segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Queijos brasileiros, injustamente desconhecidos e pouco apreciados

[O Brasil produz excelentes queijos, em variedades pouco ou nada divulgadas e, por isso, pouco consumidas, o que é uma tremenda injustiça. Parte disso se deve a um certo descaso dos produtores na divulgação do que fazem, parte resulta da concepção arraigada entre nós de que bom mesmo é o queijo europeu e, em especial, o francês. 

Para esta postagem utilizei essencialmente o artigo escrito por Johnny Mazzilli ("Queijos brasileiros"), publicado no n° 4, págs. 34 a 39, da revista "Wine Not?", publicada e distribuída (gratuitamente) pela importadora Winebrands -- o artigo está acessível no site da importadora (www.winebrands.com.br). O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. Todas as fotos resultam de pesquisa pessoal minha e, em sua maioria (incluindo as legendas), são do link Queijaria: conheça alguns dos queijos artesanais 100 ... - Fotos - Uol.   Clique em cada imagem para ampliá-la.]

Às vezes, para expandir nossos horizontes, é preciso olhar para perto. O Brasil é pleno de queijos de grande expressão regional e qualidade, mas o consumidor parece sitiado pelo universo de marcas importadas e queijos industrializados.

Fernando Oliveira é o proprietário de A Queijaria, uma deliciosa loja em São Paulo que oferece dezenas de queijos brasileiros de produtores espalhados pelo país. Ele é entusiasta de produtos brasileiros e viaja o Brasil pesquisando queijos. Conversando com ele, descobrimos que que há muitos produtos regionais de ótima qualidade que permanecem, às vezes por décadas, escondidos sob denominações europeias, a fim de terem melhor aceitação de mercado -- e o mercado ainda está condicionado ao parmesão, grana padano, gorgonzola, gouda, brie, etc. Consumidores brasileiros compram muito em grandes supermercados, territórios dominados por importados e marcas industriais, nos quais essas iguarias regionais jamais são encontradas. Portanto, o brasileiro acaba não tomando conhecimento da variedade e riqueza dos queijos genuinamente nacionais. E não sabe o que está perdendo.

 [Queijos artesanais brasileiros, à venda na loja A Queijaria em São Paulo - (Foto: Google).]

[Serra da Canastra, Araxá, Serrano, Salitre, Petrolina e Serro: a elite dos queijos artesanais brasileiros. Produtos famosos nas suas regiões de origem (Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco e interior de São Paulo) e queridinhos dos chefs de cozinha, começam a ganhar espaço no mercado nacional - (Foto: Leonel Soares/UOL).]

Fernando cita, dentre tantos exemplos, um espetacular queijo salgado com toque agridoce, produzido desde 1938 na Serra da Conquista, região de Caxambu (MG). Para ser aceito no mercado, foi batizado de de parmesão [é de doer!], mas é um queijo distinto e muito próprio. "É preciso acabar com essa sensação de inferioridade e defender nomes e valores de nossa regionalidade, para fortalecer produtores locais", diz Fernando. "Temos queijos exclusivos de altíssima qualidade, e o consumidor brasileiro precisa conhecer para valorizar", completa Fernando.

Uma despretensiosa degustação em A Queijaria mostra um surpreendente painel da produção nacional. Queijos provenientes de microrregiões em diferentes estados; mais do que queijos diferentes uns dos outros, trazem consigo um forte regionalismo, elemento valioso da cultura alimentar em suas origens.

Na bucólica cidade de Cunha, no interior de São Paulo, o Café Capril produz um frescal de cabra de sabor e textura surpreendentes, além de outros excelentes queijos de estilos europeus, como Boursin e Moleson. Ainda em Cunha, o Sítio do Cume cria búfalas e produz um exclusivo provolone defumado. Licença dada ao fato de o provolone ser de estilo italiano, o leite de búfala e a defumação o diferenciam e distanciam de seu congênere europeu.

Eduardo Melo produz, na cidade mineira de Serro, uma iguaria rara e surpreendente, o queijo Serro, de casca fosca amarela avermelhada, massa cremosa, ácido, picante e discretamente salgado, que permanece em cura por seis meses. De Campos das Vertentes, interior de Minas Gerais, vem o delicioso Catauá, muito conhecido como Queijo da Mantiqueira. De Araxá vem o Araxá, um queijo elaborado com leite de gado alimentado somente com cana de açúcar. Em São Roque de Minas, Zé Mário produz o cobiçado Queijo Serra da Canastra, com três meses de cura, de casca lisa amarelada, massa seca, compacta e levemente picante. E somente na Serra da Canastra há mais de mil produtores. Da Serra do Salitre (MG) vem o queijo de mesmo nome, deliciosamente picante e salgado. De Campo Redondo, região mineira de Itamonte, vem o saboroso Campo Redondo, um queijo de textura pastosa, discretamente adocicado quando jovem, mas uma vez maturado torna-se mais salgado com fundo doce.

 [Queijo Serro - (Foto: Google).]

[Queijo Catauá, ou Queijo da Mantiqueira - (Foto: Google).]

 [O Catauá, é um queijo da região de São João del-Rei (MG). De sabor mais suave, vai bem a qualquer hora do dia, inclusive no café da manhã -- (Foto: Leonel Soares/UOL).]


Queijo Araxá - (Foto: Google).

[Queijo da Serra da Canastra curado - (Foto: Google).]

