quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A escalada da guerra na Síria, com as forças aérea e marítima russas

[Em postagem anterior ("Discurso de Putin na ONU mostra quem está no comando") comentei e reproduzi um artigo do jornal israelense Haaretz sobre a jogada de mestre do presidente russo no xadrez do Oriente Médio, com sua intervenção na guerra civil da Síria. A Rússia agora ampliou essa intervenção: além dos bombardeios por seus caças em território sírio, ela agora disparou contra a Síria mísseis de longo alcance a partir de sua frota no Mar Cáspio. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.] 



Quatro navios da Marinha Russa dispararam um total de 26 mísseis de cruzeiro contra posições do grupo terrorista Estado Islâmico na Síria, anunciou o ministro da Defesa russo Sergey Shoigu. Os mísseis foram disparados do Mar Cáspio. Os mísseis voaram cerca de 1.500km antes de acertarem seus alvos.
Os mísseis vieram da Frota Russa do Mar Cáspio, que faz fronteira com a Rússia, Irã e o litoral de outros três países. As armas de precisão atingiram todos os alvos pretendidos. Os ataques necessitaram da cooperação do Irã e do Iraque, pois os mísseis tiveram que viajar através de seu espaço aéreo para chegar à Síria. [A cooperação do Iraque nessa iniciativa militar russa é mais uma demonstração da perda de poder dos EUA e de seu fracasso no Iraque. Os americanos gastaram vidas e bilhões de dólares para "salvar" o Iraque, para ver agora este país ajudando seu arquirrival, a Rússia, a se impor na Síria e no Oriente Médio contra os interesses dos EUA.]
Os quatro navios que dispararam os mísseis foram a fragata Dagestan da classe “Gepard” e as corvetas Grad Sviyazhsk, Uglich e Veliky Ustyug da classe Buyan-M. Foram disparados mísseis Kalibr NK (Klub) de lançadores verticais. Os mísseis podem atingir alvos a 2.500km de distância, com precisão de 3 metros.
As trajetórias dos 26 mísseis de cruzeiro disparados de navios de guerra russos no Mar Cáspio contra 11 alvos na Síria cruzaram os céus do Irã e do Iraque. O Irã é um importante financiador de Bashar al-Assad, o conflituoso presidente sírio. As lideranças do Iraque mantêm laços estreitos com o Irã. - (Mapa: Laris Klarkis, The Washington Post) 
Navios de guerra russos disparando mísseis em direção à Síria (Ministério de Defesa russo/YouTube)
O presidente russo Wladimir Putin disse que os ataques com mísseis evidenciaram a competência das renovadas forças armadas russas
[Ao analisar a razão da presença russa na Síria, o jornal The Washington Post comenta que "a ampliada presença militar russa pode sinalizar a intenção de Moscou de desempenhar um papel mais direto no jogo final sírio -- ou, no mínimo, ajudar o regime do presidente sírio Bashar al-Assad a manter qualquer controle, por limitado que seja, sobre o país varrido pela guerra". 
Mas, ressalta o jornal, esse movimento pode não significar uma mudança significativa na política russa [no país e na região]. "A Rússia nunca fez segredo de sua cooperação tecnológico-militar com a Síria. Especialistas militares russos ajudam os sírios a dominar os equipamentos russos", disse aos jornalistas um porta-voz da chancelasria russa na quarta-feira passada.
Na quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, foi um pouco mais direto. "Temos sido sempre francos com relação à presença de nossos especialistas militares na Síria, que ajudam as forças armadas sírias a treinar e aprender como usar nosso equipamento", disse ele numa entrevista à imprensa em Moscou. "E se passos adicionais forem necessários, estaremos completamente prontos a tomá-los". 
No dia seguinte, Lavrov foi ainda mais além, argumentando que era essencial dar suporte ao regime sírio, se o mundo quiser derrotar os jihadistas do Estado Islâmico (EI). "Você não pode derrotar o Estado Islâmico apenas com ataques aéreos. É necessário cooperar com as tropas em terra, e o exército sírio é a força terrestre mais eficiente e poderosa para combater o EI". 
Há quem especule as ações da Rússia não são o reflexo de uma estratégia genuína, mas, em vez disso, de maneira mais crua, são as táticas de um regime autoritário se agarrando desesperadamente aos níveis de poder que lhe restam. "É o confronto entre a Rússia e o Ocidente que arrasta a Rússia para o Oriente Médio", disse à NBC News Nikolay Kozhanov, um acadêmico na usina de ideias (think tank) de Chatham House, de Londres.]   


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