domingo, 9 de fevereiro de 2014

Se a vítima do rojão na Central do Brasil fosse um cidadão comum e não um repórter, a repercussão teria sido a mesma?

Na semana passada, no entorno da Central do Brasil no Rio, repetiu-se o espetáculo revoltante de um bando de boçais mascarados fazendo quebra-quebra e agredindo civis e policiais, a título de protestar contra um aumento de 9% nas passagens dos ônibus decretado pela Prefeitura da cidade.  Qualquer possibilidade remota ou concreta de mérito no foco do protesto fica inteira e absolutamente anulada pela boçalidade, pela selvageria e pelo vandalismo dos manifestantes. 

Na manifestação da semana houve uma agravante: um cinegrafista da Band TV foi atingido por um rojão disparado por um boçal mascarado e está em coma. O fato por si só é absurdo e revoltante, mas o tratamento do caso pela mídia e seus desdobramentos merecem muita atenção e reflexão.

Como a vítima era um "colega" e não um cidadão comum desprovido da aura beatificante do jornalismo, a mídia abriu um espaço gigantesco, fez um ruído enorme sobre o fato e começou a pressionar as autoridades para prender o criminoso. OK, nada mais justo e correto, não fosse o comportamento corporativo e seletivo dessa mídia. Fosse a vítima um cidadão sem câmera na mão e/ou crachá/colete de jornalista, mas com uma simples mochila ou de mãos vazias, ela jamais teria merecido o espaço e o destaque dados ao cinegrafista da Band. Em tese, todos os cidadãos são iguais mas para a mídia os repórteres são mais iguais. Basta lembrar o caso do jornalista do Globo, Tim Lopes, barbaramente assassinado por traficantes em junho de 2002. A pressão do jornal sobre a polícia foi tamanha e tão insistente, que o caso foi esclarecido em tempo recorde -- e o Globo mantém vigilância sobre os assassinos do seu repórter, mesmo após sua condenação. Lamentável que os Zés Manés da vida não recebam a mesma atenção da mídia.

O jovem que entregou o rojão ao mascarado boçal que o detonou já foi preso pela polícia.  O crime aconteceu na quinta-feira e hoje, domingo pela manhã, já temos um preso pelo ocorrido. Alguém já viu tanta agilidade e eficiência em casos semelhantes? Amarildo, da Rocinha, em quem a PM deu sumiço em julho do ano passado, infelizmente era ajudante de pedreiro e não jornalista -- seu caso saiu das manchetes já há algum tempo e caminha célere para se tornar um dos milhares de casos não resolvidos na crônica policial do Rio.

Qual o efeito punitivo e corretivo dessa prisão superrápida para os marginais mascarados? Apenas um: evitem atacar e agredir jornalistas e repórteres, porque dá encrenca. Quanto aos demais cidadãos, sirvam-se -- deitem e rolem.

No meio dessa pirotecnia toda em torno da agressão ao cinegrafista, alguém viu a mesma insistência e a mesma veemência da mídia contra os boçais dos black blocs? Xongas! 

Outro detalhe sintomático no pós-tumulto da quinta-feira foram o esforço e o tempo enormes gastos pela polícia para explicar que rojão não faz parte de seu arsenal. Esse comportamento decorre do fato da polícia ter sido transformada aprioristicamente no grande vilão e no grande responsável por tudo de ruim e condenável que acontece nas manifestações de rua e nas favelas do Rio. Que a PM carioca -- como praticamente todas as demais do país -- é truculenta e despreparada não resta a mínima dúvida, mas sua demonização prévia e sistemática é o pior caminho para a solução de seu problema. É preocupantemente fácil constatar que o tempo e a tinta gastos para botar a polícia permanentemente na berlinda são infinitamente superiores aos gastos para responsabilizar e punir os secretários de segurança e governadores que os treinam, pagam e comandam, e são hiperbolicamente maiores do que as manifestações de repúdio e condenação da boçalidade dos black blocs , de sua violência e de seu vandalismo. 

Os mascarados boçais e covardes que dominam as manifestações de rua ganharam até uma aura de heróis da democracia e da "liberdade de expressão", merecendo inclusive um videozinho idiota de apoio de Caetano Veloso, ridículo como nunca com sua máscara de membro honorário dessa quadrilha. Gastou-se -- e ainda se gasta -- também uma barbaridade de argumentação esdrúxula -- a meu ver inteiramente idiota e despropositada -- sobre o caráter "democrático" do uso de máscara em manifestações públicas, quaisquer que sejam os atos nelas praticados. Achar que é um democrata itinerante quem sai de casa com o rosto coberto por uma máscara para se manifestar contra o que quer que seja é de uma estupidez tão profunda, que fica extremamente difícil não explodir em palavrões na abordagem desse assunto. 

Recomendo a todos a leitura do Blog do Fucs, da revista Época de 31/1/2014: "A demonização da polícia e a romantização dos arruaceiros".

Um comentário:

  1. Essa blogada aborda inúmeros aspectos doentios do DNA brasileiro. Vamos por partes:
    1) Se fosse um cidadão comum, viraria lamentável e trágica estatística da vida carioca. Os perpetradores da zorra deram azar e danem-se!
    2) Imaginar que toda bala perdida e achada na cabeça de um cidadão qualquer vem sempre de arma da polícia é muito conveniente para as hordas da bandidagem que operam À VONTADE em qualquer parte do país.
    3) Dureza foi aguentar a entrevista exclusiva que a GLOBO arranjou com o boçal que se já se apresentou à polícia. Se aquilo não é a argumentação de um BOÇAL, eu desisto!

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