quarta-feira, 10 de julho de 2013

A arte de Rembrandt

Para a elaboração desta postagem usei basicamente o livro "Rembrandt" da coleção Grandes Mestres, da Editora Abril, e a Wikipedia. Outras fontes eventuais serão mencionadas no texto, assim que ocorrerem.

No rico panorama do século 17, e provavelmente em toda a produção figurativa anterior aos grandes movimentos artísticos modernos, nenhum outro mestre deixou um número de autorretratos tão vasto quanto Rembrandt. A sua figura é vista em pelo menos 30 gravuras, 12 desenhos e mais 40 pinturas. São estudos penetrantes da própria fisionomia, não encomendados nem destinados a mecenas e protetores ricos.

Durante a juventude e os primeiros anos da maturidade, essa obsessão em representar a própria figura não salienta o exibicionismo ansioso de um artista excêntrico nem qualquer exercício pictórico sobre os contrastes luminosos. Atesta, curiosamente, o seu profundo interesse pela recitação e interpretação teatrais. Vários documentos comprovam as relações entre Rembrandt e o teatro de Amsterdã. O retrato do dramaturgo e empresário teatral Jan Hermanszoon Krul, um grupo de desenhos que reproduz atores e cenas melodramáticas, as ilustrações para o texto de Medeia de Jan Six (1648) e também a conhecida predileção do artista pelos trajes à l 'antique usados nas encenações de seu tempo são evidências da sua intensa participação na vida teatral da cidade.  Em seu próprio ateliê, Rembrandt pede que os alunos recitem como se estivessem no palco.

Rembrandt Harmenszoon van Rijn nasceu em Leiden, Holanda, em 15 de julho de 1606, sendo o oitavo (ou nono, segundo alguns) filho do moleiro Harmenszoon Gerritszoon van Rijn e de Cornelia van Suytbrouck. Desde criança manifestou grande inclinação para a pintura. Em 1620 matriculou-se na Universidade de Leiden, que logo abandonou. Inicia seu aprendizado com Jacob van Swanenburg. Teve um curto mas importantíssimo aprendizado de seis meses com o famoso pintor Pieter Lastman em Amsterdã. Rembrandt abriu um estúdio em Leida em 1624 ou 1625, compartilhando-o com seu amigo e colega de profissão Jan Lievens. Em 1627, Rembrandt começou a aceitar alunos, entre eles Gerrit Dou. Em 1628 faz duas pequenas gravuras retratando sua mãe, as primeiras provas conhecidas dessa técnica artística.

Em 1629, Rembrandt foi descoberto pelo estadista Constantijn Huygens (pai do famoso matemático e físico Christiaan Huygens), que conseguiu para o pintor importantes encomendas na corte de Haia. Como resultado desta conexão, o príncipe Frederik Hendrik continuou a adquirir as obras de Rembrandt até 1646. No final de 1631, Rembrandt mudou-se para Amsterdã, então em rápida expansão como o novo centro comercial dos Países Baixos, e começou a praticar como retratista profissional, obtendo grande êxito. Em 1632 faz seu famoso quadro A Aula de Anatomia do Doutor Nicolaes Tulp. Ele inicialmente permaneceu com um marchand, Hendrick van Uylenburg, e em 1634 casou-se com sua sobrinha, Saskia van Uylenburg.

Em 1641, depois de três filhos natimortos, Saskia dá à luz Titus. Em 1642 Saskia morre, aos 30 anos. O pintor realiza sua obra mais famosa, A Companhia do Capitão Frans Banning Cocq (A Ronda Noturna). Em 1648, depois de um penoso processo, Rembrandt é obrigado a pagar à governanta que cuidava de seu filho, Geertje Dircx, que cuidava de seu filho, o valor vitalício de 200 florins por ano.

Em 1649, o pintor contrata Hendrickje Stoffels para o lugar de Dircx e inicia com ela um relacionamento. Em 1654, Rembrandt e Hendrickje são denunciados por concubinato na corte eclesiástica. A situação financeira do pintor se deteriora. Em 1656, o pintor declara cessio bonorum [cessão de bens, em latim], uma espécie de declaração de falência. Entre 1657 e 1658, a coleção de Rembrandt é leiloada na taberna De Keysers Kroon, mas o resultado das vendas é pífio.

Em 1660, Hendrickje e Titus abrem uma sociedade para vender as obras do pintor. Em 1662, Rembrandt realiza Os Negociantes de Tecidos, sua última encomenda pública. Em 10 de fevereiro de 1668, Titus casa-se com Magdalena van Loo, sobrinha da irmã de Saskia. No dia 4 de setembro, Titus morre.

Em 4 de outubro de 1669, Rembrandt morre em Amsterdã.

[Clique em cada imagem para ampliá-la.]

O descanso na fuga para o Egito. Gravura, cerca de 1626. - (Fonte: Wikipedia).

A circuncisão. Gravura, cerca de 1626. - (Fonte: Wikipedia). 

 A mãe do pintor, cabeça e face apenas. Gravura, 1628 - (Fonte: Wikipedia). 

 Mãe do pintor, cabeça e busto. - (Fonte: Wikipedia). 

 Mendigo sentado e seu cachorro. Gravura, cerca de 1629. - (Fonte: Wikipedia). 

 Autorretrato com um boné e olhos arregalados. Gravura, 1630. Staatliche Museen, Kupfertischkabinett, Berlim. - (Fonte: Wikipedia). 

 Autorretrato com Saskia. Gravura, 1636. - Staatliche Museen, Kupfertischkabinett, Berlim. - (Fonte: Wikipedia).

Autorretrato, apoiado em um peitoril de pedra. Gravura, 1640.  Staatliche Museen, Kupfertischkabinett, Berlim. - (Fonte: Wikipedia).

Os três cantores (audição) (1624/1625). Óleo sobre madeira, 21,6 x 17,8 cm. ColeçãoW. Baron van Dedem. - (Fonte: Wikipedia).

 O homem rico da parábola (1627). Óleo sobre madeira, 31.9 x 42.5 cm. Staatliche Museen Gemäldegalerie, Berlim. - (Fonte: Wikipedia).

 Autorretrato com cabelos desgrenhados (1628). Óleo sobre madeira, 22,5 x 18,8 cm. Rijksmuseum, Amsterdã. - (Fonte: Wikipedia).

O pintor em seu estúdio (cerca de 1628). Óleo sobre madeira, 24,8 x 31,7 cm. - Museum of Fine Arts, Boston (EUA).

A ceia em Emaús (1628/1629). Óleo sobre madeira, 37,4 x 42,3 cm. Musée Jacquemart-André, Paris. - (Fonte: Wikipedia).

São Paulo à sua mesa de escrever (1628/1629). Óleo sobre madeira, 47.2 x 38 cm. Germanisches Nationalmuseum, Nuremberg. - (Fonte: Wikipedia).

Idoso com gorjal e chapéu preto (1631). Óleo sobre madeira, 83.1 x 75.7 cm.
Art Institute of Chicago. - (Fonte: Wikipedia).

 Autorretrato com traje oriental, com cão (1631). Óleo sobre madeira, 66.5 x 52 cm. Petit Palais, Paris - 66.5 x 52 cm. - (Fonte: Wikipedia).

