Uma reportagem publicada nesta quarta-feira no jornal espanhol El País afirma que o Brasil enviou "uma mensagem contraditória" para o resto do mundo ao aprovar no Senado o novo Código Florestal. O jornal salienta que a aprovação do código "que flexibiliza as regras
para preservar a vegetação e abre a porta para uma anistia para os que
foram condenados por delitos de desmatamento, que contribuem para a
mudança climática", veio apenas um dia após o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe) anunciar que a área desmatada na Amazônia no
último ano até agosto foi a menor desde 1988.
"O novo código colocou em pé de guerra amplos setores do mundo
científico, cultural e artístico brasileiro. A votação no Senado ocorreu
com vários dias de atraso por causa do enfrentamento entre os senadores
ambientalistas e os ruralistas, e pela avalanche de emendas
apresentadas ao Código", diz a reportagem. "Tantas objeções de última hora ao código, que vinha sendo discutido há
dois anos e meio, são o puro reflexo da polêmica desatada no Brasil".
Ainda na Espanha, o andaluz ABC chama atenção para a aprovação da lei "que deixa vulneráveis 400 mil quilômetros quadrados da Amazônia, um quinto dela". Para o jornal, seria como desmatar "uma Alemanha e uma Suíça inteiras". "Mas há pesquisas que apontam que a área em perigo é de 700 mil
quilômetros quadrados, quase uma Espanha e meia desmatada", afirma a
reportagem. "De nada serviram os alertas de diversas organizações não governamentais
nacionais e internacionais, ecologistas e da comunidade científica
brasileira frente ao poder da indústria agropecuária brasileira no
Congresso".
Nos Estados Unidos, o Wall Street Journal observou que o código
"divide a nação" e levanta "preocupações em relação aos custos
ambientais da estratégia do Brasil de empregar seus vastos recursos
naturais para gerar crescimento econômico". "Nos últimos anos, o Brasil abriu novas minas na Amazônia e está
investindo dezenas de bilhões de dólares na construção de imensas usinas
hidroelétricas na Amazônia para colher o potencial energético dos rios
da floresta", nota a reportagem.
Devido às mudanças sofridas no Senado, o Código Florestal precisa voltar
para a Câmara e seguir para a análise da presidente Dilma Rousseff, que
pode sancionar ou vetar trechos do texto. Em sua reportagem, o Wall Street Journal chama atenção para o "dilema político" que a tramitação do Código ainda criará para Dilma. "A legislação está de acordo com a visão desenvolvimentista de Dilma,
mas sancioná-la corre o risco de alienar os grupos ambientalistas no seu
partido de esquerda, que já prometeram pressioná-la para vetar partes
do Código".
[Confesso não estar familiarizado com o texto do Código Florestal aprovado no Senado para poder discutí-lo em profundidade, mas acho motivos suficientes para preocupação a incontida euforia da bancada ruralista com o texto aprovado, a anistia para quem desmatou, e as idas e vindas sobre a preservação das matas ciliares dos rios.]
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