domingo, 31 de julho de 2016

Os Jogos Olímpicos do "temor e tremor"

[A imagem extremamente negativa do Brasil que já se espalhou pelo mundo por conta das falhas gritantes já escancaradas nos Jogos Olímpicos do Rio, mesmo antes das competições esportivas -- que só por milagre não gerarão outros vexames -- é tão arrasadora, que muito dificilmente poderá ser revertida ou minimizada. Nossa incúria, nosso desleixo e nossa irresponsabilidade nos fizeram perder uma oportunidade ímpar de projetarmos uma imagem de país organizado e confiável. Traduzo a seguir o contundente artigo de Jesús Mota, no site do jornal espanhol El País. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Os Jogos Olímpicos do "temor e do tremor"

Não houve uma Olimpíada que se apresentasse com tantas marcas de caos e incompetência

Jesús Mota - El País, 30/7/2016

Trabalhos de limpeza na Baía da Guanabara - (Foto: France Press)

Com temor e tremor, os atletas do mundo se apresentam para competir nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que começam no dia 5. Estamos diante de uma magna competição atlética ou frente a uma aventura de alto risco, semelhante a uma expedição pela selva ou a exploração do Ártico? Não houve uma Olimpíada que se apresentasse com tantas marcas de caos e incompetência. Os participantes terão que driblar o risco da zika lambuzados de repelentes antimosquito gordurosos, sobreviver em uma vila olímpica com falhas graves de água corrente ou outras condições mínimas de habitabilidade (o ruído percuciente que dificulta o sono dos atletas), sair ilesos das desditas diárias (a delegação australiana teve que ser evacuada na sexta-feira devido a um incêndio) ou sobrepor-se a incidentes de vaudeville (um indivíduo vomitou sobre um atleta chinês e quando um fotógrafo correu atrás do vomitador, um cúmplice lhe roubou seu equipamento fotográfico) e procurar não cair na água da baía na qual serão realizadas algumas provas náuticas, porque está contaminada com fezes. 

Para não mencionar as condições de segurança frente à delinquência organizada (o caso do ladrão vomitador é um bom exemplo). Os folhetos de advertência insistem em que se transite pela cidade acompanhado, sem jóias, com dinheiro mínimo necessário, com atenção especial para os táxis (para evitar sequestros), não oferecer resistência em um eventual assalto ...  Não se sabe muito bem se os atletas vão viver em uma capital de um Estado do século XXI, organizado e confortável, ou em El Pueblito, essa prisão mexicana do tamanho de uma capital de província espanhola [pelo visto, o autor é bastante ácido conosco, mas é idiota o bastante por achar que o Rio ainda é a capital do Brasil].

O Governo brasileiro dispôs de lustros [na realidade, 7 anos] para organizar os Jogos; confiou (ou isso dizia) na Olimpíada e no Mundial de futebol para construir infraestruturas básicas e confirmar que o Brasil havia superado o nível de jardim de infância de país emergente e se considerava já um país consciente de pertencer ao primeiro mundo, para usar a linguagem antiga; contava ainda com ambas aquelas vitrines para dar lustro à imagem do continente sul-americano e abandonar de uma vez por todas o clichê da debilidade da gestão pública no subcontinente. Nem um só desses objetivos se cumpriu. Há quem diga que serão os Piores Jogos da História, que os atletas russos deles excluídos tiveram sorte de evitar a competição em um campo de sucata (sem valor) e que as marcas desportivas sofrerão uma regressão em um entorno infradesportivo. 

O fracasso que se pressente nos Jogos suscita duas perguntas básicas. Ficará impune a responsabilidade de quem fez fracassar o projeto do Rio, de quem descumpriu os contratos, de quem utilizou materiais de péssima qualidade ou aviltou as infraestruturas olímpicas? Pois é provável que sim. O Comitê Olímpico já não presta atenção em outra coisa que não seja a inauguração de purpurina dos Jogos, e a pressionar para que o desastre e a fraude (suposta) sejam enterrados sob camadas de dinheiro. 

A segunda pergunta é mais dolorosa. Madri era uma candidatura pior que o Rio? Uma xícara relaxante de café com leite ao poder (Relaxing cup of cafe with leche al poder).

[O autor é extremamente ácido e duro contra o Brasil -- e o pior é que ele está certo. Um senão imperdoável é sua ignorância cinquentenária em relação ao nosso país: para ele o Rio continua sendo nossa capital ...  Quanto à sua insinuação (praticamente uma denúncia) de suborno feito pelo Comitê Olímpico Brasileiro para esconder as falhas e fraudes dos Jogos Olímpicos Rio 2016, ela é muito grave e precisa ser analisada pelo MP para se checar sua veracidade. Por causa disso, enviei hoje (31/7) o seguinte email ao jornal El País:

El duro y ácido texto de Jesús Mota sobre los Juegos Olímpicos Río 2016 (Los Juegos Olímpicos del 'temor y temblor') evidencia su ignorancia cincuentona sobre mi país: para él, Río sigue siendo nuestra capital ...

Respecto a su denuncia de soborno contra el Comité Olímpico Brasileño "para que el desastre y el fraude se entierren bajo capas de dinero", quiero creer y espero que el Sr Mota tenga pruebas suficientes e inequívocas sobre lo que escribió, para no ser acusado de liviandad e irresponsabilidad, comprometiendo también El País."]


sábado, 30 de julho de 2016

Os azeites vegetais que podem fazer mal à nossa saúde

[Traduzo a seguir um artigo de Lucía Blasco, publicado no site BBC Mundo. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O azeite de girassol ou de milho é mais barato que o de oliva, mas pode ser mais prejudicial à saúde - (Foto: Science Photo Library)

Usar azeite vegetal de sementes, de legumes ou de frutos secos é uma prática cada vez mais habitual em cozinhas de todo o mundo.

Muitos os consideram um substituto "saudável" da manteiga, por terem fama de ter menos gorduras saturadas que ela. E são mais baratos que o azeite de oliva.

Entretanto, alguns estudos nos últimos anos colocaram isso em dúvida, alertando que os azeites que são vendidos como vegetais não são tão "bons" como se crê. Na  realidade, podem ser prejudiciais à nossa saúde, dizem os especialistas. É que "vegetal" nem sempre é sinônimo de "saudável". 

A culpa por isso é, principalmente, do ômega 6 que contêm, que pode chegar a causar uma inflamação dentro de nosso organismo, aumentando a possibilidade de que tenhamos enfermidades como artrite, depressão ou câncer de pele, entre outras. 

Outros estudos falam de alterações hormonais e danos no sistema reprodutor e neuronal. 

O australiano David Gillespie fez sua própria pesquisa, tal e como relata em seu livro "Toxic Oils" (azeites tóxicos). E chegou à conclusão de que alguns azeites vegetais são "perigosos para a saúde". 