[O Serro, originário da cidade e região do Serro, em Minas Gerais, tem sabor mais picante que fica ainda mais acentuado com o tempo de cura - (Foto: Leonel Soares/UOL).]


[Campo Redondo é um queijo feito na região de Itamonte (MG). É curado na salmoura e por isso é ideal para ser consumido mais maduro, como um parmesão. Tanto que Inicialmente era conhecido como parmesão da Mantiqueira - (Foto: Leonel Soares/UOL).]

O Serrano, por sua vez, é um queijo produzido exclusivamente por pecuaristas familiares dos Campos de Cima da Serra (RS) e na Serra Catarinense, com tradição histórica que remonta ao século 18, auge da atividade tropeira. Dos Campos de Cima da Serra partiam tropas de mulas carregadas de Serrano, à época o principal produto de abastecimento alimentar das famílias rurais.


[Queijo Serrano, produzido exclusivamente por pecuaristas familiares no Rio Grande do Sul e na Serra Catarinense - (Foto: Leonel Soares/UOL).]

Minas Gerais sempre foi um estado bem aquinhoado quando o assunto são os queijos de leite cru, produzidos em toda parte, mas o Nordeste do país, notadamente Pernambuco, vem mostrando que também tem tradição e qualidade. Em Pombos (PE), Dona Vitória Barros produz o Flor de Mandacaru, uma iguaria que após dois meses de cura tem a casca aveludada, massa mole,mofo branco e sabor suave.

[Entre os queijos pernambucanos, há uma versão do francês camembert chamada de Mandacaru. Cremoso e de sabor intenso. - (Foto: Leonel Soares/UOL).]

Outros bons exemplos de queijos pernambucanos são o Suape, o Petrolina e o Tubira, este último também conhecido como parmesão pernambucano por conta do semelhante processo de produção. Mas, justiça seja feita: o Tubira é um delicioso queijo regional de características muito próprias, granulado, de consistência firme, seco e de salinidade acentuada.

 [Entre os queijos pernambucanos, o mais tradicional é o de coalho, que para alguns especialistas, é o primeiro queijo do Brasil. Nada é comprovado, mas como os gados leiteiros chegaram ao país pelo Nordeste, suspeita-se que esse seja o pioneiro dos queijos nacionais - (Foto: Leonel Soares/UOL).]

 [O queijo pernambucano Petrolina, inspirado no Morbier da França, é marinado no vinho e recheado com bolinhas também marinadas na bebida - (Foto: Leonardo Soares/UOL).]

 [Queijo Tubira, de Pernambuco - (Foto: Leonardo Soares/UOL).]


[Para os amantes de queijos que derretem bem, o Chacrinha é a alternativa pernambucana ao raclete suíço - (Foto: Leonel Soares/UOL).]

[Para Fernando Oliveira, proprietário da Queijaria, de São Paulo (SP), o requeijão pernambucano será a grande aposta dos chefs de cozinha na preparação de pratos. Ele é firme e muito amanteigado. Uma alternativa ao brasileiro catupiry. - (Foto: Leonel Soares/UOL).]


 [Queijos pernambucanos à venda na loja A Queijaria, de São Paulo - (Foto: Google).]

Ainda há obstáculos na legislação brasileira que dificultam a vida de nossos queijos. Há uma lei sanitária no Brasil, datada de 1952 e ainda em vigor, que proíbe a venda interestadual de queijos de leite cru ou não pasteurizados, com prazo de cura inferior a 60 dias. Portanto, queijos de leite cru produzidos, por exemplo, em Santa Catarina, só podem ser consumidos frescos nesse mesmo estado ou então curados por 60 dias para seguirem para outros estados do país. Queijos de leite cru têm potencial para resultar em sabores mais complexos, que se tornam mais estruturados através dos vários processos de cura. Nesse aspecto, a lei representa um enorme obstáculo à expansão dos produtos e do conhecimento sobre os mesmos.

Como tantas coisas no Brasil, chegamos a situações paradoxais: a legislação permite a comercialização de produtos estrangeiros em situações análogas às que proíbe seus congêneres nacionais, e em 1998 o IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional, declarou o processo de produção de queijo mineiro artesanal como Patrimônio Histórico Imaterial Brasileiro. Mas sua comercialização segue sob severas restrições. [Neste parágrafo constatam-se algumas aberrações e incongruências típicas da Patriamada: - i) permitir que, para as mesmas condições de fabricação, o queijo estrangeiro circule mais livremente no país do que o queijo nacional é mais uma demonstração inequívoca do perigo que é somar burrice com complexo de inferioridade; - ii) seria interessante saber por que razão os queijos artesanais do Sul e do Nordeste não receberam ainda do IPHAN o mesmo tratamento dos seus equivalentes mineiros.]

Os queijos brasileiros são uma instigante fronteira para novas possibilidades de combinação com vinhos. Já sabemos quais vinhos vão bem com parmesões, gorgonzolas e goudas. Que tal o saboroso desafio de encontrar boas combinações para catauás, tubiras, salitres e serranos?

[Estranhei e lamentei a omissão no artigo do Johnny Mazzilli dos queijos Catupiry e do Reino. Aí, verifiquei que o Catupiry na realidade é requeijão, e não queijo. Mas, no caso do queijo (do) reino a omissão é realmente lamentável, e não se justifica. O Queijo (do) Reino é com certeza o primeiro produto lácteo brasileiro que se confunde com os primórdios da industrialização profissional de laticínios do país.

