segunda-feira, 31 de agosto de 2015

20 anos sem Tom Jobim (IV)

Ver postagem anterior.

Janelas abertas (1958)

Tom Jobim & Vinicius de Moraes -- Intérprete: Zelia Duncan


Sim 
Eu poderia fugir, meu amor 
Eu poderia partir 
Sem dizer pra onde vou 
Nem se devo voltar 

Sim 
Eu poderia morrer de dor 
Eu poderia morrer 
E me serenizar 

Ah 
Eu poderia ficar sempre assim 
Como uma casa sombria 
Uma casa vazia 
Sem luz nem calor 

Mas 
Quero as janelas abrir 
Para que o sol possa vir 
Iluminar nosso amor 


Dindi (1959)

Tom Jobim & Aloysio de Oliveira -- Intérprete: Maria Bethânia


Céu, tão grande é o céu 
E bandos de nuvens que passam ligeiras 
P'ra onde elas vão 
Ah! eu não sei, não sei 
E o vento que fala nas folhas 
Contando as histórias 
Que são de ninguém 
Mas que são minhas 
E de você também 

Ah! Dindi 
Se soubesses do bem que eu te quero 
O mundo seria, Dindi, tudo, Dindi 
Lindo Dindi 
Ah! Dindi 
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindi 
Fica, Dindi, olha Dindi 
E as águas deste rio onde vão eu não sei 
A minha vida inteira esperei, esperei 
Por você, Dindi 
Que é a coisa mais linda que existe 
Você não existe, Dindi 
Deixa, Dindi 
Que eu te adore, Dindi...  


Este seu olhar (1959)

Tom Jobim -- Intérprete: Rosa Passos


Este seu olhar 
Quando encontra o meu 
Fala de umas coisas 
Que eu não posso acreditar 
Doce é sonhar 
É pensar que você 
Gosta de mim 
Como eu de você! 
Mas a ilusão 
Quando se desfaz 
Dói no coração 
De quem sonhou 
Sonhou demais 
Ah!, se eu pudesse entender 
O que dizem os teus olhos... 



Eu sei  que vou te amar (1959)

Tom Jobim & Vinicius de Moraes -- Intérpretes: Simone & Tom Jobim


Eu sei que vou te amar 
Por toda a minha vida, eu vou te amar 
Em cada despedida, eu vou te amar 
Desesperadamente 
Eu sei que vou te amar 
E cada verso meu será 
P'ra te dizer que eu sei que vou te amar 
Por toda a minha vida 

Eu sei que vou chorar 
A cada ausência tua eu vou chorar 
Mas cada volta tua há de apagar 
O que esta ausência tua me causou 
Eu sei que vou sofrer 
A eterna desventura de viver 
À espera de viver ao lado teu 
Por toda a minha vida 


Fotografia (1959)

Tom Jobim -- Intérprete: Elis Regina


Eu, você, nós dois 
Aqui neste terraço à beira-mar 
O sol já vai caindo 
E o seu olhar 
Parece acompanhar a cor do mar 
Você tem que ir embora 
A tarde cai 
Em cores se desfaz 
Escureceu 
O sol caiu no mar 
E aquela luz lá embaixo se acendeu 
Você e eu 

Eu, você, nós dois 
Sozinhos neste bar à meia-luz 
E uma grande lua saiu do mar 
Parece que este bar 
Já vai fechar 
E há sempre uma canção para contar 
Aquela velha história de um desejo 
Que todas as canções têm pra contar 
E veio aquele beijo 
Aquele beijo 
Aquele beijo


Garoto (1959)

Tom Jobim -- Intérprete: Raphael Rabello (instrumental)


domingo, 30 de agosto de 2015

Reitor sindicalista da UFRJ dá mostras de sua irresponsabilidade e de sua inadequação ao cargo

No dia 15 de agosto corrente publiquei na minha página no Facebook (Vasco Costa) a foto abaixo, que mostra o professor Roberto Leher, novo reitor da UFRJ, na cerimônia de sua posse no cargo mostrando orgulhoso e feliz o boné do MST que acabara de ganhar. Isso é um deboche, uma irresponsabilidade, uma molecagem com o manto de uma falsa e  palhaça demonstração de "democracia". No Face disse: "Com esse tipo de docência forjado nos 12,5 anos de petismo é fácil perceber p'ra onde vai a tal "Pátria Educadora" da governanta Dilma NPS (Nosso Pinóquio de Saia)".


