domingo, 24 de julho de 2011

Banda larga por 35 reais é rejeitada por 44% da população

A banda larga popular busca atenuar o principal problema apontado pelos brasileiros para acessar a rede mundial de computadores: o preço. Porém o valor de R$ 35,00 no plano mensal domiciliar ainda é rejeitado por 44% da população, na maioria entre a classes C, D, E. Dessa forma, o pacote lançado pelo governo deve alterar pouco o fato de 52% do país jamais ter navegado na rede. Os números apontados são do estudo TIC Domicílios, publicado pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (CETIC.br), que utiliza como fonte de informações o Censo Demográfico Brasileiro (Censo, 2000) e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD, 2009). A avaliação de que a questão econômica é predominante para exclusão digital é confirmada pelo coordenador de projetos de pesquisa do Cetic.br, Juliano Cappi. “De acordo com nossos resultados, a principal barreira é o custo, tanto no acesso ao computador, quanto à internet”.

A classe C tende a ser a aquela com maior quantidade de pessoas que se adequará a internet com assinatura mensal de R$ 35,00, anunciada no dia 30 de junho pelo governo federal. Na pesquisa, 76% dessa parcela da população não têm internet na residência e alega a falta de dinheiro como empecilho primordial, com 53%. Contudo, 61% da classe C não está disposta a pagar mais de R$ 30,00 pelo serviço. Sem internet no domicílio, as lan houses continuam a representar parcela significativa entre aqueles que acessam a rede na classe C: 41%.

Já os beneficiários do principal programa social da presidenta Dilma Rousseff, Brasil sem Miséria, continuarão em dificuldades para ter acesso à rede, mesmo com o novo pacote de R$ 35,00. Nas classes D-E a maioria tem renda familiar inferior a um salário mínimo (R$ 510,00) e 81% jamais acessou a internet. Neste segmento, 53% não demonstraram interesse em pagar qualquer valor para ter acesso à banda larga.

O estímulo do governo à internet domiciliar é compreendida de forma positiva por Juliano Cappi. “A comodidade contribui para ser usuário mais assíduo. Por mais que tenha a lan house, o acesso domiciliar, em geral, promove frequência de uso mais elevada, melhora a capacitação, impacta o uso das ferramentas e demais atividades.”

Além do valor tarifário, outro fator é apontado de forma redundante para exclusão digital no país: falta de habilidade com o computador e internet. Juliano Cappi aponta que muitos dos membros das Classes C, D e E não demonstram interesse em pagar ou utilizar centros públicos porque não têm noção da importância e/ou não tiveram mecanismos educacionais para lidar com essas tecnologias.

Já o técnico do Instituto de Pesquisas Aplicadas (IPEA) João Maria Oliveira atesta que o recente acordo firmado pelo governo dá ritmo muito confortável às empresas de telecomunicação. “Talvez seja um ritmo que não seja para a sociedade brasileira”. Para ele, o plano de expansão deveria ser associado a questões maiores da sociedade. “O acesso à internet possibilita mais pessoas se incluindo de forma mais rápida. Deveria ser atrelado a saúde, educação, segurança. Segundo o Banco Mundial, a cada dez pontos no aumento do acesso, aumenta 1,38% do PIB”.

Juliano Cappi endossa a necessidade de articular com as políticas de educação e centro públicos de acesso. “As pessoas precisam ter noção dos perigos, problemas, responsabilidades. Ou se faz isso através da educação ou de telecentros, para as pessoas terem orientação no uso”.

A pesquisa do Cetic.br aponta que, entre aqueles que acessam a internet, os membros das classes C,D e E já utilizam menos os instrumentos oferecidos, entre os quais: governo e comércio eletrônico, lazer, comunicação e educação. Tal desnivelamento tem origem, em grande medida, nos entraves para acessar páginas que demandam maior qualidade na conexão dos usuários, já que no mesmo estudo 37% dos entrevistados afirmam ter como maior dificuldade de usar a rede o fato de ter páginas pesadas. No pacote lançado pelo governo tais disparidades devem se perpetuar, já que o usuário terá mensalmente 1 Mbps de velocidade e download sob limite de 300 Mbps/mês na banda larga fixa e 150 Mbps/mês na móvel. O técnico do IPEA explana que isso terá impacto na utilização de ferramentas de vídeo, imagem, voz. “Quando limita [o tráfego], cria-se o usuário de segunda categoria.”