O Queijo do Reino surge originário do holandês Edam introduzido pelo mestre queijeiro Alberto Boecke, um holandês que vislumbrou a região da Mantiqueira como uma região propícia para a produção de queijos. Boecke associou-se a Sá Fortes, resultando daí em 1888 a primeira fábrica de laticínios no Brasil, a Companhia de Laticínios Mantiqueira, com equipamentos importados da Holanda e introduzidos pelos mestres queijeiros Gaspar Jong, João Kingma e J. Etienne, que estabeleceram raízes definitivas no Brasil. A expressão "do Reino" era corriqueira e atribuída aos produtos oriundos de Portugal, via de importação de grande parte do que se consumia no país. O tradicional processo de embalagens em latas de folhas de flandres atribui-se ao fato de que os queijos viriam para o Brasil em porões de navios e, portanto, a embalagem na lata os protegeria durante o longo percursop de travessia do Atlântico.

Embalagens típicas do Queijo do Reino - (Foto: Google).


Quadro-resumo dos principais queijos artesanais brasileiros (denominação, origem, leite utilizado, aspecto e características de sabor). Clique na imagem para ampliá-la.]
 

domingo, 4 de agosto de 2013

No governo Dilma, Arno não é liquidificador mas dá suas chacoalhadas

[Como todo governante sem vocação e incompetente para tal, nossa doce e franciscana Dona Dilma tem sido um prato feito para máximas e ditados: mete os pés pelas mãos, troca seis por meia dúzia e tudo que ela toca vira marrom. Seu jeito ioiô de governar é um barato. Do alto de seu estilo monocrático de ser e "governar", ela mexe e remexe mas nunca, ou rarissimamente, desmexe. Entre suas inúmeras trapalhadas nessa primeira metade de mandato, nossa Dama de Ferrugem exonerou em junho passado o secretário executivo do Ministério da Fazenda Nelson Henrique Barbosa Filho, alegadamente por motivos pessoais mas há outros cheiros no ar, e o mercado interno e externo chiou com a falta de transparência do governo (mais uma vez). No vácuo dessa substituição entrou em cena um tal de Arno Augustin, então secretário do Tesouro, petista roxo de carteirinha e de passado/currículo estranho para o cargo. Conforme artigo abaixo de Daniel Rittner, do jornal Valor Econômico de 26/7, esse liquidificador palaciano continua fazendo das suas e, cada vez mais, botando suas unhas ou lâminas de fora. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Arno e os riscos de "argentinização"

Daniel Rittner - Valor Econômico, 26/7/2013

Na Argentina, o governo ajuda quem cedo madruga. Com o congelamento extraoficial de preços sobrevivendo por um fio, a Casa Rosada e os donos de padarias fecharam um importante acordo no início de julho: o pãozinho francês foi tabelado a dez pesos, o equivalente a quase R$ 4, por quilo. Mas isso só vale até as dez horas da manhã.

Depois, o quilo sobe para 18 pesos. Quem não quiser pagar mais caro, no lanche da tarde, tem uma alternativa bizarra: ler a receita de pão caseiro que foi colocada no site da Secretaria de Comércio Interior, comandada pelo secretário Guillermo Moreno, responsável pelo controle de preços.

Trata-se de mais uma das esquisitices locais, que afetam até mesmo o sanduíche mais famoso do mundo. Um acordo informal entre Moreno e o McDonald's, sempre negado oficialmente pela rede de lanchonetes, mantém o preço do Big Mac abaixo ao de outros sanduíches, como o cheeseburguer e o quarteirão com queijo. Por isso, basta entrar em qualquer loja do McDonald's em Buenos Aires para constatar uma situação absurda: não há propaganda nenhuma do famoso nº 1. Quem insiste em pedi-lo fica normalmente esperando no balcão, por alguns minutos, o que desestimula a compra.

O enigma está no Índice Big Mac, divulgado periodicamente pela revista "The Economist", que serve como parâmetro para comparar preços internacionais. Baixando artificialmente seu valor, o governo faz a Argentina sair bem na foto, como um país mais barato, de moeda competitiva em termos reais. Mas há uma lei, a de mercado, que não se consegue revogar. Para driblar o acordo com Moreno e oferecer à clientela algo parecido ao seu carro-chefe de vendas globais, o McDonald's criou um produto singular, vendido em suas lojas portenhas sem controle de preços: o Triple Mac.

A Argentina está longe de uma recessão, ao contrário do que pode sugerir a leitura superficial dos jornais locais, e vive uma crise mais política do que econômica. Mas é certo que se acumulam e se agravam as distorções de todo o tipo em sua economia. Há um cipoal de subsídios para maquiar o custo dos serviços públicos, como energia elétrica e transporte. Os índices oficiais de inflação são tão maquiados que o Fundo Monetário Internacional (FMI), em seus relatórios, coloca um asterisco na linha das tabelas que remete a notas de rodapé. Ali, sempre há um aviso claro: números não confiáveis.  [Ver postagem anterior a respeito.]

A desconfiança já atravessou a fronteira. Em maio, o Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou as finanças do governo Dilma em 2012, com ressalvas. Uma das advertências mais preocupantes é sobre a "argentinização" do Brasil, em razão da falta de credibilidade da política fiscal, com os sucessivos truques e manobras contábeis do secretário do Tesouro, Arno Augustin.