O problema, dizem alguns especialistas, aparece na hora de fritar com esse tipo de azeite - (Foto: Thinstock)

"Seus supostos benefícios se baseiam na falsa presunção de que as gorduras saturadas são ruins (para o colesterol), mas não há evidência científica quanto a isso e alguns estudos provaram, na realidade, o contrário", disse Gillespie ao BBC Mundo. 

Em que casos se aplica essa teoria? 

Lhe mostramos quais são os azeites vegetais cujo consumo, segundo os especialistas, você deve evitar ou reduzir na medida do possível.

1. Azeite de girassol

Uma pesquisa da Universidade do País Vasco (UPV), na Espanha, publicada em 2012, demonstrou que alguns azeites -- como o de girassol -- contêm certos compostos orgânicos chamados aldeídos, supostamente relacionados com transtornos neuronais e com alguns tipos de câncer.

O azeite de sementes de girassol é consumido em muitas partes do mundo. Quão benéfico ou prejudicial ele é para a nossa saúde? - (Foto: Science Photo Library)

De acordo com María Dolores Guillén, responsável pelo Departamento de Farmácia e Ciências dos Alimentos e coautora do estudo, os aldeídos contaminam seu entorno e podem ser inalados. E permanecem no azeite mesmo depois deste ser aquecido.

Segundo os cientistas, os azeites de girassol e de linhaça (sobretudo o primeiro) são os que têm uma maior quantidade desses compostos, enquanto que o azeite de oliva os produz em uma quantidade muito menor. 

"Não pretendemos alarmar a população, mas os dados estão aí. E é preciso tê-los em conta", disse Guillén. Gillespie é mais contundente a esse respeito: "No nível em que os consumimos, esses azeites não são menos tóxicos do que veneno", adverte.

2. Azeite de milho

Tanto o azeite de girassol como o de milho têm um conteúdo alto de gorduras poliinsaturadas.

"Para fritar, é melhor utilizar o azeite de oliva que o de girassol ou de milho", diz Martin Grootveld, da Universidade de Montfort - (Foto: Science Photo Library)

Tal como explicou Martin Grootveld, da Universidade Montfort, em Leicester (Reino Unido), ao doutor e jornalista do BBC Mundo Michael Mosley, "os azeites de girassol e milho são bons sempre e quando não são utilizados para fritar ou cozinhar". 

"É uma simples questão química: algo que pensamos que nos é saudável se converte em algo muito prejudicial na temperatura de fritura", acrescentou Grootveld, que pesquisou pessoalmente a questão. Segundo ele, é melhor usar o azeite de oliva "pois contém menos componentes tóxicos e estes são menos prejudiciais ao corpo humano". 

De fato, sua pesquisa mostra que é melhor cozinhar com manteiga do que com azeite de milho. "Se pudesse escolher entre gordura de porco (banha) e gorduras poliinsaturadas, escolheria sempre a primeira", disse Grootveld.

3. Azeite de canola

O azeite de canola é um dos azeites vegetais mais populares. É originário do Canadá (daí vem seu nome). Foi a indústria canadense que começou a desenvolvê-lo em 1978, modificando geneticamente plantas de colza.

O azeite de canola é uma versão modificada do azeite de colza - (Foto: Thinkstock)

É barato, fácil de cultivar e, aparentemente, saudável. Mas logo começou a aflorar informação sobre os males do ácido erúcico, contido nesse azeite e que pode ser tóxico cido erúcico é um ácido graxo omega-9 monoinsaturado, notado como 22:1 ω-9 -- ele está presente nas sementes de colza, de erysimum, e de mostarda, compondo de 40 a 50 por cento de seus óleos]

"O azeite tóxico é comercializado como azeite 'vegetal', mas este conceito é irônico porque isso não existe", diz Gillespie. "Os azeites vegetais são extraídos por meio de processos industriais que incluem pressão e aquecimento das sementes", explica o australiano.  

As consequências do consumo desses azeites, diz Gillespie, podem ser graves. "Aumentam significativamente as possibilidades de que tenhamos câncer e de que nossos filhos padeçam de doenças autoimunes", assegura ele.

4. Outros azeites de sementes e a margarina

"O azeite que é dito ser 100% vegetal é uma mistura dos restos de outros azeites e possui um poder químico altamente reativo, muito oxidante. É um azeite que provoca um envelhecimento mais rápido", diz Juan Tejo, nutricionista da Clínica MEDS, no Chile. 

Segundo Tejo, isso não ocorre com o azeite de oliva, que contém ácidos graxos saudáveis para o coração e tem um ponto de cocção mais alto, razão pela qual não se queima ao se cozinhá-lo. 

Gillespie concorda: "Os azeites de frutas (oliva, coco, palma ou abacate) são 'bons' para a saúde", explica. Os azeites "maus", assinala Gillespie, são os de sementes (colza, girassol, cártamo, farelo de arroz, semente de uva e milho), os de legumes (soja e amendoim) e a maioria dos azeites de frutos secos.  

Então, que azeite é "melhor"? No entanto, muitos dos alimentos que consumimos contêm esses ingredientes - (Foto: Thinkstock)

Para Gillespie, o problema reside no fato de que quando os componentes desses azeites se dissolvem nas células do nosso organismo é gerada uma oxidação. E o mesmo ocorre com a margarina vegetal. 

Grande parte dos alimentos vendidos em supermercados tem esse tipo de azeites. Desde o pão de forma e até alguns biscoitos, massas, quase toda comida processada, molhos, comida congelada e a feita em cafés e restaurantes, porque esses azeites "são mais baratos e não se nota a diferença no sabor" ao se usá-los para cozinhar, diz Gillespie.

"Infelizmente, na indústria de comida processada os interesses comerciais costumam sair ganhando", afirma o especialista, que aposta no consumo de produtos integrais. 

Tejo sugere que prestemos atenção nos rótulos com informações nutricionais. "Isso contribuirá para uma saúde melhor", assegura.

A margarina tampouco se salva - (Foto: Science Photo Libray)


quinta-feira, 28 de julho de 2016

O motivo real por que os judeus não votarão em Trump

[A candidatura de Donald Trump continua provocando reações enormes, dentro e fora dos EUA. Traduzo a seguir artigo do rabino Eric H. Yoffle publicado no prestigioso jornal israelense Haaretz, abordando o sentimento da comunidade judaica em relação aos extremismos do candidato republicano. Eric H. Yoffle é rabino, escritor e professor em Westfield, Nova Jersey (EUA); foi presidente da União para Reforma do Judaísmo. O artigo é interessante por mostrar o pensamento sobre Trump dos judeus americanos, uma comunidade extremamente influente na sociedade e nos governos americanos. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O candidato presidencial republicano Donald Trump discursa para os delegados no final do último dia da Convenção Nacional Republicana em 21 de julho de 2016, em Cleveland, Ohio - (Foto: Timothy A. Clary, AFP)

O nacionalismo racista do candidato republicano, suas insinuações antissemitas, sua posição em relação a Israel e seus ataques contra muçulmanos e imigrante são todos profundamente ofensivos. Mas não é isso que está aterrorizando a maioria dos judeus americanos. 