Novo reitor foi presenteado com boné do MST - (Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo)

O novo reitor afirma que é uma pessoa que tem formação de esquerda, no campo marxista. Isto, em princípio, não seria um problema desde que não estivéssemos em um país que há 12,7 anos tem governos que lotearam a administração pública com os sindicatos e seus pelegos, e que jogaram (todos eles) a ética e os interesses do país no lixo. Um reitor de uma das principais universidades do país que ostenta com orgulho um símbolo de uma organização social que tem na violência e no vandalismo suas marcas registradas é uma pessoa absolutamente inadequada para a formação de futuras lideranças para o país. 

Muito mais cedo que eu pensava, esse reitor já mostrou que sob sua gestão quem manda na UFRJ é o movimento sindical. O Globo de 29/8 informa que "na última semana de julho, funcionários e alunos da Faculdade de Medicina na UFRJ se encontraram para debater a greve que acontecia na instituição e decidiram que não queriam participar do movimento. Com isso, pediram à Reitoria para reiniciar as aulas do segundo semestre de 2015 normalmente. A Reitoria não acatou nem negou: recomendou que recorressem com o pedido de excepcionalidade ao comando de greve. A falta de decisão da Reitoria gerou indignação nos professores eméritos, que formularam uma carta no último dia 20, endereçada ao Ministério da Educação (MEC), criticando o fato de as questões acadêmicas serem resolvidas pelos grevistas, como revelado anteontem na coluna de Ancelmo Gois, no Globo. O ministério, em nota ontem, afirmou que pedirá esclarecimentos ao reitor da UFRJ sobre o 'grave fato relatado'".

Isso é um requintado absurdo (digo eu e não o Globo): o reitor da UFRJ delega a um movimento grevista uma decisão que lhe cabe em exclusividade tomar! A justificativa para essa decisão esdrúxula e atentatória à independência da universidade dada pelo pró-reitor de Graduação, Eduardo Serra, confirma que são os grevista que mandam na UFRJ: "Não caberia ao conselho deliberar sobre a excepcionalidade, por isso recomendamos que as unidades que tenham excepcionalidades recorressem ao comando de greve, que poderia autorizar ou não”. 

Em postagem anterior recente, comentei que a greve na área da educação deixou de ser o último para tornar-se o primeiro recurso de negociação, passando a ser um instrumento de chantagem dos grevistas para com seus patrões e a sociedade. Com a atitude da reitoria da UFRJ observa-se que o movimento grevista assume uma dimensão e um poder de extremo risco para a sociedade: com a conivência de administradores absolutamente irresponsáveis esse movimentos podem, como naUFRJ, assumir poderes decisórios de gestão totalmente incompatíveis com um estado democrático de direito. Daí para o caos, é meio passo.




sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Parlamento ou valhacouto de marginais?

Charge de Thiago

Charge de Jota-A

Salvo raríssimas e honrosas exceções, a impressão sólida e consistente que se tem é que o Congresso Nacional virou de fato um valhacouto de cidadãos de basicamente duas categorias: os que para ali vão para se locupletar a todo e qualquer custo, que se danem seus eleitores e o país, e os que para ali se dirigem já como transgressores da lei (que se explodam também seus eleitores e o país) -- ambas as espécies utilizando-se do foro especial que o mandato lhes garante, para proteger-se da Justiça. Como pano de fundo dessa marginália, milhões de eleitores idiotas/idiotizados, masoquistas e irresponsáveis.

O site Congresso em Foco nos dá conta de que quase 40% dos senadores estão sob investigação no Supremo Tribunal Federal (STF). Dos 81 integrantes do Senado, pelo menos 30 respondem a inquéritos ou ações penais na mais alta corte do país. As suspeitas vão de crimes de corrupção, contra a Lei de Licitações e eleitorais até delitos de menor gravidade, como os chamados crimes de opinião. Entre os investigados, 12 são alvos da Operação Lava Jato, como o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente da República Fernando Collor (PTB-AL), único senador denunciado até agora pela Procuradoria-Geral da República.

Veja aqui quem são os senadores sob investigação

Só na Operação Lava-Jato há 34 parlamentares da "ativa" sob investigação judicial, dos quais 22 são deputados federais e 12 são senadores. Saiba quem são eles. Nesta semana, no Senado, dez dos senadores investigados na Lava-Jato sabatinaram  o procurador-geral da República -- tivemos pois indivíduos suspeitos (alguns sabidamente culpados) inquirindo seu juiz, mais uma bizarrice do patropi.