A ingerência de Arno, conhecidamente maléfica para a credibilidade das contas públicas, se estendeu para questões tão diversas como a privatização de aeroportos ou o custo de acionamento das usinas térmicas: tudo o que Arno toca, mesmo quando vale ouro, se transforma em pedra. Como um alquimista ao revés.

Em 2012, após um leilão de aeroportos cujo resultado frustrou a presidente Dilma, o secretário deu a ideia de atrair operadores estrangeiros para uma parceria com a Infraero em que a estatal continua majoritária no Galeão e em Confins. O plano de Arno não sobreviveu à ida de um grupo de ministros à Europa, para sondar grandes operadores, que abominaram a ideia. Dilma decidiu seguir em frente nas privatizações, mas perdeu-se um tempo precioso: quem assumir o Galeão, por exemplo, mais uma vez terá que brigar contra o relógio para ampliar o aeroporto antes de um megaevento esportivo, a Olimpíada de 2016, repetindo a correria dos novos terminais para a Copa do Mundo de 2014.

Arno dá outros palpites na aviação. Sugeriu a criação de um sistema de subsídios a voos regionais, que nenhum técnico consegue implementar, sete meses após o anúncio. E continua a barrar discussões sobre o aumento do capital estrangeiro nas companhias aéreas, ainda limitado a 20% das ações com direito a voto, cujo aumento já tinha consenso no governo Lula [o NPA - Nosso Pinóquio Acrobata].

Deve-se ao secretário a fixação do bônus de assinatura do campo de Libra, no primeiro leilão do pré-sal, em R$ 15 bilhões. Para elevar o superávit primário deste ano, diminuiu o retorno futuro do pré-sal, exatamente o contrário do que propagandeava o governo.

Arno também resolveu entrar no setor elétrico, que funcionava com relativa tranquilidade. Para corrigir um problema importante, que é a corrosão da competitividade industrial pelos altos custos da energia, Arno transformou o setor em uma colcha de retalhos. Primeiro, abriu o caminho para antecipar os recebíveis da Itaipu Binacional para bancar a redução das contas de luz - ideia que comprometia as contas dos próximos dois governos e felizmente abandonada.

Depois, costurou com o Ministério de Minas e Energia uma nova fórmula de rateio dos gastos com as usinas térmicas, acionadas a plena carga no primeiro semestre. Dividiu o pagamento das termelétricas, que antes cabia aos consumidores residenciais (das distribuidoras) e industriais (livres), entre geradoras e comercializadoras. É como se alguém fosse jantar no restaurante mais caro da cidade e, na hora de pagar a conta, chamar [sic] o garçom, o maître e o cozinheiro para o rateio. Com essa nova fórmula, o setor elétrico mergulhou em uma judicialização sem precedentes desde o racionamento de 2002.

Discretamente, Arno atua na formatação do programa das concessões de infraestrutura, em uma postura de conflito com os empresários. Talvez esteja na hora de distribuir um pouco melhor o bombardeio sobre o ministro da Fazenda.




Equipe francesa de natação culpa turbilhonamento por resultados "discutíveis" no campeonato mundial de Barcelona

[No esporte, como em praticamente tudo em que se metem, os franceses não conseguem se descartar de sua mentalidade de Obelix. Quando em desvantagem (principalmente, mas não unicamente), reagem com a mesmíssima sutileza física e idêntica acuidade mental que o simpaticíssimo -- gaulês, não exatamente francês -- melhor amigo de Asterix. No campeonato mundial de natação que se encerra hoje em Barcelona, na final dos 50 m nado livre ontem (vencida por Cesar Cielo) o francês Florent Manaudou, que havia sido o mais rápido das semifinais e é o atual campeão olímpico da prova, ficou fora do pódio, apenas na quinta colocação, com 21s64, atrás também do norte-americano Nathan Adrian, que marcou 21s60. A prova é uma das mais emblemáticas da natação mundial. Até ontem, a França havia conseguido importantes medalhas de ouro e recordes, e não havia chiadeira dos "bleus" -- mas, a perda dos 50 m foi demais para o orgulho tricolor e aí surgiu a teoria da conspiração tecnológica levantada pela turma do foie gras, como informa a reportagem que traduzo abaixo, publicada hoje no jornal francês Le Monde. Pode ser até que desta vez tenham se mostrado algo mais inteligentes que o gaulês, mas a rapidez e a sutileza foram tipicamente as de Obelix.]

Segundo nossas informações, os dirigentes da equipe francesa constataram que em certas raias da piscina oficial os nadadores percorriam suas extensões mais rapidamente num sentido do que no outro. A final masculina dos 50 m, entre outras provas, pode ter sido decidida por critérios outros que não só o da natação.


O Mundial de Natação de 2013 se encerra nesta tarde de domingo em Barcelona e, no entanto, ter-se-á talvez que esperar um pouco antes de se conhecer o verdadeiro quadro de medalhas. A validade do pódio de várias provas que nele ocorreram durante uma semana parece duvidosa por um motivo tão raro quanto absurdo: certas raias parecem garantir um nado mais rápido em um sentido que no outro. Explicações. 

Na manhã de hoje, no coração do Palau Sant Jordi [Palácio São Jorge] que acolhe a competição, ocorria a entrevista com a imprensa dos dirigentes da equipe francesa de natação. Francis Luyce, presidente da Federação, Lionel Horter, diretor técnico nacional (DTN), e Romain Barnier, treinador-chefe, apresentavam ali o balanço que efetuaram dos desempenhos dos "Azuis" no Mundial.