Na minha opinião, é claramente desanimador ver nossa vida política nacional transformar-se em um gigantesco reality show ["reality show" é o nome dado aos programas de televisão baseados na vida real -- exemplo mais famoso desse tipo de show é o deprimente Big Brother, criado em 1999 por John de Mol]. Por isso, estou aliviado com o fato de, finalmente, a Convenção Nacional Republicana ter acabado. Ela nos submeteu a uma dose ainda maior daquilo que temos vivido desde que Donald Trump entrou na corrida presidencial. Muitas coisas aconteceram na convenção, exceto uma avaliação sóbria dos temas abordados.

Ainda assim, estou razoavelmente confiante, embora inseguro, de que Trump perderá a eleição em novembro. O que é certo, entretanto, é que, ganhe ou perca, ele não terá os votos dos judeus americanos nesse outono.

Muitos judeus votarão em Hillary Clinton porque, como eu, a vêem como dura, experiente e altamente qualificada para ser presidente, sem mencionar que é uma amiga do povo e do estado judeus. Mas, mesmo aqueles que não gostam muito de Hillary ou que têm votado nos republicanos há anos apoiarão Hillary de forma esmagadora.

Como Jennifer Rubin relata no The Washington Post, membros da diretoria da Coalizão Judaica Republicana, que constitui a mais leal base de apoio judeu ao Partido Republicano, estão em sua maioria se recusando a dar dinheiro para a campanha de Trump. E embora Rubin seja uma voz conservadora agressiva, ela prevê com consternação que Hillary pode receber 90% do voto judeu.

A questão importante, obviamente, é por que isso. A maioria dos comentários na imprensa judaica tem focalizado temas específicos: a opinião de Trump sobre Israel, sua reação ao antissemitismo de seus partidários e seus ataques contra muçulmanos e imigrantes. Entretanto, se você conversar com judeus de todas as convicções descobrirá que para eles as políticas e posições de Trump são em sua maioria irrelevantes.

Mensagens e plataformas políticas, não importa quão ultrajantes, podem ser alteradas, bajuladas ou reformuladas. De tempo em tempo, todo candidato diz coisas ultrajantes e ofensivas. Mas o que não ser mudado é o caráter fundamental do candidato. E o que ouço agora de judeus americanos é a aterrorizada conclusão de que Trump não é um populista de pensamento independente, como se pensou originalmente, mas um verdadeiro maníaco, rezando pelo mesmo catecismo que déspotas e homens cruéis têm usado há tempo para seus próprios propósitos. 

Imaginem a seguinte sequência de eventos: Trump é eleito presidente e decide que, dando seguimento à sua proposta mais popular, proibirá por Decreto Executivo a entrada nos EUA de imigrantes oriundos de países muçulmanos, pelo menos até que eles, na opinião dele Trump, possam ser "adequadamente vetados". Grupos liberais desafiam legalmente o presidente e a Suprema Corte invalida o Decreto Executivo por 6 a 2. Em discurso televisado à nação, Trump afirma que a Corte excedeu-se em sua autoridade, ignorou a vontade do povo e interpretou erroneamente a Constituição. Os juízes liberais, fiz ele, foram discriminatórios contra ele, mencionando os comentários críticos contra ele pela juíza [da Suprema Corte] Ruth Bader Ginsberg antes da eleição. Assim, a decisão da Corte fora uma afronta pessoal ao presidente da República recém-eleito, e em qualquer caso essa é uma matéria que está corretamente dentro da competência do presidente. O Decreto Executivo persiste, declara o presidente Trump, e será executado na íntegra pelas autoridades da imigração.

O problema real com a candidatura Trump não se refere a qualquer tema isolado mas ao fato de que isso não parece um cenário irreal para um presidente Trump. E um número substancial de americanos, talvez até uma maioria, acredita nisso -- o que se torna a razão pela qual é provável que Trump perca a eleição. Um showman acionado por seu ego e que fala direta e francamente, Trump, se eleito, seria um individualista com uma crise constitucional à espreita. Ao mesmo tempo, é impossível imaginar um tal cenário com uma presidente Hillary Clinton. Nesse sentido, Hillary é um político tradicional e é inimaginável que sua eleição represente um desafio ao nosso sistema constitucional.

É por isso que 90% dos judeus americanos não votarão em Trump. Judeus, sejam eles democratas ou republicanos, são liberais (com "l" minúsculo). De maneira esmagadora, apoiam uma classe média forte e desejam ardentemente estabilidade e segurança na política. Do mesmo modo, como um povo oprimido e perseguido por quase dois milênios, os judeus têm mais experiência com ditadores e demagogos do que a maioria dos outros americanos. têm também um entendimento mais completo de precisamente quão frágeis são os governos democráticos modernos.

E essa fragilidade parece especialmente pronunciada exatamente agora. A América tem mantido suas instituições democráticas logrando, com dificuldade, efetuar um delicado ato de equilíbrio: em um lado da balança, um assertivo nacionalismo americano enraizado em ideais democráticos comuns, união cultural, e persuasivos rituais nacionais; do outro lado, abrangência, um notável grau de diversidade, e garantias constitucionais de direitos individuais [não é o que se tem visto com os assassinatos em massa e os conflitos raciais que têm abalado a sociedade americana]. Nenhum outro país conseguiu preservar esse equilíbrio exatamente da mesma maneira. Mesmo entre as democracias mais avançadas e industrializadas, o nacionalismo geralmente repousa tanto no tribalismo [no sentido de um forte sentimento de identidade com, e lealdade a, uma tribo ou grupo] quanto em valores compartilhados, e as liberdades individuais e a liberdade religiosa são frequentemente prejudicadas e enfraquecidas de uma maneira que não tolerariam [novamente, os atos de violência na sociedade americana nos últimos anos desmentem categoricamente esta afirmativa].

Observando o sistema americano de governo constitucional, os judeus sabem que têm vivido aqui como uma pequena minoria com uma segurança e uma dignidade que não encontraram em nenhum outro lugar no mundo. Mas, eles sabem também que governos democráticos estáveis não se tornam realidade facilmente, ou naturalmente, ou sem um esforço continuado. E agora, aparece Donald Trump, ameaçando o equilíbrio constitucional de um modo inimaginável desde os anos 1930.

