sábado, 22 de agosto de 2015

Por que existem em nossa política e no nosso Congresso figuras tão abomináveis quanto Fernando Collor e Eduardo Cunha, entre muitos outros?!

Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Fernando Collor -- trio "emblemático" da política nacional - (Foto: Google)

A análise de nossa política há décadas, talvez séculos, certamente é um prato feito para psicólogos, psicanalistas, psiquiatras e sociólogos -- principalmente sob o enfoque do sadomasoquismo. 

Nosso Congresso é um depósito e vitrine de figuras moralmente untuosas, repelentes e putrefactas desde que cada e qualquer geração de cada brasileiro se entende como gente. Não tenho competência nem espaço para destrinchar o porquê disso, mas vou democraticamente dar meu pitaco sobre esse "mistério" -- que, no fundo e na verdade, não me parece ser tão misterioso assim.

A meu ver, as razões para essa masoquista reincidência na eleição de políticos moralmente sépticos são inúmeras e incluem necessariamente educação ausente e/ou deficiente em escala hiperbólica; a exposição diária e abusiva a uma onipresente ausência de valores éticos; a omissão, a tibieza e a submissão da nossa Justiça frente à imoralidade (acarretando a impunidade e a perpetuidade dos corruptos, dos aéticos e dos amorais); o escandalosamente promíscuo, corruptor e corrupto sistema eleitoral e partidário brasileiro. Amarrando isso tudo, o brasileiro em geral é incrível e absurdamente apático e acomodado com a reiterada e quotidiana espoliação de seus direitos pelos governos federal, estadual e municipal. Neguinho vai às ruas protestar, mas na hora de votar elege ou reelege as mesmas porcarias. 

Oops, quase me esqueço! É indispensável citar e ter em mente a omissão seletiva da nossa mídia em relação a políticos de fichas sujas ou imundas. A TV, por exemplo, gasta um tempo enorme e precioso relatando estupros, crimes e golpes diversos de cidadãos comuns, mas poupa os políticos safados e não dá o mesmo destaque reiterado às suas safadezas. Idem quanto à mídia escrita. Nessas horas, é difícil esquecer que há bastante empresa de mídia que depende de favores de políticos para sobreviver com, por exemplo, concessão e renovação de canais de televisão e frequências de radiotransmissão.

Vejamos, por exemplo, os dois pilantras que foram agora denunciados pelo Procurador-Geral da República: o deputado Eduardo Cunha e o senador Fernando Collor de Mello.

Eduardo Cunha

O curriculum vitae deste cidadão assemelha-se mais a um prontuário policial. Vejam alguns "destaques"de sua carreira apontados pelo jornalista Luis Nassif em 02/02/2015.

A ficha de Eduardo Cunha, o mais novo notável da República

Dossiê Eduardo - Luis Nassif (02/02/2015 - atualizado em 09/4/2015)


Para garantir a eleição de Cunha, os jornalões e as emissoras de TV e rádio esconderam de seus espectadores as seguintes informações:
  1. No STF (Supremo Tribunal Federal), pelo menos vinte e dois processos têm Eduardo Cunha como parte.
  2. Dentre esses processos, há três inquéritos (2123, 2984 e 3056) para apurar possíveis crimes cometidos por Cunha quando presidente da Companhia de Habitação do Estado do Rio de Janeiro (CEHAB-RJ) entre 1999 e 2000.
  3. Cunha tornou-se sócio do deputado Federal Francisco Silva (PRN), da bancada evangélica na rádio Melodia. Juntos foram acusados de participação no escândalo das notas fiscais falsas para sonegação de ICMS por parte da Refinaria de Manguinhos.
  4. O inquérito 2984 apura uso de documentos falsificados, inseridos em processo do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, para conseguir o arquivamento de inquérito aberto contra Cunha. O ex-subprocurador-geral Elio Gitelman Fischberg, que participou da falsificação, perdeu o cargo e foi condenado 3 anos e 11 meses de prisão. O STF autorizou abertura de processo contra Cunha, que corre em segredo de Justiça.
  5. O primeiro inquérito contra Cunha ocorreu no bojo das ações contra PC Farias. Cunha era o braço de PC na Telerj.
  6. Em 2000, um ano antes de assumir mandato como deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Cunha teve seu nome envolvido problemas com o fisco. A Receita Federal detectou incompatibilidade entre a movimentação financeira do deputado e o montante declarado ao Imposto de Renda.
  7. Foi acusado de ligações com o doleiro Lúcio Funaro, investigado pela CPI dos Correios. Segundo reportagem da revista Época, Funaro pagava o aluguel do deputado em um luxuoso flat em Brasília.
  8. No mesmo ano, época em que ocupava o cargo de vice-presidente da CPI do Apagão Aéreo, Cunha foi acusado pela deputada estadual Cidinha Campos (PDT-RJ) de realizar operações com o traficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía. Em discurso na Assembleia do Rio, a parlamentar acusou o deputado federal de vender uma casa em Angra dos Reis por US$ 800 mil e, pouco tempo depois, comprar de volta por US$ 700 mil.
  9. Em 2011, Cunha foi alvo de investigações da Controladoria-Geral da União (CGU), que apontou que Furnas, estatal do setor elétrico, cobriu prejuízos causados pela participação da Companhia Energética Serra da Carioca II (empresa ligada a Cunha) na sociedade montada para construir a Usina Hidrelétrica da Serra do Facão, em Goiás. Na época, Furnas tinha vários quadros da direção da empresa em mãos de pessoas ligadas ao próprio Eduardo Cunha. Os prejuízos da estatal ultrapassaram os R$ 100 milhões.
Com essa folha corrida, como é que esse projeto de cidadão recebeu o voto de 232.708 eleitores para deputado federal em 2014?!!