"Lhes solicitamos parar os motores"

Por volta de 12h30, no momento em que essa entrevista com a imprensa termina para dar lugar à dos dirigentes da Federação Internacional de Natação (FINA), Francis Luyce e os jornalistas franceses saem mas Lionel Horter e Romain Barnier permanecem na sala. Acabam se encontrando com o romeno Cornel Marculescu, diretor executivo da Fina, e travam com ele uma conversa com a participação também da ex-nadadora francesa Roxana Maracineanu, presente em Barcelona como consultora de France Télévisions.

"Tudo o que lhe solicitamos", diz calmamente Lionel Horter a Cornel Marculescu, "é que parem os motores durante as finais deste pós-meio-dia". O DTN francês parece sugerir que o sistema de filtragem e de limpeza da água, alimentado por uma bomba ativada por uma turbina, tinha uma influência sobre a velocidade dos nadadores em certas raias da piscina. "Não estou convencido", responde ceticamente Cornel Marculescu. "Veremos". Precedido de Romain Barnier, Lioner Horter deixa então a sala sem mais explicações.

Roxana Maracineanu permanece na sala e prossegue com a conversa com o n° 2 da FINA em romeno, que ela fala fluentemente. Alguns instantes mais tardes, ele pede licença a Cornel Marculescu, procura folhas de resultados de provas disputadas em Barcelona, coloca-as sobre uma mesa e se põe, com uma caneta verde, a sublinhar freneticamente vários dados cronométricos.

Lionel Horter e Romain Barnier desapareceram mas Luyce está lá, no centro de imprensa. Pede-se-lhe uma explicação, e ele a dá: "Romain (Barnier) e Lionel (Horter) verificaram que em certas provas os nadadores das raias 1, 2 e 3 eram mais rápidos em um sentido, e os das raias 6,7 e 8 no outro sentido. Isso seria causado por um turbilhonamento provocado na piscina pelo sistema de turbinas". Francis Luyce ilustra suas palavras com um desenho com a seguinte aparência:

(Foto: Le Monde).

As setas horizontais indicam os sentidos em que levam vantagem os nadadores das raias superiores e inferiores da piscina. As bombas turbinadas, que seriam a origem de um movimento da água ínfimo e mal visível a olho nu, mas que acarreta uma corrente turbilhonante em torno da piscina, estão colocadas na parte interna das paredes da piscina a 2 m de profundidade ao longo de toda a extensão da raia "0" (acima da raia 1) e da raia 9 (abaixo da raia 8). Há cerca de uma dezena dessas bombas em cada lado da piscina.

Raia 8, a direção dos pódios?

A verificação feita com os tempos detalhados das finais dos 800 m e dos 1.500 m para mulheres e dos 800 m para homens (a prova masculina dos 1.500 m será nadada hoje à tarde) alimenta a dúvida: de maneira quase sistemática, os nadadores e nadadoras posicionados nas raias 1, 2 ou 3 nadavam alguns décimos de segundo mais rápidos quando percorriam a piscina da direita para a esquerda do que quando o faziam da esquerda para a direita. Ao contrário, os(as) nadadores(as) colocados nas raias 6, 7 e 8 foram mais rápidos(as) ao nadarem da esquerda para a direita.

Por exemplo, na final dos 1.500 m para mulheres a americana Chloe Sutton, posicionada na raia n° 1 nadou suas idas da direita para a esquerda em
32s093 em média e seus retornos (da esquerda para a direita) em 32s544. Na mesma prova, a chinesa Danlu Xu, na raia 8, nadou suas idas em 32s252 em média e seus retornos em 31s777. Em resumo, Chloe Sutton nadou um meio segundo mais rápido quando seguiu da direita para a esquerda, e Danlu Xu um meio segundo mais rápido no sentido oposto. O mesmo se verifica nas finais feminina de 800 m e masculina de 800 m.

É sobretudo nas provas de 50 m, que são nadadas portanto em apenas um sentido, da esquerda para a direita, que essa história de turbilhonamento pode ter tido a maior influência, tendo em vista que certos atletas nadarão toda a extensão da piscina contra a "corrente" -- mesmo que se trate de uma corrente muito moderada. Assim, nas cinco finais de 50 m disputadas até agora (nado livre, borboleta e peito para os homens; costas e borboleta para as mulheres), o(a) nadador(a) posicionado(a) na raia 8 subiu quatro vezes ao pódio (2 medalhas de prata, 2 de bronze). Nas 5 provas, o(a) nadador(a) da raia n° 1 se classificou 3 vezes em último (incluindo aí o francês Florent Manaudou nos 50 m borboleta), e 2 vezes em penúltimo. Nitidamente, para subir em um pódio de uma prova de 50 m em Barcelona valia mais a pena nadar na raia 8 do que na raia 1 -- é bom lembrar que, nas finais, essas duas raias são ocupadas pelos nadadores que lograram os piores tempos nas semifinais.

O pódio dos 50 m livres para homens, uma prova seguramente muito aleatória, foi sem dúvida particularmente surpreendente. Seus três lugares foram ocupados, começando pelo mais elevado, por nadadores posicionados nas raias n° 6 (Cielo, o que não é anormal), n° 7 (Morozov, ainda passa) e n° 8 (Bovell, mais surpreendente).