O nacionalismo de Trump não é baseado em valores, mas sim em racismo. Ele fala a língua do nacionalismo branco, algumas vezes abertamente e algumas vezes por insinuações. Ele despreza os imigrantes e a diversidade que têm sido, ambos, um fato e um valor na América. Ele incita o ódio. Ele é um nativista [adepto do nativismo, pensamento político, especialmente nos EUA nos anos 1800, que favorecia os interesses dos habitantes estabelecidos em detrimento dos direitos dos imigrantes] e um Birther [pessoa que acredita que Barack Obama, presidente americano desde 2009, não nasceu nos EUA e, portanto, não é elegível para ser presidente do país] que lança dúvidas de uma maneira especialmente desagradável sobre a legitimidade e o americanismo do primeiro presidente negro do nosso país. Ele se comporta no limiar do fascismo.

A verdade simples é que os judeus olham para o potencial de disrupção/rompimento de uma presidência Trump e estão aterrorizados. E mesmo quando Trump faz um esforço para parecer "presidencial", como fez en passant em seu discurso no encerramento da convenção republicana, ele não convence ninguém. Retirada a fala narcisista, Trump fica irreconhecível -- um candidato completamente diferente que, sabemos, desaparecerá amanhã, se não em uma hora a partir de agora.

Como presidente, Trump protegerá o Estado de Israel e outros importantes aliados dos EUA? Na minha visão pessoal, ele não o fará. Entretanto, seus pronunciamentos sobre política externa é um tal amontoado de coisas que é impossível saber com segurança o que ele fará. Mas os judeus americanos tomarão suas decisões de como votar em novembro por razões completamente diferentes. E a esmagadora maioria não votará em Trump pela simples razão de estarem temerosos pela América.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Manchetes internacionais sobre os Jogos Olímpicos do Rio

Vamos dar uma olhada nas manchetes da imprensa internacional sobre as Olimpíadas no Rio. Observa-se que dois temas esculhambaram muito a imagem do Brasil: o caos nos apartamentos da Vila Olímpica e a poluição da Baía da Guanabara.

Jogos Olímpicos Rio 2016: problemas da vila dos atletas australianos começam a ser atacados -- BBC (Reino Unido)

Os polêmicos painéis que ocultam as favelas para os Jogos Olímpicos Rio 2016 -- BBC Mundo (em espanhol)

Já tendo fracassado, os Jogos Olímpicos do Rio podem agora ser bem sucedidos -- Financial Times

Na Vila pode-se viver -- (opinião da delegação espanhola) -- El País (Espanha)

☛ Especial para os Jogos Olímpicos: um guia para não se perder no Rio de Janeiro -- El Mundo (Espanha)

Jogos Olímpicos: Contaminação na Baía da Guanabara -- Perigo em águas abertas: especialistas aconselham que se mantenha a boca fechada -- El Mundo (Espanha)

Dura advertência do New York Times, a 10 dias da Rio 2016: "Os atletas nadarão literalmente em merda humana" -- La Nación (Argentina)

Serão distribuídas 450.000 camisinhas na Vila Olímpica -- Clarín (Argentina)

Nadarão em merda humana -- El País (Uruguai)

Quanto custarão os Jogos Olímpicos Rio 2016? -- El País (Uruguai)

A violência põe em xeque os Jogos Olímpicos -- El País (Uruguai)

Rio 2016: delegação de Belarus classifica como "anti-higiênicas" as condições na Vila Olímpica -- The Independent (Reino Unido)

☛ Corpo mutilado aparece em praia em que haverá jogos de vôlei nas Olimpíadas do Rio -- The Guardian (Reino Unido)

Metade dos brasileiros é contra os Jogos Olímpicos -- Le Figaro (França)

Jogos Olímpicos do Rio: nem Lula nem Dilma participarão da cerimônia de abertura -- Le Monde (França)

Corrida contra o relógio no Rio para terminar a Vila dos Jogos -- Libération (França)

Atletas portugueses encontram apartamentos sujos e sem água -- Diário de Notícias (Portugal)

Atletas da Suécia recusam Aldeia Olímpica como está -- Diário de Notícias (Portugal)

Comitiva portuguesa, por enquanto, sem queixas da Aldeia Olímpica -- Público (Portugal)

Ativistas lançam campanha contra turismo sexual durante Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro -- Observador (Portugal)

Olimpíadas do Rio 2016: eletricistas e bombeiros hidráulicos, os primeiros heróis dos Jogos -- Corriere della Sera (Itália)

"A Vila é inabitável". E a Austrália bate a porta -- Corriere della Sera (Itália)

Apenas 12 dos 31 prédios da Vila Olímpica do Rio tiveram suas instalações aprovadas -- The Washington Post (EUA)

Traficantes de drogas do Rio aproveitam a febre das Olimpíadas usando pacotes criativos de cocaína -- The Washington Post (EUA)

☛ Logomarca das Olimpíadas é usada por traficantes de cocaína em bairro festivo do Rio -- Bloomberg (EUA)

Sanitários com vazamento se somam aos problemas orçamentários da Rio 2016 -- Bloomberg (EUA)

Ainda há muito, mas muito cocô na água das Olimpíadas do Rio -- The Washington Post (EUA)

Vila Olímpica do Rio enfrenta problemas em suas instalações -- The Wall Street Journal (EUA)

Alojamentos de atletas nas Olimpíadas do Rio: sanitários entupidos, vazamentos nas tubulações e fiação exposta -- The New York Times (EUA)

Mantenha sua boca fechada: atletas olímpicos aquáticos enfrentarão um ensopado tóxico no Rio -- The New York Times (EUA)

Empresa de camisinhas encontra um jeito novo de promover seu produto nas Olimpíadas do Rio -- The Globe and Mail (Canadá)

Delegação de Belarus diz que Vila Olímpica é anti-higiênica -- The Globe and Mail (Canadá)

Olimpíadas do Rio: o esporte internacional é que está em risco, não a Rússia -- Pravda (Rússia)

Australianos declaram alojamentos olímpicos inabitáveis -- Die Zeit (Alemanha)

Vila Olímpica "inabitável" -- Frankfurter Allgemeine (Alemanha)

Duas semanas antes do início dos Jogos: condições deploráveis na Vila Olímpica? -- Frankfurter Allgemeine (Alemanha)

Equipe olímpica  de atletas refugiados será o "símbolo da esperança" -- New Arab (Oriente Médio)




domingo, 24 de julho de 2016

O legado econômico de Dilma (Revista Congresso em Foco)