O único serviço tratado como público nas telecomunicações, a telefonia fixa, findou recentemente um plano de universalização. Segundo João Maria, perdeu-se a oportunidade de relacionar com as metas de internet, e não há impeditivos legais. “Dizem que a Lei Geral de Telecomunicações (LGT) não permite, mas onde está dizendo isso? Bastava ter adequação na regulação via Anatel. O governo tem condições de promover a modernização desse segmento”.

Ao invés de debater aumento dos orelhões ou redução das tarifas, Oliveira aponta que o Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU) deveria ter uma mudança de paradigma. “Tratamos como se a voz fosse o mais importante. No nosso modelo, a voz é tarifada pelo tempo e distância, quando não deveria ser mais o parâmetro, e sim o transporte de dados, no qual voz é apenas um elemento”. Para ele, as empresas já trabalham sob essa nova lógica ao utilizar a estrutura da telefonia fixa para o transporte de dados.





sábado, 23 de julho de 2011

Um assassino no paraíso: os bastidores dos atentados na Noruega

Em momento de tragédia nacional, as pessoas tendem a ficar juntas, a se aproximarem umas das outras. Este instinto, a necessidade das pessoas de uma comunidade de se juntarem e de se consolarem umas às outras em um momento de choque e dor coletivos, foi a arma mais insidiosa de Anders Behring Breivik no arsenal que ele carregou para pequenina ilha de Utoeya, um retiro com bosque no lago Tyrifjord, a uma hora de carro de Oslo.

Breivik, um norueguês atraente de cabelo louro e olhos azuis, chegou ao pier no lago vestido como um oficial da polícia norueguesa. Horas antes, um carro-bomba que a polícia acredita que Breivik tenha colocado e detonado no coração do quarteirão do governo norueguês rasgou o bairro com sua explosão, matando pelo menos sete pessoas e ferindo muitas outras. Agora, tudo faz crer que a bomba em Oslo foi um ato criminoso de desvio de atenção, um ato para confundir meticulosamente planejado. O aparente atentado contra a vida do primeiro-ministro Jens Stoltenberg, suposto inicialmente como sendo obra de extremistas islâmicos,  manteve o esquadrão antiterror norueguês preso em Oslo enquanto Breivik se diria para Utoeya. Ele mostrou sua identidade aos guardas do lago -- a identidade era falsa, mas aparentemente boa o suficiente para enganá-los. "Ele saiu do carro, mostrou sua identidade, e disse que havia sido enviado para checar a segurança, que era pura rotina em conexão com o atentado terrorista em Oslo", disse Simen Braenden Mortensen, um dos guardas, ao jornal Verdens Gang. "Tudo parecia OK, e um barco foi chamado para levá-lo a Utoeya. Poucos minutos se passaram, e então ouvimos tiros", ele disse.

Quando chegou à ilha, Breivik encontrou as pessoas correndo para a casa principal do local. Algumas estavam chorando, andando de braços dados, tentando entender as imagens devastadoras da televisão em sequência à explosão da bomba de Oslo. Quando Breivik se aproximou da casa, testemunhas se lembram, cerca de 80 pessoas estavam por ali. "Nos juntamos todos na casa principal para falar sobre o que havia acontecido em Oslo", disse um sobrevivente de 16 anos chamado Hana ao Aftenpost, um jornal diário de Oslo.

Breivik, com seu uniforme policial e agora usando protetores de ouvido, apressou a todos para que se dirigissem para a casa principal. "Gostaria de reunir todo mundo", disse ele segundo Hana. Em seguida, portando uma metralhadora, Breivik entrou na casa principal e começou a atirar nas pessoas que ali estavam. Com os olhos do mundo voltados para Oslo, decorreu mais de uma hora para a polícia norueguesa entender o que estava se passando em Utoeya e responder ao que ali acontecia. Crianças saíam correndo e gritando da casa principal, para mesmo assim serem alvejadas por Breivik. Segundo testemunhas, ele se manteve calmo, procurando metodicamente suas vítimas onde quer que tentassem se esconder.