Homem com traje oriental (1632). Óleo sobre madeira, 152,5 x 124 cm. The Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque. - (Fonte: Wikipedia).

A aula de anatomia do Dr. Nicolaes Tulp (1632). Óleo sobre tela, 169.5 x 216.5 cm. Mauritshuis, Haia, Holanda. - (Fonte: Wikipedia).

 A descida da cruz (1633). Óleo sobre madeira, 89,5 x 65,2 cm). Alte Pinakothek, Munique, Alemanha. - (Fonte: Google).

Saskia vestida de Flora (1634). Óleo sobre tela, 125 x 101 cm. Museu Hermitage, S. Petersburgo, Rússia. - (Fonte: Wikipedia).

O sacrifício de Isaac (1635). Óleo sobre tela, 193,5 x 132,8 cm. Museu Hermitage, S. Petersburgo, Rússia. - (Fonte: Wikipedia).

 O filho pródigo na taberna (autorretrato com Saskia) (cerca de 1635). Óleo sobre tela, 161 x 131 cm. Gemäldegalerie Alte Meister, Dresden, Alemanha. - (Fonte: Wikipedia).


 Danae (1636, com retoques sucessivos em 1642-1643). Óleo sobre tela, 185 x 203 cm. Museu Hermitage, S. Petersburgo. Na manhã de 15 de junho de 1985 um visitante rasgou a tela duas vezes com uma faca e jogou ácido sobre ela. O vândalo, um lituano, foi depois considerado insano pela justiça. O trabalho completo de restauração levou 12 anos. A foto acima é atual. - (Fonte: Wikipedia).

Foto em preto e branco do estado em que ficou a pintura acima, após o ataque de vandalismo em 1985. - (Foto: Google).

Um alcaravão morto, seguro por um caçador (1639). Óleo sobre madeira, 121 x 89 cm. Staatliche Kunstsammlungen Dresden. - (Fonte: Wikipedia).

Pavões mortos e uma garota (1639). Óleo sobre tela, 144 x 134.8 cm. Rijksmuseum Amsterdam. - (Fonte: Wikipedia).

Retrato de Aletta Adriaensdr (1639). Óleo sobre madeira, 65.5 x 55.5 cm. Museum Boijmans Van Beuningen, Rotterdam. - (Fonte: Wikipedia).

Retrato de Maria Trip (1639). Óleo sobre tela, 65.5 x 55.5 cm. 107 x 82 cm. Rijksmuseum Amsterdam. - (Fonte: Wikipedia).

Autorretrato (1640). Óleo sobre tela, 102 x 80 cm. National Gallery, London. - (Fonte: Wikipedia).

Retrato do pregador menonita Cornelius Claesz Anslo e sua mulher Aaltje Gerritsdr Shouten (1641). Óleo sobre tela, 176 x 210 cm. Gemäldegalerie, Berlin. - (Fonte: Wikipedia).

A Companhia do Capitão Frans Banning Cocq (A Ronda Noturna) (1642). Óleo sobre tela, 363 × 437 cm. Rijksmuseum, Amsterdã. - (Fonte: Wikipedia).

Descanso durante a fuga para o Egito (1647). Óleo sobre madeira, 34 x 48 cm. National Gallery of Ireland, Dublin, Irlanda. - (Fonte: Wikipedia).


 Homem com capacete dourado (cerca de 1650). Óleo sobre tela, 67,5 x 50,7 cm. Staatliche Museen Gemäldegalerie, Berlim. - (Fonte: Google).

Retrato de Jan Six (1654). Óleo sobre tela, 112 x 102 cm. Fundação Six, Amsterdã. - (Fonte: Wikipedia).

Betsabá com a carta de Davi (1654). Óleo sobre tela, 142 x 142 cm. Museu so Louvre, Paris. - (Fonte: Wikipedia).

 Jovem banhando-se num riacho (1654). Óleo sobre madeira, 61,8 x 47 cm. National Gallery, Londres. - (Fonte: Wikipedia).

Retrato de um idoso numa cadeira de braços (1654). Óleo sobre tela, 109 x 85 cm. Museu Hermitage, S. Petersburgo, Rússia. - (Fonte: Wikipedia).

Homem com armadura (1655). Óleo sobre tela, 137.5 x 104.5 cm. Kelvingrove Art Gallery and Museum, Glasgow, Escócia. - (Fonte: Wikipedia).

Autorretrato pequeno (1655). Óleo sobre madeira, 49,2 x 41 cm. Kunsthistorisches Museum, Vienna. - (Fonte: Wikipedia).

Carcaça de boi (1655). Óleo sobre madeira, 94 x 69 cm. Museu do Louvre, Paris. - (Fonte: Wikipedia).

Hendrickje com roupa de Flora (cerca 1656). Óleo sobre tela, 100 x 91.8 cm. Metropolitan Museum of Art, New York. - (Fonte: Wikipedia).

Moça (Hendrickje Stoffels) em uma porta aberta (1656/1657). Óleo sobre tela, 86 x 65 cm. Gemäldegalerie, Berlin. - (Fonte: Wikipedia).

Retrato de um casal como figuras do Velho Testamento (A Noiva Judia) (1665). Óleo sobre tela, 121.5 x 166.5 cm. Rijksmuseum, Amsterdã. - (Fonte: Wikipedia).

A volta do filho pródigo (cerca de 1666). Óleo sobre tela,262 x 205 cm. Museu Hermitage, S. Petersburgo, Rússia. - (Fonte: Wikipedia).

Último autorretrato (1669). Óleo sobre tela, 65.4 x 60.2 cm. Mauritshuis, Haia, Holanda. - (Fonte: Wikipedia).

Simão com Jesus (1669). Óleo sobre tela, 98.5 x 79.5 cm. Nationalmuseum, Estocolmo, Suécia. - (Fonte: Wikipedia).




terça-feira, 9 de julho de 2013

Dificultando a espionagem pela NSA americana

[Nestes tempos indigestos, a espionagem do Big Brother americano sobre nossas vidas é mais um ingrediente para nos revoltar. Começam a surgir dicas sobre como se proteger contra essa invasão absurda de privacidade, como as feitas por Carlos Alberto Teixeira ontem pelo Globo e reproduzidas abaixo.]

Apesar da maioria esmagadora dos internautas não dar a mínima por estar ou não sendo espionada pela NSA, alguns usuários estão num patamar mais elevado no quesito paranoia.  Para estes, uma das saídas é criptografar mensagens sigilosas de e-mail. Os mais radicais preferem criptografar todas as mensagens, mas aí já é exagero. Uma ferramenta razoavelmente confiável é o Hushmail <http://www.hushmail.com>, onde se pode criar uma conta grátis para pequenos volumes de tráfego, armazenando até 25MB de mensagens, com a condição de que a conta precisa ser acessada pelo menos uma vez a cada três semanas, caso contrário é desativada automaticamente pelo site.

No Hushmail, a encriptação se dá por meio de uma pergunta e uma resposta. Quem recebe a mensagem precisa saber a resposta a uma pergunta livre que o remetente estipula. No uso diário, em mensagens ponto a ponto, o ideal é usar uma pergunta cuja resposta apenas o destinatário conheça, algo que pode ser combinado pessoalmente com o remetente — não por telefone, que pode estar grampeado.  O Hushmail tem planos pagos com maior capacidade de armazenamento e também planos corporativos. O site foi criado com o apoio de Phil Zimmermann, criador do PGP — o primeiro software grátis de criptografia por chave pública (veja <http://goo.gl/y5llu>).