[Dilma nunca fez nada que prestasse em suas passagens pelo poder, tanto nos governos Lula quanto em seus próprios governos. Sempre se destacou pela incompetência, pela teimosia burra e por um vício desmesurado, reiterado e incorrigível de mentir. Ela se esquece, porém, que contra fatos não há argumentos e muito menos mentiras. Vejam abaixo mais um retrato em branco e preto da péssima gestão da madame, publicado pela Revista Congresso em Foco.]



sábado, 23 de julho de 2016

Donald Trump: o candidato do apocalipse

[Traduzo a seguir o editorial do The Washington Post de 21 de julho. Ninguém de sã consciência pode ficar indiferente às eleições americanas, principalmente quando há o risco de se eleger um débil mental como Donal Trump. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Convenção do Partido Republicano que confirmou Donald Trump como candidato à presidência dos EUA - (Foto: Google - Obs.: esta foto não é do editorial do The Washington Post, cujas fotos não podem ser reproduzidas)

Estes são tempos de ansiedade na América. Apesar do firme, embora lento, crescimento da economia e da ausência de uma guerra relevante, as pessoas permanecem aflitas com um sentimento de baixo desempenho nacional e uma miríade de doenças sociais, mais recentemente com o surto de tiroteios fatais com cores raciais cometidos por agentes da lei e contra eles [sem de maneira nenhuma querer justificar uma intervenção militar americana ou outra qualquer onde quer que seja, não se pode considerar "irrelevante" a guerra civil na Síria, principal fonte do problema dos refugiados que convulsiona a Europa, na qual estão envolvidos, entre outros, os EUA, a Rússia e a França]. Uma recente pesquisa Gallup assinala que apenas 17% dos americanos se sentem satisfeitos com a maneira como as coisas caminham, a porcentagem mais baixa desde outubro de 2013 -- e abaixo 12 pontos apenas no mês passado. 

Para muitos, obviamente, um motivo de preocupação é Donald Trump, que aceitou na tarde desta quinta-feira sua candidatura pelo Partido Republicano à presidência americana. Beligerante e errático, Trump tem entretanto uma chance séria de ganhar em novembro. No seu discurso de aceitação da indicação, ele buscou aumentar suas chances políticas pela única maneira que conhece: inflamando a angústia e a ansiedade públicas, com o objetivo de explorá-las.

Trump tomou desafios reais e os reformulou em termos que foram não apenas exagerados, mas também apocalípticos. "Os ataques à nossa polícia e o terrorismo em nossas cidades ameaçam nosso próprio modo de viver", afirmou. Embora abordasse temas variando de segurança pública a imigração e comércio, as soluções propostas por Trump tinham todas uma mesma premissa: a maneira de superar dificuldades é pelo uso da força. Para empresas americanas que usam do direito de produzir no exterior, a administração Trump imporá "consequências" não especificadas. Um muro gigantesco bloqueará imigrantes e traficantes de drogas ao longo da fronteira com o México. Um esquema de "lei e ordem" -- uma velha metáfora usada por Richard Nixon e George Wallace que Trump tirou do esquecimento -- será restaurado.

Talvez politicamente eficazes por causa de sua simplicidade, as agora famiiares formulações de Trump falhariam como políticas de fato -- porque são simplistas. Não há perspectiva prática, por exemplo, de construir o muro que ele insistentemente defende; mesmo se construído, traficantes de drogas e outros poderiam afinal construir túneis sob ele. E, como sempre, em seu discurso de aceitação não acrescentou detalhes que pudessem qualquer pessoa do contrário.

Quanto a lei e ordem, o presidente tem no máximo influência indireta sobre as milhares de agências de execução da lei país afora. Para ser levada a sério, a afirmação de Trump de que "a segurança será restaurada" no dia da oficialização de sua candidatura implica uma vasta federalização de uma função tradicionalmente estadual e local, ao contrário da lei e costumes longamente vigentes -- sem mencionar a doutrina de governo reduzido/mínimo do Partido Republicano, que tão tola e hipocritamente atrelou seu vagão à estrela de Trump. Para comunidades tensas necessitando de um rigor sutilmente diferenciado que chefes de polícia como David O. Brown, de Dallas, têm aplicado com êxito, um presidente Trump projetaria uma atitude repressiva a partir da Casa Branca, desprotegida por um retalho de sensibilidade, racismo ou de outra maneira. O resultado seria menos segurança, nada além disso.

Trump começou seu discurso apresentando-se como o portador de uma verdade dolorosa mas necessária. Para muitos de seus ouvintes, suas palavras expressaram uma realidade emocional que é sentida profundamente. Há um medo real no país; há uma dor real. Mas, para abordar isso será necessária uma liderança de fato, não a do tipo desejoso e demagógico incorporado por Trump na quinta-feira à noite.


terça-feira, 19 de julho de 2016

Após Nice, não dêem ao Estado Islâmico o que ele está pedindo

[Traduzo a seguir artigo de Mutaza Hussain, publicado no site The Intercept. Um detalhe interessante é o autor ser de origem árabe. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Não se sabe ainda muito sobre Mohamed Lahouaiej Bouhlel, o francês de 31 anos que a polícia diz ser o responsável por um ato horrendo de assassinato em massa na noite passada [o artigo foi publicado em 15/7] na cidade de Nice, sul da França. Após a matança, o presidente francês François Hollande classificou o ataque de "terrorismo islâmico", ligado ao grupo militante do Estado Islâmico (EI).  Partidários do EI online deram eco a essa afirmação, reivindicando a responsabilidade pelo ataque como outro golpe contra seus inimigos na Europa ocidental. 

Enquanto o motivo do ataque ainda está sob investigação, vale examinar porquê o EI está tão ansioso para reivindicar tal incidente como de sua autoria. Superficialmente, jogar um caminhão contra uma multidão reunida para assistir a uma queima de fogos na data da queda da Bastilha parece um ato de puro niilismo. Nenhum objetivo militar foi atingido. Relatórios iniciais sugerem que a matança pode levar aos ataques franceses aos territórios do EI já em diminuição no Iraque e na Síria. E muçulmanos franceses, muitos deles supostamente mortos no ataque, provavelmente enfrentarão represálias de segurança e reação popular de um público irritado e receoso na esteira de outro incompreensível ato de assassinato em massa.

Mas, os comunicados do EI e a história mostram que um resultado como esse é exatamente o que o EI busca. Na edição de fevereiro de 2015 de sua revista online Dabiq, o grupo pediu por atos de violência no ocidente que "eliminariam a zona cinzenta" por via de semear a divisão e criar um conflito insolúvel nas sociedades ocidentais nentre muçulmanos e não-muçulmanos. Um tal conflito forçariam os muçulmanos que vivem no ocidente a "ou abandonar a religião ... ou migrar para o Estado Islâmico, escapando assim da perseguição dos governos e cidadãos que a eles se opõem".  

