quinta-feira, 11 de agosto de 2016

7 gestos brasileiros cujo significado os não-brasileiros não conseguem adivinhar

[Um artigo interessante de Sarah Luisa Santos, que traduzo a seguir. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Por que os brasileiros usam tantos gestos com as mãos? Esse é um hábito exclusivamente brasileiro? Eis 7 gestos comuns dos brasileiros que podem não ser facilmente entendidos/traduzidos.




Nós brasileiros somos famosos por sermos expressivos -- não simplesmente ou apenas verbalmente, mas gestualmente (afinal, o que é a música sem um pouco de dança junto com ela?). Então, de onde vem esse nosso talento para falar com as mãos? Talvez o tenhamos herdado de nossas bisavós italianas (houve várias ondas de imigração italiana para o Brasil ao longo do ultimo século e meio); ou talvez ele venha de nossas raízes mais antigas, africanas e portuguesas. Uma coisa é certa: nós brasileiros inventamos muitos gestos que são exclusivos de nosso país.

Morar em Berlim -- uma cidade com uma cultura que honesta e sinceramente posso dizer é oposta à da minha cidade natal, São Paulo -- me permitiu observar nosso comportamento de uma distância imparcial (é isso mesmo, eu disse observar, como se fosse antropóloga ou algo assim). O contato diário com outras culturas -- não apenas com a alemã, mas também com a espanhola, a francesa, a italiana e até com a iraniana -- me propiciou uma nova perspectiva sobre a mentalidade dos brasileiros. Como disse numa vez o grande José Saramago: "você precisa sair da ilha para vê-la".

Foi apenas depois de mudar para a Alemanha que percebi a enorme quantidade de gestos que faço a cada dia (principalmente porque todo mundo me apontava esse fato). E, depois de muitos olhares suspeitos, suposições erradas e mal-entendidos hilários, cheguei à conclusão de que a linguagem não-verbal brasileira nem sempre é traduzível. Ciente de como muitos desses gestos fascinam os não-brasileiros, decidi observar mais de perto esse nosso hábito de gesticular.

Sabemos que isso não é algo apenas brasileiro -- todo mundo faz isso. E embora gestos sejam quase universalmente usados quando se fala, gestos particulares variam de acordo com o contexto cultural e social que os envolve. Algumas nacionalidades gesticulam ferozmente, outras dificilmente o fazem -- e um gesto inofensivo para um grupo pode ser profundamente agressivo para outro.

Em seu nível mais básico ou primário, parece que gestos nos ajudam a pensar. Em um estudo da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, pesquisadores testaram 50 estudantes quanto a vocabulário e memória operativa verbal -- a capacidade de reter, mudar e ajustar palavras em nossas mentes. Entre um teste e outro, foram mostrados clipes de Tom e Jerry e foi-lhes solicitado que descrevessem o que viram. Os estudantes com memória operativa verbal mais pobre (mas por outro lado com vocabulário forte) tinham a tendência de gesticular muito mais enquanto descreviam o que haviam visto.

O estudo sugere que gestos podem ajudar processos cognitivos quando a memória operativa nos deixa na mão. Gestos podem até liberar memória operativa, desemaranhando a desordem mental em que podemos cair quando queremos nos expressar. Se você pensar na "mente" de um país como o Brasil, influenciado por tantas culturas e línguas ao longo dos séculos, faz sentido que se confiasse nos gestos para uma comunicação mais eficiente. Outro estudo detectou que gestos podem até alterar nossa capacidade de sentir empatia. Talvez seja por isso que os brasileiros são considerados tão simpáticos e acessíveis?

O vídeo acima mostra apenas uma pequena amostra do vocabulário brasileiro não-verbal, e revela quão estranhos esses gestos podem parecer para pessoas de outros países. Se você é brasileiro, não importa quantas línguas você fala ou em quantos países você esteve, o fato de ser brasileiro vai transparecer de alguma maneira -- muito provavelmente através de suas mãos.

[Enquanto chefiei o Departamento de Assuntos Internacionais me vi forçado a prestar muita atenção quanto a etiqueta, gestos e posturas corporais, e a maneira como são interpretados em outros países. Na China, por exemplo, uma ofensa inaceitável e irreparável é você mostrar a sola de seu sapato para seu interlocutor -- portanto, cruzar a perna na direção de seu interlocutor encerra de vez qualquer chance de diálogo com ele. Ao receber o cartão de visita de um chinês ou de um japonês, você deve apanhá-lo com as duas mãos, curvar-se ligeiramente e olhar fixamente nos olhos dele -- em seguida, guarde o cartão no bolsinho alto do paletó; guardá-lo em um bolso lateral é uma ofensa, por ser considerado um gesto de descaso com a importância do dono do cartão.

Ao se encontrar com uma chinesa ou japonesa em reunião formal, somente estenda sua mão depois que ela tomar a iniciativa, nunca antes dela. 

Ao presentear um chinês, não lhe dê um relógio, porque as palavras "relógio" e "morte" têm um som muito parecido em mandarim. Presente para chinês não deve ser embrulhado com a cor branca, porque o branco é usado como luto pelos chineses.]

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