com toda a intimidade na plataforma do metrô, ou se apresentar no mais perfeito anonimato em um clube privado do 1° distrito (arrondissement) ... eles estão equivocados. Desde 2008, a chefatura de polícia e a prefeitura operam em conjunto a rede [de vigilância] de vídeo da cidade. A partir de 21 de dezembro, um novo conjunto de 201 câmeras será instalado. Em junho de 2012 haverá 1.009 câmeras a registrar as idas e vindas das pessoas e o ruído da circulação.

Todos esses "Grandes Irmãos" [parafraseando o personagem principal do romance "1984", de George Orwell] vigiarão menos os bairros mais desfavorecidos do 19° arrondissement do que os quarteirões "haussmanianos" [adjetivo relativo a Georges-Eugène Haussmann, famoso responsável pela reforma urbana de Paris entre 1853 e 1870, determinada por Napoleão III] do bulevar St-Germain ou da porta de Passy. O desequilíbrio entre o leste e o oeste parisienses se mede também pelo número de câmeras de vídeo-vigilância -- de "vídeo-proteção", corrige Philippe Goujon, deputado do UMP [União por um Movimento Popular, partido francês] e prefeito do 15° arrondissement -- instaladas nos diferentes bairros. Foi a chefatura de polícia de Paris que desenhou a cartografia da televigilância "em coordenação com a prefeitura".

A maioria dos prefeitos de arrondissements, tanto de direita como de esquerda, observa entretanto que seus desejos estão às vezes longe de serem satisfeitos: "A chefatura nos submeteu um plano sobre o qual a manifestação dos eleitos locais era de natureza consultiva [ou seja, não decisória]", resume Jean-Pierre Lecoq, prefeito UMP do 6° arrondissement. No entanto, os vereadores puderam fazer com que certas instalações fossem deslocadas ou eliminadas. Assim, Jacques Boutault, prefeito ecologista do 2° arrondissement, se opôs à instalação de uma dessas câmeras apontada para a entrada da escola primária da rua Dussoubs. "Uma parte importante dos alunos dessa escola tem pais em situação ilegal. Além de introduzir diante da escola um clima de insegurança para famílias já em situação precária, isso não acrescenta nada",  avalia o político que foi parcialmente atendido. Se não há câmera na vizinhança imediata da escola, duas outras foram colocadas nos cruzamento a montante e a jusante da rua Réaumur, mantendo um quadrilátero visual do bairro.

Algumas ruas mais além, a chefatura de polícia queria instalar uma câmera diante do Centro LGBT (lésbicas, gays, bi e transsexuais) de Paris, registra Pierre Aidenbaum, prefeito socialista do 3° arrondissement. "Entendo que as pessoas que vão e vêm nesse imóvel têm direito a uma certa privacidade. Fui compreendido.", assegura ele.

A prioridade da chefatura de polícia permanece sendo as sedes de poder: embaixadas, ministérios, Parlamento ... Assim como os eixos de circulação e os pontos potenciais de aglomeração. Os centros nevrálgicos da economia estão também sob boa televigilância. Assim, se a Bolsa parisiense fosse classificada de acordo com o número de câmeras de vigilância ela receberia um "A quádruplo", a julgar pelo quadrilátero de televigilância do Palácio Brongniart.

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