Não há espaço, nem paciência, para listar a invasão do Congresso por indivíduos que, na melhor das hipóteses, já deveriam estar trancafiados usando aquele modelito clássico de roupa listrada de preto e branco e um numerozinho no peito. 


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Brasil será denunciado na ONU por não garantir direitos de deficientes

[A imagem do Brasil no exterior é cada vez pior. Somos caracterizados por corrupção em alta escala, conivência com países que reiterada e insistentemente ferem direitos humanos, omissão em temas internacionais relevantes -- incluindo inúmeros conflitos sangrentos -- em nome de "diálogo" (de surdos) e "respeito" à independência dos países e, para  completar, damos calote não pagando o aluguel e contas de nossas representações no exterior e tampouco honrando nossas contribuições obrigatórias (por acordos e tratados) a instituições internacionais como Banco Mundial, OEA, órgãos da ONU, etc. Agora, surge a história narrada em reportagem de Jamil Chade no jornal O Estado de S. Paulo -- reproduzida a seguir -- de que seremos denunciados na ONU por não garantirmos direitos de deficientes. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.] 

País será denunciado na ONU por não garantir direitos de deficientes

Jamil Chade -- O Estado de S. Paulo, 25/8/2015

Entidades questionam acessibilidade de pessoas com deficiência no Brasil - (Foto: O Estado de S. Paulo)


Especialistas, organizações não-governamentais (ONGs) e representantes da sociedade civil vão denunciar nesta terça-feira, 25, na Organização das Nações Unidas o Brasil por não garantir acesso ao transporte, educação e saúde a milhões de pessoas com deficiência no País. Hoje, em Genebra, a ONU examina as políticas do governo brasileiro em relação aos deficientes e vai cobrar respostas de Brasília em relação ao que tem sido feito para promover os direitos dessa parcela da população. O Brasil será representado pelo ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Pepe Vargas. 

Em um informe apresentado aos peritos da ONU por mais de uma dezena de organizações brasileiras e estrangeiras, as denúncias apontam que uma pessoa com deficiência no Brasil ainda vive com sérias dificuldades para ter acesso aos mesmos locais que o restante da população, seja por falta de infraestrutura adequada ou por falta de treinamento de professores, motoristas e gestores. O governo promete responder às críticas ainda nesta terça. 

O exame será o primeiro que o Brasil enfrentará em uma década desde a entrada em vigor da Convenção dos Direitos de Pessoas com Deficiências. "A falta de acesso tem sido a maior barreira a ser superada no Brasil", alertou o informe apresentado pela Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo (Abraça), a Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência do Brasil (FCD), o Instituto Baresi e a Rede Brasileira do Movimento de Vida Independente, entre outras.  

A lei de 2000 estabelecia até 2010 para que todo o transporte público fosse adaptado. "Mas muitas empresas ainda não cumprem a lei", acusaram as entidades. Ônibus interestatais (sic) e muitas empresas de transporte urbano ainda não teriam instalado elevadores para cadeiras de roda. Motoristas não foram instruídos a operar o sistema, quando existe, e não são poucos os casos de ônibus de linhas urbanas que "aceleram quando veem um deficiente em um ponto". 

Segundo as entidades, o governo tem feito esforços para adaptar os aeroportos. Mas o mesmo compromisso não é visto com metrôs, trens e outros transportes. Os edifícios públicos teriam de ter sido adaptados até 2009. "Mas muitos ainda não estão", alerta o documento.

Com 25 milhões de pessoas com deficiências no Brasil, os grupos apontam que nem mesmo as construtoras têm erguido os novos apartamentos dentro dos padrões exigidos pela lei para garantir a circulação de cadeiras de roda ou acesso aos banheiros. 

Nos centros de saúde, a questão do acesso é ainda um obstáculo. Um levantamento apresentado à ONU aponta que, de 241 unidades de saúde avaliadas em sete Estados, 60% delas não estavam adequadas a receber deficientes.  

As políticas de emprego tiveram certos avanços. Mas enquanto o Brasil gerou 6,5 milhões de postos de trabalho entre 2007 e 2010, 42 mil empregos para pessoas deficientes foram fechados.

Nas escolas, a falta de assistência especializada é a barreira. Em 2008, 93 mil estudantes com deficiência foram inscritos na rede pública. Em 2014, esse número caiu para 61 mil.

Para as entidades, "o governo tem feito pouco para conscientizar a sociedade e promover os direitos e dignidade das pessoas com deficiências".  Apesar das promessas feitas à sociedade civil, até hoje nenhuma campanha tem sido organizada para que se conheça os direitos dos deficientes", completou o informe apresentado pelos grupos. 

