Com base no que publicou ontem o prestigioso jornal espanhol El País, o clima político interno na França pode tornar-se um empecilho extra para que o acordo dos 26 países da UE (União Europeia) realmente vingue. Vejamos a seguir o texto da matéria.
Nicolas Sarkozy e a Europa terão que esperar. Os socialistas franceses não votarão a regra de ouro [regra mais importante de um compromisso] do deficit acordada pelos líderes da UE, exceto o do Reino Unido, em Bruxelas. Além disso, o Partido Socialista (PS) rejeita de forma global o acordo impulsionado por Angela Merkel e Nicolas Sarkozy. Segundo afirma Manuel Valls, porta-voz do candidato socialista e grande favorito nas eleições presidenciais de maio vindouro, François Hollande, "o novo tratado não se sabe bem o que é, e apresenta apenas medidas orçamentárias mais duras e mais austeridade [o que mais querem os socialistas para a Europa neste momento?!]. Além disso, um tratado de 26 [países] não existe", acrescenta o dirigente do PS, "a Europa se esquece do crescimento e não fala do papel do Banco Central Europeu. Acreditamos que falta outra política".
O porta-voz de Hollande explica ao El País que a tese do PS é que os franceses "não necessitam agora de outra regra de ouro , senão um de novo discurso e uma nova via econômica e política, mais equitativa, mais eficaz e mais justa. Já temos uma regra na Constituição, que é a de Maastricht", explica Valls, que pensa que se hoje se votasse o acordo de Bruxelas em referendo "os povos europeus provavelmente o rejeitariam". [É só impressão minha, ou isso soa como um autêntico demagogo tupiniquim em horário eleitoral? ...]
O porta-voz de Hollande esclarece que os socialistas não vão solicitar uma consulta [popular] sobre o pacto dos 26, mas lembra que Sarkozy "antes de ter aprovado o acordo de Bruxelas deveria ter consultado a oposição e não o fez". Segundo os socialistas, longe de sair mais forte ele emergiu mais fraco e menos acreditável desse acordo: "Não pôde mudar em nada a posição da Alemanha, já que no fundo não tem sua confiança, e se curvou em tudo aos desejos de Angela Merkel", analisa Valls.
Suas palavras, a primeira reação oficial dos socialistas após o acordo, tratam de impedir a pressão crescente do presidente, que não demorou nem 48 horas para por em ação a estratégia que vincula sua reeleição à salvação do euro.
Sarkozy precisa da oposição para aprovar os compromissos assumidos em Bruxelas, e ontem mesmo a ministra da Fazenda e porta-voz do governo francês, Valérie Pécresse, conclamou os socialistas a "refletir de novo" e aprovar o quanto antes o novo acordo. O novo tratado deve estar redigido em março, e o Eliseu tem pressa. "A velocidade é um fator essencial para restabelecer a confiança", afirmou a ministra, "é preciso ratificar o acordo o quanto antes possível. Dizer "sim" a ele é dizer "sim" à salvação do euro".
Sarkozy necessita de 3/5 dos votos da Assembleia Nacional e do Senado, onde o PS tem maioria. O pacto [de Bruxelas] prevê incorporar à Constituição de cada país um limite do deficit estrutural não superior a 0,5% do PIB, descontados os juros da dívida, e que o Tribunal de Justiça Europeu verifique se a chamada "regra de ouro" é adequada.
A ratificação francesa pode ser um problema para a Europa, porque pode atrasar para depois das eleições legislativas, que se realizarão em junho, a entrada em vigor do tratado em um dos países impulsores do acordo. Segundo Valls, "Sarkozy trata de converter o acordo em tema da campanha, mas Hollande tem tudo muito claro: a França cumprirá o deficit de 3% [do PIB] em 2013, e levará as contas ao equilíbrio orçamentário em 2017".
De todos os modos, os socialistas deixam uma pequena brecha para possíveis negociações, mas com condições que dificilmente serão aceitas pela direita: "se Sarkozy quer o novo pacto, deve primeiro aceitar as nossas proposta, um novo IVA (Imposto de Valor Agregado), mais impostos para os ricos, um novo pacto social, e suprimir reformas que custaram milhões de euros ao Estado francês", acrescenta Valls.
O termômetro, segunda-feira e janeiro
Os socialistas franceses não parecem particularmente preocupados com a ausência do Reino Unido no desenho da união fiscal. Mas, tampouco felizes. "O problema não é o Reino Unido, mas sim que um tratado de 26 [países] não se sabe bem o que é, não existe", afirma Valls, que crê que "o termômetro do acordo serão os mercados de segunda-feira [hoje], e sobretudo janeiro, quando vários países europeus devem colocar grandes quantidades de dívida".
Segundo Valls, as pesquisas eleitorais francesas indicariam que o movimento de Sarkozy de angariar votos na extrema direita começa a favorecer o candidato do centro, Franóis Bayrou. Valls crê que, se o debate se coloca em termos de "regra de ouro" da direita contra a "regra de ouro" da esquerda, a grande beneficiada será a candidata da Frente Nacional, Marine Le Pen, que poderia chegar a 25% no primeiro turno".
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