Vários sites oferecem serviço semelhante ao do Hushmail. O site “How-To-Geek”, por exemplo, oferece 31 opções no total, no link <http://goo.gl/sKfjK>.

Para os mais obsessivos, uma solução mais robusta, oferecendo criptografia realmente difícil de quebrar, é instalar o gratuito GnuPG <http://gnupg.org>, de onde pode ser baixado o pacote binário para Windows denominado Gpg4Win <http://gpg4win.org>. Outra opção robusta, esta paga, é o Symantec Encryption Desktop, anteriormente conhecido como PGP Desktop.

Para conversas por voz e mensagens de texto, a Silent Circle <https://silentcircle.com> oferece soluções de criptografia para usuários domésticos, corporativos e governamentais. Outro fornecedor bem cotado é a alemã GSMK CryptoPhone <http://www.cryptophone.de>.

Quanto à navegação na web, o usuário mais preocupado com seu anonimato não pode nem pensar nas “incognito windows” do navegador Chrome, do Google. Apesar desta modalidade do Chrome não deixar rastros no histórico do dono da conta, é quase certo que o Google mantém os dados em seus servidores.

A solução mais confiável é a rede de anonimato Tor (The Onion Router = o roteador cebola), baseada num software gratuito que redireciona o tráfego internet por uma rede mundial de servidores mantidos por voluntários — são cerca de 3 mil repetidoras que ocultam o tráfego como se fossem camadas de uma cebola, dificultando a qualquer interessado vigiar ou analisar o tráfego de um usuário na rede. O site oficial do Tor é <https://www.torproject.org>, mas o software ainda é pouco amigável para usuários domésticos inexperientes.














 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Desmascarando a administração de Dona Dilma (17) -- Em cima do laço

[Mais um artigo competente, que desnuda a gestão da nossa terna ex-guerrilheira e nos ajuda a entender por que o país está economicamente ladeira abaixo, praticamente na banguela. De quebra, joga um pouco mais de luz nas razões por trás dos movimentos de rua de hoje.]

Em cima do laço

Raul Velloso (*) -- O Globo, 08/7/2013

O ministro da Fazenda acaba de anunciar um corte de R$ 15 bilhões no custeio geral do governo, para viabilizar a nova meta fiscal de 2013. Ao mesmo tempo, na direção oposta, fala-se de maiores desonerações tributárias no transporte urbano, algo que também agradaria aos manifestantes. Como em situações que vivi várias vezes no governo, esse tipo de corte é pouco eficaz, mas é o que resta à Fazenda quando se trata de fazer ajustes em cima do laço. O certo seria mudar a estrutura do gasto, como se verá ao final.

A verdade é que o governo foi pego no contrapé quando estouraram as manifestações. Primeiro, porque enfrenta uma séria crise de credibilidade na gestão fiscal, crise essa inteiramente desnecessária. Que os resultados fiscais vêm piorando há bastante tempo, é fato. Só que, em vez de apresentar justificativas válidas — a crise etc. —, o governo resolveu esconder a situação real mediante o uso do que ficou conhecido como “contabilidade criativa”. Havia espaço para os saldos fiscais caírem, pelo menos até certo ponto, pois, no conceito de “dívida líquida”, que exclui da dívida bruta as aplicações financeiras, a razão dívida/PIB não tenderia a subir. Bastaria o governo dizer que, passado o auge da crise, tudo voltaria ao normal.

Outro problema tem a ver com a brutal expansão dos financiamentos do BNDES, que se têm viabilizado pela inédita emissão de títulos públicos dos últimos anos. Um maior volume de financiamentos para viabilizar a expansão da infraestrutura será crucial para tirar o país do buraco, mas dois subprodutos do que tem ocorrido até agora começam a despertar preocupação. Como tem havido pouca infraestrutura e outras prioridades no leque de aplicações do BNDES, o forte crescimento da dívida pública bruta resultante dessas emissões precisa ser mais bem justificado. Paralelamente, o salto observado nas transferências de dividendos do BNDES ao Tesouro, em grande medida relacionado com essas operações, tem um forte cheiro de maquiagem fiscal.

O governo é também mal avaliado pelo fato de o modelo de crescimento do consumo, que vem sendo posto em prática há vários anos, ter se esgotado. Em vez de mudar o curso do “transatlântico” na direção de mais investimento e menos consumo, optou-se por esgarçar o modelo ao máximo, interferindo indevidamente no sistema de preços (como nos congelamentos de preços e tarifas básicas), e tolhendo a ação privada séria nas concessões de infraestrutura. Para completar, anunciou-se no início do ano que não haveria mais meta fiscal a cumprir, algo em que o ministro da Fazenda acaba de voltar atrás. É nesse contexto que se diz que foi abandonado o tripé macroeconômico herdado da fase FHC e do início do governo Lula. A síntese disso tudo é que a inflação está acima do tolerável e a economia anda a passo de cágado.

Agora que é preciso, em adição, responder adequadamente às manifestações, o governo procura desviar as atenções para outros temas, dessa feita uma confusa reforma política, cuja impossibilidade prática só vai aumentar a pressão das massas à frente. E anuncia, abertamente, o rompimento de contratos, ao suspender reajustes de pedágios programados normalmente para agora.

Além de recuperar a credibilidade fiscal e da gestão econômica, sem o que acabaremos perdendo a classificação de “grau de investimento” das agências de risco internacionais, o que seria um caos para o país, penso ser hora de se fazer uma discussão mais profunda e produtiva do orçamento federal, exatamente por ser o lugar onde reformar é efetivamente prioritário.

Ninguém sabe disso com clareza, mas 75% do gasto da União se dão com uma gigantesca folha de pagamento de benefícios previdenciários e assistenciais, além dos salários de servidores, resultado de um exagerado modelo de transferência de dinheiro para certos segmentos, não necessariamente os mais necessitados. Essa folha corresponde hoje a cerca de 54 milhões de contracheques, onde se pendura mais de metade da população brasileira, se raciocinarmos com duas pessoas sustentadas a cada contracheque.

Os 25% restantes da despesa total se decompõem em 8% para gastos correntes em saúde; 1,3% para os investimentos em transportes; 4,7% para os demais investimentos; e os demais 11% são gastos correntes pulverizados em setores que às vezes deveriam ser prioritários e não o são. Essa última parcela inclui, ainda, o espremido custeio geral da máquina, de onde o ministro da Fazenda quer agora tirar algo 50% acima do gasto em transportes, obviamente inviável.
Ressalte-se que em 1987, um pouco antes da implementação do atual modelo de gastos, os gastos em saúde representavam os mesmos 8% do total, enquanto os de investimento eram 16% do todo. Enquanto isso, a “grande folha de pagamento” pesava bem menos: 39% do total.

Como se vê pelos protestos, saúde e infraestrutura estão na linha de frente dos gritos. Ou seja, só transferir dinheiro não é suficiente. A tarefa é grande e urgente. O país precisa correr porque está em cima do laço.