[Segundo a ONU 15% da população mundial são de deficientes, formando a maior minoria do planeta. Essa cifra vem crescendo, em decorrência do crescimento populacional, dos avanços médicos e do processo de envelhecimento. 

Em países com expectativa de vida acima de 70 anos, pessoas passam em média 8 anos ou 11,5% de sua vida convivendo com deficiência e incapacitações.   80% das pessoas com deficiências vivem nos países em desenvolvimento, de acordo com o Programa de Desenvolvimento da ONU. 

Taxas de incapacitação ou deficiência são significativamente mais elevadas entre grupos com menor nível educacional nos países da OCDE - Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, diz a secretaria desta instituição. Na média, 19% das pessoas com menor nível de educação sofrem de deficiências, comparados com 11% dos que têm maior nível de educação.

Segundo Lenin Moreno, enviado especial das Nações Unidas sobre Deficiência e Acessibilidade e ex-vice-presidente do Equador, a aprovação, em 2006, da Convenção Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência representou um marco na evolução dos direitos humanos e, particularmente, dos direitos de um grande número de indivíduos que durante muito tempo estiveram ausentes de estratégias de desenvolvimento e dos instrumentos de direitos.

Se analisarmos os temas globais tratados como prioridade no âmbito dos direitos humanos, veremos que as pessoas com deficiência foram as últimas a serem contempladas. Nos diversos debates e na evolução dos modelos políticos e socioeconômicos dos Estados, as pessoas com deficiência estavam ausentes – e em muitos casos ainda estão – das políticas públicas. Aos poucos, foram atendidas de forma progressiva como um “grupo vulnerável” e uma “carga social” que o Estado deveria contemplar. O enfoque dos direitos humanos foi fundamental para iniciar uma transformação profunda nas políticas dirigidas para acabar com uma história de exclusão. É nesse ponto que radica, sem dúvida, a relevância da Convenção Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada em 2006.

Na ocasião, 153 países ratificaram o tratado, vigente desde maio de 2008. Esse acordo implica para cada Estado signatário o reconhecimento de que a atenção prioritária a esse grupo é uma obrigação nacional. Porém, o processo de adesão é relativamente recente, e o impacto nas leis e políticas públicas ainda é incipiente em muitos países.

Apesar dos avanços nas últimas décadas, ainda há muito por fazer em termos de políticas públicas para que o conceito de justiça social, igualdade jurídica e de solidariedade inclua as pessoas com deficiência, assim como foi feito com outros grupos que, por suas características particulares, também precisaram de legislação e políticas específicas para que suas oportunidades se equiparassem com o resto da sociedade.

As organizações de e para as pessoas com deficiência conseguiram mobilizar apoios significativos para inserir seus direitos na agenda internacional. A Convenção de 2006 é resultado desse esforço. Múltiplas redes nacionais, regionais e internacionais agrupam pessoas de forte compromisso e alto nível profissional que, com anos de análises e experiência, são as melhores conhecedoras do tipo de normas e políticas necessárias para tornar o mundo mais inclusivo e acessível a milhões de pessoas com deficiência. Infelizmente, a participação desses indivíduos ainda é escassa nos espaços intergovernamentais onde se definem acordos de relevância global na agenda de desenvolvimento e de direitos humanos, assim como nos espaços de formulação de políticas públicas nacionais.

Talvez pelos poucos espaços de participação internacional, esses grupos estiveram ausentes da Declaração do Milênio no ano 2000 e nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). O mundo se comprometeu a acabar com a pobreza e com a fome, universalizar o ensino fundamental, alcançar a igualdade entre os sexos, reduzir a mortalidade das crianças menores de 5 anos, melhorar a saúde materna, combater a aids, a malária e outras doenças, garantir a sustentabilidade do meio ambiente e fomentar uma aliança mundial para o desenvolvimento.

Dezenas de indicadores mostraram que, para impulsionar estratégias nacionais dirigidas a esses objetivos e alcançá-los de forma integral, seria necessário identificar as metas e os indicadores que serviram de guia aos Estados para que os ODM também contemplassem as pessoas com deficiência.

Como bem assinalou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, “os ODM apresentam um esforço dirigido para abordar a pobreza mundial. Eles, contudo, não incluíram as pessoas com deficiência, que nem sequer são mencionadas. Apesar dos progressos notáveis em relação ao cumprimento dos ODM, é difícil avaliar se as pessoas com deficiência foram de alguma forma beneficiadas com a aplicação dos Objetivos ou atividades relacionadas”.

