terça-feira, 27 de outubro de 2015

Ao cumprimentar alguém, onde você pode tocá-lo(a)? A Universidade de Oxford criou um "mapa de aceitabilidade"

[O ato de cumprimentar alguém está longe de ser algo trivial e é preciso estar atento a certas regras de etiqueta, não só entre estranhos de um mesmo país mas principalmente quando se está em um país estrangeiro.  O artigo traduzido abaixo, de Sarah Knapton, Editora de Ciências do jornal britânico The Telegraph, aborda uma pesquisa interessante da Universidade de Oxford sobre esse tema. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. Cabe registrar a enorme disposição e recursos financeiros que certas instituições em países desenvolvidos têm para fazer pesquisas que nos parecem inusitadas, e de importância secundária.]

Um estudo recente que mostra onde as pessoas se sentem confortáveis para serem tocadas (quando cumprimentadas) concluiu que desconhecidos devem se limitar a apertar as mãos


Michelle Obama quase provocou um incidente diplomático ao abraçar a Rainha - (Foto: EPA) 

É um dilema social familiar. Você encontra um desconhecido pela  primeira vez e em uma fração de segundo tem que decidir se lhe oferece um frio aperto de mão, ou  arrisca uma ofensa beijando-lhe o rosto.

Porém, uma pesquisa recente da Universidade de Oxford concluiu que errar pelo lado da precaução pode ser a melhor maneira para deixar as pessoas à vontade.

O maior estudo já realizado sobre contato físico sugere que a maioria das pessoas possui uma reticência latente quanto a ser tocada por um desconhecido em qualquer parte do corpo, exceto na mão. 

Ultimamente, virou moda quando se é apresentado a alguém beijá-lo(a) em um ou até em ambos os lados do rosto. Mas essa pesquisa recente indica que, na realidade, as pessoas se sentem desconfortáveis por um grau de intimidade tão alto como esse vindo de um desconhecido.

O psicólogo evolucionista Prof. Robin Dunbar, que chefiou o estudo, disse que embora o ato de beijar quando da apresentação  entre pessoas seja agora socialmente aceitável, pessoas frequentemente usam uma manobra de utilizar o braço para tornar essa prática menos perturbadora. "A maioria das pessoas colocará sua mão no braço da outra pessoa como um mecanismo de freio e para deixar que ela perceba que ele(a) não está a fim de mordê-lo(a)", disse ele. 

"Se você simplesmente se lança sobre alguém, acho que a maioria das pessoas ficará assustada. Nossa interpretação do contato depende do contexto do relacionamento. Podemos sentir um contato em determinado local [do corpo] vindo de um parente ou de um amigo como um gesto confortante, enquanto que o mesmo gesto feito por um companheiro(a) pode ser mais prazeroso e vindo de um desconhecido seja completamente indesejável". 

"Acho que beijar um desconhecido no rosto vai ainda fazer muita gente se sentir desconfortável. Mas, na vida moderna isso se tornou tão convencional quanto um aperto de mão e, assim, não é considerado como um excesso de intimidade, especialmente quando a apresentação for feita por um amigo". 

Tocar-se é criticamente importante no relacionamento humano, e é considerado como uma herança das técnicas de limpeza mútua utilizadas por primatas, que as usam para criar laços sociais. 

Para verificar que tipo de contato as pessoas consideram aceitável, pesquisadores da Universidade de Oxford e da Universidade Aalto, da Finlândia, entrevistaram mais de 1.300 homens e mulheres de cinco países para destacar as áreas do corpo humano que eles permitiriam alguém tocar, desde seu(ua) companheiro(a) até um desconhecido. As respostas foram combinadas para criar um mapa que mostra, pela primeira vez, onde estão as zonas do corpo passíveis de contato para determinados relacionamentos e revela as áreas que estão rigidamente fora de alcance. 

Mãos fora - Um guia social para o contato 



[Na primeira linha: Código -- Confortável -- Inadequado -- Mulher -- Homem -- Zona proibida
Figuras, da esquerda para a direita -- Mulher: Companheiro - Amiga(o) -- Mãe -- Pai -- Irmã -- Irmão -- Tia -- Tio -- Prima(o) -- Conhecida(o) -- Desconhecido --- A relação é a mesma para o Homem]

Alguns resultados não surpreenderam, como o fato de as mulheres se sentirem geralmente mais confortáveis do que os homens quanto a receber um contato físico. Entretanto, houve algumas conclusões inesperadas, como a de que os homens são mais acessíveis a contato em sua genitália feito por uma mulher que conheceu casualmente do que feito por sua própria mãe [não sei o que de "inesperado" há nesta conclusão!]. Para as mulheres, entretanto, é completamente inaceitável ser tocada intimamente por alguém que não seja seu(ua) companheiro(a) ou sua mãe.