Pessoas que vivem próximo da ilha descreveram cenas horrorosas, com dezenas de adolescentes correndo para a água numa tentativa de nadar para um local seguro, enquanto Breivik continuava a atirar neles. "Eles eram tão jovens, entre 14 e 19 anos", disse Anita Lien, de 42 anos que vive perto do lago.
Anders Behring Breivik: um solitário e meticuloso atirador (Foto: Scanpix Sweden/Handout/Reuters).

Remédio anti-HIV feito com tabaco começa a ser testado na Grã-Bretanha

Pela primeira vez na pesquisa farmacêutica europeia, cientistas lançaram um ensaio clínico com um remédio anti-HIV criado pela biotecnologia usando tabaco geneticamente modificado, planta mais conhecida por prejudicar a saúde humana. A ação marca um avanço no campo emergente da agricultura molecular, capaz de oferecer uma maneira mais barata de produzir drogas e vacinas a partir da biotecnologia, comparando com os sistemas tradicionais da indústria.

Depois de obtido o sinal verde dos reguladores, o anticorpo monoclonal está sendo testado em um pequeno estudo envolvendo 11 mulheres saudáveis na Grã-Bretanha. Ele foi desenhado para ser usado como microbicida vaginal a fim de evitar a transmissão do HIV durante o sexo.  Se o estudo da Fase I for bem-sucedido, ensaios maiores serão feitos e os pesquisadores preveem que o novo anticorpo, o P2G12, será combinado com outros em um microbicida que ofereça uma ampla proteção contra o HIV/Aids.

O ensaio é um marco para o projeto Pharma-Planta, lançado em 2004 com 12 milhões de euros (US$ 16,8 milhões) financiados pela União Europeia. 

No momento, drogas caras - como os tratamentos anticâncer da Roche Herceptin e Avastin - são produzidas em culturas de células dentro de tanques de aço inoxidável. Os defensores da agricultura molecular acreditam que as drogas feitas a partir de proteínas podem ser produzidas de forma mais eficiente e barata dentro de plantações geneticamente modificadas, uma vez que as plantas são produtoras de proteínas com uma relação custo-benefício extremamente positiva.

O coordenador do projeto, Julian Ma, professor de imunologia molecular da University of London, em St Georges, disse a jornalistas na terça-feira que a autorização para o ensaio clínico era um reconhecimento de que os anticorpos poderiam ser fabricados em plantas com a mesma qualidade dos produzidos nas fábricas.

O anticorpo em teste foi descoberto pela empresa privada de biotecnologia Polymun, da Áustria. 

Brasil fica fora de acordo para genéricos de remédios anti-HIV

O Brasil foi excluído do primeiro acordo assinado entre uma farmacêutica privada e o Pool de Patentes de Medicamentos. O contrato autoriza a produção e a comercialização de genéricos de remédios contra a Aids, o que possibilita que seus preços caiam.

A Gilead Sciences, um dos principais fabricantes de drogas contra o HIV, dividirá os direitos de propriedade intelectual de seus medicamentos em um pool de patentes destinado a tornar os tratamentos mais acessíveis aos pobres. 

O pool é uma fundação autônoma financiada pela Unitaid, organismo criado há cinco anos com apoio do Brasil (o grifo é meu) para facilitar o tratamento contra o vírus HIV, a malária e a tuberculose, principalmente em países pobres. Cada um dos 29 países doadores contribui de uma forma para o fundo. O acordo entre o pool e a americana Gilead autoriza fabricantes indianos a produzir genéricos de três drogas anti-Aids e de uma combinação dos três. A empresa receberá royalties de 3% a 5% das vendas.

O Pool de Patentes de Medicamentos é financiado por uma taxa que incide sobre as passagens aéreas do Chile, França, Coreia do Sul, Mali e Níger. O fundo adota um sistema para que detentores de patentes liberem tecnologia a fabricantes de genéricos em troca de royalties modestos.

 No Brasil, uma lei recém-aprovada autoriza o governo a doar US$ 2 à Unitaid por passageiro que embarque para o exterior (US$ 12 milhões por ano). Por impedimento legal, o país não cobrará a taxa dos viajantes, como fez a França, por exemplo. 

O número de países com acesso a esses genéricos vai de 99 a 111, dependendo da substância. Além do Brasil, ficaram de fora China, México, o norte da África e quase todos os sul-americanos, exceto Bolívia e Equador. A maioria dos excluídos está no grupo que o Banco Mundial classifica como de "renda média alta", com renda per capita entre US$ 3.976 e US$ 12.275 anuais. Para ter acesso aos genéricos, eles deverão negociar preços com a empresa ou fazer o licenciamento compulsório, previsto pela Organização Mundial do Comércio.

