No momento em que a Igreja Católica é desnudada em público, revelando novas facetas de um prontuário que certamente deve deixar excitados nossos congressistas da máfia da ficha suja, nada mais oportuno e recomendável que ler "O Papa de Hitler -- A História Secreta de Pio XII", de John Cornwell, Ed. Imago, 1999.
Embora publicado há 11 anos, o livro continua atualíssimo, permitindo uma impiedosa e muito bem documentada incursão nas entranhas da Igreja Católica por vários papados, com ênfase na formação religiosa e, sobretudo, política de Eugenio Pacelli, o homem que foi eleito papa sob o nome de Pio XII. Desaconselhado para católicos pétreos e pessoas de aparelho digestivo frágil, esse livro mostra atos explícitos de antissemitismo, de manobras políticas de deixar Maquiavel exultante, e de profundo desprezo pelo ser humano (inclusive e, principalmente, os católicos). A história do sequestro de um menino judeu de 6 anos, Edgardo Mortara, pela polícia papal em Bolonha, em 1858, a mando do papa Pio IX é simplesmente de arrepiar, e inacreditável!
Com iniciativas e armações nada ortodoxas (dirão os vaticanistas que ortodoxas são as igrejas grega e russa ...) para imposição do Código do Direito Canônico (CDC), de 1917, do qual Eugenio Pacelli foi um dos principais artífices, os irmãos Pacelli (Francesco, mais velho, e Eugenio) tiveram papel preponderante na expansão do fascismo e do nazismo e, por via de consequência, para a eclosão da Segunda Grande Guerra. Francesco elaborou e negociou, pelo Vaticano, o Tratado de Latrão de 1929 entre a Santa Sé e Mussolini, e Eugenio foi o grande artífice da Concordata do Reich de 1933, entre a Santa Sé e Hitler. Esses dois importantes documentos tinham como objetivo comum a imposição do CDC (com regras draconianas de ingerência papal e da Igreja no ensino religioso e na designação de padres e bispos, entre outros detalhes), através principalmente da mais estrita proibição de qualquer atividade política pelos católicos. Com isto, o Partido Popular, italiano, e o Partido do Centro, alemão, ambos católicos e de alta expressão política, quantitativa e qualitativamente, foram obrigados pelo Vaticano a sair da cena política, criando em cada país um enorme vácuo imediatamente aproveitado pelo fascismo e pelo nazismo, respectivamente.
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