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(*) Raul Velloso é economista, especializado em análise macroeconômica e finanças públicas.



Dona Dilma entre o voo de galinha e a dança dos tangarás

Nossa doce, terna e eternamente sorridente Dona Dilma, nossa mui cara (lato sensu) Dama de Ferrugem, está numa fase de transição ou de muda, se quiserem. Está saindo da fase dos voos de galinha em sua política (lato sensu) econômica, e entrando na fase da dança dos tangarás (como diz o jornalista Jorge Bastos Moreno, do Globo) -- um passo à frente, um passo atrás.

Do alto de sua nanomicrométrica competência, nossa polida Dama de Ferrugem chegou a afirmar categoricamente em maio do ano passado que "nós estamos 100% preparados para a crise, 200% preparados, 300% preparados". Na fase galinácea de seu governo, nossa afável ex-guerrilheira cansou a beleza e o fôlego dela e do país na cruzada perdida do estímulo ao consumismo, deu com os nossos burros n'água e deixou o país periclitante em todos os fundamentos econômicos e na marca do pênalti das agências de classificação de risco.  Não contente com isso, desandou a maquiar as contas públicas para torná-las ficticiamente favoráveis, achando que os órgãos financeiros internacionais são idiotas e não perceberiam sua trampolinagem, e acabou levando um puxão de orelha do FMI por causa disso.

Um monstrengo, misto de cria política e conselheira estratégica do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula), nossa supersimpática Dona Dilma elegeu-se com folga e em dois anos de governo, com meio mandato, escancarou toda sua imensa incompetência política e executiva, revelou-se uma gestora absolutamente inepta e intratável e acabou criando as condições finais para que o povo fosse às ruas e desabafasse seu protesto contra as lambanças que infernizam sua vida, particularmente na última década.

Jogada contra as cordas, vaiada em público, nossa serena ex-guerrilheira ficou perdidinha e mergulhou na dança dos tangarás. Mas, antes disso, fingindo que nada acontecia em nossas ruas, janelas e praças, ficou duas semanas tocando "normalmente" sua agenda como se estivéssemos com céu de brigadeiro, mar de almirante e as ruas vazias. De repente, acordou e danou-se. Propôs a convocação de uma Constituinte e cinco pactos sociais, como "resposta às ruas". A ideia da Constituinte não durou 24h, foi imediatamente morta e sepultada por juristas e políticos. Inconformada com essa ousadia de seus adversários, voltou ao centro do ringue e pariu outro rato: um plebiscito popular para pesquisar que reforma política o povo quer.

A proposta do plebiscito vem sendo mais bombardeada que Berlim pelos Aliados -- do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aos políticos da base política trincada do governo, todos criticam a complexidade, o prazo exíguo, o custo, a oportunidade e a eficácia dessa consulta. Além da burrice de ignorar que a iniciativa para isso não pode ser do Executivo, mas sim do Legislativo. O tal do plebiscito foi derrubado e ressuscitado pelo vice-presidente Michel Temer num mesmo dia, em pouquíssimas horas, e continua no limbo. 

Com a leveza de um elefante, nossa cortês Dona Dilma continua com sua dança dos tangarás no tocante à importação de médicos estrangeiros, apesar de ninguém querer saber dessa dança -- à exceção talvez do interesseiro ministro da Saúde, Alexandre Padilha, por razões políticas, já que pretende concorrer ao governo de S. Paulo.  Inicialmente, a lista de importados incluía médicos portugueses, cubanos e espanhóis. Agora, sem mais nem menos, os cubanos foram excluídos da lista. Com essa firmeza de decisões e rumos, oscilando entre voos de galinha e a dança dos tangarás, nossa gentil ex-guerrilheira vai empurrando o país p'ro buraco e enchendo a nossa paciência.

O mal-estar contemporâneo

[O artigo abaixo me foi recomendado por meu caro amigo Swami, a quem agradeço. Apesar de bastante longo, acho sua leitura muito interessante, válida e oportuna. Este texto foi apresentado no sábado na Festa Literária de Paraty (Flip), em debate com o filósofo Marcos Nobre. O autor, André Lara Resende, formado em economia pela PUC-Rio e doutorado em economia pelo MIT - Massachussetts Institute of Technology (EUA), foi assessor especial do presidente Fernando Henrique Cardoso e presidente do BNDES no mesmo governo. Em novembro de 1998, foi obrigado a renunciar à presidência do BNDES devido ao escândalo do grampo do BNDES, que derrubou também seu ex-sócio Luiz Carlos Mendonça de Barros da chefia do Ministério das Comunicações. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

O mal-estar contemporâneo

André Lara Resende - Valor Econômico, 05/7/2013

Na tentativa de interpretar o protesto das ruas nas grandes cidades brasileiras, há uma natural tentação de fazer um paralelo com os movimentos similares nos países avançados, sobretudo da Europa, mas também nos EUA - Occupy Wall Street - assim como com os da chamada Primavera Árabe. As condições objetivas são, contudo, muito distintas. A Primavera Árabe é um fenômeno de países totalitários, onde não há representação democrática. Não é o caso do Brasil. Na Europa, sobretudo nos países mediterrâneos periféricos mais atingidos pelos efeitos da crise financeira de 2008, houve uma drástica piora das condições de vida. O desemprego, especialmente entre os jovens, subiu para níveis dramáticos. Mais uma vez, não é o caso do Brasil.

Nem os críticos mais radicais ousariam argumentar que o Brasil de hoje não se enquadra nos moldes das democracias representativas do século XX. Podem-se culpar os desacertos da política econômica nos últimos seis anos. Embora devam ficar mais evidentes daqui para a frente, os efeitos negativos da incompetência da política econômica só muito recentemente se fizeram sentir. Fato é que, desde a estabilização do processo inflacionário crônico, houve grandes avanços nas condições econômicas de vida dos brasileiros. Nos últimos 20 anos, houve ganho substancial de renda entre os mais pobres. Ao contrário do que ocorreu em outras partes do mundo, até mesmo nos países avançados, a distribuição de renda melhorou. O desemprego está em seu mínimo histórico.

É verdade que a inflação, especialmente a de alimentos, que se faz sentir mais intensamente pelos assalariados, está em alta. Por mais consciente que se seja em relação aos riscos, políticos e econômicos, da inflação, é difícil atribuir à inflação o papel de catalisadora do movimento das ruas nas últimas semanas. Só agora a taxa de inflação superou o teto da banda - excessivamente generosa, é verdade - da meta do Banco Central.

Os dois elementos tradicionais da insatisfação popular - dificuldades econômicas e falta de representação democrática - definitivamente não estão presentes no Brasil de hoje. Inflação, desemprego, autoritarismo e falta de liberdade de expressão não podem ser invocados para explicar a explosão popular. O fenômeno é, portanto, novo. Procurar interpretá-lo de acordo com os cânones do passado parece-me o caminho certo para não o compreender.

O movimento de maio de 1968 na França tem sido lembrado diante das manifestações das últimas semanas. O paralelo se justifica, pois maio de 68 é o paradigma do movimento sem causas claras nem objetivos bem definidos, uma combustão espontânea surpreendente, que ocorre em condições políticas e econômicas relativamente favoráveis. Movimento que, uma vez detonado, canaliza um sentimento de frustração difusa - um "malaise"- com o estado das coisas, com tudo e todos, com a vida em geral.

