sábado, 20 de julho de 2013

Vândalos x incompetência das autoridades -- até onde e quando?

A baderna e a destruição ocorridas em Ipanema e no Leblon no meio da semana alcançaram o paroxismo da boçalidade e da barbárie. Ali, consolidou-se a ultrapassagem de pelo menos dois limites cruciais para uma sociedade democrática: o da livre manifestação de opinião e o da incompetência preventiva e repressiva de nossas autoridades. O resultado disso só podia ser -- como foi -- catastrófico.

Isso não é Cairo, nem primavera árabe -- é a avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon, Rio de Janeiro, no dia 17 de julho de 2013. - (Foto: Marcelo Carnaval/Agência O Globo).

Estamos no segundo mês consecutivo de badernas e vandalismo generalizados no Rio e no país, e nossas autoridades -- desde Dona Dilma a prefeitos -- continuam absolutamente perdidas, à mercê dos acontecimentos, sem ter a mínima noção do que está acontecendo, nem do que está por vir e de quem está por trás do quê.

Na última década, o Governo Federal tem sido particularmente frouxo, complacente e demagogicamente cúmplice de reiteradas violações dos princípios constitucionais do respeito à autoridade constituída, à ordem pública e ao patrimônio público. Servidores públicos de serviços essenciais fazem greve, não raro depredam instalações públicas e depois são anistiados, recebendo normalmente pelos dias de baderna. Policiais militares e bombeiros fazem greve -- que lhes é vedada pela Constituição --, tumultuam a vida pública, portam armas, invadem e destroem bens públicos, e são anistiados. As instalações do Incra em Brasília e pelo país afora viraram serventia do MST e de outros movimentos sociais semelhantes, que as invadem, delas tomam posse temporária, emporcalham tudo, e nada lhes acontece. Só demagogos irresponsáveis acham que esses recados e exemplos de impunidade ("sirvam-se, deitem e rolem, a casa é nossa") passam despercebidos pela sociedade em geral e pelos agitadores e vândalos em particular.

A Constituição Federal (CF) no § 5° do Art. 144 estabelece que "às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública". Em seu site, a PMERJ - Polícia Militar do Estado do Rio de janeiro define como seus valores institucionais "hierarquia e disciplina; preservação da vida e dignidade humana; respeito ao interesse público, ao policial e ao cidadão; profissionalismo com reconhecimento do mérito; e transparência" -- se analisarmos o que vem acontecendo no Rio e no Estado do Rio, e não apenas agora, concluímos que esses tais valores foram para a lata do lixo. No mesmo site citado, a missão institucional da PMERJ é definida como sendo a de "promover a segurança cidadã, servindo e protegendo a sociedade no Estado do Rio de Janeiro". Puro papo furado.

Estranha e sintomaticamente, nem a Constituição nem a própria PMERJ explicitam inequivocamente como missão precípua das PMs (polícias militares) a de prevenir a ocorrência de fatos e eventos perturbadores da ordem pública. A CF só menciona expressamente a função de prevenção para a polícia no caso da Polícia Federal, e assim mesmo no caso específico do "tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho" (inciso I do § 1° do Art. 144). Sem política preventiva -- que inclui necessária e obrigatoriamente um serviço de inteligência que faça jus ao nome -- a repressão começa errada e deficiente, e a esculhambação come solta, como se vê há dois meses. 

Perdidas, desinformadas, incompetentes, demagógicas e irresponsáveis, as autoridades -- especialmente as do Planalto, sob o jugo da Dama de Ferrugem, mas também as estaduais e as municipais -- resolveram apelar para masturbações mentais e a criar ou buscar factoides para tentar explicar quem está fazendo o quê, e porquê. O tragicômico é que -- principalmente no caso do governador Sérgio Cabral -- elas estão ficando intoxicadas com sua própria cortina de fumaça. Enquanto isso, as ruas continuam virando praças de guerra, a população cada vez mais atemorizada e insegura, e a vida cidadã emperrada.

Hipóteses existem e existirão sempre, às toneladas, algumas bastante plausíveis, outras nem tanto, e outras ridículas. Sua análise e investigação estão atrasadas de pelo menos dois meses, no caso do momento presente. Para outros casos, não menos graves, estão atrasadas uma década. Dona Dilma, Sérgio Cabral e outros que tais, e suas trupes "estratégicas" precisam cair na real, agir com o rigor máximo da lei -- tolerância zero à baderna e democracia são irmãs siamesas -- e deixar de nos enrolarem com suposições que acabam virando supositórios ineficientes (desses que incomodam e não resolvem).






Um comentário:

  1. Sabe-se muito bem, que o vandalismo é a manifestação da bandidagem, que é bastante farta no RJ. Onde começa o fogo, desencadeia-se o vandalismo, é simples assim. Bem..., a polícia sabe disso e o que eu vi na tela da TV, em inúmeros episódios foi uma polícia truculenta com manifestantes (reais) e... intimidada ou ausente, com os vãndalos (também reais. Foi isso mesmo! Ninguém se esconde atrás do seu próprio dedo indicador. Agora... com essa jornada da semana que vem, estou preocupado com o limite dos vãndalos, se é que eles têm algum, pois a polícia tem inúmeros limites. Vamos ver!

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