Para entender melhor essa notícia, é preciso ser assinante da Folha. Ali se vê que, estranhamente e até prova em contrário, o Brasil foi tremendamente prejudicado ao ser excluído desse acordo -- "pagou, mas não levou", diz a versão impressa do jornal. O país financiou a negociação e ficou de fora do acordo para fabricar e importar 3 genéricos anti-HIV! De quem é a culpa por nossa exclusão, de nós mesmos ou fomos marginalizados "no peito"?  Segundo a Gilead, o Brasil tem renda alta demais para ser beneficiado! E daí, vamos ser jogados para escanteio por uma empresa?!

Nossa exclusão foi criticada por grupos que lidam com acesso à saúde.  Segundo eles, foram contrariados dois princípios do pool:  que todos os países em desenvolvimento sejam beneficiados e que não exista restrição não técnica à fabricação. "Fabricantes da Tailândia e do Brasil, que têm capacidade de produzir, foram deixados de fora. O acordo dificulta a redução de preço via concorrência ao limitar a fabricação a um país, a Índia", disse a ONG Médicos Sem Fronteiras. Um manifesto de 70 entidades sul-americanas, incluindo a Abia (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids) qualificou o contrato de "frustrante".

O sanitarista Paulo Roberto Teixeira, do conselho administrativo do pool, diz que está "ciente das limitações do acordo", mas o defende: "Ele cobre mais de 80% da epidemia", afirma. Ele lembra que o pool é só um dos mecanismos de acesso às drogas. "O acordo não interfere no direito de outros países de adotar salvaguardas para a produção de genéricos".  Ele afirma ainda que o contrato deixa aberta a possibilidade de que mais países ou consórcios de países beneficiados consigam permissão para fabricar genéricos dos remédios da Gilead, ao lado da Índia. 


Com o fim dos ônibus espaciais, a NASA está terceirizando os voos espaciais, confiando na iniciativa privada

Com a aposentadoria dos ônibus espaciais na quinta-feira, a tarefa de colocar pessoas e carga na Estação Espacial Internacional (EEI) não será mais nos EUA um programa de governo, cujos custos são estratosféricos. A Nasa está se voltando para a indústria privada, com preços fixos, contratos e margens de lucro -- a agência espacial será um cliente, e não o patrão.

Pelo menos no que se refere à rotina de ir à EEI e dela voltar, a NASA espera se apoiar em empresas que serão a versão espacial de uma Fedex (empresa courier) e de uma Yellow Cab (empresa de táxis).

A empresa que tem liderado a corrida espacial comercial espera lançar à EEI seu foguete e sua cápsula de construção privada no final deste ano. Não haverá astronautas a bordo, mas se tudo correr bem a nave não tripulada se acoplará à estação espacial e ali deixará comida, água e roupas. E seu principal competidor cargueiro levará ainda um mês ou dois para estar pronto.

Levar pessoas em órbita em uma nove espaçonave americana é outra história. Algumas empresas ambiciosas esperam lançar astronautas desse modo em três anos, talvez quatro. Até lá, os russos levarão astronautas na base do "pague para participar". Alguns veteranos dos espaço, como John Glenn, o primeiro americano em órbita, acham que é mais realista pensar-se em um espaço de tempo de cinco a dez anos para isso acontecer.

A NASA alugou duas empresas -- a Space Exploration Technologies Corp. (de Hawthorne, Califórnia) e a Orbital Sciences (de Dulles, Virginia) -- para levar 40 toneladas de suprimentos para a EEI em 20 anos, a um custo de US$ 3,5 bilhões, mais ou menos o mesmo preço por libra de peso verificado durante os 30 anos da história do ônibus espacial.  "Esta é a hora. Uma vez que a NASA foi pioneira, e criou a tecnologia que está disponível às empresas privadas para seu uso, esta é a hora para as empresas privadas assumirem a tarefa", diz o chefe da área de carga comercial da NASA, Alan Lindenmoyer.