Essa estratégia de usar a violência para forçar divisões na sociedade imita a tática do grupo no Iraque, onde usou ataques provocativos contra a população xiita para, deliberadamente, deflagrar um conflito sectário, que continua enfurecido até hoje.

Pode ser que o EI não tivesse linha de comunicação direta com Bouhlel. Diferentemente de muitos outros agressores, ele não havia estado no radar dos serviços de segurança franceses. Não há indícios de que tenha recebido treinamento ou viajado para território do EI. Informações iniciais de quem o conhecia mostram o retrato de um homem deprimido e irritado, que "passou muito de seu tempo em um bar, onde jogava e bebia". Tinha um histórico de crimes triviais, incluindo uma prisão em maio deste ano após um incidente de violência no trânsito. 

Mas, de certo modo, esses detalhes não importam. O modelo de terrorismo do EI reside em armar indivíduos tais como Bouhlel; o grupo convoca os jovens, os revoltados e os sem rumo mundo afora para atacar em seu nome os que estão à sua volta. Deste modo, o oder de insurgentes desesperados é amplificado através de uma combinação de mídia social e propaganda do feito. Um texto de  catequese usado elo grupo, intitulado "A Administração/Gestão da Selvageria" (The Management of Savagery), prescreve ataques terroristas como um meio de "inflamar a oposição", de arrastar pessoas comuns para o conflito "querendo ou não, de modo que cada pessoa irá para o lado que apoia". 

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No ocidente, ataques mortais em Paris, Bruxelas, Orlando e alhures trazem para mais próximo da realização o objetivo do Estado Islâmico de um mundo dividido.
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Partidos de extrema-direita hostis às minorias estão ganhando popularidade na Europa, enquanto nos EUA pesquisas mostram um significativo apoio popular a medidas até então impensáveis, como a de banir do país pessoas muçulmanas que não sejam cidadãos americanos. Como um furacão em câmara lenta, cada e todo ato de violência parece fazer um dano incremental à possibilidade de se ter uma sociedade tolerante e liberal.

Após o ataque em Nice, o ex-presidente da câmara de deputados americana Newt Gingrich botou lenha na fogueira demandando por "examinar toda pessoa aqui que tenha background muçulmano", acrescentando: "quem acreditar na sharia [direito islâmico] deve ser deportado". Essa foi uma declaração um tanto irônica de Gingrich, que em anos passados ajudou a providenciar espaço para que funcionários muçulmanos pudessem rezar no Congresso americano, e participou no planejamento de sessões para o Instituto Islâmico de Livre Mercado, um grupo de defesa do mercado livre e apoia produtos financiados segundo a sharia. 

A explosão de Gingrich, por mais que seja impraticável, reflete efetivamente um endurecimento dos sentimentos da população. À medida que o tempo passa e continuam os ataques de lobos solitários e de outros em nome do EI, não é inimaginável que propostas como a dele ganhem impulso.

Mas, de uma perspectiva tanto estratégica quanto moral, a pior coisa que se pode fazer em resposta ao horror de ocorrências como a de Nice seria dar ao EI o que ele diz que quer: polarização e ódio comunitário. Propostas para limpeza étnica ou "guerra civilizatória" podem satisfazer um desejo de dar ideia de força, mas na realidade elas alimentam a narrativa do grupo quanto a um mundo irrevogavelmente dividido por linhas religiosas. 

A Europa ocidental enfrentou ondas maiores de terrorismo no passado sem ceder à estratégia dos terroristas ou sacrificar seus valores intrínsecos. A crise do Estado Islâmico exigirá um nível semelhante de firmeza e lealdade. Mas, somente reconhecendo a armadilha que ela armou é que poderemos evitar infligir uma derrota em nós mesmos muito pior que a que um grupo insurgente desesperado e fanático jamais poderia esperar conseguir por si mesmo.

[O artigo nos dá mais uma dimensão da extrema dificuldade de combater o terrorismo e muito mais ainda de eliminá-lo. Trata-se de um inimigo sem rosto e sem uniforme, que mata impiedosamente quaisquer pessoas, inclusive compatriotas. Os chamados lobos solitários, como o de Nice, ampliaram de maneira assustadora  a imprevisibilidade de ataques terroristas. O ocidente está simplesmente desnorteado com esse inimigo que foge a todos os padrões até então estabelecidos. Geradores da onda de refugiados que invadem a Europa, entre os quais se infiltram terroristas, os países europeus estão colhendo hoje os frutos amargos de seus atos na África e no Oriente Médio. 

Ver também:
O Islã na Europa e no mundo
Ataques reabrem debate sobre integração de imigrantes na França
☛ A crise dos imigrantes ilegais e refugiados na Europa -- europeus colhem hoje o que semearam ontem]

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Mordomia: carros oficiais a serviço da família de Dilma

[Dilma Rousseff, a "honesta", continua pendurada nas tetas do Estado, para si mesma e para sua família. Reproduzo abaixo a reportagem da revista Isto É de 15 de julho corrente. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]


Porto Alegre, 12 de julho. 13h40 – O genro de Dilma Rousseff, Rafael Covolo, busca o filho na escola com carro oficial. A placa é fria para evitar identificação. Outro veículo também bancado pelo governo o escolta.

Como tantas outras Paulas filhas deste País, Paula levanta cedo da cama com o tilintar do despertador. Não raro, o marido, Rafael, já está de olhos abertos. Pela manhã, ela mantém uma rotina nada estranha à maioria das pessoas de classe média. Vai ao cabelereiro, faz compras para abastecer a despensa de casa, reserva uns minutos para o pilates e uma ida rápida à clínica de estética, e, eventualmente, dá uma passadinha no pet shop. Depois de almoçar, leva o filho à escola. À tarde, dirige-se ao trabalho, obrigação já cumprida pelo marido de manhã. Como tantas outras Paulas filhas deste País, Paula seria apenas mais uma brasileira se não carregasse em sua assinatura o sobrenome Rousseff.

Perante a lei, filhos de presidente da República são iguais a todos. Ombreiam-se aos demais cidadãos. Não deveriam merecer distinção ou receber tratamento especial, salvo em alguns casos de excepcionalidade. Mas a filha de Dilma, que hoje se encontra afastada, ou seja, nem o mandato de presidente exerce mais, não se constrange em cultivar uma mordomia ilegal. Diariamente, Paula Rousseff Araújo desfruta de uma regalia. A máquina do Estado a serve, bem como ao seu marido e filhos. As atividades narradas acima, como uma frugal ida ao cabelereiro, ao pilates e ao pet shop, são realizadas a bordo de um carro oficial blindado com motorista e segurança. Em geral, um Ford Fusion. Acompanha-os invariavelmente como escolta um Ford Edge blindado com dois servidores em seu interior, um deles um agente de segurança armado. O mesmo se aplica ao genro de Dilma, Rafael Covolo, e aos dois netos. No total, oito carros e dezesseis pessoas integram o aparato responsável pela condução e proteção da família da presidente afastada. Trata-se de um serviço VIP.