"Os americanos também constataram que ali havia algo", nos soprou ainda Luyce. O nadador americano Nathan Adrian, quarto dos 50 m nado livre (raia n° 3), a 11 centésimos da medalha de bronze de Bovel (raia 8), a 13 centésimos da medalha de prata de Morozov (raia 7) e a 28 centésimos do ouro de Cielo (raia 6) pode ter perdido uma medalha por razões alheias a ele.

Contatado por telefone, Cornel Marculescu, solicitado a abordar essa questão respondeu (em francês): "Não sei o que lhes foi dito, mas não há problema".

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PS - O questionamento de resultados em Barcelona, relatado acima, só constou do Le Monde. Os demais jornais franceses de destaque, como por exemplo o Le Figaro, o Libération e o Le Nouvel Observateur não publicaram uma linha sequer sobre o assunto, assim como os espanhóis El País e El Mundo.






Manifestações recentes da Igreja Católica e do Judaísmo sobre o homossexualismo

Em sua recente visita ao Brasil para a JMJ (Jornada Mundial da Juventude), o Papa Francisco surpreendeu a todos -- dentro e fora da Igreja -- ao afirmar:
"Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?". Essa foi, sem dúvida, uma afirmação impactante, mas é bom analisá-la friamente sobre o pano de fundo que cercou e ainda cerca a ascenção desse novo Papa.
Francisco foi antecedido por dois Papas, João Paulo II (durante 27 anos) e Bento XVI (8 anos), absolutamente coniventes e cúmplices por ação e/ou omissão com uma situação endêmica de pedofilia e de homossexualismo adulto envolvendo cardeais, bispos e padres praticamente em todos os canto do planeta. As quase quatro décadas de poder de seus dois antecessores são uma migalha na trajetória milenar da Igreja Católica Apostólica Romana, e as provas contundentes e irrefutáveis apontam para o Papa Francisco um pano de fundo de século(s) daquelas práticas criminosas.  Antes de sua eleição, vítimas de pedofilia na Igreja divulgaram uma lista negra de cardeais "papáveis".

Mal assumiu, o Papa Francisco se viu confrontado com um megaescândalo sobre a existência de um lobby gay no banco do Vaticano. A acusação é de que a pessoa escolhida por ele para liderar a reforma no Instituto para as Obras de Religião (IOR), a instituição financeira da Santa Sé, levou por anos uma vida dupla como diplomata no Uruguai. A revelação coube ao experiente jornalista da revista L'Espresso Sandro Magister. Os relatos sobre o monsenhor d. Battista Mario Salvatore Ricca surgem repletos de escândalos sexuais. Apesar de ser religioso e ocupar o cargo de núncio apostólico, teria oferecido trabalho e casa a um capitão da Guarda Suíça, com quem mantinha um caso. Com frequência seria visto em bares com ele e até chegou a ser espancado.
Diante desse quadro, não me espantaria que esse novo Papa, ao fazer sua afirmação sobre os gays, esteja preparando uma saída honrosa e "canônica" para os gays de batina de sua Igreja. A menos que a Igreja mude visceralmente sua concepção de sacerdócio, gay de batina definitivamente é inadmissível -- e, muito menos, acobertado pelo Vaticano.
Uma tônica do papado atual é a bandeira do ecumenismo, com a defesa do diálogo entre as diferentes religiões. No entanto, essa questão dos gays pode ser um impasse para esse diálogo, pelo menos no caso do judaísmo, como mostra a reportagem abaixo do jornal israelense Haaretz ("A Terra" ou "O País", em hebraico) publicada ontem. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Grande Rabino de Madri: gays são "pervertidos" que necessitam de reeducação -- Haaretz, 03/8/2013

O Grande Rabino, ou rabino principal, de Madri, Moshe Bendahan, disse que os gays são "pervertidos" [em inglês "deviants", que tem também a acepção de "anormais"] que devem ser reeducados, e chamou de "monstruosos" os casamentos de pessoas de mesmo sexo.

"Homossexualismo é um desvio de natureza", Bendahan é citado como tendo dito ao site de notícias online Religião Digital em uma entrevista publicada quarta-feira. "É uma tendência antinatural e um pecado. Permitir e concordar com o que é conhecido como "casamento gay" seria uma montruosidade".

Em alguns anos recentes, vários rabinos seniores no oeste da Europa tiveram problemas por causa de seus comentários sobre os gays. Em janeiro de 2012 o Grande Rabino de Amsterdã, Aryeh Ralbag, foi suspenso por um breve tempo pela direção da comunidade judia por ter coassinado uma declaração que descrevia a homossexualidade como uma inclinação da qual se pode ser "curado".

Gilles Bernheim, ex-Grande Rabino da França, criticou os efeitos sociais das uniões de mesmo sexo em um documento polêmico de 2012 e escreveu que "a visão bíblica de parceria romântica" aplica-se "exclusivamente entre homens e mulheres". Mas, ele condenou também "ataques físicos e verbais contra os gays com a mesma intensidade com que condeno os ataques antissemitas".

Na entrevista com a Religião Digital, Bendahan é também citado como tendo dito que "o planejamento de Deus não conhece outra parceria que não seja a de um homem e uma mulher. Os deveres pastorais com relação aos homossexuais estão focalizados em reeducá-los quanto às suas tendências, para fazê-los retornar à normalidade".

Se as técnicas para "curar" os gays de suas tendências sexuais falharem, disse ele, "não excomungamos os homossexuais de nossas comunidades mas continuamos a acreditar em sua conversão. A Bíblia é e tem sido sempre nosso protocolo, nosso ponto de referência".