Fernando Collor de Mello

Esse energúmeno é um exemplo patético do baixíssimo nível de nossos políticos e de milhares/milhões de nossos eleitores. Seus (de Collor) brasões, lemas ou emblemas são patéticos: "aquilo roxo" e boca de cloaca.

Em 3 de abril de 1991, então presidente, Fernando Collor de Mello afirmou, em uma solenidade em Juazeiro do Norte que tinha nascido com "aquilo roxo"A expressão, empregada no Nordeste, é utilizada para designar virilidade e coragem. Diz-se que uma criança tem "saco roxo" quando se deseja enfatizar sua força e masculinidade. 

Sua boca de cloaca manifestou-se em sua amplitude quando, recentemente, chamou da tribuna do Senado o Procurador-Geral da República de filho da puta.

Neto de um senhor de engenho e filho de Arnon de Mello que, quando senador, disparou três tiros dentro do Senado Federal contra seu inimigo político, o também senador Silvestre Péricles que estava na tribuna, a cinco metros dele. Mau atirador, Arnon errou o alvo e acertou o senador José Kairala, do Acre, que morreu poucas horas depois. Arnon jamais foi condenado por isso, e sequer perdeu seu mandato. O DNA de Fernando Collor tem esses traços de coronelismo e de machismo idiotas.

Nascido em 1949, desde os 30 anos Collor vive metido na política, transformando-a em seu valhacouto, blindagem protetora e instrumento de mutretas e pilantragens. Eleito presidente da República, assumiu o cargo em 1990 -- em 28 de setembro de 1992 sofreu impeachmente pela Câmara dos Deputados (por 441 a 38 votos). Em 29 de dezembro de 1992 renunciou à presidência da República, horas antes de ser condenado pelo Senado por crime de responsabilidade, perdendo seus direitos políticos por oito anos.

Agora, esse mesmíssimo cidadão foi denunciado ao STF - Supremo Tribunal Federal por recebimento de milhões de reais em propinas no contexto da Operação Lava-Jato. 

Collor foi prefeito de Maceió (1979-1983), deputado federal por Alagoas (1983-1987), e é senador por seu estado desde 1 de janeiro de 2007 (foi reeleito para o Senado em 2014 com 689.266 votos, equivalentes a 55,69% dos votos válidos).

Vejamos alguns dados significativos sobre Alagoas, o estado natal de Collor e de Renan Calheiros:

2010 -- pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), maior taxa de mortalidade infantil e maior taxa  de analfabetismo do país;

2011 -- segundo pior IDH, maior taxa de mortalidade infantil, maior taxa de analfabetismo e menos de 30% de domicílios com rede de esgoto;  

2012 -- pior IDH e índices baixos em educação e saneamento;

2013 -- pior IDH, pior taxa de analfabetismo, pior expectativa de vida, pior índice de mortalidade infantil.

Com esse pano de fundo, cabe a pergunta: a não ser por ignorância e masoquismo, como e por que Alagoas  ainda reelege políticos como Collor e Renan?!! No caso de Collor, quase 700 mil eleitores alagoanos deram inequívoco sinal de insanidade cívica e mental ao reelegê-lo senador em 2014. Quanto a Renan Calheiros, quem quiser saber um pedaço de seu currículo/prontuário/folha corrida dê uma olhada aqui.

Com diferentes graus e nuances, a idiotice eleitoral e suicida de Alagoas se repete em praticamente todas as unidades de nossa Federação. Estamos, há décadas, colhendo os resultados de nossas péssimas semeaduras na política nacional.
    


Um comentário:

  1. Recebido por email de Amaury Frossard Ribeiro em 24/8/2015:

    Bom dia, Vasco.
    Quanto ao que diz Arrisco-me a dizer que se trata apenas de falha na formação familiar.
    Um de meus tios costumava dizer: “Gente é igual a porco: se a raça é boa, o indivíduo
    também o é.” Penso que se os pais derem boa orientação/educação a seus filhos, raramente
    eles irão comportar-se mal perante a sociedade. A questão que permanece é que atualmente
    os pais não são capazes de cumprir com honra seu papel, porque seus antecessores também
    não receberam esse tipo de formação. Talvez nenhum tivesse tido essa condição pela exigência
    da vida moderna que impede maior contato entre genitores e sua prole.

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