A invisibilidade e a discriminação de pessoas com deficiência geram um círculo vicioso de desigualdade, iniquidade e pobreza. Para a humanidade do século XXI, isso deveria ser inaceitável. Esse grupo é mais vulnerável à pobreza, e a grande maioria reúne uma ou mais das seguintes características: carece de alimentação adequada; vive em moradias precárias e sem condições de acessibilidade; não tem acesso a água potável e saneamento; carece de dispositivos técnicos de ajuda e assistência pessoal; não recebe atenção adequada de saúde; e está fora dos sistemas educativos. Em resumo, hoje as pessoas com deficiência são as mais pobres entre os mais pobres.

Em setembro de 2015, na sede da ONU, acontece o encontro de chefes de Estado e governo para discutir e aprovar o que será a Agenda de Desenvolvimento pós-2015. Espera-se que, nessa ocasião, as pessoas com deficiência façam parte das decisões e compromissos do evento.

Em seu texto, Moreno cita oito prioridades cujo cumprimento pode mudar o mundo e saldar essa dívida da sociedade com as pessoas com deficiência.]



Mudanças climáticas causam alterações no comportamento de beija-flores

[Reproduzo a seguir artigo de Elton Alisson, da Agência FAPESP.]

O aumento da temperatura causa a diminuição da taxa metabólica de beija-flores (foto: Wikimedia Commons)

As mudanças climáticas podem causar a diminuição da atividade de voo de beija-flores e, consequentemente, da polinização de vegetais por esse grupo de aves.
A constatação é de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Taubaté (Unitau), em colaboração com colegas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo (EEL-USP) e da University of Toronto Scarborough, do Canadá, durante o Projeto Temático “Assessment of impacts and vulnerability to climate change in Brazil and strategies for adaptation option”, realizado com apoio da FAPESP no âmbito de um acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Observamos que o aumento da temperatura causa a diminuição da taxa metabólica de beija-flores [a quantidade de oxigênio consumido necessário para produzir energia]. Com isso, cai a frequência de batimentos de asa das aves e, consequentemente, elas passam a voar menos e diminuem a procura por néctar em flores”, disse Maria Cecília Barbosa de Toledo, professora do Departamento de Biologia da Unitau e coordenadora do projeto, à Agência FAPESP.

Os pesquisadores estudaram oito espécies de beija-flor encontradas em diferentes níveis de altitude no Vale do Paraíba, no interior de São Paulo.

Duas das espécies são de baixa altitude – o beija-flor rajado (Ramphodon naevius) e o topetinho-verde (Lophornis chalybeus) –, outras duas são de alta altitude – o beija-flor de topete (Stephanoxis lalandi) e o beija-flor de papo branco (Leucochloris albicollis) –, três ocorrem ao longo de todo o gradiente elevacional do Vale do Paraíba – o beija-flor de fronte violeta (Thalurania glaucopis), beija-flor rubi (Clytolaema rubricauda) e beija-flor de garganta verde (Amazilia fimbriata) – e a última – o beija-flor preto (Florisuga fusca) – é migratória. O grupo de aves foi escolhido porque apresenta uma alta taxa metabólica, relacionada com fatores ambientais, como temperatura e altitude.

“Estimávamos que as mudanças climáticas poderiam causar grandes impactos em espécies de beija-flor e que, por isso, podiam ser usadas como bioindicadoras”, disse Toledo.

A fim de simular os efeitos das variações climáticas nesses animais, os pesquisadores usaram como referência o gradiente climático altitudinal da região montanhosa do Vale do Paraíba, que varia de três metros – como os das cidades de Ubatuba e Caraguatatuba – a 1,8 mil metros de altitude, como o da cidade de Campos do Jordão. Nessas regiões, com diferentes níveis de elevação altitudinal e temperatura variável entre 10 e 30 ºC, eles avaliaram a taxa metabólica em campo de beija-flores rubi (Clytolaema rubricauda) – uma das três espécies de beija-flor que ocorrem ao longo de todo o gradiente altitudinal do Vale do Paraíba.

Para isso, usaram um sistema em que o beija-flor é capturado e colocado dentro de uma câmara com um alimentador, no alto do recinto – composto por um tubo plástico contendo uma solução de sacarose a 20% –, e um poleiro que serve de balança para indicar o peso do animal. Para conseguir se alimentar da solução de sacarose, a ave precisava pairar no ar e inserir a cabeça dentro do tubo de plástico do alimentador, que funciona como uma máscara respiratória, com passagem de 2,5 mil mililitros (ml) de ar por minuto.