 Vários rabinos seniores da Europa Ocidental tiveram problemas por seus comentários sobre os gays, incluindo o Grande Rabino de Amsterdã Aryeh Ralbag. - (Foto: Haaretz).

[O relato acima é decepcionantemente surpreendente sobre a posição de membros importantes do rabinato judeu em relação ao homossexualismo. Por mais incrível que pareça, o "kit cura gay" do "pastor" Marco Feliciano teria enorme chance de ser aprovado e adotado em Israel!]


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Reduzido à sua real e verdadeira grandeza, Sérgio Cabral agora cogita de cancelar concessão do Maracanã

[Depois que o povão resolveu jogar as aparências p'ro alto e desmascarar/desnudar os políticos e a politicalha que andam soltos, o que mais se vê agora é um barata-voa que varre palácios e gabinetes. No Estado do Rio, o governador Sérgio Cabral já não sabe o que fazer para tirar a turba de seu cangote e recuperar sua "popularidade".  Seus vizinhos no Leblon querem desterrá-lo para o novo bairro que seu amigo Eduardo Paes diz que vai construir em Guaratiba, no terreno-aquário que se destinava à Jornada Mundial da Juventude (os futuros moradores receberão, no habite-se, pés de pato e uma boia para cada familiar). Cabral chegou a fazer uma confissão patética, dizendo que não sabia de nada, que reconheceu não dialogar com ninguém -- também, pudera, o coitado chegou ontem de Marte via Paris, no jatinho do Cavendish. 

Nos seus espasmos para ver se aplaca a ira das ruas, Cabral já desisitiu de demolir o estádio de atletismo Célio de Barros e agora, segundo a Folha de S. Paulo de hoje, cogita de cancelar a concessão do Maracanã, como se lê abaixo.]

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), estuda cancelar o contrato de concessão do Maracanã. A ação faz parte dos recuos feitos pelo peemedebista para tentar conter sua queda de popularidade após uma série de manifestações.
A drástica mudança em relação ao futuro do estádio, palco da final da Copa do Mundo, é consequência das recentes mudanças de planos do governo para o entorno do estádio. 

Cabral já decidiu manter o parque aquático Julio Delamare e quer anunciar na manhã desta sexta-feira (2) uma reforma no estádio de atletismo Célio de Barros sem demolí-lo.

Enquanto a equipe do governador vê nas mudanças uma forma de responder às manifestações e conter sua queda de popularidade, o gestor do estádio calcula prejuízos por limitar a exploração comercial do espaço no entorno. No planejamento inicial, os dois equipamentos esportivos viriam abaixo para abrir espaço para a construção de estacionamentos, lojas e um heliponto. Eles seriam explorados economicamente pela concessionária. 

O governador foi ferrenho defensor da demolição dos equipamentos para abrir espaço no entorno do estádio. A alegação era de que a arena não seria economicamente viável sem atividades econômicas em seu entorno. Pretendia-se aplicar no Maracanã o conceito do "dia de jogo", no qual os torcedores passariam mais tempo no local, consumindo nas lojas, bares e restaurantes.

Ao vencer a licitação, o consórcio Complexo Maracanã Entretenimento S.A. se comprometeu a realizar investimentos da ordem de R$ 594 milhões. Dentro do custo estava a demolição dos dois equipamentos e a construção de centros de treinamento num outro local para substituí-los. A guinada de Cabral surpreendeu aos empresários.

Convidado para a reunião da manhã de hoje, para definir o futuro do Célio de Barros, o presidente do consórcio Maracanã, João Borba, não confirmou sua presença. Participam do encontro além de Cabral, o presidente da Federação de Atletismo do Rio, Carlos Alberto Lancetta, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), e o secretário de Esporte e Lazer, André Lazaroni.

O contrato assinado entre a concessionária e o Estado prevê seis possibilidades para término do contrato. A cláusula que deve ser usada será a de encampação, na qual o governo retoma a concessão "com a finalidade de atender o espaço público". 

Obras no Maracanã

Projetada para dar uma volta completa no complexo esportivo do Maracanã, nova ciclovia acaba em um muro - (Foto: Marco Aurélio Canônico/Folhapress).

Trânsito nos arredores do Maracanã; Prefeitura do Rio decreta várias medidas para evitar caos no entorno do estádio - (Foto: Ricardo Moraes/Reuters).

Entorno do Maracanã com obras às vésperas de receber a partida entre México e Itália, pela Copa das Confederações - (Foto: Ricardo Moraes).

 Entorno do Maracanã com obras às vésperas de receber a partida entre México e Itália, pela Copa das Confederações - (Foto: Ricardo Moraes).

Entorno do Maracanã com obras dois dias antes do amistoso entre Brasil e Inglaterra - (Foto: Daniel Marenco/Folhapress).

Entorno do Maracanã com obras dois dias antes do amistoso entre Brasil e Inglaterra - (Foto: Daniel Marenco/Folhapress).

 Obras do lado de fora do Maracanã dois dias antes do amistoso entre Brasil e Inglaterra - (Foto: Vanderlei Almeida/AFP).

Catracas do Maracanã - (Foto: Érica Ramalho/Divulgação).


Foto de Dilma assusta PT

A foto abaixo, recentíssima, da nossa doce, afável, terna e agora franciscana Dona Dilma deixou o PT em polvorosa e movimentou todos os inúmeros especialistas em ciências do comportamento no partido, a ala "psi" dos petistas (psicólogos e psiquiatras), NPA, José Dirceu e demais xamãs da estrelinha: afinal, qual é a mensagem da ex-guerrilheira?! E o Brasil com isso?