A novidade mais evidente em relação a maio de 68 na França é [sic] a internet e as redes sociais. Embora não tivesse expressão clara na vida pública francesa, a insatisfação difusa poderia ter sido diagnosticada, ao menos entre os universitários parisienses. No Brasil de hoje, a irritação difusa podia ser claramente percebida na internet e nas redes sociais. O movimento pelo passe livre fez com que este mal-estar transbordasse do virtual para a realidade das ruas. Tanto os universitários franceses de 68, quanto os internautas do Brasil de hoje, não representam exatamente o que se poderia chamar de as massas ou o povão, mas funcionam igualmente como sensores e catalisadores de frustrações comuns.

Quais as causas do mal-estar difuso no Brasil de hoje, que transbordou da internet para a realidade e levou a população às ruas?

Parecem ter dois eixos principais. O primeiro, e mais evidente, é uma crise de representação. A sociedade não se reconhece nos poderes constituídos - Executivo, Legislativo e Judiciário - em todas suas esferas. O segundo é que o projeto do Estado brasileiro não corresponde mais aos anseios da população. O projeto do Estado, e não do governo, é importante que se note, pois a questão transcende governos e oposições. Este hiato entre o projeto do Estado e a sociedade explica em grande parte a crise de representação.

O Estado brasileiro mantém-se preso a um projeto cuja formulação é do início da segunda metade do século passado. Um projeto que combina uma rede de proteção social com a industrialização forçada. A rede de proteção social inspirou-se nas reformas das economias capitalistas da Europa, entre as duas Grandes Guerras, reforçadas após a crise dos anos 1930. Foi introduzida no Brasil por Getúlio Vargas, para a organização do mercado de trabalho, baseado no modelo da Itália de Mussolini. A industrialização forçada através da substituição de importações, introduzida por Juscelino Kubitschek nos anos 1950, e reforçada pelo regime militar nos anos 1970, tem raízes mais autóctones. Suas origens intelectuais são o desenvolvimentismo latino-americano dos anos 1950, que defendia a ação direta do Estado, como empresário e planejador, para acelerar a industrialização.

Não nos interessa aqui fazer a análise crítica do projeto desenvolvimentista que, com altos e baixos, aos trancos e barrancos, cumpriu seu papel e levou o país às portas da modernidade neste início de século. Basta ressaltar que o desenvolvimentismo, em seus dois pilares - a industrialização forçada e a rede de proteção social - dependem da capacidade do Estado de extrair recursos da sociedade. Recursos que devem ser utilizados para financiar o investimento público e os benefícios da proteção social.

Diante da baixa taxa de poupança do setor privado e da precariedade da estrutura tributária do Estado, a inflação transferiu os recursos da sociedade para o Estado, até que nos anos 1980 viesse a se tornar completamente disfuncional. Com a inflação estabilizada, a partir do início dos anos 1990, o Estado se reorganizou para arrecadar por via fiscal também os recursos que extraía através do imposto inflacionário. A carga fiscal passou de menos de 15% da renda nacional, no início dos anos 1950, para em torno de 25%, nas décadas de 1970 a 90, até saltar para os atuais 36%, depois da estabilização da inflação. O Brasil tem hoje uma carga tributária comparável, ou mesmo superior, à das economias mais avançadas.

Apesar de extrair da sociedade mais de um terço da renda nacional, o Estado perdeu a capacidade de realizar seu projeto. Não o consegue entregar porque, apesar de arrecadar 36% da renda nacional, investe menos de 7% do que arrecada, ou seja, menos de 3% da renda nacional. Para onde vão os outros 93% dos quase 40% da renda que extrai da sociedade? Parte, para a rede de proteção e assistência social, que se expandiu muito além do mercado de trabalho organizado, mas, sobretudo, para sua própria operação. O Estado brasileiro tornou-se um sorvedouro de recursos, cujo principal objetivo é financiar a si mesmo. Os sinais dessa situação estão tão evidentes, que não é preciso conhecer e analisar os números. O Executivo, com 39 ministérios ausentes e inoperantes; o Legislativo, do qual só se tem más notícias e frustrações; o Judiciário pomposo e exasperadoramente lento.

O Estado foi também incapaz de perceber que seu projeto não corresponde mais ao que deseja a sociedade. O modelo desenvolvimentista do século passado tinha dois pilares. Primeiro, a convicção de que a industrialização era o único caminho para escapar do subdesenvolvimento. Países de economia primário-exportadora nunca poderiam almejar alcançar o estágio de desenvolvimento das economias industrializadas. Segundo, a convicção de que o capitalismo moderno exige a intervenção do Estado em três dimensões: para estabilizar as crises cíclicas das economias de mercado; para prover uma rede de proteção social; e, no caso dos países subdesenvolvidos, para liderar o processo de industrialização acelerada. As duas primeiras dimensões da ação do Estado são parte do consenso formado depois da crise dos anos 1930. A terceira decorre do sucesso do planejamento central soviético em transformar uma economia agrária, semifeudal, numa potência industrial em poucas décadas. A proteção tarifária do mercado interno, com o objetivo de proteger a indústria nascente e promover a substituição de importações, completava o cardápio com um toque de nacionalismo.

O nacional-desenvolvimentismo, fermentado nos anos 1950, teve sua primeira formulação como plano de ação do governo na proposta de Roberto Simonsen. Embora sempre combatido pelos defensores mais radicais do liberalismo econômico, como Eugênio Gudin, autor de famosa polêmica com Roberto Simonsen, e posteriormente por Roberto Campos, foi adotado tanto pela esquerda, como pela direita. Seu período de maior sucesso foi justamente o do "milagre econômico" do regime militar.

Na década de 1980, a inflação se acelera e se torna definitivamente disfuncional. As sucessivas e fracassadas tentativas de estabilização passam a dominar o cenário econômico. Com a estabilização do real, a partir da segunda metade da década de 1990, ainda com algum constrangimento em reconhecer que o nacional-desenvolvimentismo já não fazia sentido num mundo integrado pela globalização, o país parecia estar em busca de novos rumos. A vitória do PT foi, sem dúvida, parte da expressão desse anseio de mudança.

Nos dois primeiros anos do governo Lula, a política econômica foi essencialmente pautada pela necessidade de acalmar os mercados financeiros, sempre conservadores, assustados com a perspectiva de uma virada radical à esquerda. A partir daí, o PT passou a pôr em prática o seu projeto. Um projeto muito diferente do que defendia enquanto oposição. O projeto do PT no governo, frustrando as expectativas dos que esperavam mudanças, muito mais do que o aparente continuísmo dos primeiros anos do governo Lula, revelou-se flagrantemente retrógrado. É essencialmente a volta do nacional-desenvolvimentismo, inspirado no período em este que foi mais bem-sucedido: durante regime militar. A crise internacional de 2008 serviu para que o governo abandonasse o temor de desagradar aos mercados financeiros e, sob pretexto de fazer política macroeconômica anticíclica, promovesse definitivamente a volta do nacional-desenvolvimentismo estatal.

