terça-feira, 6 de outubro de 2015

Pesquisa revela que os britânicos pré-históricos mumificavam seus mortos como os antigos egípcios

[O texto traduzido abaixo, de David Keys, foi publicado no jornal britânico The Independent. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Descobertas marcam o maior avanço para ajudar os arqueólogos a entender a sociedade na Grã-Bretanha pré-histórica


Tribos britânicas antigas mumificavam alguns de seus mortos mergulhando-os em pântanos de turfas - (Foto: Martin-Green) 

Enquanto os antigos egípcios estavam ocupados mumificando seus mortos, britânicos pré-históricos -- bem além dos limites do mundo conhecido -- estavam fazendo o mesmo a mais de 2.000 milhas a noroeste.  

Pesquisa recente revela que povos através da maior parte do período da Grã-Bretanha pré-histórica usavam a mumificação para assegurar que seus ancestrais mortos parecessem estar "vivos", pelo menos fisicamente, por décadas e provavelmente séculos. Essa pesquisa é um importante avanço para ajudar os arqueólogos a entender a natureza da sociedade na Grã-Bretanha pré-histórica. 

Isto pode parecer um esqueleto comum -- mas os ossos fornecem uma evidência persuasiva de que esses restos foram uma vez mumificados - (Foto: Geoff Morley)

Investigações científicas mostram agora que tribos britânicas antigas mumificavam alguns de seus mortos mergulhando-os em turfeiras [pântanos de turfas] e, em alguns casos, expondo-os a calor e fumaça. É um sistema de mumificação completamente diferente do usado pelos antigos egípcios, que era baseado no uso de sal.

A nova pesquisa -- executada pelo Dr. Tom Booth, na Universidade de Sheffield -- mostra que a mumificação na Grã-Bretanha parece ter se iniciado por volta de 2400 a.C. e continuado até pelo menos 1000 a.C.. Isso sugere que os britânicos pré-históricos podem ter estado entre os primeiros povos no mundo, à parte dos antigos egípcios e peruanos, a praticar a mumificação deliberada. 

Dr. Booth encontrou até agora evidências de mumificação pré-histórica em Dorset, Kent, Cambridgeshire, Teesside, norte da Escócia e na ilha Hébrida de Lewis [o arquipélago das Hébridas fica na costa oeste da Escócia]. Por enquanto, ele examinou os restos de 16 britânicos das era Neolítica e Bronze apresentando evidências de mumificação -- tanto homens como mulheres. Até então, os únicos britânicos conhecidos por terem sido mumificados foram pelo menos três indivíduos da ilha Hébrida de South Uist, onde evidências de mumificação foram encontradas há cerca de 12 anos atrás. 

Os cientistas planejam agora investigar outros 30 esqueletos -- de Wiltshire, da Escócia e de Gales.

Os restos das múmias não mostram mais quaisquer sinais visíveis definitivos de mumificação. O fato de que há muito tempo atrás tinha havido mumificação foi detetado apenas através de exame científico detalhado das superfícies dos ossos, realizado pelo Dr. Booth. Essa análise revelou que todos os restos careciam de, ou apresentavam níveis muitos baixos disso, de perfuração bacteriana através das superfícies dos ossos -- uma indicação de que as bactérias das vísceras de cada indivíduo haviam sido deliberadamente mortas logo após a morte dele, uma prática consistente com mumificação. 

Na maioria dos casos, isso foi conseguido pela imersão dos cadáveres em turfeiras ricas em tanino durante vários meses. Mas em dois casos -- ambos de Kent -- a mumificação parece ter sido feita por um processo envolvendo calor e fumaça.

Restos de um homem descobertos em uma turfeira em Lindow Moss, Cheshire, em 1984 e que estão em exposição no Museu Britânico - (Foto: Mike Peel)

"Nossa equipe descobriu que utilizando análise microscópica dos ossos os arqueólogos podem determinar se um esqueleto foi previamente mumificado, mesmo que esteja enterrado em um ambiente que não é favorável a restos mumificados", disse o Dr. Booth, que trabalha agora no Museu de História Natural de Londres. "É possível que nosso método nos permita identificar mais culturas antigas que mumificavam seus mortos", acrescentou ele. 

Pode-se conceber que as múmias estivessem expostas em casas rituais de ancestrais, como parte de cultos de ancestrais de longa duração. 

O estudo acadêmico das evidências de mumificação foi publicado em 01/10 na revista de arqueologia britânica Antiquity (Antiguidade). 

Tanto quanto a evidência emergente do uso de turfeiras para fins de mumificação, arqueólogos continuam a estudar o uso de tais pântanos como locais de enterro permanentes para sacrifícios humanos. Em ambos os cenários -- provável culto de ancestrais e sacrifício humano -- os britânicos pré-históricos parecem ter entendido completamente as qualidades de preservação das turfeiras. 


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