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Dona Dilma quis politizar a visita do Papa e se deu mal

[Traduzo a seguir o artigo de hoje do respeitado jornalista Juan Arias, do jornal espanhol El País. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Durante a visita do Papa Francisco a seu país, a presidente Dilma Rousseff insistiu em criar com o Vaticano uma aliança contra a fome no mundo mas o pontífice, segundo pôde saber este jornal, não quis que seu encontro com dois milhões de jovens de todo o mundo se convertesse em um presente para o governo brasileiro. Dilma sabe que Francisco é conhecido como "O Papa dos pobres" e desejava levar adiante seu projeto, aproveitando-se da insistência desse pontificado numa maior aproximação da Igreja às necessidades dos mais desvalidos. Não teve êxito.

"Quem melhor que o Brasil para apresentar-se ante o Papa com as devidas credenciais, com um governo que tirou 30 milhões de pessoas da pobreza?", se perguntou Dilma. Assim, o Brasil chegou a propor ao Vaticano que convertesse em uma viagem de Estado a vinda do Papa ao Brasil por conta da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Desse modo, Francisco teria que ir a Brasília, sede do poder, e fazer uma visita oficial à presidente Dilma.

O Papa preferiu manter sua visita como "pastoral", sem compromissos políticos. O sonho de Dilma era ter podido anunciar, ao lado do Papa Francisco, uma aliança entre o Brasil e o Vaticano para uma espécie de cruzada no mundo contra a pobreza, sobretudo nos países africanos com os quais o Brasil mantém relações especiais por razões históricas.

O Vaticano, com a grande experiência diplomática que o caracteriza, fez saber que não costuma fazer essas alianças com governos. Isso foi confirmado no Rio por Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano. Após reconhecer que existem "pontos de sintonia" entre o governo do Brasil e o Vaticano na luta contra a fome e a pobreza, Lombardi encerrou a questão: "Não existe nenhum compromisso nesse sentido".

No entanto, a diplomacia do governo Dilma não se deu por vencida e, apesar das negativas recebidas do Papa Francisco, insistirá em poder apresentar ao mundo algum tipo de acordo entre o Brasil e o Vaticano. Para começar, o Brasil vai insistir em apresentar-se em todos os organismos internacionais, a começar pela ONU, como próximo e se possível aliado do Vaticano em políticas sociais.

A negativa do Vaticano de apresentar uma aliança conjunta com o governo brasileiro foi justificada oficialmente com a excusa de que a Santa Sé não faz esse tipo de acordo com governos concretos. No entanto, no rechaço do Papa à proposta de Dilma -- que, ao que parece, foi inspirada pelo ex-presidente Lula --  houve mais coisa. O Vaticano possui o melhor serviço de informação e inteligência do mundo, como já afirmou o famoso caçador de nazistas Simon Wiesenthal.

Nesse caso do Brasil, o Papa Francisco havia recebido informações de primeira mão e pessoalmente sobre o momento em que vive o país, com uma parte da sociedade saindo às ruas pedindo por melhoras sociais; o momento de debilidade do governo, em que a popularidade da presidente Dilma acabava de despencar, e as polêmicas internas dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) que, depois de dez anos no poder e com não poucos êxitos sociais, se encontra em um de seus momentos menos gloriosos.

Fontes tanto do mundo político como do eclesiástico confirmaram a este correspondente que Francisco, que sempre defendeu que a Igreja deve comprometer-se com a política, mas apenas com a de "P" maiúsculo (ou seja, não com a dos partidos), não quis que o grande acontecimento de seu encontro com dois milhões de jovens de todos os quadrantes do mundo se transformasse em uma imagem favorável para o governo do Brasil.

De fato, Francisco, que deixou evidente que aprecia os esforços que o Brasil está fazendo no campo das conquistas sociais, se manteve durante toda a semana à margem de qualquer compromisso de natureza político-partidária. Nem sequer encontrou minutos de folga para apertar a mão de Lula, não apenas uma das figuras políticas mais importantes do país como também de grande projeção internacional.

Quando a presidente Dilma, em seu encontro a portas fechadas com o Papa, lhe perguntou se gostaria de aproveitar sua permanência no Brasil para encontrar-se com "alguma personalidade" que não conhecesse, a resposta desta vez muito jesuítica do Papa foi: "Sim, gostaria de me encontrar com Deus".  [O correspondente espanhol resolveu aqui, à sua maneira, propagar a piadinha que corre pela Internet -- o Papa quis encontrar-se com Deus por ser Ele brasileiro.]

Dilma percebeu muito bem que o Papa Francisco enlouqueceu os brasileiros de todas as crenças por duas coisas muito concretas: sua aproximação física com as pessoas, no que ele chamou de "teologia do encontro", e sua falta de medo em sair às ruas com o mínimo de proteção possível. E ontem mesmo, a mandatária brasileira em pleno centro de São Paulo, quebrando o protocolo, surpreendeu a todos descendo do carro oficial e passeando pela rua, abraçando e beijando as pessoas. Na imprensa, esse fenômeno está sendo chamado de "contágio franciscano".  [Seria interessante conhecer o quadro clínico e emocional da nossa doce ex-guerrilheira depois desse passeio demagógico.]