segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Site árabe reclama de hipocrisia na Rio 2016: mulheres criticadas por usarem hijab e minissaia

[A Rio 2016, já de saudosa memória, foi um show de belezas naturais e humanas, uma convivência exemplar de esportistas de todos os cantos do planeta (com algumas exceções ridículas, como a do judoca egípcio que se recusou a apertar a mão de seu vencedor, um judeu), o amor gay entre atletas exposto como nunca se viu, a beleza do Rio e a simpatia dos brasileiros finalmente escancaradas para bilhões de pessoas -- enfim, o mundo vai ter que rever inúmeros conceitos gratuitamente negativos que tinha sobre o Brasil e o Rio. Como nota lamentável, a atitude idiota de um nadador americano famoso e babaca que quis nos sacanear e denegrir com mentiras e invenções, quebrou a cara e se consolidou como um palhaço (agora mais pobre, porque perdeu todos os seus patrocinadores depois de sua babaquice). 

Mas houve também momentos exemplares de tolerância pelo público brasileiro, como no caso do vôlei de praia com uma das jogadoras egípcias usando o hijab e o da atleta americana usando o véu islâmico. Mas o site árabe The New Arab não gostou da reação de parte do público e da mídia internacional com relação ao hijab usado pela voleibolista egípcia e chamou-a de "hipócrita". Traduzo a seguir o artigo do The New Arab. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Hipocrisia na Rio 2016: mulheres denegridas por causa de hijab e minissaia - Os regulamentos quanto aos uniformes foram abrandados pela Federação Internacional de Vôlei antes dos Jogos Londres 2012 - (Fotos: The New Arab)

A foto de uma atleta vestindo o hijab na Olimpíada do Rio causou excitação nas redes sociais. Ao mesmo tempo, uma comentarista esportiva britânica foi criticada por usar uma "roupa reveladora". 

Uma imagem notória dos Jogos Olímpicos, até agora, foi a de um de um jogo de vôlei de praia feminino entre Egito e Alemanha, que pôs em confronto a conservadoramente vestida Doaa al-Ghobashy contra Kira Walkenhorst, de biquini. Isso foi rotulado por muitas mídias da direita como um "choque de culturas" entre o Ocidente e os muçulmanos. 

O tabloide de direita do Reino Unido (RU) The Daily Mail, amante do biquini, fez uma extensa cobertura do jogo de domingo com a manchete: "As cobertas contra a descobertas: as jogadoras de vôlei de praia feminino egípcias e alemãs ressaltaram a maciça divisão cultural entre as equipes femininas ocidentais e islâmicas". 

The Sun, um tabloide infame por seus artigos sensacionalistas sobre imigrantes e "Islã radical", imitou o The Daily Mail: "CHOQUE CULTURAL nos Jogos Olímpicos Rio 2016: o jogo de vôlei de praia Egito x Alemanha mostra divisão cultural colossal entre duas equipes".

No site de notícias Reddit, muito popular como órgão de agregar pessoas, a foto foi publicada na primeira página com a legenda: "diferenças culturais". 

Não surpreendentemente, como é o caso com a maioria dos temas relacionados ao islamismo, as seções de comentários de leitores desses artigos eram na maioria dos casos de retórica islamofóbica. Alguns chamaram a atleta egípcia de "oprimida" e demandaram que ela mostrasse mais pele. 

Os regulamentos sobre uniformes foram relaxados pela Federação Internacional de Vôlei antes dos Jogos Londres 2012, de modo que mais atletas -- que, de outro modo, poderiam ficar impedidos ou desinteressados por causa dos biquinis e bermudas padronizados -- fossem encorajados a participar das competições. As novas regras permitiram que mulheres usassem shorts, blusas de mangas compridas e roupas inteiriças para o corpo. Muitas jogadoras não-islâmicas optaram pelo uso da roupa inteiriça. 

A comoção sobre sua escolha de vestimenta no entanto não constrangeu Ghobashy, que disse à mídia após perder de 2-0 para a Alemanha: "Tenho usado o hijab há dez anos. Ele não me impede de fazer coisas que amo fazer, e o vôlei de praia é uma delas". 

Enquanto isso, de volta ao RU, enquanto um debate furioso se desenrolava online sobre diferenças culturais entre o Ocidente e o Islã, a roupa da apresentadora na cobertura da BBC sobre as Olimpíadas deflagrou ainda outra discussão barulhenta sobre os corpos das mulheres. 

Alguns espectadores consideraram o vestido de Helen Skelton muito curto e inadequado. Helen Skelton tornou-se um dos assuntos mais comentados online, depois que alguns observadores consideraram que seu vestido durante a cobertura da natação mostrava carne demais. Alguns usuários do Twitter viram logo a hipocrisia da situação. 

[Acho que o problema está em levar muito a sério a expressão "choque cultural", o melhor seria chamar isso simplesmente de "convívio de culturas diferentes". Queiram ou não os árabes, não há como nós ocidentais não estranharmos o estilo de vestir imposto (ou não) às mulheres muçulmanas -- desde que isso não se transforme em preconceito e agressões, não vejo problema algum. A esgrimista Ibtihaj Muhammad, primeira americana a competir vestindo o hijab,na Rio 2016, diz não se sentir segura em seu próprio país

Nós ocidentais temos também certas idiossincrasias quanto a certos comportamentos, e vimos isso na Rio 2016. A atleta americana Gabby Douglas foi duramente criticada nas redes sociais por não ter colocado a mão no peito durante a execução do hino americano. Os atletas brasileiros, homens e mulheres, são obrigados pelos militares a prestar continência à bandeira nacional quando no pódio, o que acho um tanto ou quanto esdrúxulo. Assim caminha a humanidade.]

Nenhum comentário:

Postar um comentário