Quem banca essa estrutura é o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência. Ou seja, o contribuinte. Nas últimas semanas, reportagem de ISTOÉ flagrou os carros oficiais entrando e saindo do condomínio Vila de Leon, zona sul de Porto Alegre, onde moram os familiares de Dilma, para levá-los a compromissos do dia a dia. A rotina dos Rousseff segue um padrão. O 6 de julho dos descendentes da presidente afastada não foi muito diferente dos dias anteriores. Às 18h30, uma quarta-feira, o Fusion blindado escoltado pelo Ford Edge também à prova de balas trouxe a família de volta ao lar, depois de transportá-la para uma série de atividades pessoais. No dia seguinte, às 9h da manhã, os mesmos carros já estavam de prontidão na porta da casa da filha de Dilma para mais uma jornada por Porto Alegre. No dia 12/07 às 13h40, Rafael Covolo, marido de Paula, foi buscar um dos filhos na escola. Como de praxe, com o carro oficial. Um automóvel pago com dinheiro público os escoltou até o retorno para casa. O Fusion levava a placa IVF – 3267 (normalmente é esta ou a IVG – 1376) e o Edge IUF – 3085. Se consultados nos registros do DETRAN, os prefixos figurarão como “inexistentes”. Sim, são placas frias ou vinculadas, inerentes aos chamados carros oficiais de representação. [Repete-se aqui o apego de Dilma à falsidade, à mentira. Ela já falsificou seu currículo, inventando mestrado e doutorado na Unicamp que não tem, e mentiu aos seus eleitores e ao país para se reeleger em 2014. Para ela e seus seguidores, mentir em temas fundamentais e éticos não é desonestidade.]

Nos locais freqüentados por Paula Rousseff, em geral, há um alvoroço quando ela desembarca com o carro oficial e os seguranças em volta. Embora a filha da presidente afastada tente manter a discrição, não há como não reconhecê-la. O aparato em torno dela desperta a atenção dos funcionários. O atendente da unidade do “Bicho Pet Store”, localizada no bairro Menino de Deus, zona sul de Porto Alegre, diz que Paula é uma cliente assídua. Costuma levar para procedimentos de banho e tosa um cachorro de pequeno porte, semelhante a um shitzu. “A filha da presidente sempre vem ao petshop acompanhada de um monte de seguranças”. O mesmo serviço de transporte vip bancado pelo governo, composto por carro oficial e escolta, a conduz até o “Studio Martim Gomes Pilates”, na Vila Assunção. “Dona Paula vem aqui com freqüência. É nossa cliente”, atesta um funcionário da clínica. A equipe do salão Oikos Hair, também no bairro da Vila Assunção, é mais comedida ao falar de Paula. Questionada por ISTOÉ, uma secretária disse: “A Dilma já veio aqui também. Parou de vir faz tempo (…) Sobre a dona Paula …por razão de segurança não posso desmentir nem confirmar nada”.

6 de julho. 18h30 – Carros oficiais deixam os Rousseff em casa, um condomínio na zona sul de Porto Alegre

7 de julho. 9h – Dois veículos oficiais, um para transporte e outro para escolta , buscam os familiares de Dilma no condomínio onde moram

A mordomia de Paula Rousseff e Rafael Covolo, além de constituir inaceitável privilégio, é também uma benesse totalmente ilegal. A legislação é clara. Reza o artigo 3º do decreto 6.403 de março de 2008, baixado pelo ex-presidente Lula: os veículos oficiais de representação – como os que transportam a família de Dilma – são utilizados exclusivamente pelo presidente da República, pelo vice-presidente, pelos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica e pelo Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e por ex-presidentes da República. A única exceção que permitira que filhos de presidente desfrutassem desse privilégio é se fossem usados os chamados carros oficiais de transporte institucional. Com um condicionante: “se razões de segurança o exigirem”. Não é o caso, definitivamente. Primeiro porque carro institucional não possui escolta armada nem placa vinculada ou fria, como os veículos que servem a família de Dilma. Ainda de acordo com instrução normativa do Contran, veículo institucional é identificado com a expressão “governo federal” na cor amarelo ouro e tarja azul marinho. Nenhum dos carros usados por Paula e Rafael Covolo exibe esta inscrição. Mesmo que eles utilizassem esse tipo de veículo, haveria uma outra barreira de cunho legal.

Os Rousseff só poderiam ser enquadrados nessa situação totalmente excepcional se: 1) Comprovassem a existência de riscos à sua integridade física e 2) Fossem familiares de presidentes em exercício. Quer dizer, hoje o deslocamento da filha, genro e netos de Dilma a bordo de veículos oficiais compõe um mosaico de irregularidades. Se a mamata já seria desnecessária e ilegal com a presidente Dilma no pleno exercício do cargo, em se tratando da chefe do Executivo federal afastada a regalia ofertada à Paula Rousseff, Rafael Covolo e filhos afronta sobejamente a legislação em vigor. Por ironia, o decreto que estabelece regras para a utilização dos carros de governo foi reeditado com pequenas alterações por Dilma em outubro do ano passado, com o objetivo, segundo ela, de “racionalizar o gasto público no uso de veículos oficiais”. A racionalização, claro, não alcançou sua família, como se nota.

14 de julho. 11h30 – O Ford Fusion oficial aguarda um dos filhos de Paula Rousseff em frente à escola

Os serviços de transporte e segurança dos Rousseff em Porto Alegre estão a cargo de uma empresa terceirizada contratada pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República: a Prime Consultoria e Assessoria Empresarial, conforme documentos aos quais ISTOÉ teve acesso. Todo mês, a Prime encaminha ao Palácio do Planalto um relatório de abastecimento dos veículos. A última nota foi emitida no dia 1º de julho. Na prestação de contas estão listados os veículos, suas especificações, bem como as respectivas placas vinculadas, sem registro no DETRAN, e os motoristas responsáveis por atender aos familiares da presidente afastada na capital gaúcha. Em junho, por exemplo, foram gastos só com combustível R$ 13,8 mil. Os familiares de Dilma não precisariam de carros oficiais para o cumprimento de suas tarefas diárias. Paula Rousseff é procuradora do trabalho no Rio Grande do Sul. Entrou no Ministério Público do Trabalho em 2003 por meio de concurso público. Atualmente, recebe salário de R$ 25.260,20. Para quê a mordomia com dinheiro público? Por que o genro de uma presidente afastada precisa usar carro oficial para a execução dos afazeres cotidianos?