O PT acrescentou dois elementos novos em relação ao projeto nacional-desenvolvimentista do regime militar: a ampliação da rede de proteção social, com o Bolsa Família, e o loteamento do Estado. A ampliação da rede de proteção social se justifica, tanto como uma inciativa capaz de romper o impasse da pobreza absoluta, em que, apesar dos avanços da economia, grande parte da população brasileira se via aprisionada, quanto como forma de manter um mínimo de coerência com seu discurso histórico. Já a lógica por trás do loteamento do Estado é puramente pragmática. Ao contrário do regime militar, que não precisava de alianças difusas, o PT utilizou o loteamento do Estado, em todas suas instâncias, como moeda de troca para compor uma ampla base de sustentação. Sem nenhum pudor ideológico, juntou o sindicalismo de suas raízes com o fisiologismo do que já foi chamado de Centrão, atualmente representado principalmente pelo PMDB, no qual se encontra toda sorte de homens públicos, que, independentemente de suas origens, perderam suas convicções ao longo da estrada e hoje são essencialmente cínicos.

Há ainda um terceiro elemento do projeto de poder do PT. Trata-se da eleição de uma parte do empresariado como aliada estratégica. Tais aliados têm acesso privilegiado ao crédito favorecido dos bancos públicos e, sobretudo, à boa vontade do governo, para crescerem, absorverem empresas em dificuldades, consolidarem suas posições oligopolísticas no mercado interno e se aventurarem internacionalmente como "campeões nacionais".

A combinação de um projeto anacrônico com o loteamento do Estado entre o sindicalismo e o fisiologismo político, ao contrário do pretendido, levou à sobrevalorização cambial e à desindustrialização. Só foi possível sustentar um crescimento econômico medíocre enquanto durou a alta dos preços dos produtos primários, puxados pela demanda da China. A ineficiência do Estado nas suas funções básicas - segurança, infraestrutura, saúde e educação - agravou-se significativamente. Ineficiência realçada pela redução da pobreza absoluta na população, que aumentou a demanda por serviços de qualidade.

Loteado e inadimplente em suas funções essenciais, enquanto absorvia parcela cada vez maior da renda nacional para sua própria operação, o Estado passou a ser visto como um ilegítimo expropriador de recursos. Não apenas incapaz de devolver à sociedade o mínimo que dele se espera, mas também um criador de dificuldades. A combinação de uma excessiva regulamentação de todas as esferas da vida, com a truculência e a arrogância de seus agentes, consolidou o estranhamento da sociedade. Em todas as suas esferas, o Estado deixou de ser percebido como um aliado, representativo e prestador de serviço. Passou a ser visto como um insaciável expropriador, cujo único objetivo é criar vantagens para os que dele fazem parte, enquanto impõe dificuldades e cria obrigações para o resto da população. O contraste da realidade com o ufanismo da propaganda oficial só agravou o estranhamento e consolidou o divórcio entre a população e os que deveriam ser seus representantes e servidores.

A insatisfação com a democracia representativa não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. As razões dessa insatisfação ainda não estão claras, mas é possível que o modelo de representação democrática, constituído há dois séculos para sociedades menores e mais homogêneas, tenha deixado de cumprir seu papel num mundo interligado de 7 bilhões de pessoas, e precise ser revisto. O debate público deslocou-se das esferas tradicionais da política para a internet e as redes sociais. Ameaçada pelo crescimento da internet e habituada ao seu papel de agente da política tradicional, a mídia não percebeu que o debate havia se deslocado.

No caso brasileiro, perplexa com sua aparente falta de repercussão e pressionada financeiramente pela competição da internet, uma parte da mídia desistiu do jornalismo de interesse público e passou a fazer um jornalismo de puro entretenimento. Mesmo os que resistiram, cederam, em maior ou menor escala, à lógica dos escândalos. Foram incapazes de compreender a razão da sua falta de repercussão, pois não se deram conta de que o público e o debate haviam se deslocado para a internet. Surpreendida pelo movimento de protestos, num primeiro momento, a mídia não foi capaz de avaliar a extensão da insatisfação. Transformou-se ela própria em alvo da irritação popular. Em seguida, aderiu sem convencer, sempre a reboque do debate e da mobilização através da internet. A favor da mídia, diga-se que ninguém foi capaz de captar a insatisfação latente antes da eclosão do movimento das ruas. As pesquisas apontavam, até muito recentemente, grande apoio à presidente da República, considerada praticamente imbatível, até mesmo por seus eventuais adversários nas próximas eleições. Nenhuma liderança soube captar e expressar o mal-estar contemporâneo. Este é provavelmente o seu elemento novo: a internet viabiliza a mobilização antes que surjam as lideranças. Tanto as possibilidades como os riscos são novos.

O projeto nacional-desenvolvimentista combina o consumismo das economias capitalistas avançadas com o produtivismo soviético. Ambos pressupõem que o crescimento material é o objetivo final da atividade humana. Aí está a essência de seu caráter anacrônico. Os avanços da informática permitiram a coleta de um volume extraordinário de evidências sobre a psicologia e os componentes do bem-estar. A relação entre renda e bem-estar só é claramente positiva até um nível relativamente baixo de renda, capaz de atender às necessidades básicas da vida. A partir daí, o aumento do bem-estar está associado ao que se pode chamar de qualidade de vida, cujos elementos fundamentais são o tempo com a família e os amigos, o sentido de comunidade e confiança nos concidadãos, a saúde e a ausência de estresse emocional.

Os estudos da moderna psicologia comprovam aquilo que de uma forma ou de outra, mais ou menos conscientemente, intuímos todos: nossa insaciabilidade de bens materiais advém do fato de que o bem-estar que nos trazem é efêmero. Para manter a sensação de bem-estar, precisamos de mais e novas aquisições. O consumismo material tem elementos parecidos com o do uso de substâncias entorpecentes que causam dependência física e psicológica.

No mundo todo, a população parece já ter intuído a exaustão do modelo consumista do século XX, mas ainda não encontrou nas esferas da política tradicional a capacidade de participar da formulação das alternativas. Apegada a fórmulas feitas, a política continua pautada pelos temas e objetivos de um mundo que não corresponde mais à realidade de hoje. As grandes propostas totalizantes já não fazem sentido. O nacionalismo, a obsessão com o crescimento material, a ênfase no consumo supérfluo, os grandes embates ideológicos, temas que dominaram a política nos últimos dois séculos, perderam importância. Hoje, o que importa são questões concretas, relativas ao cotidiano, questões de eficiência administrativa para garantir a qualidade de vida.

É significativo que os protestos no Brasil tenham começado com a reivindicação do passe livre nos transportes públicos urbanos. A questão da mobilidade nas grandes metrópoles é paradigmática da exaustão do modelo produtivista-consumista. A indústria automobilística foi o pilar da industrialização desenvolvimentista e o automóvel o símbolo supremo da aspiração consumista. O inferno do trânsito nas grandes cidades, que se agrava quanto mais bem-sucedido é o projeto desenvolvimentista, é a expressão máxima da completa inviabilidade de prosseguir sem uma revisão profunda de objetivos. Ao que parece, a sociedade intuiu a falência do projeto do século passado antes que o Estado e aqueles que deveriam representá-la - governo e oposição, Executivo, Legislativo e imprensa - tenham se dado conta de que hoje trabalham com objetivos anacrônicos.

