sexta-feira, 1 de julho de 2016

As consequências econômicas de uma vitória de Donald Trump seriam severas

[Traduzo  a seguir artigo de Lawrence Summers (economista americano, foi Secretário do Tesouro dos EUA em 1999 e é hoje presidente emérito da Universidade de Harvard) publicado no Financial Times. O artigo foi publicado em 5 de junho, mais de duas semanas antes do referendo que decidiu pela saída do Reino Unido (RU) da União Europeia (UE). É interessante acompanhar a validade ou não de suas projeções quanto às consequências da saída do RU da UE, e quanto ao que poderá significar para as economias americana e mundial uma vitória de Trump em novembro deste ano. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Donald Trump - cumprir suas promessas feitas até agora seria o melhor caminho para prejudicar uma já frágil economia  americana - (Foto: Google - obs.: esta não é a foto publicada no artigo do FT, ela não pode ser reproduzida)

"Seguramente, ele pode deflagrar a pior guerra comercial desde a Grande Depressão".

Em 23 de junho, o Reino Unido (RU) decidirá pelo voto se permanece na União Europeia (UE). Em 8 de novembro, os EUA decidirão pelo voto se elegem Donald Trump como presidente. Essas eleições têm muito em comum. Ambas podem levar a resultados que seriam inconcebíveis não há muito tempo. Ambas atiçam populistas furiosos contra o sistema político vigente. E, em ambos os casos, as pesquisas de opinião sugerem que o resultado é duvidoso, com previsões indicando uma probabilidade de ocorrência de um resultado radical oscilando entre uma em quatro e uma em três.

É interessante confrontar como os mercados financeiros estão reagindo a essas incertezas. Os mercados estão altamente sensíveis às notícias sobre o Brexit; a libra esterlina e o mercado de ações se movem a cada nova pesquisa de opinião. Uma análise de precificação de opções indica que se o RU votar por deixar a UE, a libra poderia facilmente despencar em mais de 10% e o mercado de ações britânico outro tanto. Acredita-se amplamente que as incertezas associadas com a Brexit são significativas o suficiente para afetar as políticas do Banco Central americano [Federal Reserve, ou "Fed"] e outros grandes bancos centrais.

Seria de todo provável altamente oneroso para o RU deixar a UE, e isso geraria questões sobre a coesão do RU. Isso também ameaçaria o papel de Londres como um centro financeiro e reduziria as exportações britânicas para a Europa.

O que acho surpreendente é que os mercados americano e global e os estrategistas financeiros parecem muito menos sensíveis ao "risco Trump" do que ao "risco Brexit". Mercados de opções indicam apenas uma volatilidade modestamente elevada no período até as eleições. Enquanto cada observador do Fed emite comentários sobre as implicações do Brexit para o banco, poucos, se houver algum, fazem o mesmo sobre as possíveis consequências de uma vitória de Trump em novembro.

Entretanto, grandes como são os riscos do Brexit para a economia britânica, considero muito maiores os riscos para as economias americana e global de uma vitória de Trump para a presidência dos EUA. Se ele for eleito, espero uma prolongada recessão dentro de 18 meses. Os danos seriam sentidos muito além dos EUA.

Em primeiro lugar, há um risco substancial de uma política altamente errática. Trump levantou a possibilidade de um corte de mais de $ 10 trilhões em impostos, o que ameaçaria a estabilidade fiscal dos EUA. Ele abordou também a possibilidade do país reestruturar sua dívida nos moldes de um empreendedor imobiliário fracassado. Talvez isso seja apenas retórica de campanha. Mas, pesquisas históricas indicam que presidentes tendem a realizar as principais promessas de suas campanhas [não foi o que aconteceu com Obama ...].

A disputa simulada sobre aumentar o limite da dívida em 2011 (em que todos os participantes reconheciam o perigo de inadimplência) foi vital para que o mercado de ações caísse 17%.

Em segundo lugar, em uma economia mundial definida pela integração global, o nacionalismo econômico de Trump é altamente perigoso. As exportações têm sido um importante acionador da economia americana nos últimos anos. O que aconteceria com nossas exportações se os EUA construíssem um muro em nossa fronteira ao sul e anulasse todos os seus acordos comerciais? A retirada de acordos comerciais não exige atualmente aprovação do Congresso. Se Trump fizer metade do que prometeu, certamente deflagrará a pior guerra comercial desde a Grande Depressão.

Em terceiro lugar, prosperidade depende de um ambiente geopolítico seguro. Exigir que Japão e Coreia se defendam e reduzir a Otan são uma receita para estimular a China e a Rússia e promover a proliferação nuclear. Uma percepção de que os EUA estão em guerra contra o Islã e não contra os radicais dentro do Islã é um convite ao terrorismo. Nesse ambiente, é improvável que investimentos e comércio floresçam.

Em quarto lugar, o estilo autoritário e o culto à personalidade de Trump certamente farão danos à confiança empresarial. Ele propôs trazer de volta a tortura como um instrumento da política externa americana, e mudar a legislação de modo que ele possa processar e punir as publicações de que não gosta. O país ficou paralisado com Watergate e, em menor grau, com o escândalo Irã-Contra, ambas situações envolvendo atividades extralegais por equipe do presidente e abuso do poder. Quem se sentirá seguro com Trump controlando o FBI e a CIA?

Por fim, há a questão da incerteza e da confiança. Melhorar a confiança empresarial é a forma mais barata de estímulo. Criar um ambiente em que cada pressuposto da autoridade da Lei, internacionalismo e consistência seja caótico seria a melhor maneira de prejudicar uma economia americana ainda frágil. Em nenhuma eleição na minha vida até hoje um candidato de um partido importante foi tão perigoso para a economia [gozado, o autor não mostra nenhuma preocupação com os princípios antidemocráticos de Trump!].

Os mercados estão descartando a possibilidade de uma presidência com Trump. Rezemos para que estejam certos.






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