Na política, se não forem estabelecidos limites, necessários à liturgia do cargo, a família tem grande potencial para gerar constrangimentos. Sobretudo porque eventuais privilégios desfrutados por filhos dizem mais sobre os pais do que os próprios herdeiros. No Brasil, um País de oportunidades desiguais, regalias a parentes de políticos chamam muita atenção e, em geral, são consideradas inaceitáveis e despertam indignação e sensação de injustiça na população. Quando a prática é ilegal, a situação se agrava. Por constituir vantagem ilícita a terceiros e atentar contra os princípios da administração pública, o episódio em questão pode até render um processo contra Dilma por improbidade.

TUDO EM CASA Dilma com a filha e o neto, durante evento no Planalto


Procurado por ISTOÉ, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência afirmou que “permanece realizando a segurança da Presidenta Dilma e de seus familiares, de acordo com o disposto no inciso VII do Art 6º da Lei Nr 10.683, de 28 de maio de 2003”. O problema é que o referido “amparo legal” não prevê o uso de carros oficiais para fazer o transporte da família da presidente afastada. Em tese, apenas a escolta para segurança seria permitida.
Diz o inciso VII do Art 6º da Lei Nr 10.683: ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República compete zelar, assegurado o exercício do poder de polícia, pela segurança pessoal do Presidente da República, do Vice-Presidente da República e respectivos familiares, dos titulares dos órgãos essenciais da Presidência da República e de outras autoridades ou personalidades, quando determinado pelo Presidente da República, bem como pela segurança dos palácios presidenciais e das residências do Presidente da República e do Vice-Presidente da República.
Três dias antes de deixar a Presidência, em 2010, Lula fez questão de assegurar aos seus filhos a dispensável regalia do passaporte diplomático. Revelada pela imprensa, a esperteza engoliu o dono. Em novembro de 2013, a Justiça determinou a apreensão dos passaportes e o recolhimento dos mesmos pelo Itamaraty. Depois do impeachment de Dilma, o tema voltou à baila com a apimentada discussão sobre eventuais mordomias a que a presidente teria direito afastada do cargo. Uma ação civil pública questionou o uso por Dilma de aviões da FAB. A Justiça até permitiu o deslocamento com os jatos da Força Aérea Brasileira, desde que custeados pela própria mandatária afastada. Recentemente, apoiadores do PT se cotizaram para bancar as viagens. Pela trilha da carruagem, hoje já abóbora, haja crowdfunding militante (a popular vaquinha) para sustentar os privilégios de petistas e congêneres que ainda insistem em se refestelar com as benesses do Estado.

“É ilegal, mas eles usam mesmo assim”

Na quinta-feira 14, ISTOÉ conseguiu fazer contato com um dos responsáveis pela frota de carros oficiais que serve a família da presidente Dilma Rousseff em Porto Alegre. Com medo de retaliação, ele pediu para não ser identificado.

ISTOÉ – Quantos carros oficiais a família de Dilma tem à disposição?
São oito carros blindados de fábrica. Quatro para o transporte e mais quatro que fazem a escolta armada. É um serviço VIP. No carro oficial e no veículo de escolta há um motorista e um segurança. No total, são quatro pessoas envolvidas para cada dupla de carros.
ISTOÉ – Desde quando a filha, o genro e os netos da presidente afastada contam com o serviço de transporte e segurança pago pelo governo?
Há pelo menos cinco anos. São carros de representação com placa vinculada ou placa fria para não serem identificados. Se você consultar no DETRAN, aparece como placa inexistente.
ISTOÉ – Além de se tratar de uma mordomia, a utilização de carros de representação por familiares de presidente da República é ilegal.
Sim. É ilegal. Mas eles usam mesmo assim. Eles até poderiam usar uma escolta. Não sou PMDB nem nada. Mas, por exemplo, a Marcela Temer (atual primeira-dama) usa a escolta para segurança. É normal. Mas sabemos que, quando morava sozinha em São Paulo, ela ia para compromissos pessoais com o carro dela. Não com carro oficial. Isso que a família de Dilma faz contraria a lei.
ISTOÉ – Nossa reportagem apurou que a filha de Dilma leva o filho à escola, vai para o pilates, pet shop, clínica de estética e até ao cabelereiro com os veículos pagos pelo governo. O genro também usa os carros oficiais para atividades semelhantes. O sr. confirma essa informação?
Confirmo. Os carros oficiais os levam para atividades do dia a dia.
Colaborou Pedro Marcondes de Moura
*Com fotos de Lucas Uebel e Itamar Aguiar






domingo, 17 de julho de 2016

Vulcão Stromboli, em erupção há mais de 2.000 anos


Integrante das Ilhas Eólias, o vulcão Stromboli ao fundo, é uma pequena ilha localizada ao norte da Sicília e um dos vulcão em atividade na Itália. Considerado o mais ativo vulcão europeu, as erupções no Stromboli ocorrem com o incrível intervalo médio de apenas 1 hora!



Saindo da Sicília, a partir do porto de Milazzo numa viagem de aproximadamente 2 horas chega-se a Lipari, a principal ilha do arquipélago. Ao desembarcar em Lipari já é possível ver por todos os lados cartazes convidativos para visitar o Vulcão Stromboli. O melhor período para visita é a noite, pois o brilho da lava fruto da erupção fica totalmente em destaque.


Apesar de por vezes parecer assustador, muitas pessoas vivem aos pés do Vulcão Stromboli. Seus habitantes vivem basicamente do cultivo de azeitona, figo e malvasia (um espécie de uva), além da pesca. Falando em números, durante o inverno a população do Stromboli é por volta de 100 habitantes, já no verão, pode chegar a 4 mil!


O vulcão Stromboli visto da estação espacial.


A viagem de Lipari até o vulcão Stromboli leva por volta de 1 hora, e meia e os passeios normalmente são feitos no período da tarde ou em combinação com alguma outra ilha eólia durante o dia. Pois é no período noturno que o Stromboli dá os seus maiores espetáculos. As embarcações normalmente param na ilha para um passeio em meio à pequena cidade, para após o entardecer se deslocarem para a parte de trás do vulcão onde fica a área de erupção.




Há muitos anos atrás o Vulcão Stromboli já foi cenário de filme, a atriz Ingrid Bergman protagonizou o filme “Stromboli terra di Dio”.





O Stromboli está em atividade há mais de 2000 anos, lançando lava incandescente das várias aberturas de sua cratera. Depois que anoitece, o céu e as nuvens ao redor da boca do vulcão ficam completamente avermelhadas, num espetáculo sem igual da natureza, dando ao vulcão o apelido de “Farol do Mediterrâneo”.