A insatisfação difusa dos protestos pode vir a ser catalizadora de uma mudança profunda de rumo, que abra o caminho para um novo desenvolvimento, não mais baseado exclusivamente no crescimento do consumo material, mas na qualidade de vida. Para isso, é preciso que surjam lideranças capazes de exprimir, formular e executar o novo desenvolvimento.


















domingo, 7 de julho de 2013

PC de US$ 35 pode ser produzido no Brasil

[O texto abaixo é da autoria de Ligia Aguilhar e foi publicado hoje no blogue Link do jornal O Estado de S. Paulo.]

O fundador e diretor operacional da Linux International, Jon “Maddog” Hall, revelou ao Link durante o Fórum Internacional do Software Livre (Fisl 14) em Porto Alegre, no RS, que está trabalhando com a Fundação Raspberry Pi para fabricar o minicomputador no Brasil.

Segundo ele, já há uma instituição interessada em fabricar o produto e alguns testes serão realizados nos próximos meses para avaliar a viabilidade de produção. Se tudo correr bem, Maddog espera que a versão nacional do Raspberry Pi esteja disponível no mercado brasileiro perto do Natal.

O objetivo de fabricar o produto no País é reduzir a carga de impostos que hoje dobra o preço do minicomputador importado para o Brasil, quando a intenção é que o hardware seja barato para estimular crianças a aprender programação. No exterior o Raspberry Pi custa US$ 35, enquanto no Brasil sai por cerca de R$ 170, mais o frete. “É um valor muito alto para alguém pagar por algo que vai ser usado para experiências que podem dar errado”, disse Maddog. “Se conseguir fabricá-lo aqui, esperamos vender o Raspberry Pi pelo preço que ele é comercializado no exterior hoje, de US$ 35 (cerca de R$80)".

Em janeiro, o cofundador do Raspberry PI, Pete Lomas, veio ao Brasil participar da Campus Party e já havia declarado seu interesse pelo mercado brasileiro. Já Maddog se envolveu com a Fundação Raspberry por causa do Projeto Cauã, que quer incentivar o empreendedorismo vendendo kits de hardware e software baratos e customizáveis para serem usados no desenvolvimento de soluções tecnológicas. O projeto une o Raspberry Pi ao software Linux.

* A repórter viajou a convite da organização do Fórum Internacional de Software Livre.

O mistério das florestas com suásticas na Alemanha

Há 20 anos atrás um paisagista descobriu uma formação de árvores numa floresta com o formato de uma suástica. Desde então, várias outras formações florestais com esse formato foram encontradas na Alemanha e alhures, mas o mistério de sua origem persiste.

Culpem os lariços [gênero de plantas coníferas]. O nativo de Brandenburgo, Günter Reschke, foi o primeiro a notar sua formação peculiar, de acordo com um artigo de 2002 no jornal Süddeutsche Zeitung. Para ser mais preciso, entretanto, foi o estagiário novo na empresa de paisagismo de Reschke, Ökoland Dederow, que descobriu as árvores em 1992 quando completava uma tarefa ingrata: analisar fotos aéreas em busca de linhas de irrigação.

Por uma década, a suástica de lariços permaneceu ignorada no meio de uma densa floresta de pinheiros próxima à cidadezinha de Zernikov, 110 km a nordeste de Berlim. Depois que o símbolo nazista foi descoberto em uma foto aérea em 1992, estourou um escândalo que causou sérios danos à reputação da região. - (Foto: Reuters).

Em vez disso, ele encontrou um pequeno grupo de 140 lariços no meio da floresta rodeado de centenas de outras árvores. Mas, havia uma diferença crucial: todas as outras árvores eram pinheiros. Diferentemente destes, os lariços mudam de cor no outono, primeiro para amarelo e depois para marrom.  E, quando vistos de uma certa altura, não era difícil reconhecer o desenho que formavam. Na realidade, foi bastante surpreendente.

Quando completava como devia a tarefa que lhe deram, o estagiário parou de repente e olhou perplexo para a foto em suas mãos. Era uma foto aérea de Kutzerower Heath em Zernikov -- foto n° 106/88. Ele mostrou-a a Reschke: "Você vê o que é isto?". Mas a figura de 60 m x 60 m que se destacava bruscamente da floresta era óbvia para todos: era uma suástica.

Reschke é na realidade um admirador de sua região natal de Uckermark no nordeste da Alemanha, exaltando suas colinas suaves, seus lagos e florestas como a "Toscana do norte". Mas, o que os dois homens descobriram em 1992 naquela foto aérea atirou essa região idílica da natureza no centro de um escândalo.

Uma suástica como presente de aniversário?

Reschke fretou um avião para sobrevoar a área e, de fato, via-se claramente uma suástica bem delineada. O guarda-florestal local, Klaus Göricke, se organizou para encontrar a formação perturbadora de lariços e descobriu que as árvores estavam ali havia muito tempo. Medindo-as, ele concluiu que haviam sido plantadas no final dos anos 1930. Isso significa que, por décadas, durante cada primavera e outono, uma suástica maciça se formava em Kutzerower Heath -- sobrevivendo à ocupação russa, ao governo comunista na Alemanha Oriental e à queda do Muro de Berlim sem sequer chamar a atenção.

O fato de ter permanecido ignorada por tanto tempo se devia em parte ao curto espaço de tempo em que se tornava visível cada ano. Além disso, só podia ser vista a partir de uma certa altura, e os aviões que se dirigiam para o norte saindo de Berlim já estavam em altitude muito elevada para que os passageiros pudessem ver a suástica na floresta. Por outro lado, aviões privados eram proibidos na Alemanha Oriental.

Não demorou muito para que se espalhassem rumores sobre como, inicialmente, as suásticas chegaram lá. Um fazendeiro local afirmou que plantara as árvores quando era uma criança, com um guarda-florestal pagando-lhe alguns centavos por cada semente que plantasse. Outros relataram que as árvores foram plantadas lá como um sinal de lealdade, depois que o morador de uma cidadezinha vizinha foi levado para o campo de concentração em Sachsenhausen pelos nazistas por estar ouvindo secretamente a BBC. Uma outra versão garante ainda que um líder nazista local ordenou que as árvores fossem plantadas por ocasião de um aniversário de Hitler. Por fim, o jornal Berliner Zeitung informou que a suástica fora plantada por gratidão ao Serviço de Trabalho do Reich pela construção de uma rua em Zernikov.

Qualquer que seja a verdade, a história começou a repercutir bem além da região. Repórteres franceses apareceram repentinamente em Zernikov, ansiosos por sobrevoar a região e ver pessoalmente as suásticas.  O diário francês Le Figaro publicou um artigo sobre a formação florestal que, segundo alguns, levou o então presidente francês François Mitterand a ligar para sua contraparte alemã, o presidente Roman Herzog. Pouco depois disso, o presidente alemão começou a pressionar a agência florestal local para que eliminasse aquele símbolo ofensivo.

Uma disputa para derrubar árvores

Os efeitos foram imediatos. Em 1995, operários florestais munidos de motosserras foram ao bosque de lariços e cortaram 40 árvores. Informaram aos seus supervisores que o símbolo estava agora irreconhecível, e a comoção em torno de Kutzerower Heath rapidamente diminuiu.