Ao pairar no ar e inserir a cabeça na máscara respiratória, os pesquisadores conseguiam analisar a temperatura, além do volume de oxigênio consumido e o total de dióxido de carbono produzido pela ave durante o voo pairado. Dessa forma, conseguiram estimar as taxas metabólicas dos pássaros em diferentes temperaturas ao longo do gradiente altitudinal do Vale do Paraíba. “Esse sistema possibilita avaliarmos a taxa metabólica de beija-flores em atividade, que é o dado mais importante para mensurarmos os efeitos das mudanças climáticas no metabolismo dessas aves”, explicou Toledo.

Menos voo
Uma das constatações dos experimentos foi que o aumento da temperatura diminui a taxa metabólica do beija-flor rubi. A taxa metabólica da ave foi maior em uma faixa de temperatura mais amena, entre 20.1 e 25 ºC, e menor sob temperaturas mais altas, entre 25.1 e 30 ºC, indicaram os experimentos.
Nessa faixa de temperatura mais elevada, o pássaro tende a diminuir a frequência de batimento de asas, procura mais sombra para permanecer em repouso e voa menos para manter seu metabolismo e diminuir o gasto energético, explicou Toledo. “Essa mudança de comportamento pode causar a diminuição da polinização de vegetais por essas aves”, estimou a pesquisadora. “Os beija-flores passam a visitar menos as flores silvestres em busca de néctar e, consequentemente, deixam de transportar pólen de uma flor para outra”, estimou a pesquisadora.
Algumas espécies de beija-flor possuem preferências climáticas, apontou o estudo.
O beija-flor rubi, por exemplo, apresenta maior ocorrência no Vale do Paraíba em regiões com temperatura na faixa de 20 º a 25 ºC, e não “dá as caras” em regiões de baixa altitude durante o verão, quando a temperatura média atinge 28 ºC, disse Toledo.
“Se a temperatura aumentar, elevando a média das terras altas, provavelmente os beija-flores tentarão acompanhar essa mudança”, estimou a pesquisadora.
“Observamos durante o estudo que os beija-flores apresentam variações morfométricas em função da altitude, tais como massa, comprimento e área da asa, comprimento do bico e comprimento total. Mas ainda não sabemos se poderão sofrer mudanças morfométricas rápidas a tempo de se adaptarem às mudanças climáticas”, disse Toledo.
O aumento da temperatura, contudo, não representa um fator limitante para a sobrevivência dos beija-flores, uma vez que esse grupo de aves possui alta resistência térmica. A temperatura corpórea dos beija-flores é em torno de 40 ºC. Dessa forma, a ave é capaz de suportar de forma confortável uma temperatura ambiente em torno de 38 ºC – considerada bastante alta –, explicou Toledo.
“Os beija-flores só conseguem manter esse estresse térmico por muito tempo, entretanto, se houver energia disponível, que é o néctar das flores. E isso representa um ponto de preocupação”, ponderou.
Um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Engenharia de Lorena, da USP, no âmbito do projeto, identificou que a quantidade de energia disponibilizada pelas plantas para os beija-flores na região do Vale do Paraíba varia de acordo com a elevação.
Algumas espécies de plantas visitadas por beija-flores em regiões de terras altas, como Campos do Jordão, possuem néctar com maior teor de sacarose – o açúcar preferido pela ave – do que em regiões de terras baixas, como Ubatuba, apontou o estudo.
“Nossa preocupação é se as plantas visitadas pelos beija-flores serão capazes de ajustar suas concentrações de néctar em tempo de acompanhar as mudanças climáticas e continuarem fornecendo energia para essas aves”, ressaltou Toledo.









terça-feira, 25 de agosto de 2015

O que é recuperação judicial, processo pedido por empresas investigadas na Lava-Jato

[Reproduzo abaixo o texto simples, curto e bem didático sobre o que é a recuperação judicial de que tanto se ouve falar no desenrolar do processo judicial sobre o petrolão, a Operação Lava-Jato, publicado pelo jornal gaúcho Zero Hora. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Em março deste ano o Grupo OAS entrou com um pedido de recuperação judicial de nove de suas empresas nesta terça-feira.  Antes da OAS, Galvão Engenharia e Alumni já haviam feito o pedido. [Posteriormente seguiram o mesmo caminho o Grupo Schahin, a Galvão Engenharia, a Iesa, a Inepar, a Jaraguá Equipamentos e a Lupatech, todas elas envolvidas na Lava-Jato].

