quarta-feira, 31 de julho de 2013

O aquecimento global continua nos mandando avisos, também no setor energético

[Para quem as próximas gerações passarão a fatura do descaso com o aquecimento global? Vejam a reportagem de ontem no caderno "Amanhã", do Globo. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Matriz de energia em pane

Manuela Andreoni -- O Globo, 30/7/2013

Há quem trate o aquecimento global como uma possibilidade longínqua, mas, nos Estados Unidos, o governo já vê consequências bem práticas do problema. Relatório publicado este mês pelo Departamento de Energia americano mostra que diversas usinas termelétricas, solares, hidrelétricas e nucleares, além de refinarias, linhas de transmissão e gasodutos já sofreram as consequências das mudanças globais. Os motivos são claros: aumento de temperatura, diminuição na disponibilidade de água e condições climáticas extremas, com tempestades, aumento do nível do mar e enchentes.

Chamado "Vulnerabilidades do setor elétrico a mudanças climáticas", o relatório dá vários exemplos dos desafios a serem enfrentados pelos EUA — e pelo mundo — para encontrar a matriz energética adequada para o futuro. Em 2010, por exemplo, a bacia do Rio Columbia, no estado de Washington, assistiu a uma diminuição significativa de seu nível de água, o que prejudicou a geração da usina hidroelétrica local. O resultado: uma perda de US$ 164 milhões em um ano.

Do outro lado do país, em Connecticut, a usina nuclear Millstone precisou desligar um reator por duas semanas porque a temperatura da água usada para resfriar o reator estava alta demais. A perda foi de 255 megawatts hora, ou milhões de dólares.

Segundo aponta o relatório, durante o século XX, os Estados Unidos viram um aumento de [cerca de] 0,8° C em sua temperatura. Julho de 2012 foi o mês mais quente do país desde o início da série histórica, em 1895.

Uma das maiores preocupações do departamento é a escassez de água, muito usada em diversos tipos de usina. As únicas fontes de energia que praticamente não usam o recurso são as eólicas e as fotovoltaicas modernas. As hidroelétricas são, obviamente, as mais afetadas. Outra preocupação é o grande número de usinas localizadas no litoral, o que as torna vulneráveis ao aumento do nível do mar e grandes tempestades.

Alarmante também é o fato de que, com temperaturas cada vez mais extremas, a demanda por energia crescerá, com o uso intenso de ar condicionado.

Mas há luz no fim do túnel. Um estudo citado pelo relatório americano mostrou que, se os Estados Unidos conseguissem que 80% de sua matriz dependesse de fontes de energia renovável (com cerca de metade vindo de solares e eólicas), o consumo de água no setor energético cairia 50%.
 
 Usinas de energia como a de Tucuruí, no Pará, são vulneráveis a flutuações climáticas - (Foto: Fabio Rossi /Fonte: O Globo).


[O relatório do Departamento de Energia americano citado acima informa ainda que:
  • além de ter o mês mais quente do ano desde 1895, o ano de 2012 foi também o mais quente registrado nos EUA desde aquela data;
  • 60% do atual parque de térmicas a carvão dos EUA estão localizados em áreas sob estresse hídrico;
  • aumentam os riscos para infraestruturas energéticas ao longo das costas em decorrência de aumento do nível do mar, aumento de intensidade das tempestades, e surtos mais altos de tempestades e enchentes -- o que afeta potencialmente a produção, refino e distribuição de petróleo, a produção e distribuição de gás, assim como a produção e distribuição de energia elétrica;
  • risco aumentado de interrupção e retardo da distribuição de combustível por ferrovias e barcaças durante períodos mais frequentes de secas e enchentes, que afetam níveis de água em rios e portos;
  • elevação dos custos de ar-condicionado e dos riscos de blecautes totais ou parciais (abre o olho Dona Dilma!!) em algumas regiões, se a capacidade das usinas elétricas existentes não acompanhar a taxa de crescimento da demanda de pico, devido a temperaturas e ondas de calor crescentes. Um estudo do Laboratório Nacional de Argonne concluiu que um pico de demanda elétrica mais elevado em decorrência de aumentos de temperaturas relacionados com mudança climática exigirá um adicional de 34 GW de geração nova, por volta de 2050, apenas no oeste dos EUA, a um custo de US$ 45 bilhões para os consumidores. Isso equivale  aproximadamente a mais de 100 usinas elétricas novas, e não inclui as usinas novas que serão necessárias para acomodar o crescimento populacional e outros fatores.
  • Além de identificar as áreas críticas sob risco por causa de mudanças climáticas e condições climáticas extremas, o relatório explicita também as atividades já em andamento para enfrentar esses desafios e discute oportunidades potenciais para dotar o setor energético de uma capacidade maior de resistência e recuperação. Potencialidades futuras para os governos federal, estaduais e locais poderiam incluir políticas inovadoras que ampliassem o conjunto de tecnologias energéticas disponíveis para resistência e recuperação do ponto de vista climático, estimular sua utilização e distribuição, e aprimorar a coleta de dados e os modelos disponíveis para assim melhorar o nível de informação de pesquisadores e legisladores sobre as vulnerabilidades do setor energético e as oportunidades de resposta a isso. Isso melhoraria também o engajamento de acionistas e interessados do setor. Essas atividades aumentarão a capacidade de resistência e recuperação da infraestrutura energética americana pelo "endurecimento" das instalações e estruturas existentes, para que suportem melhor severas condições de secas, enchentes, tempestades ou incêndios florestais, e contribuirão para o desenvolvimento mais sofisticado de novas instalações.
O site do Departamento de Energia dos EUA indicado acima permite o acesso à integra do relatório ora resumido.]






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