Inesperadamente, os italianos mostraram-se menos confortáveis com o contato físico do que os russos, enquanto que no geral os finlandeses foram os que se mostraram mais confortáveis quanto a isso.

O Prof. Dunbar disse que o aumento do relacionamento via redes sociais significa que as pessoas estão fazendo contato físico entre si com menos frequência, o que pode prejudicar os relacionamentos no longo prazo. "Mesmo numa era de comunicações por celulares e mídias sociais, o contato físico ainda é importante para estabelecer e manter os vínculos entre as pessoas", disse ele."Sabemos que se as pessoas não se vêem, a qualidade desse relacionamento diminui e seu melhor amigo será substituído simplesmente por um conhecido".

"A mídia social efetivamente desacelera esse declínio, mas não impede que um relacionamento se rompa. Você realmente precisa vê-los olho no olho".


O contato físico é um remanescente do nosso passado evolucionista - (Foto: Barcroft Media Ltd)

Os especialistas em etiqueta da Debrett's alertaram que idade e local podem ser também um fator ao decidir entre dar beijo(s) e apertar a mão.

"Pessoas mais velhas podem não querer ser beijadas de jeito algum, e mesmo que não se importem eles frequentemente esperam por um beijo apenas", recomendam esses especialistas. "Alguns homens agora beijam socialmente, mas beijar-se é raro entre as gerações mais velhas, no âmbito de profissões mais tradicionais e em áreas muito rurais. Um beijo de longe, sem qualquer contato físico, pode parecer rude ou impessoal mas pelo menos não é invasivo. O melhor é um leve contato físico, sem nenhum ruído".

Lucy Hume, uma porta-voz da Debrett's, disse: "Ao saudar um desconhecido, oferecer-se para apertar mãos é o gesto mais normal e é apropriado tanto para reuniões/encontros sociais quanto profissionais. Um aperto de mão nunca é visto como rude, e apresenta pouco risco de fazer com alguém se sinta desconfortável".

"O hábito de beijar socialmente, embora cada vez mais esteja superando o de apertar mãos, não é adequado em todas as situações e na maioria dos casos deve ser usado apenas entre amigos, e não em um primeiro encontro".

A pesquisadora Julia Suvilehto, da Universidade de Aalto, disse: "Os resultados indicam que o contato físico é um meio importante de manter as relações sociais. O mapa espacial de contatos está estreitamente associado com o prazer provocado pelo contato. Quanto maior o prazer causado pelo contato com uma área específica do corpo, mais seletivos nos tornamos para permitir que outras pessoas a toquem". 

A pesquisa foi publicada nos Proceedings of the National Academy of Sciences

[Cumprimentar pessoas se insere num conjunto de etiquetas e protocolos que precisam ser respeitados, sob risco de prejudicar irremediavelmente qualquer relacionamento, principalmente quando se trata de estrangeiros. Na China, por exemplo, certos cuidados são indispensáveis. Nos encontros formais, só se aperta a mão de uma mulher se ela tomar a iniciativa para isso. Ao receber o cartão de visita de um chinês, deve-se tomá-lo com as duas mãos, curvar ligeiramente a cabeça olhando fixamente em quem o deu e, depois, guardá-lo no bolso alto do paletó e jamais num bolso lateral.

A troca de presentes é tradicional em reuniões iniciais com chineses e exige muitos cuidados. O presente para o chefe da delegação chinesa tem que ser ostensivamente diferente dos outros presentes, em tamanho e qualidade. Deve-se evitar dar relógio a um chinês, porque as palavras relógio e morte têm um som muito parecido em mandarim. Os presentes não devem ser embrulhados de branco, porque o branco é sinal de luto na China. 

Numa reunião com um chinês jamais vire para ele a sola de seu sapato, isto é considerado uma ofensa imperdoável. Tampouco arrume a meia numa conversa com um chinês, porque o pé é considerado uma parte suja do corpo.]


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