ZH ouviu o advogado especialista em Direito Comercial e Processo Civil e professor da PUCRS João Lacê Kuhn, que explicou como funciona a recuperação judicial.


1 — O que é recuperação judicial? 
É uma medida jurídica para evitar a falência de uma empresa. É pedida quando a empresa perde a capacidade de pagar suas dívidas. Criada por lei para substituir a concordata, permite que os empresários reestruturem suas dívidas com credores, reorganizem seus negócios e se recuperem momentaneamente da dificuldade financeira. Com isso, a empresa mantém sua produção, o emprego dos trabalhadores e o interesses dos credores (que querem ser pagos).
 Existe diferença entre recuperação judicial e concordata?
Muitas. A fundamental é que a recuperação judicial precisa da manifestação dos credores, ou seja, exige a concordância dos credores para ser aprovada. Na antiga concordata, apenas a decisão favorável do juiz era suficiente. Os credores não eram ouvidos. A nova lei (Lei de Falências e Recuperação de Empresas, de 2005) é mais justa, porque há dois lados interessados em evitar a falência (credores e empresa) e antes o Estado se sobrepunha aos credores.
 Quais os pré-requisitos para uma empresa entrar com o pedido?A Justiça exige que a empresa tenha condições de oferecer um plano de recuperação para os credores, onde diz como e quando pretende resolver os seus problemas.
 Qualquer empresa ou só as grandes podem entrar com o pedido?
Qualquer uma pode, de qualquer porte, desde que exerça uma atividade empresarial. Por exemplo, uma associação ou uma sociedade não podem.
 Quais as vantagens para empresa, credores e consumidores?
Para os consumidores, é que a recuperação mantém a empresa ativa, e se ela tem utilidade no mercado ele vai (sic) poder continuar usufruindo dos produtos dela. O empresário fica com tempo para gerir as suas dívidas e se safar da falência. Já os credores têm como vantagem a possibilidade de receber pelo que firmou negócio e de saber prazos. Se a empresa falir, o credor tem muito mais dificuldade de conseguir os valores.
 Quando é encerrada a recuperação judicial?
Quando a empresa cumpre o plano de recuperação, ou seja, quando paga todas as dívidas no prazo estabelecido. Estando tudo de acordo, o juiz encerra o caso por sentença.
 As empresas normalmente conseguem se salvar da falência?
A experiência que nós temos é de que mais de 50% das empresas têm sucesso entrando com recuperação judicial. Aquelas que não conseguem, ou é por que não fizeram um bom planejamento ou porque não havia condições de se reestruturar.


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Na área da educação a greve virou principal disciplina e passou a ser sistematicamente o primeiro e não o último recurso de negociação

Mesmo quem não tem filho em escola percebe e sente na carne que, nos governos petistas do Lula NPA (Nosso Pinóquio Acrobata) e de Dilma NPS (Nosso Pinóquo de Saia) o setor da educação, nas áreas federal, estadual e municipal, tem sido caracterizado por greves recorrentes e, em sua maioria, longas. Instalou-se o caos e não adianta procurar nele anjinhos, porque não os há em nenhuma das partes envolvidas . As razões para essa baderna são múltiplas, mas têm um nascedouro comum ou único: a absoluta irrelevância com que a educação vem sendo tratada nesses 12,7 anos de governos petistas. Não me venham os petralhas desenterrar eventuais semelhanças com os governos de FHC, porque isso já encheu o saco -- essa obsessão petista de ainda se alimentar de cadáveres das gestões de FHC após 12,7 anos no poder, além de evidentemente insalubre, não convence a mais ninguém. Necrofagia e roubalheira (mensalão + petrolão) têm sido as marcas registradas do PT desde que botou os pés e as mão no Palácio do planalto.

As burrices e sandices dos governos petistas na Educação não eximem os professores de sua enorme responsabilidade nesse caos educacional em que vivemos, principalmente pelo uso abusivo e irresponsável que fazem do direito de greve, usando-o sistematicamente como primeiro e não como último recurso de negociação. Esses cidadãos chegam a ficar 60 ou mais dias em greve, depois usam a sem-vergonhice de exigir o pagamento das horas gastas nas greves e ainda fazem mutretas com a reposição das aulas perdidas.