A NASA se reuniu na quarta-feira com as empresas que querem transportar astronautas para a EEI. A agência espera que o dinheiro que economizará não sendo a responsável por fazer voar a nave espacial poderá ser gasto em novas missões nas profundezas do espaço, que mandarão astronautas para um asteróide e para Marte. Seis empresas estão trabalhando com a NASA para enviar naves à EEI -- seja naves cargueiras não tripuladas, ou cápsulas tripuladas. 

Por mais de uma década, fomentadores do "espaço comercial" têm dito estarem prontos para assumir o negócio de ir ao espaço a baixa órbita da Terra, em suas próprias naves não governamentais, mas nunca o fizeram até então. Mas uma fez: a Space Exploration Technologies, que frequentemente aparece como SpaceX e é comandada por Elon Musk, fundador do PayPal e um homem afeito a riscos, lançou em órbita sua cápsula não tripulada Dragon em dezembro passado. Agora, ela está organizando uma fila de interessados para a primeira visita privada à estação espacial. Os estágios inferior e superior do foguete estão em Cabo Canaveral (Flórida), e a cápsula está quase pronta. "O que queremos é voltar ao espaço tão rapidamente e de maneira tão sustentável quanto possível", diz o ex-astronauta Garret Reisman, responsável pelo programa "Dragon Rider".
A cápsula Dragon com os painéis solares armados (Foto: SpaceX).

Vídeo impressionante do tsunami no Japão visto de dentro de um carro

Vejam cenas impressionantes do tsunami de 11 de março deste ano no Japão, vistas de dentro de um carro:



Descoberto um adulterante na cocaína que debilita o sistema imunológico

Consumir cocaína está cada vez mais perigoso. Além do risco de alterações psíquicas, transtornos nutricionais, cardiopatias e problemas neuronais, deve-se acrescentar agora a depressão do sistema imunológico -- um adulterante, o Levamisol, é o culpado.

Energy Control, uma ONG que analisa drogas gratuitamente, estudou um total de 1.680 amostras de consumidores em toda a Espanha. A maioria estava adulterada.  "É preciso esclarecer que, em geral, aqueles que trazem sua droga à Energy Control o fazem porque desconfiam de sua qualidade, por tê-la comprado de um vendedor desconhecido", alerta Fernando Caudevilla, um dos médicos da organização.

Das 345 doses de cocaína analisadas 91% tinham adulterantes, e 23,2% não tinham sequer uma migalha de cocaína -- somente 5,5% eram puras. "Encontramos na cocaína o maior número de adulterantes", diz o relatório da Energy Control. Deles, o mais comum é o Levamisol, presente em 59% das amostras -- é um fármaco veterinário, usado como antiparasitário e que produz uma baixa bastante significativa de glóbulos brancos. Os usuários da cocaína dizem que ele aumenta o efeito da droga. "Com a redução dos glóbulos brancos, encarregados das defesas do organismo, fica-se mais suscetível a infecções. Há uma probabilidade maior de que surja qualquer tipo de infecção, e de maior gravidade", explica o Dr. Caudevilla. "Consumir cocaína com Levamisol é muito mais perigoso que consumí-la pura", adverte ele.

Analgésicos, cafeína e anestésicos são outros dos adulterantes frequentes, "mas o Levamisol é o que está despertando maior preocupação, pelos potenciais efeitos tóxicos que pode ter sobre os usuários de cocaína", diz o relatório da Energy Control. Rafael Guayta-Escolíes, do Observatorio de Medicamentos de Abuso do Colégio de Farmacêuticos de Barcelona, faz também um alerta quanto ao Levamisol "que em animais mostrou que, além de reduzir os glóbulos brancos, altera a medula óssea".

Luis Bononato, médico e diretor do Projeto Homem em Cádiz, que trabalha na reabilitação de dependentes de drogas, afirma que quem vende drogas adulteradas "está envenenando" quem as compra, e sobre os diluentes adverte: "Se o efeito demora mais a aparecer, o viciado irá consumir mais até sentir esse efeito e isso pode levar a uma overdose".  Mais do que um consumo responsável, como é promovido pela Energy Control, Bononato insiste em que os consumidores tomem consciência de que "estão pondo suas vidas nas mãos de outras pessoas". Acrescenta ele que "quando se faz mistura há um aumento da toxicidade, porque há uma combinação dos efeitos da droga com os dos adulterantes e com os que são gerados pela interação de ambos".