Mas, os operários florestais estavam bastante equivocados. Passaram-se cinco anos até que seu erro fosse descoberto, mas em 2000 a agência noticiosa Reuters publicou fotos de uma suástica amarelo-claro nitidamente visível perto de Zernikov -- ainda que seus contornos estivessem um pouco esgarçados. E a resposta da mídia foi, novamente, imensa. Até o Chicago Tribune escreveu sobre isso, observando que a floresta de suástica não ajudava uma região que já havia se tornado notória por violência racista.

Na realidade, as autoridades começaram a ficar cada vez mais preocupadas com a possibilidade de que o local se transformasse em um ponto de romaria para os neonazistas. Isso fez com que o ministro da Agricultura do estado de Brandenburgo, no leste da Alemanha, planejasse medidas drásticas. Em 2000, Jens-Uwe Schade, porta-voz do ministério, informou à Reuters que a intenção tinha sido a de cortar todas as árvores da área. Porém, o BVVG, o órgão federal responsável pela gestão da propriedade, bloqueou o plano porque a titulação de algumas propriedades na região estava sob disputa, e permitiu que as autoridades florestais cortassem apenas 25 árvores.

Isso foi feito na manhã do dia 4 de dezembro de 2000. Os operários florestais tiveram que ser muito cuidadosos na escolha das árvores a serem derrubadas e em assegurar-se de que a suástica não fosse mais visível. Tiveram também que cortar os troncos a apenas poucos centímetros acima do solo, para que não pudessem ser vistos do alto.

Modismos e lendas

Entretanto, plantar suásticas em florestas não foi algo que ocorreu apenas no Uckermark. Como Jens-Uwe Schade já explicara em 2000, isso havia se transformado em um "modismo entre guardas florestais nacional-socialistas" durante o período nazista.

Por exemplo, já no início dos anos 1970 soldados americanos reclamaram do governo do estado de Hesse após encontrarem não apenas uma imensa suástica na encosta sul de uma floresta de espruces [ou píceas, árvores da família das pináceas] próxima de um lugar chamado Asterode, mas também o ano "1933" formado por lariços. Dizem que um símbolo semelhante causou a maior comoção em Jesberg, no norte de Hesse, quando foi descoberto nos anos 1980. E, em 2000, um professor de folclore encontrou uma suástica de pinheiros perenes [ou sempre-vivos] plantados numa floresta em Wiesbaden. Na realidade, em toda a Alemanha começaram a aparecer informações sobre suásticas feitas com árvores.

Em setembro de 2006, o The New York Times reportou também sobre uma floresta toda com o formato de uma suástica na remota cidadezinha de Tash-Bashat, no Quirguistão [ou República Quirguiz, país da Ásia central ex-integrante da antiga União Soviética]. As origens dessa suástica ao revés, que media cerca de 180 m de extensão, estavam também cobertas de lendas e incertezas. Um morador afirmou que um supervisor florestal de origem alemã, que havia sido exilado para o leste mas era um simpatizante nazista, dirigiu a plantação da floresta nos anos 1940. Outro morador informou que as árvores haviam sido plantadas por um misterioso "professor" nos anos 1960, antes de ser removido pela KGB. Um guia local disse que as árvores tinham sido plantadas no final dos anos 1930, como um sinal da amizade teuto-russa quando Hitler e Stalin assinaram o pacto Molotov-Ribbentrop de não-agressão. O repórter C.J. Chivers descobriu também lendas de que a floresta havia sido plantada por prisioneiros de guerra alemães, forçados a fazer trabalhos florestais. Ele nunca rastreou as verdadeiras origens disso, mas escreveu que, se aquilo fora realmente plantado por prisioneiros alemães, a "simetria nas linhas de árvores ... pode ser a única brincadeira [ou peça] do Terceiro Reich".

A plantação de formações formando suásticas, como essa perto da cidade de Asterode, no estado de Hesse no oeste da Alemanha, era popular entre guardas-florestais em várias regiões da Alemanha nazista. Havia muitas suásticas nas florestas ao redor de Berlim, até que foram removidas pela ocupação soviética. - (Foto: Spiegel Online).

Na mesma área florestal acima, o número "1933", ano em que Hitler assumiu o poder, foi desenhado com lariços contra o cenário de uma floresta de pinheiros e explodia em cor no outono. Essa aberração permaneceu por longo tempo, até que as forças de ocupação americanas a descobrissem durante um voo de reconhecimento aéreo, e reclamassem ao governo local. - (Foto: Spiegel Online).

 Não apenas a suástica foi imortalizada com árvores. Essa pequena floresta na Bavária foi plantada com o formato de uma cruz de ferro [principal condecoração militar alemã desde o reino da Prússia até o Terceiro Reich, proibida desde 1945], como mostra essa foto aérea de 1 de janeiro de 2008 do Google Earth.  Até hoje, placas de sinalização anunciam o "Monumento Nacional da Cruz de Ferro". - (Fonte: Spiegel Online).

 Com a ajuda do Google Earth, vários fóruns online estão dedicados a identificar símbolos nazistas que são visíveis apenas do alto. Em 2005, um usuário do formulário online
bunker-nrw.de  observou essa suástica numa floresta de pinheiros na Renania Setentrional-Vestfalia e assinalou-a com setas. - (Fonte: Spiegel Online).

Em 2006, o The New York Times reportou a descoberta de uma floresta com o formato de uma suástica no Quirguistão. Mas, a misteriosa formação florestal se parecia com o símbolo nazista quando vista de um ângulo específico a partir da cidade vizinha de Tash-Bashat. Vistas do alto a formação florestal, aqui mostrada no centro de foto aérea do Google Earth de 18 de junho de 2006, se parece mais com a letra "k". - (Fonte: Spiegel Online).

Enquanto a maioria das suásticas florestais alemãs foi criada por membros do Nazismo nos anos 1930, esse símbolo tem ocorrido também recentemente. Não se sabe ainda quem incrustrou essa suástica num milharal da Bavária. - (Foto: Reuters).

 Nos anos 1930, os nazistas construíram toda a cidade de Hessenaue, no sul de Hesse, com o formato de uma suástica. Após a queda do Terceiro Reich, a cidade tentou livrar-se desse formato -- ainda assim, suas feições básicas podem ser hoje visualizadas em fotos aéreas. - (Foto: Google).

A cidade a leste de Jena foi alegadamente construída com o formato de uma imensa águia imperial. - (Foto: Google).

 Nem todo símbolo nazista em fotos aéreas foi intencional. Durante décadas, ninguém notou o formato insidioso dessa base naval em San Diego, Califórnia, EUA. Mas em 2007, com o auxílio do Google Earth, a forma da suástica foi descoberta e os cidadãos locais demandaram que o edifício fosse demolido. - (Foto: Google Earth).

O Lar de Aposentados de Wesley Acres em Decatur, Alabama, é outra suástica acidental. Em 2008, o formato do edifício foi descoberto por um grupo ativista judeu, que fez um lobby bem sucedido para que se alterasse a forma do prédio, cujo proprietário é financiado pelo governo. - (Foto: AP).