sábado, 3 de dezembro de 2011

Programa do euro no FMI pode espalhar o risco do resgate pelo mundo todo

A administração Obama tem sido inflexível, a Europa pode resolver sozinha sua crise financeira e os contribuintes americanos e outros de fora da região não devem pagar a conta de nenhuma expansão do esforço de resgate.

Mas, um plano em desenvolvimento para a Europa para canalizar fundos de resgate através de uma série de empréstimos do FMI pode fazer com que os EUA e outros países paguem também essa conta.

Autoridades financeiras europeias saíram de reuniões de alto nível na semana passada dizendo que "explorariam rapidamente" [a opção de] como explorar o FMI como um meio para canalizar dinheiro de países europeus que estão em condições de fazê-lo, tal como a Alemanha, para outros [países] como Itália ou Espanha que podem necessitar de expressivas quantias de suporte. Carrear o dinheiro através do FMI resolveria vários problemas políticos para a Europa -- principalmente por permitir que a Alemanha e outras nações mais ricas não aparecessem ostensivamente endossando nações perdulárias como a Itália.

"Há um certo subterfúgio" envolvido no plano que está ganhando forma, disse Edwin M. Truman, um membro senior do Instituto Peterson de Economia Internacional e um ex-assessor do Tesouro dos EUA.

Mas, a proposta disseminaria também entre os membros do FMI os riscos de resgatar países europeus combalidos. Quaisquer empréstimos do FMI se tornariam obrigações para os 187 membros do Fundo -- incluindo os EUA, o maior contribuinte isolado desse órgão. Se o dinheiro for usado para pagar o resgate de nações de porte, como a Itália, e esses esforços financeiros fracassarem, os membros do Fundo têm que assegurar que o FMI pague aos países participantes do [plano de] resgate o dinheiro que a isso destinaram.

Autoridades americanas estão estudando várias maneiras que permitam ao FMI envolver-se mais nos problemas da Europa sem custo para os contribuintes americanos, incluindo um aumento no pool de empréstimos administrado pelo Fundo, que permite que países façam empréstimos nas principais moedas, tais dólar e euro. Autoridades do Tesouro [dos EUA] dizem que o FMI nunca perdeu dinheiro resgatando um país, e que quaisquer empréstimos adicionais feitos pelo Fundo seriam objeto de severa vigilância.

Empréstimos bilaterais -- com um país emprestando diretamente ao FMI -- foram usados antes como um meio de aumentar o poder financeiro do Fundo, sem forçar todos os membros a pagar por um aumento geral no capital básico do órgão.

Autoridades do FMI registraram que nunca houve um default completo de um país em relação a empréstimos feitos como parte de um resgate do Fundo.

No entanto, ocasionalmente há países que deixam de honrar pagamentos devidos ao FMI. Sudão, Somália e Zimbábue, por exemplo, estão em "dívidas proteladas" em relação a compromissos que remontam aos anos 1980s e que hoje somam cerca de US$ 2 bilhões.

Apesar de que tenha parecido pequena, por longo tempo, a perspectiva de um país europeu desenvolvido não honrar um empréstimo do FMI, este tem estado navegando em mares novos desde o surgimento da crise financeira em 2007  -- com um aumento dramático de seus recursos, de seus empréstimos, e dos riscos associados a isso. Em vez de seu papel tradicional de ajudar individualmente países que estejam enfrentando dificuldades, o Fundo tem sido superdimensionado para tornar-se um escudo ou escora "sistêmico" de toda a economia mundial. O FMI tem expandido os programas de empréstimo e financiamento que oferece e, com o começo dos problemas da dívida europeia, foi lançado como nunca antes numa crise do mundo industrializado. 

Dos cerca de US$ 900 bilhões em financiamentos, menos de US$ 400 bilhões permanecem disponíveis -- insuficientes para arcar confortavelmente com grandes programas [de resgate] na Espanha ou na Itália, caso eles se façam necessários. "O FMI necessitará de mais recursos se a crise se agravar", disse ontem o porta-voz do Fundo, Gerry Rice. Mas, há oposição, inclusive do governo americano, a que se aumentem os recursos do FMI unicamente para ajudar a zona do euro,  uma região de produção econômica anual de US$ 12 trilhões e imensa riqueza familiar e corporativa.

O arranjo do empréstimo bilateral contornaria esse e outros temas sensíveis. Países que não quiserem participar do programa não seriam obrigados a fazê-lo. Aumentos na capacidade geral de financiamento do Fundo são pagos pelos países membros aproximadamente com base em seu tamanho e na importância de sua economia. Mas, nenhum membro do FMI é obrigado a participar de um empréstimo bilateral. Autoridades europeias dizem ter esperança de que o programa possa atrair contribuições de países como a China, mas esperam que muito do novo financiamento venha da própria Europa.

Como dito antes, o uso do FMI evita que países ricos, especialmente a Alemanha, sejam pressionados a fazer empréstimos diretos a quaisquer outros países. Empréstimos diretos feitos à Grécia pela Alemanha e outros países provocaram forte reação dos alemães, que se mostraram indignados em ajudar um país considerado como sem disciplina financeira. Uma ajuda à Itália, se necessária, ficaria muito mais cara -- e a controvérsia política resultante seria muito mais intensa. Emprestar dinheiro ao FMI, em vez de a um vizinho que esteja falindo, poderia desarmar as dificuldades políticas. O Fundo poderia usar o dinheiro para programas de resgate, se necessário, agregando condições econômicas e orçamentárias a cada regate.

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