O absurdo descaso para com a educação já é patente na Constituição Federal de 1988. A Lei n° 7.783, de 28/6/1989 -- que dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências -- define em seu artigo 10: 


Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais:
        I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis;
        II - assistência médica e hospitalar;
        III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;
        IV - funerários;
        V - transporte coletivo;
        VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;
        VII - telecomunicações;
        VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares;
        IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;
        X - controle de tráfego aéreo;
        XI compensação bancária.

Por que o funcionamento regular das instituições de ensino e a segurança pública não são considerados serviços essenciais?!

Tramitam no Senado propostas para redefinição, na Constituição, dos serviços essenciais ininterruptíveis  (ver postagem anterior). A princicipal é o PLS - Projeto de Lei do Senado n° 710, de 2011, do senador Aloysio Nunes Ferreira. Deste PLS consta:

Art. 17. São considerados serviços públicos ou atividades estatais essenciais aqueles que afetem a vida, a saúde e a segurança dos cidadãos, em especial:

I – a assistência médico-hospitalar e ambulatorial; 
II – os serviços de distribuição de medicamentos de uso continuado pelo Serviço Único de Saúde; 
III – os serviços vinculados ao pagamento de benefícios previdenciários; 
IV – o tratamento e o abastecimento de água; 
V – a captação e o tratamento de esgoto e lixo; 
VI – a vigilância sanitária; 
VII – a produção e a distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; 
VIII – a guarda de substâncias radioativas e equipamentos e materiais nucleares; 
IX – as atividades de necropsia, liberação de cadáver, exame de corpo de delito e de funerária; 
X – a segurança pública; 
XI – a defesa civil; 
XII – o serviço de controle de tráfego aéreo; 
XIII – o transporte coletivo; 
XIV – as telecomunicações; 
XV – os serviços judiciários e do Ministério Público; 
XVI – a defensoria pública; 
XVII – a defesa judicial da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e das suas respectivas autarquias e fundações; 
XVIII – a atividade de arrecadação e fiscalização de tributos e contribuições sociais; 
XIX – o serviço diplomático; 
XX – os serviços vinculados ao processo legislativo; e 
XXI – o processamento de dados ligados a serviços essenciais.

Vê-se acima que, entre outros, a segurança pública foi incluída como serviço essencial, mas o funcionamento das escolas não. Repito: por que não?!

Em agosto de 2012, pressionado pela enxurrada de greves de servidores públicos, o governo federal cogitou também de alterar a Lei 7.783/1989 e propôs uma lista de 24 serviços para ele essenciais (ver postagem anterior) -- dessa lista governamental consta a segurança pública, mas permanece ausente o funcionamento das escolas (nem que seja apenas das públicas). Tudo isso continuo no limbo do Senado Federal.

Aliás, infelizmente é forçoso reconhecer que, de modo geral, a sociedade brasileira também não considera a educação como atividade essencial, haja vista a rotina de fechar escolas em qualquer hipótese de feriado espichado -- se houver, por exemplo, uma sexta-feira dando sopa para um feriado na quinta, p'ra quê abrir escolas na sexta e sacrificar os pobres dos pais, professores e alunos?... Já abordei isto em postagem anterior.

Outra demonstração inequívoca de que a educação não é e nunca foi prioridade dos governos petistas -- e muito menos dos governos de Dilma NPS -- pode ser na postagem "Cadê o 'Brasil, Pátria Educadora' de Dilma NPS?!".

Vejamos agora como anda entre nós em 2015 a disciplina "greve", a preferida dos professores ultimamente.

Na área universitária

☛ Segundo o ANDES - Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino    Superior, temos no momento nada menos que 48 IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) em greve no país.



☛ A greve dos servidores federais, iniciada em maio de 2015, preocupa muito o Ministério da Educação -- mas, pelo visto, não o Governo Federal -, principalmente por conta dos alunos que estão sem aulas. Além disso, o cronograma das instituições fica prejudicado durante o processo e acarreta consequências no planejamento acadêmico. Anotem aí: há universidades federais entrando no terceiro mês de greve!

Docentes da UFRJ decidem encerrar a greve que já durava 60 dias -- ganha um jiló quem acreditar que essas aulas não ministradas serão integralmente repostas.

Na área pré-universitária


Professores estaduais em greve em São Paulo fazem atos de puro vandalismo e selvageria. Obs.: por ocasião dessa postagem (abril/2015) do blogue a greve dos docentes já durava 42 dias; em 01/6/2015, já com 81 dias, ela ainda perdurava. Ela acabou depois de 89 dias.